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quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

O humano em nós


Ao nível do senso comum, se perguntássemos a alguém: 
- Quem somos? 
Todos responderiam: 
- Somos seres humanos. 
Assim, pertencer ao género humano é o que nos identifica, independentemente de raças, etnias, culturas, crenças e etc. 
Se continuássemos a questionar, todos chegariam a dizer que ser humano significa pensar, falar, escolher, decidir e agir – tudo um conjunto de características que identificamos com o ser pessoa, com aquilo que é comum à humanidade.


segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Bom Natal


Desejo a todos um Bom Natal. Repito um poema sobre o racismo, ainda, hoje, a maior das discriminações. 

É proibido publicar

Seria aborrecido se Cristo
Voltasse, e fosse preto.
Há tantas igrejas
Onde não poderia rezar
Nos Estados Unidos
Em que o acesso dos negros
Por santos que sejam, é proibido.
Em que se celebra
Não a religião
Mas a raça.
Experimentai dizê-lo
E pode ser que sejais
Crucificados.

(Langston Hugges, 1902-1967, Estados Unidos da América)



terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Valas comuns de todas as guerras

 À memória de tantos e tantos milhares de pessoas (talvez milhões), combatentes ou não, vítimas de todas as guerras, que um dia foram enterrados em valas comuns e de quem nunca mais se soube o rasto. Passado pouco tempo cresceu a erva, depois, já sem sinal do que ali existe, fizeram estradas e caminhos de ferro, plantaram árvores, construíram edifícios...  Perderam-se, assim.

Sobre este tema, deixo um poema de Carl Sandburg:
Erva
 Empilhem os corpos em Austerlitz e Waterloo.
Acamem-nos bem e deixem-me trabalhar –
Eu sou a erva; eu cubro tudo.

E empilhem-nos também em Gettysburg;
Empilhem-nos em Ypres e Verdun.
Acamem-nos bem e deixem-me trabalhar.
Dois anos, dez anos, e os passageiros perguntam ao motorista:
Que lugar é este?
Onde é que estamos?

Eu sou a erva.
Deixem-me trabalhar.

                      


quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Situação dos direitos humanos em Portugal, em 2018

Se não conseguiu acompanhar as notícias ontem, deixamos-lhe aqui um breve resumo da análise que fizemos em televisões, rádios, na imprensa e online, sobre este ano de 2018:
1) A principal conclusão, em Portugal e em todo o mundo, é que foram as mulheres que estiveram na vanguarda da luta pelos direitos humanos. Foram elas que souberam dar a resposta mais acertada a líderes repressivos, porque também são as mulheres que continuam a sofrer as consequências dos seus direitos continuarem a ser postos um grau abaixo dos outros direitos e liberdades. Em Portugal as mulheres continuam a ser as mais afetadas pela violência de género e nas ruas lançou-se o combate à violência sexual.
2) A segunda conclusão, uma vez mais a nível global, é que há líderes "durões" que estão a impulsionar políticas misóginas, xenófobas e homofóbicas e a colocar direitos e liberdades há muito conquistados em renovado perigo. Portugal não está tão longe desta realidade como possa à partida parecer. As autoridades portuguesas já receberam recomendações para a sensibilização, prevenção e erradicação do discurso do ódio, sobretudo na internet.
3) Em Portugal, as condições habitacionais continuam a não ser adequadas para algumas pessoas e este problema afeta sobretudo pessoas afrodescendentes e comunidades ciganas.
4) 2018 foi ainda um ano em que a integração de refugiados e requerentes de asilo ficou comprometida em Portugal por vários problemas que têm sido relatados na comunicação social e por diversas entidades. O governo português tem anunciado o acolhimento de pessoas que precisam de proteção internacional, mas é preciso agora melhorar a forma como as acolhemos.
5) Preocupante é também que Portugal continue a ser referido por órgãos internacionais de monitorização em matérias como os maus-tratos e o uso excessivo da força, as condições nas prisões, o racismo e a discriminação, por vezes, por parte das forças e serviços de segurança nacionais. Mas na verdade Portugal tem de continuar a lutar em termos gerais contra a discriminação, sobretudo em relação a pessoas afrodescendentes, comunidades ciganas e lésbicas, gays, bissexuais, transgénero e intersexuais.


(transcrito do email que recebi ontem da   Amnistia Internacional)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Dia Mundial dos Direitos Humanos - 10 de dezembro


A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) é o documento mais importante, porque contém todos os princípios que a humanidade deve proclamar e  proteger. Traduzida em todas as línguas e em muitos dialetos (há mais de 300 traduções), é composta por 30 artigos que, sumariamente, podíamos enunciar assim: 
- 1º artigo: igualdade de direitos e dignidade; 
- 2º artigo: iguais liberdades individuais, independentemente da cor, sexo, língua, religião, opinião;
- 3º artigo: vida, liberdade e segurança pessoal; 
- 4º ao 21º artigos: direitos civis e políticos;
- 22º ao 27º artigos: direitos económicos, sociais e culturais; 
- 28º  ao 30º artigos: ordem internacional e a responsabilidade de cada pessoa. 





quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Por que falham as instituições?

Têm sido uns dias de grande convulsão: as greves dos enfermeiros que paralisam os principais blocos operatórios; a greve dos guardas prisionais que impedem as visitas aos presos e originam tumultos em vários  estabelecimentos prisionais; as agressões a instruendos do curso de militares da GNR, em Portalegre, que parece uma coisa impossível de acontecer;  a manifestação do senhor Eduardo Jorge, tetraplégico, frente à Assembleia da República, lutando pelo direito a uma vida independente, já consagrada em lei, mas sem concretização; a mulher grávida de nove meses, brutalmente agredida, na rua, pelo marido. E podia continuar, repetem-se os exemplos.

O país  que na mesma semana ganhou não sei quantos prémios no turismo, é este  que nega direitos, que não cuida dos seus cidadãos. É o mesmo país, e as mesmas assimetrias

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Ser humano


Ao nível do senso comum, se perguntássemos a alguém: - Quem somos? Todos responderiam: - Somos seres humanos. Pertencer ao género humano é o que nos identifica, independentemente de raças, etnias, culturas, crenças…
Se continuássemos a questionar, todos chegariam a dizer que ser humano significa pensar, falar, escolher, decidir e agir – tudo um conjunto de características que identificamos com o ser pessoa, com aquilo que é comum à humanidade.



terça-feira, 27 de novembro de 2018

Direitos Humanos - o acordo ético


Os direitos humanos são, hoje, o acordo ético mais largamente partilhado. Praticamente, todos os países assinaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Constituem, por isso, uma importante base  ética, de princípios universais, que o 1º princípio, desde logo, sintetiza de forma clara: «Todos os seres humanos nascem livres e iguais em igualdade e direitos. Dotados de razão e consciência deviam agir uns com os outros em espírito de fraternidade».

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Contra atitudes racistas, deixo um poema


Num programa televisivo, pergunta Herman José à escritora Margarida Rebelo Pinto se já teve um namorado "colorido" ,  ela responde: "Não, não sou dada a etnias"). Dos presentes, só a artista Sara Tavares não achou piada. Eu também não achei.


A cor que se tem 


Quando for crescida
Hei-de inventar
Um perfume de encantar.


Quem o cheirar
há-de ficar
com a cor da pele
que mais gostar.


Branco ou amarelo
Se preferir
Preto ou vermelho
É só decidir.


 Para alegrar
até vou pensar
Outras cores acrescentar.


 Cor de rosa
Verde ou lilás
São cores bonitas
E tanto faz.


 E assim,
Há-de chegar
O dia de acreditar
Que o valor de alguém
Não se pode avaliar
Pela cor que se tem.


 E então,
Tudo estará bem.
                                 (Poesia de Maria Cândida Mendonça)
  


quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Quando as mortes são evitáveis...

Quando olhamos as imagens da estrada que abateu em Borba e matou cinco pessoas, ladeada por duas grandes pedreiras, dois enormes buracos, um de 90 metros de profundidade, ao comum dos cidadãos parece quase impossível que o desastre não tivesse acontecido há mais tempo.

Degladiam-se agora as diferentes autoridades: de quem é a culpa? Quem devia ter feito e não fez? Quem informou que era segura, não o sendo...? Ou seja, vamos ver se, por entre os pingos da chuva, ninguém vai assumir responsabilidades.
É tão  triste esta situação! Espero que outras situações similares tenham das autoridades competentes o acompanhamento devido. Eu  própria vivo perto de uma casa  que ameaça continuar a ruir e pode cair  para a estrada municipal, onde todos os dias passa gente.


quinta-feira, 15 de novembro de 2018

A greve dos estivadores


Os estivadores do porto de Setúbal, onde 90% são trabalhadores precários, ameaçam paralisar a Autoeuropa, a grande fábrica alemã de automóveis.
De repente, a sua luta ganha dimensão, escala; de repente, o trabalho deles torna-se visível, nas filas intermináveis de carros novos que não foram embarcados. Agora, pode ser que alguém os receba e oiça, com atenção, o que têm para dizer. Trabalham na precariedade mais absoluta, alguns há vinte anos, contratados ao dia, através de uma mensagem no telemóvel, isto parece uma coisa impossível de acontecer, mas acontece.
Espero mesmo que a fábrica pare. Espero que o problema deles seja notícia não apenas cá, mas noutros sítios e se perceba a importância de um trabalho com direitos. (Pena que tenha de ser assim, depois de muitos dias de greve, com transtornos para os próprios e suas famílias).


segunda-feira, 12 de novembro de 2018

O Centenário do Armistício


Sábado e domingo, decorreram, em Paris, com pompa e circunstância, as comemorações do final da Primeira Grande Guerra. Nove milhões de soldados mortos, uma tragédia incalculável. Muita gente não tinha a noção exata ou sequer aproximada do que aconteceu.
Houve simbolismo e cerimónias tocantes. Foi bonito ver a chanceler alemã emocionar-se, e Macron, também (vencidos e vencedores, agora juntos). Foi bonito perceber que os discursos tinham um compromisso claro com a paz, entre os povos e os países. Uma paz que não acontece por acaso, tem de se querer, tem de se construir.
Há uma maldade humana sempre à espreita; é muito ténue o que separa a civilização da barbárie.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Os que gritam por justiça...


Podemos dizer que a justiça está para as sociedades, como a liberdade está para os indivíduos; não é possível uma organização social sem uma noção de justiça, e esta varia conforme o entendimento que temos do mundo e da vida, sobretudo dos governos que a cada momento executam políticas. 
Em sociedades tão abertas como as atuais, a discussão tem de ser sobre uma noção de justiça  que inclua em vez de excluir. Estamos muito longe disso; bastaria olhar, agora mesmo, para as caravanas de migrantes que tentam chegar aos Estados Unidos ou para as multidões de refugiados que cruzam as fronteiras em vários lugares do mundo, para se perceber a urgência em encontrar outras respostas .

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

O Principezinho... (5)

(Para terminar a viagem na terra...)

"Casas, estrelas ou desertos, é tudo a mesma coisa, o que lhes dá beleza nunca se vê”!

O essencial é invisível para os olhos (...) ficas responsável para todo o sempre por aquilo que está preso a ti”.

“ Quando nos prendemos a alguém arriscamos-nos a chorar de vez enquando” 

terça-feira, 30 de outubro de 2018

O Principezinho...(4)


No 6º planeta, seis vezes maior que os outros, o Principezinho encontra-se com um senhor de idade, escritor, geógrafo, sempre no gabinete; encontra exploradores e outras pessoas, sempre sérias e bem comportadas.
 
O 7º planeta é a terra. O Principezinho não via ninguém. Pensou: "Também se pode estar sozinho ao pé dos homens - e repetia: "Ando à procura de amigos"! 
“Os homens agora já não têm tempo para conhecer nada. Compram coisas feitas nos vendedores. Os homens, agora, já não têm amigos. Se queres um amigo prende-me a ti!”
“Só as crianças é que sabem do que andam à procura - disse o Principezinho - são capazes de perder tempo com uma boneca de trapos que, por isso, passa a ser muito importante para eles. Se alguém lha tira, desatam a chorar...”
“Os homens - disse o Principezinho - bem se encafuam dentro dos comboios, mas já não sabem do que andam à procura. Portanto, não fazem senão andar à roda... Os homens da tua terra - disse o Principezinho - plantam 5000 rosas no mesmo jardim ...e, mesmo assim, não descobrem do que andam à procura... Deve-se é procurar com o coração”

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

O Principezinho...(3)

(A viagem do Principezinho continua de planeta em planeta)


No 3º planeta, habita um bêbedo que bebe para se esquecer de que tem vergonha de beber. Como em todos os tipos de decadência humana, há uma lucidez que dói, que maltrata, que se torna insuportável e a queda é inevitável. Quando começamos a escorregar é muito difícil não cair, mesmo que façamos um grande esforço para contrariar o declive.


 No 4º planeta, habitam homens de negócios, preocupados com contas, somas e riquezas. Para que serve o dinheiro? “Para comprar outras estrelas, se alguém as descobrir, é que para o Principezinho as coisas sérias eram muito diferentes daquilo que as coisas sérias são para as pessoas grandes”.

No 5º planeta, habita um homem curioso, menos absurdo que todos os outros, era acendedor de candeeiros. “Este - pensou o Principezinho, enquanto continuava a sua viagem - seria alvo do desprezo de todos os outros: do rei, do vaidoso, do bêbedo, do homem de negócios e, no entanto, é o único que eu não acho ridículo, talvez por se interessar por mais alguma coisa para além de si próprio. O seu trabalho tem uma utilidade comum, a luz do candeeiro é para todos".



terça-feira, 23 de outubro de 2018

O Principezinho...(2)

O  Principezinho convida o leitor a viver a criança que cada um leva dentro,  parte integrante e esquecida de nós próprios e de que necessitamos para viver com ilusão, frente a um futuro incerto e a um presente que nos confunde e agride.

O livro é sobre a responsabilidade (a fidelidade a uma flor) e a amizade (que prende, que dói, que absorve, mas que realiza). Questiona os valores do mundo dos adultos como o poder, a autoridade, a vaidade, a ostentação, a marginalização, o dinheiro , a riqueza, o sentido do trabalho.




 A viagem do Principezinho


No 1º planeta, trata-se da questão da autoridade; a autoridade é o bom senso. Todos eram súbditos, as ordens eram sensatas, “só se pode exigir a uma pessoa o que essa pessoa pode dar”. Julgar-se a si próprio é o mais difícil de tudo, é bem mais difícil julgarmos-nos a nós próprios do que aos outros.
Diziam-lhe: “faço-te ministro, faço-te embaixador... as pessoas grandes são mesmo esquisitas - pensou o Principezinho que não queria poder. Só queria ver o pôr-do-sol. Como é que as pessoas grandes podem entender isto. Não entendem.

No 2º planeta, habita o homem vaidoso, tal como, aqueles que querem ser admirados, aclamados, “os vaidosos nunca ouvem senão elogios”. Questiona o que significa admirar e pensa: - “Não há dúvida de que as pessoas grandes são mesmo muito esquisitas”......

 

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry (1)

O Principezinho não entende as situações do mundo dos adultos. Vive-as a partir de si próprio: observa, questiona, escolhe e pronuncia-se. Vê tudo pelos olhos puros da criança que é. Diverte-se, sorri, proclama a sua poesia, a beleza das pessoas e das coisas, fala da ilusão que necessitamos e que não conseguimos, por excesso de sensatez e de racionalidade, pondo em causa valores, mensagens e comportamentos.

Para ele as pessoas maiores, tão racionais e sensatas, são incapazes de compreender aquilo que só, na poesia tem razão de ser. É isso que as crianças fazem normalmente e de forma natural: deixam a emoção comandar a sua vida e a suas relações com os outros e com as coisas.

Dedica o livro a uma pessoa grande: “É meu amigo, é capaz de perceber tudo, mesmo livros para crianças. Essa pessoa mora em França e em França passa fome e frio (era  na altura da II Guerra Mundial). Gostava de dedicar este livro à criança que essa pessoa grande já foi, porque todas as pessoas grandes já foram crianças. Há é poucas que se lembram disso.”

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Brasil, prestes a eleger um ditador

O Brasil está prestes a eleger um ditador, Jair Bolsonaro. O que vai acontecer ninguém sabe, mas pressente-se o pior.  Como é que 50 milhões de pessoas votaram neste senhor? Parece incompreensível.
Dizem que muitos votos são de reação ao PT. Mas, na primeira volta havia outras alternativas, assistimos ao desmoronar dos partidos liberais do centro político. A sociedade radicalizou à esquerda e à direita. 
Bolsonaro fala de ordem, segurança, e pelos vistos esta é a primeira preocupação do povo brasileiro e com razão, sem segurança, todas as liberdades e todos os direitos ficam comprometidos. O pior que fala também  contra as minorias, as mulheres, os homossexuais, os negros, os pobres..., pondo em causa direitos básicos e anunciando soluções não democráticas . 

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Ronaldo e a americana violada

Li o artigo do Der Spiegel; parece já claro que houve, em Las Vegas, uma violação. Ronaldo violou aquela mulher, Kathryn Mayorga. Podem arranjar argumentos para muito do que se passou, mas não para isto. Espero que não haja acordo extrajudicial, que o caso vá a tribunal e que a verdade se saiba até ao final. A sobranceria que muitas vezes Ronaldo exibe, não é uma invenção e podemos ter sobre isso diferentes opiniões. Mas, aqui, trata-se de um crime, não há opiniões, há factos.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Nobel da Paz


Este ano o Prémio Nobel da Paz foi atribuído a duas pessoas que denunciaram a violência sexual sofrida pelas mulheres nos conflitos armados.
Nadia Murad é uma jovem yazidi, nascida no Curdistão iraquiano, que sofreu na pele a violência do estado islâmico; viu a sua aldeia destruída, grande parte da sua família morrer, enquanto era levada para ser escrava sexual. Ao fim de três meses, conseguiu libertar-se, vive agora na Alemanha. Escreveu um livro, falou nas Nações Unidas e viajou por diferentes países dando conta das atrocidades que viveu.
O médico, Denis Mukwege, é congolês, construiu um hospital para atender as meninas, as jovens e as mulheres que, após brutais violações, chegam até si em situação física e moral de grande sofrimento.  Há relatos pungentes. Fez da sua vida a causa destas mulheres, tratando-as e denunciando a barbárie.
Agora, não podemos dizer que não sabemos do que se passa. Ainda bem que este prémio lhes foi atribuído, é um enorme ganho para a causa destes dois seres humanos.


segunda-feira, 1 de outubro de 2018

A assembleia Geral das Nações Unidas

Decorreu, em Nova Iorque, a 73ª Assembleia Geral das Nações Unidas, composta por 193 Estados-membros. Aí se apresentaram e discutiram aspetos importantes para a vida dos povos, desde logo, as questões da paz, do desenvolvimento, dos direitos humanos, dos pactos internacionais, das alterações climáticas, dos perigos do ciberespaço…. 
Discutiu-se também a necessidade de reformar a própria organização, com particular atenção ao Conselho de Segurança que se tem mostrado incapaz de aprovar, em tempo útil, resoluções, tanto na prevenção de conflitos, como na ajuda humanitária de emergência ou na manutenção da paz. Há sempre algum dos cinco países membros permanentes a vetar, por interesses nacionais ou regionais, a pronta e eficaz intervenção da ONU.

domingo, 23 de setembro de 2018

Palmas para Joana Marques Vidal

Já  aqui elogiei, por mais de uma vez, o trabalho da Procuradora Geral da República que vai cessar funções. Julgo que  o trabalho dela é inquestionável, mesmo para leigos; os poderosos que ela e o ministério público investigaram não tem qualquer paralelo com o que se passava antes. Esta Procuradora Geral foi capaz de fazer o que nenhum Procurador Geral tinha feito antes,  porque mostrou competência, isenção e sentido do dever (prefiro à palavra coragem).
Por tudo  isto, Joana Marques Vidal devia ter sido convidada para um segundo mandato na Procuradoria.
Não foi,  e muito estranho o comportamento do Presidente da República: então o interesse do país não justificava que pusesse em causa aquele argumento do mandato único e longo que diz ter há mais de vinte anos?  Quando é preciso e há razões para isso temos de mudar de ideias. Também sou  a favor da limitação de mandatos, não quero gente insubstituível  nos cargos, mas, convenhamos,  o país merecia que a Procuradora continuasse o seu trabalho.


sexta-feira, 21 de setembro de 2018

As desigualdades de género no trabalho


Foi ontem anunciado que no Circuito Mundial do Surf em 2019 os prémios de homens e mulheres terão o mesmo valor monetário. Ainda bem que tal vai suceder.
As desigualdades entre mulheres e homens no mundo do trabalho são vastas. Sabe-se que há mais mulheres nas universidades e, no geral, com melhores desempenhos escolares, mas, depois, não acedem, em grande número, a cargos de topo.
Têm uma taxa de emprego mais baixa, ganham muitas vezes menos que os homens, mesmo que desempenhem os mesmos trabalhos, e ficam desempregados durante mais tempo; alguns grupos de mulheres, como as imigrantes ou as portadoras de deficiência, têm, ainda, dificuldades acrescidas.

As mulheres trabalham mais em part-time que os homens, porque assumem responsabilidades familiares, como cuidar das crianças e dos idosos. São, ainda, maioritariamente, empregadas nas profissões que sempre desempenharam, ligadas ao secretariado e às áreas da educação e da saúde.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Valorizar a escola: meio caminho para o sucesso escolar


Há múltiplas razões, de natureza pessoal, familiar, cultural e social, que determinam o valor que os próprios alunos e suas famílias atribuem à educação e à escola; aspeto que influencia, desde logo, as expectativas que têm e os esforços que estão dispostos a fazer.
Altas expetativas são meio caminho para o sucesso, mas claro, num sistema tão complexo, com tantas variantes muitos são os problemas que se colocam. A agora debatida questão dos professores (a contagem integral do tempo de serviço para progressão na carreira, uma justiça, a meu ver) é apenas mais uma.



sexta-feira, 14 de setembro de 2018

O que se está a passar em Pedrógão Grande?

Como é que pôde acontecer o que tem vindo a ser apresentado, primeiro pela revista Visão, em 19 de julho, e agora pela TVI: mentiras, irregularidades, contorno da lei...?
Parece que o raciocínio foi simples: no meio da confusão e da desgraça, quem é que vai dar conta ou importar-se se aquela casa foi destruída pelo incêndio ou estava há muito desabitada e em ruínas! Quem é que se vai chatear em saber se aquela casa é de primeira, segunda ou terceira habitação! Ninguém vai querer saber!
Mas com tantos organismos no terreno, com tanta gente a olhar para o que se passa, parece uma completa ingenuidade. Ora, aqueles senhores não são ingénuos!
E é esta ingenuidade que me surpreende. Não podia imaginar uma orquestração desta ordem. 


quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Somos todos responsáveis


Bastaria olhar para o problema dos refugiados, os que atravessam o Mediterrâneo para fugir da Síria e de outros países, onde a violência e a miséria são constantes, ou os que saem da Venezuela para os países vizinhos, para fugir da ditadura em que vivem, para se perceber que há uma responsabilidade primeira, anterior a qualquer resposta das organizações locais, nacionais ou internacionais; ou seja, há uma primeira responsabilidade que é daquele a quem batem à porta. De cada um, portanto.


segunda-feira, 10 de setembro de 2018

A jovem cigana de Avis que deixou a escola

Acabou de ser noticiado que uma jovem de quinze anos, no 7º ano de escolaridade, deixou a escola com o argumento da tradição cigana. Foi-lhe instaurado um processo, uma vez que a escola é obrigatória até aos dezoito anos. Mas, uma juíza do Juízo de Competência Genérica de Fronteira, da Comarca de Portalegre, acha que a tradição cigana justifica o abandono escolar. 
Eu acho que não. Há muito a fazer pela integração dos ciganos e, nesse longo processo, a educação é decisiva,  porque pode mudar mentalidades e dar ferramentas que de outro modo as comunidades ciganas não terão,


quinta-feira, 6 de setembro de 2018

A jovem cigana

Encontrei-a num centro de saúde. Disse-me que tinha dezanove anos, dois filhos e que vivia do rendimento mínimo. Disse-lhe: «Por que não se candidata um emprego»? Responde-me que é cigana. 
E eu fiquei sem saber o que dizer. Falou-me como se uma «essência cigana» determinasse a vida dela. Como se os ciganos não fossem cidadãos portugueses e não tivessem os mesmos direitos, desde logo, o direito a um emprego.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

A Venezuela – a cegueira de Maduro


A situação política, social e económica a que aquele povo chegou parece de não retorno. Sempre a descer, até ao precipício final. Pelo caminho, o que acontecerá ainda? Ninguém saberá dizer, ao certo; com um ditador daqueles que continua com a propaganda do costume, sem ter a noção, mínima que seja, de que não é a ideologia que dá comida ao povo, o que se espera, nem sequer é mais do mesmo, é sempre o pior. Os números começam a assustar, mais de um milhão já fugiu para os países vizinhos,  para pedir refúgio. 



sexta-feira, 31 de agosto de 2018

A morte de Kofi Annan


No dia 18 de agosto passado, morreu Kofi Annan. Natural do Gana, foi Secretário Geral das Nações Unidas, entre 1997 e 2006 e Prémio Nobel da Paz partilhado com a ONU, em 2001. Foi o primeiro negro a chefiar aquela organização, onde era um alto funcionário, desde há muito.
Annan era alguém a quem o mundo deve prestar homenagem, pela força, pela capacidade de falar com todos, na procura das melhores decisões. Sempre que se via Annan, via-se e sentia-se a presença de uma pessoa boa, de uma calma e de uma sensibilidade que poderiam tornar tudo menos difícil. E houve tempos muito difíceis, durante os dez anos à frente da ONU: as guerras do Ruanda, dos Balcãs, do Iraque... Em Portugal, já foi referido por muita gente o papel decisivo que teve na independência de Timor-Leste.


terça-feira, 14 de agosto de 2018

A educação em direitos humanos


Os direitos humanos vão para além da vida cívica, na comunidade e nas relações com o Estado e as instituições; respeitam ao género humano, àquilo que é pertença de todos os homens por ser próprio da sua natureza racional. 
Trata-se de uma aprendizagem global – não, apenas, porque o seu horizonte é toda a humanidade – mas também pelo facto de termos de assumir responsabilidades, num mundo cada vez mais aberto, onde os problemas de uns não podem deixar de dizer respeito também aos outros, passem-se lá longe ou na rua que acabámos de atravessar.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Lá longe, a França


Nenhuma memória é mais real, mais marcada e mais continuada na minha vida do que a da emigração. Naqueles idos anos sessenta, a França era uma realidade diária, estava nas ruas, nas conversas e nas vidas de todos os habitantes. Se víamos duas ou mais pessoas a conversar na rua era quase certo que falavam de familiares a viver em França.
Não havia família que não tivesse alguém naquele país. Em muitos casos, todos estavam lá, tinham ficado, apenas, os avós, já de idade. O mesmo acontecia com a minha família. De algum modo, eu, a minha mãe, os meus irmãos, os meus avós, tal como o resto das pessoas daquela terra, também estávamos vivendo nos arredores de Paris.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

“Já estive na América” - diz-me a senhora


Cheguei muito cedo à estação do porto do Pico. Queria apanhar o primeiro barco do dia. A sala de espera estava deserta; passado algum tempo, chegou uma senhora com mais de meia cesta de ovos, empilhados uns em cima dos outros, como antigamente se fazia.
- Vai ao médico – pergunta-me?
Percebi que eu podia ser dali. Na verdade, nesta ilha, a pronuncia não é acentuada.
- Não, estou a passear, vou passar o dia ao Faial.
-Ah! Não é daqui! Achei estranho, não a ter visto antes.
- Sou da Guarda, não longe da serra da Estrela, a segunda montanha mais alta de Portugal, a seguir ao Pico.
- Nunca fui ao continente. Mas já estive na América, tenho dois filhos na América.
Não refere a cidade, nem o Estado, diz na América, como se se tratasse duma coisa única, duma identidade. E tem razão; quando um açoriano diz «América», fica-se a saber tudo. Sabemos do que fala.
Quase em cima da hora do barco, aparecem os que vão trabalhar, os que vão de facto ao médico, ao tribunal ou a outra instituição pública que só há na  cidade da Horta.
Entrámos, pouca gente. Só para mim, aquela travessia parecia uma novidade. Deixei-me levar, olhando a ilha que ficava para trás, o mar revolto, as enormes ondas e, pouco tempo depois, o porto da Horta. A cidade parece um alpendre, ao longo daquela baía, em declive, roçando o mar. À saída  a senhora, com quem tinha falado no Pico, quase me esperou para me desejar um bom dia. Agradeci.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

A identidade de género


Acaba de ser promulgada a lei sobre a identidade de género, depois da primeira ter sido vetada pelo Presidente da República que a devolveu ao Parlamento com algumas recomendações. 

A identidade de género, quando alguém tem traços biológicos e físicos de determinado género, mas  se identifica com o outro género, ser homem em corpo de mulher ou mulher em corpo de homem, é uma questão humana séria. Trata-se de reconhecer uma necessidade básica, anterior a quaisquer outros direitos: a identidade pessoal de cada pessoa, perante sim mesma e perante os outros.

sábado, 28 de julho de 2018

De mãos dadas


 "Não serei um poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho os meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.


Não serei cantor de uma mulher de uma história,
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
Não fugirei para as ilhas, nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.”

(Carlos Drummond de Andrade)






quinta-feira, 26 de julho de 2018

Princípios


Princípio significa começo, início, origem, fundamento, primeiro de uma série e, em geral, aquilo de que algo procede, seja de que modo for. No sentido original, é o começo de uma grandeza espacial e, por consequência, do movimento e do tempo. 
Trata-se de um termo polissémico que vai do uso comum da linguagem, à lógica, à filosofia e a outros saberes científicos.
Há princípios a que chegamos por raciocínio dedutivo, de natureza racional, portanto, universais, que podem ser demonstrados, como os princípios lógicos; e há princípios particulares das ciências, a que chegamos por generalizações indutivas, que podem ser verificados.
Ao nível da acção, dizer que “temos princípios”, é dizer que agimos com base em valores inquestionáveis, objectivos, que não mudamos ao sabor das circunstâncias ou dos interesses – por exemplo, os princípios éticos da liberdade, respeito, igualdade – princípios universais assentes no primado da razão.


quarta-feira, 18 de julho de 2018

O direito internacional em causa


Os últimos tempos, e particularmente as últimas semanas, têm mostrado que  o mundo vive tempos difíceis;  o aspeto mais preocupante é o abandonar de acordos, tratados, protocolos...sem que nada de consistente tenha, entretanto, surgido. 
 Seria suficiente olhar a realidade – que não inventamos – para perceber que a pergunta que faz mais sentido é: «Como construímos um viver em comum em que tudo tem a ver com tudo e em que, de algum modo, todos temos responsabilidades pelo que sabemos se passa no mundo?»  
Em vez disso, surgem os egoísmos mais variados, sempre assentes na ideia de uma qualquer supremacia (somos melhores, por isto, aquilo e o outro).   

segunda-feira, 16 de julho de 2018

A complexidade das coisas


Nada é simples. Tudo se interligou a um ponto e a uma dimensão que estamos cada vez mais longe de poder controlar seja o que for. Somos controlados, vigiados, os nossos dados pessoais andam pelo mundo…, a publicidade bombardeia-nos (é uma guerra) continuamente. A economia é o centro de tudo, somos obrigados a perceber de mercados, disto e daquilo, fazem-nos crer  e descrer, confundem-nos, propositadamente. 

Hoje, a maior utopia (quando não restam outras) é o simples, viver de forma simples, encontrar respostas simples, não ter necessidade de vinte pares de sapatos, três telemóveis, dois carros... É um cansaço.  Não aguentamos.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

O outro - convocando Lévinas


 Acabo de me encontrar com o João que sorri e me diz:
 - Bom dia. 
A partir desse momento, cabe-me responder ao cumprimento ou nada fazer.
Decido cumprimentar:
- Bom dia João, então, que tal? Como estás?
Aqui, estamos: eu e o João, face a face, em diálogo, numa proximidade desinteressada, sem esperar nada em troca. 
Quem são o João, o Paulo, a Sofia, a Joana… toda a multiplicidade de seres humanos? São pessoas singulares, distintas entre si, diferentes, radicalmente separadas de mim, que nenhum conceito pode definir.
Não há saberes, da antropologia, da filosofia, da sociologia, da religião…, para definirem os seres humanos, na sua relação face a face, porque o que neles é fundamental escapa à percepção é à racionalização que possamos fazer. O encontro com o outro, seja quem for, é sempre uma novidade, uma surpresa, um dizer que se torna presente na manifestação do rosto; não do rosto físico, material, que poderíamos descrever, mas do rosto transcendente,  vindo de um não lugar, de um infinito, de que só o próprio pode falar.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Jovem columbiana insultada e espancada



Nicol, a jovem de 21 anos, colombiana, agredida na madrugada do São João no Porto, é uma vítima mais do racismo sempre latente na sociedade portuguesa. O racismo, como sucessivos relatórios da ONU têm mostrado, é a maior das discriminações e por isso não podemos deixar passar atos desta natureza.
Sei que se vão abrir inquéritos (na empresa de segurança privada a que pertencia o agressor, na PSP, chamada ao local, no Ministério Público…) e vamos ver o que vai acontecer; o que se passou é muito grave, para não haver qualquer consequência.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Mais uma das miseráveis faces de Trump


Dentro da política de tolerância zero contra a imigração ilegal, assistimos, na última semana, ao impensável: 2047 crianças, algumas muito pequenas, de quatro e cinco anos, foram separadas dos pais que atravessaram ilegalmente a fronteira do México para os Estados Unidos. A imagem daquela espécie de jaulas, onde as crianças foram acantonadas, abanou as consciências de muita gente: procuradores gerais democratas, de 17 estados americanos, vão processar Trump; movimentou-se a sociedade daquele país e do mundo;  o presidente voltou atrás e fez aprovar uma lei que reunirá pais e filhos. Mas, parece ser um pequeno passo, e provisório, temo que, mas cedo que tarde, este senhor dê o dito por não dito e tudo volte ao mesmo.

domingo, 24 de junho de 2018

Distinção entre refugiado e imigrante ilegal


O refugiado precisa de proteção internacional, consagrada na Convenção de 1951; não deixa o seu país por vontade própria, mas para fugir de guerras, de conflitos, de calamidades naturais e  de perseguições que põem em causa a sua vida.
O imigrante sai por vontade própria, por razões económicas, fugindo da fome e da miséria; em muitos casos, sem possibilidade de encontrar forma de sobreviver no seu país, parte clandestinamente.
 É  por isso que nem sempre é fácil a distinção entre migrantes ilegais por motivos económicos e refugiados, muitas vezes, também, há por detrás da imigração ilegal dificuldades ligadas a determinado grupo étnico, religioso ou político.

(Em Portugal, ninguém é perseguido, mas sabemos quanto custa dar  trabalho a pessoas de certas comunidades negras e a ciganos, por exemplo). 

quinta-feira, 21 de junho de 2018

Dia Mundial do Refugiado


Ontem, dia 20 de junho, assinalou-se o dia mundial do refugiado. No mundo, segundo informação do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), há mais de 68 milhões de pessoas deslocadas ou refugiadas; pessoas que tiveram de deixar as suas casas, fugindo para locais seguros, dentro do país ou  para fora do seu país.
Desde 1951 que existe uma Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados – o que significa que há leis internacionais que definem quem pode ser considerado refugiado e como deve ser tratado. Os países que assinaram esta Convenção têm o dever de acolher, integrar e  assegurar todos os direitos que a estatuto de refugiado lhes confere. Portugal assinou esta Convenção e tem acolhido e integrado pessoas que aqui pedem asilo, sendo considerado, até, um exemplo, por parte da União Europeia, em políticas de integração.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

A migração é uma realidade



A imigração na Europa não é uma ideia abstrata, distante, sobre a qual possamos elaborar teorias; a imigração é uma realidade atual, premente, com muitos rostos e muitas causas. Conhecer e atuar sobre o problema é, a meu ver, o maior desafio colocado aos países e aos seus líderes políticos; espero que a chanceler alemã, mesmo que tenha de cair, não abdique dos princípios que tem defendido.
Cada vez serão mais as vozes contra; importa por isso  recolocar a questão sempre do ponto de vista dos direitos humanos e do direito  internacional, há já muito caminho feito, voltar para trás seria impensável.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

"O que será dos meus filhos", o filme


Emociono-me com frequência – sobretudo, com aspectos que têm a ver com a identidade profunda das pessoas, com sentimentos que não conseguimos explicar – mas não sou de chorar.  Nesse filme, contrariamente ao habitual, recordo ter chorado do princípio ao fim.
É um drama humano, no limite do suportável: uma mãe doente, cancerosa, muito religiosa (de resto, a paróquia é um apoio), que sabe que vai morrer muito proximamente e procura um futuro para os filhos que vê possível, entregando-os a famílias com possibilidades. Entrega um, dois, três, quatro…, mas há uma criança (ou talvez mais) deficiente que não é adoptada e acaba numa instituição.
Deixa com a filha mais velha as direcções de todos os irmãos, na esperança de que não se percam uns dos outros.  
Já na fase terminal, resiste a tomar uma certa medicação que lhe alivia as dores, mas a torna inconsciente, alheada, incapaz de continuar a lutar pelos filhos.
Não recordo a figura nem o papel do marido, estaria ausente do filme, seria a senhora viúva?
Não sei, vi-o há muitos anos, e se o recordo hoje, é porque acabo de me cruzar com uma heroína semelhante à do filme, também em fase terminal, e que literalmente me reproduziu a frase: “o que será dos meus filhos”. Fico sem articular palavra, parece-me ouvir um coro de mães: “o que será dos meus filhos”. Haverá lá dor maior!

(publicado em 22/8/2012)

segunda-feira, 11 de junho de 2018

174, Última Parada - o filme

É um filme sobre meninos da rua, no Rio de Janeiro. Tem tudo o que estamos à espera: violência, tráfico, consumos, roubos, favelas..., a sobrevivência mais absoluta. O que mais impressiona é a escalada de uma criança, Ale, no mundo do crime. Impressiona ver como se perdem valores, sentimentos, referências..., como se passa por cima de tudo, como se engana, mente, trafica, mata...e, consequência inevitável, um dia é-se também assassinado. Ale foi capturado e morto a tiro pela polícia, na última paragem do  autocarro 174, quando levava a cabo mais um sequestro.  

Assistir à desumanização  deste jovem, quase criança, sem que ninguém tenha podido fazer nada, nem a  (suposta) mãe que, julgando ser o filho que o pai lhe tirara dos braços ainda criança, faz tudo, tudo mesmo, para o recuperar; nem Valquíria, a senhora da associação,  que, embora não desistindo dele, lhe diz, "não posso ajudar quem não quer ser ajudado". 

Há na vida do jovem uma espécie de precipício,  um buraco negro, sempre cada fez mais fundo, de que nunca se vislumbra vontade de sair, como se uma inevitabilidade lhe perturbasse o ser e lhe marcasse o destino.


(publicado em 17/9/2011)v

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Os meninos de São Judas, o filme

O filme fala dos meninos do reformatório de São Judas, na Irlanda, em 1939. Revela uma realidade que, apesar da brutalidade de algumas práticas, como o abuso sexual e a tortura física, se prolongou, por muitas décadas, em instituições similares – e é por isso que aquela violência parece quase não nos surpreender.
Mas há sempre um limite. Tínhamos assistido à tortura dos dois jovens, debruçados sobre um banco comprido de madeira, rente ao chão, com o resto dos companheiros a assistirem – tal como se torturavam, há séculos atrás, os escravos, presos ao tronco, em espectáculo público, para que todos vissem o que lhes podia também acontecer se ousassem desobedecer – mas não estávamos preparados para a cena do assassínio de Liam, a quem o padre John mata à chicotada e  pontapé.
O padre mata por motivos impossíveis de compreender. Quer saber por que apareceu no reformatório um professor laico, William Franklin. "Será comunista"?
O professor trata os jovens como pessoas, pelo nome próprio, promete responder às suas perguntas e levá-los a pensar para lá de si próprios e dos muros do colégio. Na noite de Natal, oferece a todos uma prenda, um livro, que contém algo de especial para cada um – poesia, literatura, teatro, vida, sentimentos, comprometimento… Os miúdos decoram frases, versos, fazem coros, récitas, teatros…
Algo de novo aconteceu e o padre John não aguenta. Estes são fantasmas que se prolongam por décadas. De algum modo, todos somos testemunhas, eu própria recordo uma adolescência e um início da idade adulta em que o comunismo era uma palavra maldita, como não seriam as pessoas que tinham essa ideologia e se empenhavam em transmiti-la? Excomungadas, obviamente. Ainda, hoje, não percebo nada. Mas, depois de sabermos o que se passou, nessa Europa de Leste, quando se derruba o muro de Berlim, vemos que nunca há o branco e o preto, mas nada justificava a paranóia e a maldade do padre John.
Franklin luta, com todas as suas forças, até os abusadores saírem de cena. (Sabe -se, no final do filme, que o padre Mac, o dos abusos sexuais, vai para os Estados Unidos, é-lhe dada uma paróquia e ainda vive; o padre John, o torturador implacável, é mandado para África e morre em 1969).  Decide, então, abandonar o colégio, mas não resiste à despedida, particularmente, à atitude de um dos jovens ao recitar-lhe poesias do livro que lhe dera. Franklin quebra. Não pode deixá-los já. Fica por mais cinco anos, alistando-se depois nas tropas aliadas. Morre, na frente de batalha, em 1944.
Para a sua luta é o fim, mas quantos começos não tinha já deixado atrás, junto dos jovens do colégio São Judas! Quantos começos não deixa, ainda, hoje, naqueles que vêem o filme e percebem a força de uma consciência! Nem tudo são entardeceres, mesmo nestes sombrios colégios. Viva o professor Franklin!

(publicado em 28/9/2012)

quarta-feira, 6 de junho de 2018

O pianista, o filme

Por razões que me escapam, os textos mais lidos neste blog são sobre filmes. Vou voltar a publicar alguns deles.   

É o relato de um sobrevivente, de alguém que perdeu toda a família, passou o inimaginável para sobreviver, mas nunca vendeu a alma. É sobre uma pessoa real, Szpliman,  que, na altura do filme, em 2000, ainda vivia em Varsóvia.
Talvez, o que mais perturbe sejam as cenas de humilhação, quando se perde completamente a capacidade de autonomia (ainda que, em rigor possamos dizer que tudo era humilhante), como a cena da dança, à saída do gueto, os judeus dançavam para os guardas, que troçavam, riam, voltavam a rir…; ou as cenas de sobrevivência, como quando um grupo de pessoas tenta roubar uma panela de sopa das mãos de uma senhora; ela foge, a sopa entorna-se, e aquelas pessoas lambem do chão, tudo, até ao mínimo resto de alimentos. Também, a cena da criança que grita desesperadamente em casa, a certa altura, sai por um buraco para a rua, mas é tal  o seu estado que morre, ali, à nossa frente.
Foi o mesmo desespero por comida que levou o pianista, quando estava refugiado numa casa e a pessoa que devia levar-lhe alimentos não pode fazê-lo, tal a dimensão do tiroteio em Varsóvia, a procurar alimentos por todo o lado, a abrir portas de armários, a fechar portas,  procurando alguma coisa que pudesse comer. Quando finalmente encontra uma lata, agarra-a com tanta força que a  lata cai no chão, espalha-se a farinha e o barulho é tal que os vizinhos chamam a polícia e o pianista é preso.
Também, há no filme encontros humanos muito bonitos: os polacos não judeus que resolvem ajudar os judeus a sobreviver, a organizar a resistência no gueto, etc. Há um encontro particularmente improvável de um soldado alemão que encontra o pianista, fugindo e  escondendo-se.  Olha-o e pergunta-lhe:
- Quem é você?
- Sou pianista (hesita), eu era pianista.
Há um clic qualquer no SS que resolve ajudá-lo. Depois do cerco a Varsóvia, este soldado, tal como todos os outros, é preso e lavado pelos russos para um campo de prisioneiros. Um dia viu, ao longe, um rapaz que gritava:“eu era violinista, tiraram-me tudo".
Lembrou-se do pianista, levantou-se, afastou-se do grupo e disse ao violinista:
- Conhece Szpliman? 
- Sim.
- Diga-lhe que estou aqui.
Mas, quando Szpilman o procurou, no campo de prisioneiros, depois de ter tido conhecimento do sucedido, percebeu que o campo tinha sido desmantelado e que esse soldado já não estava vivo.
O filme é em sua memória e em memória de todos os judeus mortos.

(publicado em 30/5/2015)

sábado, 26 de maio de 2018

Mãe-negra - palmas para Paulo de Carvalho

Hoje de manhã, por acaso, pois, abri a televisão um pouco antes, ouvi o Paulo de Carvalho cantar, em direto, a "A mãe negra". Emocionei-me. Ninguém imagina a importância que algumas canções deste  artista têm na minha vida, desde os dezassete anos, pelo menos.  Deixo o poema para quem quiser ler e pensar.

Prelúdio
 Pela estrada desce a noite
Mãe-negra desce com ela.
Nem buganvílias vermelhas,
Nem vestidinhos de folhos,
Nem brincadeiras de guisos,
Nas suas mãos apertadas.
Só duas lágrimas grossas,
Em duas faces cansadas.
 Mãe-negra tem voz de vento,
Voz de silêncio batendo
Nas folhas do cajueiro...
 Tem voz de noite descendo,
De mansinho pela estrada...
 Que é feito desses meninos
Que gostava de embalar?....
 Que é feito desses meninos
Que ela ajudou a criar?...
Quem ouve agora histórias
Que costumava contar?...
 Mãe negra não sabe nada...
Mas ai de quem sabe tudo, como eu sei tudo
Mãe-negra!...
 Os teus meninos cresceram,
E esqueceram as histórias
Que costumava contar...
 Muitos partiram pr’a longe
Quem sabe se hão-de voltar!...
Só tu ficaste esperando,
Mãos cruzadas no regaço,
Bem quieta bem calada
 É a tua voz deste vento,
Desta saudade descendo,
De mansinho pela estrada...
 (poesia de Alda Lara, in Poemas, 1966, Angola, in Os direitos humanos na Língua Portuguesa, )
  

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Educação e valores


Quem deu à luz um monstro, está obrigado a amamentá-lo - um provérbio africano 

Quem criou um monstro, o ajudou a crescer, está obrigado a conviver com ele, pois, de algum modo, é responsável por aquilo em que aquele ser se transformou. Mostra bem como a ação de criar, de ajudar a crescer, de educar, é fundamental.

É uma verdadeira responsabilidade. Como criamos? Como educamos? Que valores, ideias e sentimentos colocamos no coração e na mente daqueles que educamos? 

É razoável pensar que, se crescemos a aprender a odiar, é normal que odiemos. Se na família, na comunidade, na escola … criarmos seres que odeiam, exploram, torturam, fazem mal..., não podemos esperar  grande coisa. 

quinta-feira, 24 de maio de 2018

A educação, um direito humano


Não dês o peixe, ensina a pescar - é um provérbio chinês muito conhecido, que mostra a importância da educação.
                                                                                
 Parece óbvio, pois, quem sabe pescar, se tiver condições e vontade, pesca. É isto educar: dar ferramentas, conhecimentos, desenvolver capacidades e tornar possível determinadas atitudes e comportamentos.
Mas é mais que isso; educar é também um modelo de desenvolvimento, por exemplo, os países do 3º mundo só se desenvolverão de forma sustentada se “forem ensinados a pescar” se desenvolverem as suas capacidades e os seus conhecimentos, se aliarem de forma consistente o saber, a técnica e os recursos naturais. Na educação está a chave para o desenvolvimento e a justiça global.

terça-feira, 22 de maio de 2018

O ditador Maduro


Houve eleições, dia 20 de maio, na Venezuela; o presidente Maduro ganhou, como se esperava. Como é que um homem vê um país a desmoronar, económica e socialmente, onde falta tudo, onde se sobrevive, onde se morre por não haver medicamentos…, e continua a propaganda revolucionária, como se a ideologia resolvesse todos os problemas.
Com uma nova constituição, feita à medida, com pseudo-instituições e com a gritaria de sempre quer convencer que é um democrata, que as eleições foram livres e justas, que havia observadores internacionais, que a oposição não foi reprimida, que há comida na mesa de todos, e se não há a culpa é dos outros. Estou tão cansada de ditadores, sejam de esquerda ou de direita, tanto faz, quando oprimem e levam à miséria os seus próprios países, mesmo falando de direitos.
A Venezuela está mergulhada num caos cada vez maior que tem tudo para acabar muito mal.  


quarta-feira, 9 de maio de 2018

Elogio para Joana Marques Vidal – Procuradora Geral da República


Cautelosa, quase pedindo licença para passar, chegou onde ninguém tinha chegado, porque, manifestamente, quis chegar, quis afrontar poderes, quis mostrar como a lei é igual para todos.
A promiscuidade entre política e negócios, entre empresas e banqueiros, teceu uma teia de interesses e de impunidades, que nunca passou pela cabeça desses senhores (Salgado, Sócrates e outros noutros processos) a possibilidade de serem investigados. 
Não é só trabalho da Procuradora Geral, como é evidente. Mas ela merece, particularmente, pelo entendimento, levado à séria, de que todos devem ser investigados, logo que surja o menor indício de corrupção.  

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Regra de ouro


É interessante constatar como a universalidade moral está presente em expressões de senso comum, como esta: "Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti" – Regra de Ouro do viver humano.
O cumprimento desta regra  preserva todo o campo da ação ética: a liberdade individual; o respeito pelo outro; e a justiça para todos. 
É como se todos tivéssemos um sentimento do que é ser ético e o bom senso nos encaminhasse para ver no outro um igual.

quinta-feira, 3 de maio de 2018

O trabalho com direitos


Nos últimos anos, perderam-se muitos direitos. Desde logo, no caso dos desempregados, o direito a ter um trabalho; no caso dos precários, o direito a ter um trabalho estável, com horizontes de progressão e de realização pessoal (tanta gente a trabalhar fora da sua área e a viver em casa dos pais sem poder decidir da sua vida); no caso dos que ganham o ordenado mínimo, o sufoco contínuo de não ganharem para pagar as suas contas, mesmo trabalhando oito horas por dia.
Ambas as centrais sindicais salientaram a luta pelo aumento do salário mínimo, o que é verdadeiramente justo.

terça-feira, 1 de maio de 2018

O polvo continua, a corrupção


O caso Sócrates é tão triste! É a corrupção ao mais alto nível: passiva, ativa, pequena, maior, grande, muito grande, milhões, muitos milhões, contas offshore, lavagem de dinheiro, fuga ao fisco… e o povo atónito, ou nem tanto, assiste, muitos ainda incrédulos do que está a acontecer.
Mas o polvo vai continuar a estender os braços e outras personagens vão continuar a tremer. Há quem ache que a divulgação dos interrogatórios foi demais, porque atentam contra a dignidade dos visados; é verdade eu também acho, mas, não há outra maneira de sabermos do que estes senhores foram capazes de fazer. São uns a tramarem-se aos outros (Battaglia trama Salgado que trama Sócrates que trama Pinho que trama…), pelo meio andam outros (Santos Silva, Vara, Bava, Granadeiro…). Quem é que julgava isto possível! Não me continuem a dizer: «ainda não foram condenados, não podemos dizer nem isto nem aquilo». E então nós somos todos ignorantes!



quarta-feira, 25 de abril de 2018

Recordando José Afonso, cantor, poeta e tudo o mais



Hoje, no dia 25 de abril, deixo aqui um um texto que o Zeca Afonso escreveu à filha Joana quando estava preso.


«Querida Joana
 Como sabes eu estou preso mas também não sou um homem mau. Viste como foi. Não sejas rabugenta e ajuda o Pedro. Se ele estiver birrento lembra-te que ainda é bebé e tu mais crescida que ele. O que não gosto é que sejas egoísta porque é muito feio. Se alguma das tuas amigas querem tudo para elas deixa lá. Elas fazem mal mas tu não. Explica-lhes que não devem ser egoístas. Tem cuidado com os sugos e outras porcarias iguais porque podes ficar sem dentes. Depois mesmo que os queiras ter já ninguém te os pode pôr.
Ficas como os velhinhos. Alguns deles tinham a mania de comer guloseimas, gelados e caramelos. E também chocolates. Eu lembro-me muito de ti e do Pedro. O Zé ainda não cortou as barbas? Diz à Lena que eu não gosto que ela seja desarrumada. Todos têm que ajudar a mãe e a Dina.
 Muitos beijos do
Zeca Pai»
 


segunda-feira, 23 de abril de 2018

A lei da paridade: a questão das cotas, de 33% para 40%


Sou contra as cotas, na política, nos altos cargos diretivos de instituições públicas ou privadas, mas não porque considere que o problema está resolvido. Sou contra, por uma questão de princípio: quero que esses lugares sejam ocupados pelas pessoas mais capazes, independentemente do sexo; é a capacidade, a competência, o valor científico, técnico e humano, que aqui estão em causa. Claro que é muito difícil aferir algumas das competências, mas não pode ser de outra maneira e tem de processar-se da forma mais aberta e transparente que for possível.
Obviamente que sou sensível ao facto de tão poucas mulheres acederem a cargos de chefia; sou liminarmente contra os machismos, os preconceitos e a falta de oportunidades que impedem as mulheres que tem capacidade e vontade o possam fazer.