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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

"As crianças, Senhor..."

Soube-se há três ou quatro dias que em Portugal 20% das crianças são pobres, uma em cada cinco. Pronunciaram-se uns e outros, políticos, sindicalistas, pessoas ligadas à igreja e a ONG'S, e ninguém mostra surpresa, todos sabiam. Pergunta-se: e, então, por que chegámos a esta situação vergonhosa? Mais ainda, quando grande parte desta pobreza , que é a pobreza das famílias, resulta de rendimentos do trabalho, não apenas do desemprego. Alguma coisa está mal, muito mal, quando as pessoas, apesar de trabalharem oito ou mais horas por dia não ganham para viver condignamente e cuidar como é necessário das suas crianças. Todos sabiam, mas nem todos têm as mesmas responsabilidades, uns podem fazer muito mais e outros fazem tudo o que podem.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Ganhei o dia!

Ontem, encontrei num grande centro comercial uma rapariga que vendia numa loja, onde eu estava procurando algo.
- Desculpe, a senhora não é professora?
- Sou.
- Foi minha professora no 10º ano, há muito anos, na secundária do Lumiar. Está igual, lembro-me de si como se fosse hoje.
- Como é possível se já vão lá mais de 15 anos?
A conversa prolongou-se por uns instantes. Claro que eu não me lembrava dela, quantos alunos já tive nestes anos todos! Mas fiquei feliz, não sei bem porquê ou talvez saiba: é bom pensar que aqui e ali podemos ter deixado alguma marca.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Sair e ficar, tudo na mesma

Fidel Castro deixa o poder, depois de 49 anos. É muito tempo, demasiado tempo, para viver sem liberdade, sem esperança, assistindo ao desfazer de todos os sonhos. Fica o quê? Um povo à espera, uma democracia adiada, miséria, muita miséria, e a mesma retórica de sempre. Não é crível que muita coisa mude, não parece possível que possa mudar, mas a inevitabilidade da mudança chegará um dia, o que é pena é que seja necessário que morram os principais mandantes, mas claro, não estamos à espera que nenhum ditador se regenere.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Os números que dão para tudo

Hoje soube-se que o desemprego em Portugal subiu em 2007. Mas depois, vêm os que entendem de estatísticas e falam dos números conforme lhes convém, é esquisito ver como os números dão para tantas leituras. Para uns nunca se esteve tão mal, para outros que não, que estamos no bom caminho, porque o que se tem é de comparar é o último trimestre com o período homólogo do ano anterior, enfim... Mais de quatrocentas mil pessoas no desemprego, sem direito ao trabalho , com a sua vida parada ou à deriva. Quantos créditos por pagar! Quantas penhoras! Quantas expectativas frustradas! O custo pessoal e social de tudo isto tem de ser uma enormidade.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Outra vez Timor

O que há a fazer? Não podemos falar em democracias a funcionar, quando o grau de pobreza, de miséria e de falta de esperança são tão grandes para a maioria esmagadora da população, nomeadamente para os jovens. Claro que a resposta é política, claro que não questionamos a honestidade de alguns políticos, de muitas organizações internacionais e de tantas ONG'S presentes no terreno, mas, então, por que razão não conseguem uma situação de estabilidade mínima, apesar das forças militares e de segurança estrangeiras?
Outra vez um Estado sitiado e o povo à espera. À espera de sobreviver, de poder fazer coisas simples, como semear uma horta ou andar em paz pelas ruas. Ainda se vai descobrir que a resposta à violência está em grande medida na resposta que formos capazes de dar ao desenvolvimento, baseado em ideias simples e em ajudas consistentes com as pessoas e os locais. O microcrédito já começou a provar isso, porque não humilha a pessoa de mão estendida à espera de uma esmola, ao contrário, puxa pela sua auto-estima, ao dizer: acredito em si e no seu trabalho, por isso lhe empresto sem juros este dinheiro que me devolverá conforme as possibilidades que tiver. Mas claro, como é que os que ganham milhões e milhões e fazem tudo para ganhar ainda mais, entendem isto? Nunca entenderão.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Não poder olhar o rosto

A Holanda acaba de proibir o uso da burka , mesmo sendo apenas 150 as mulheres a usá-la naquele país, onde vivem cerca de oitocentos mil muçulmanos. Nem que fosse apenas uma, a lei seria igualmente importante, o que se trata aqui é de reconhecer que não podemos relacionar-nos com os outros, sem perder aspectos da nossa humanidade, se estamos impedidos de os olhar no rosto. É a própria identidade individual que está em causa, e nada há de mais fundamental, nenhuma crença, nenhum sentimento, nenhuma tradição. Ou será que há? O que faz com que pessoas educadas na Europa, vivendo em ambientes sociais livres e respeitadores dos direitos humanos, se sujeitem a isto? Há, porventura, algo da ordem da convicção profunda, onde a razão nem sequer espreita, que nos escapa. Eu por mim não entendo.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Treinados para morrer e matar

Uma reportagem da CNN mostrava um grupo de meninos, no Afeganistão, a quem a Al-qaeda treina para futuros terroristas ou mártires (depende do ponto de vista, como se sabe). Armados e encapuzados, como se fosse necessário, desde o primeiro momento, perder a relação como outro, com os outros, ficando o mais possível indistintos, despersonalizados, aprendem técnicas de terror.
Como se sentirá um menino de arma na mão a quem ensinam a matar ao mesmo tempo que lhe falam de um Deus? Será que é capaz de sentir ou já não sente? Voltará à noite a casa, jantará com os pais e os irmãos, alguém lhe dará um beijo de boa noite? Voltará a rezar a Alá antes de adormecer?

O uso de meninos pelos mandantes da guerra não é novo; a maldade humana também não, e o pior é que não cessa por decreto. Ainda que parcial, porque sempre o mal estará à espreita, é outra a resposta: racionalidade, justiça, desenvolvimento, educação, etc. Todos sabem disto.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Quando a escolha é impossível

Uma mulher francesa converteu-se ao islamismo para poder casar com um engenheiro da Arábia Saudita, com quem teve dois filhos. Foi, porventura,uma bonita história de amor e, quando é assim, nada mais há a dizer. Acontece que o senhor morre e ela quer voltar para França com os filhos. Parece uma coisa razoável, mas acontece que pela lei islâmica é à família do marido que cabe prover ao sustento dela e dos filhos. Desenha-se um imenso conflito: submeter-se e ficar ou deixar os filhos e partir sozinha. Mas como se pode escolher entre estas duas alternativas? Quantos direitos aqui estão violados? Como pode uma tradição religiosa sobrepor-se ao direito humano de cada um viver livremente como entender e onde quiser?

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Lá longe, a escola

Ontem comecei a ver uma reportagem na SIC sobre o analfabetismo e fiquei tão perturbada que fechei a televisão. Não consegui ver. Na verdade, a miséria é uma bola de neve, um problema traz outro, e outro, e mais outro ... e a dado momento a quase impossibilidade de reacção.
Aquelas imagens, de uma jovem mãe com uma filha ao colo, junto à barraca onde mora, são um quadro que nos devia incomodar a todos, pois não chega dizer que pagamos impostos (os que pagam), mas devia sobretudo incomodar, dar pesadelos, a quem tem o poder e a obrigação de fazer alguma coisa mais e não faz.

Como estamos longe de uma escola para todos, por mais que as leis e os discursos digam o contrário!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Têm um diploma, e agora ...

É grande a discussão sobre a equidade dos sistemas educativos, a própria Comissão Europeia se tem referido a isso. Há quem entenda que há uma incompatibilidade teórica entre equidade e eficácia e, portanto, mais valeria um sistema rigoroso, selectivo, em vez de um facilitismo generalizado e um descrédito social nos diplomas e na própria instituição escolar, o que a longo prazo se voltará contra aqueles que agora o sistema pretende beneficiar. Outros entendem que nunca a eficácia se pode sobrepor à equidade e argumentam a favor duma complementaridade, a partir do princípio da diferença de Rawls.
Aparentemente também nós estamos aqui: temos um sistema equitativo que diferencia em benefício dos mais desfavorecidos, com o objectivo de incluir toda a gente. Isto tem notoriamente eficácia interna - diminue o abandono e o insucesso escolares e eleva o nível de escolarização dos portugueses -, mas terá igual eficácia externa? Terão os diplomas a credibilidade necessária? Haverá respostas para o futuro dos jovens ?

É que uma escola justa não pode ser geradora de outras e maiores desigualdades.