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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Quantos rostos tem a pobreza

Tinha vestido o casaco novo, as luvas e o cachecol da sua melhor amiga. Sentia-se outra:
 - Estou bonita? – Perguntou-me.
- Estás muito bonita.
- Eu não posso ter roupa nova, porque a minha mãe é pobre. Falava da situação familiar e da pobreza de forma desconcertante, como se isso normal,
- Tu tens roupa muito bonita, andas sempre muito vaidosa – digo-lhe.
 Saiu para intervalo, mas esse dia não brincaria com os colegas, não jogaria à bola, não jogaria à macaca… Esse dia iria subir e descer a rampa de acesso ao recreio e passear de um ao outro lados do parque como  se fosse uma modelo. Queria que a vissem, precisava disso, era uma maneira de passear a sua estima, de sentir-se elogiada…
Recordei uma história que na minha infância ouvi por várias vezes contar a uma vizinha: não tinha roupa, apenas um fato para a “cote”, um fato para os dias de semana, muitas vezes remendado, e um fato para o domingo.
Quando ia à casa da senhora, onde a mãe trabalhava, observava a roupa da filha da senhora e não resistia a vestir os vestidos da “menina”, que tinha a sua idade, e, às escondidas da mãe, punha-se à janela a ver se alguém passava e a via e também para ver a sua imagem reflectida nos vidros.
Ambas, com o espaço de quase um século, experimentavam sentimentos semelhantes: o desejo de ser bonitas, de ser vistas e  reconhecidas, que alguém as  valorizasse.

Violência de género,

Dia 25 de Novembro foi o dia internacional para a eliminação da violência de género. Por todo o lado se falou do tema. As estatísticas são negras, segundo dados da ONU, 70% das mulheres  sofrem em algum momento da sua vida violência de género,
Dois milhões de crianças, jovens e mulheres são vitimas de tráfico humano no mundo. Os dados são avassaladores. O problema tem uma amplitude que custa imaginar. Para fazer algo só através da mudança de mentalidades da educação para igualdade de  género desde a mais tenra idade.


 .

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A banalidade da violação de direitos

As violações de direitos humanos estão por todo o lado; estão na guerra da Síria, nos conflitos politicos e sociais do Mali, do Egipto, de Moçambique... e de tantos outros lugares, tal como estão nas diferentes discriminações, no desemprego, na violência doméstica... e noutras situações que quotidianamente vivemos e observamos.
Não há dúvida de que existem poderes políticos, económicos e sociais que ignoram e defraudam as justas expectativas das pessoas e dos povos, naquilo que é o seu ser fundamental: a dignidade, consagrada na Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH, 1948). É certo que se pode dizer que sempre houve margens, bairros de lata, pessoas desamparadas, sem-abrigos…, como se um destino inexorável ditasse as suas vidas, por gerações sucessivas. Ainda assim, não se trata de um determinismo, outro viver é possível. 

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Leonarda, a jovem cigana


Há umas semanas atrás, foi expulsa de França com a sua família e enviada para o Kosovo, de onde os pais são originários. Detida dentro do autocarro, durante um passeio escolar, o seu caso comoveu meio mundo.
Legalmente, nada a apontar, parece que se cumpriu o que as leis determinam, no caso de imigrantes ilegais em França.
Mas, o problema é que não se trata de uma questão de legalidade; é uma questão de moralidade, de justiça.
Escolarizada, integrada, com amigos, os colegas saíram às ruas exigindo o seu regresso ao país, viu a sua vida truncada, como milhares (se não milhões) de outros emigrantes clandestinos.  
Hollande (o presidente francês) foi obrigado a vir dizer que podia voltar, mas sozinha. Outra injustiça, como vem, uma criança de quinze anos, sem os pais? Ela recusou, o caso continua, pelo menos enquanto os média falarem dele, depois cairá no esquecimento como tantos outros dramas da imigração ilegal.



O tufão Yolanda, Filipinas

Há ilhas completamente arrasadas. Destruição por todo o lado, quase três mil mortos confirmados, milhares e milhares de desalojados, muitos feridos com marcas no corpo e na alma que dificilmente vão sarar.
Olho a jovem mãe que pede ajuda para enterrar o seu bebé que já começa a cheirar mal; olho a idosa que acaba de morrer no centro de acolhimento improvisado; olho a multidão que se aglomera junto ao porto esperando um lugar no barco, mas acaba por ficar, porque só há lugar para os casos mais urgentes; olho as valas comuns onde se enterram os mortos para evitar epidemias…

Olho e penso na contingência humana, na sua desdita e na sua desgraça. Penso na ajuda humanitária da ONU que não chega como devia, apesar da ajuda internacional, e sempre com a mesma desculpa: dificuldades de logística, burocracias, atrasos,… e os que não podem aguentar mais vão morrendo, debaixo das câmaras de televisão. A morte humana não é um espectáculo, mas há alturas, como agora, que quase desculpamos, porque sem imagens como estas, muitas consciências adormecidas dos poderosos do mundo continuariam a dormir descansadas. E é preciso fazer muito mais do que aquilo que está a ser feito. É preciso levar a sério os desequilíbrios ambientais e as alterações do clima, como repetem vezes sem conta os entendidos nestes temas.