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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Ficava-lhe tão bem, a blusa

Era uma blusa de algodão muito fininha, de uma malha rendilhada, verde alface, pouco forte, muito bonita, que lhe ficava muito bem. Poucas vezes tinha  sido vestida, estava nova, embora tivesse já muitos anos. Sempre viajava com a dona, em viagens, em férias, mas depois não era vestida, por ficar curta, talvez.
- Tenho uma blusa bonita, quase nova, mas não sei se te serve?
- Serve, de certeza; posso experimentar.
- Vou buscá-la e se te ficar bem, podes ficar com ela. Finalmente, a blusa verde alface ia servir para alguma coisa. Podia sair da mala, percorrer as ruas, ir à escola, ao mercado, e quem sabe, até, às festas. Iria ser usada, ter o destino que merecia, afinal.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Demagogia e o mais

O buraco financeiro na Madeira é enorme, não se esperava tanto, embora, para o comum dos mortais, que visitasse a ilha, fosse perceptível a impossibilidade daquele desenvolvimento ser sustentável. Mas, o que mais incomoda é o tom desafiador do presidente do governo regional, como se o que fez fosse uma coisa de somenos, usando toda a demagogia e todo o populismo: tudo em nome do povo, para o povo - escolas , hospitais, centros de dia, lares da terceira idade..., nenhum esbanjamento, nem um cêntimo mal gasto. Tristes políticos! 

sábado, 17 de setembro de 2011

174, Última Parada

É um filme sobre meninos da rua, no Rio de Janeiro. Tem tudo o que estamos à espera: violência, tráfico, consumos, roubos, favelas..., a sobrevivência mais absoluta. O que mais impressiona é a escalada de uma criança, Ale, no mundo do crime. Impressiona ver como se perdem valores, sentimentos, referências..., como se passa por cima de tudo, como se engana, mente, trafica, mata...e, consequência inevitável, um dia é-se também assassinado. Ale foi capturado e morto a tiro pela polícia, na última paragem do  autocarro 174, quando levava a cabo mais um sequestro.  Assistir à desumanização  deste jovem, quase criança, sem que ninguém tenha podido fazer nada, nem a  (suposta) mãe que, julgando ser o filho que o pai lhe tirara dos braços ainda criança, faz tudo, tudo mesmo, para o recuperar; nem Valquíria, a senhora da associação,  que, embora não desistindo dele, lhe diz, "não posso ajudar quem não quer ser ajudado". Há na vida do jovem uma espécie de precipício,  um buraco negro, sempre cada fez mais fundo, de que nunca se vislumbra vontade de sair, como se uma inevitabilidade lhe perturbasse o ser e lhe marcasse o destino.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A bala assassina, destruam as armas

A mãe pássaro está aflita e chora desde a hora que o filho mais novo saiu de casa. Pediu-lhe muitas vezes para não sair sozinho para muito longe, porque não tinha prática de voo, porque não sabia bem como evitar o perigo e fugir das armadilhas. Mas ele, um pouco rebelde e convencido que sabia tudo – sim, que às vezes os jovens pensam que sabem tudo – não ouviu a mãe e partiu.
Hoje, chegou ao bando a notícia da sua morte. Quem terá coragem de dizer à mãe-pássaro que o seu filho morreu?
Morreu com um tiro certeiro que alguém lhe atirou. O chumbo mata e o homem que usou a carabina sabia disso. Não é inocente, comprou e aprendeu a usar essa arma que mata. Já matou e pode continuar a matar. O passarinho morreu por nada e para nada. Não morreu contra um rochedo quando treinava o voo, não morreu numa missão da sua vida de todos os dias como seja a procurar alimentos. Morreu porque o homem que o matou sente prazer em aperfeiçoar a destreza do tiro e contemplar o espectáculo da morte.
Eu sei que este homem não compreende, nem nunca poderá compreender, as lágrimas da mãe-pássaro. Hoje, essa arma matou o pássaro e mesmo que o homem amanhã a venda continuará a matar, sabe-se lá onde, sabe-se lá o quê. O perigo é ela existir.

sábado, 10 de setembro de 2011

Nas margens, sei que são ciganos romenos

O sinal ficou vermelho; paro no cruzamento. Uma jovem mulher, com um filho  mais à cintura que ao colo, aproxima-se de mim e entrega-me uma folha de papel. Leio: “Sou romena, tenho 5 filhos, preciso de ajuda para comer. O meu marido está muito doente".
Não sei se é verdade, ninguém sabe, estratagemas deste género são às dezenas. Pode ser mentira, claro,  mas não é mentira a sua fragilidade, o seu aspecto, a vida desgraçada que leva.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Idosos

Saiam do hospital, da consulta externa de cardiologia. Tinham ambos oitenta e muitos anos, usavam bengala, cada um apoiando-se nela, ao mesmo tempo que se apoiavam um ao outro com o braço livre. Não era fácil ver quem apoiava quem, tal era a fragilidade dos dois. Esperavam um táxi, naquele dia chuvoso de início de Setembro. Quando o táxi chegou, tiveram de descer cinco ou seis escadas, o que parecia algo impossível; a dificuldade dela em mexer os pés, em começar a andar, impressionava; ele atento, a querer ajudar, sem poder, que afinal era quem mais precisava de ajuda, foi ela que o apoiou, deu-lhe a mão e desceram. Entretanto, o motorista, já fora do carro, ajudou-os a entrar. Partiram, espera-os, à chegada a casa, o mesmo esforço, a mesma dificuldade, a mesma preocupação, preocupação de um pelo outro, disso tenho a certeza. Não sei se estas pessoas são já vítimas dos cortes no transporte de doentes às consultas, talvez sejam, é certo que, se fossem numa ambulância, teriam outro apoio e outro conforto. Sempre foi difícil ser velho, mas temo que seja cada vez pior.










quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Crise social, desemprego e o mais

Quando este governo iniciou funções, tínhamos  (eu pelo menos tinha) a impressão de que haveria uma luz ao fundo do túnel, sem mentiras, falsas ilusões, etc. Mas a situação interna e externa
 é de tal ordem que parece não existirem soluções, pior, há propostas, de economistas e altos dirigentes, aqui e na Europa, mesmo antagónicas. Caminhamos para onde? Está difícil ver claro.