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sexta-feira, 27 de junho de 2008

Uma situação insustentável

O que se está a passar no Zimbabué ultrapassa o que se pode pensar como possível, mesmo tendo em conta a total maldade do ditador e dos seus comparsas. Para mim, é um caso de sanidade mental, Mugabe não pode estar em perfeito juízo, não pode. O que fazer? Esperar que Deus o tire do lugar, a única forma possível, como diz o próprio, ou obrigar, por pressão das opiniões públicas mundiais, a ONU e outros organismos a fazer alguma coisa de substantivo? Não chega condenar, não reconhecer, impor sanções, porque nada resulta. Este homem não pode continuar no poder. A farsa é desmesurada, maior só a miséria do povo.
Não há outro interlocutor no regime? Mas há oposição, que o povo já legitimou, por que é que a comunidade internacional não tem isto em conta? Esperamos para ver.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Antigo entreposto de escravos

Visitei uma fortaleza na costa africana, monumento recuperado pela cooperação espanhola, que foi, por mais de quatro séculos, entreposto de escravos. Por momentos, o peso da história - que não podemos reescrever nunca, mas que nos deve ensinar sempre alguma coisa - cai-nos em cima. O tráfico negreiro é uma nódoa na história do mundo, da Europa e de Portugal. Tantos momentos tristes, mesmo que depois nos falem de coisas de que nos devemos orgulhar. Falem do resto também.

domingo, 22 de junho de 2008

O regresso de refugiados

Há dois dias, a 20 de Junho, comemorou-se o dia Internacional do Refugiado, mais de 30 milhões em todo o mundo. Por perseguições religiosas, políticas ou étnicas, devido a conflitos armados, muitas pessoas fogem das suas terras, do seu país, para encontrarem segurança em países vizinhos. Há uma Convenção Internacional (1951) e um Alto Comissariado (ACNUR) que define o seu estatuto e os apoia. Quando os conflitos terminam muitos regressam ao país de origem, com alguma ajuda para iniciar de novo a sua vida. Mas todos trazem a ideia da aldeia, da estrada, dos campos, da casa, do poço, da horta, que deixaram. O pior é quando ela já não existe, ou já não se reconhece ou já não se pode fazer prova da sua posse. Uma refugiada do Burundi, dez anos em campos de refugiados na Tanzânia, sem ninguém para a receber, conta a sua história ao funcionário do governo, quando descem da carrinha do ACNUR:
- O senhor não me está a compreender. Eu não tenho familiares nesta zona, mas sou daqui, os meus pais e os meus sogros tinham terras aqui, mas não sei onde elas ficam. Eu quero ficar nas terras dos meus sogros, sou viúva, tenho oito filhos. Morreram todos os meus familiares. Não há ninguém para me receber, compreende o senhor! Mas sou daqui.
- Tem de esperar, espere aí, tenho de saber...
É assim a vida para muitos dos que voltam, uma vez mais no fim da fila, à espera. Porventura, de nada.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Má sorte, ser imigrante ilegal

Ontem, a Comissão Europeia aprovou a nova lei do repatriamento de imigrantes ilegais. Na verdade, não podem entrar na Europa todos aqueles que o desejem , é preciso regular os fluxos e garantir-lhes condições mínimas. Mas, em muitos casos, a imigração ilegal é o fim da linha, não têm outra saída. São repatriados, mas voltarão a tentar de novo, porque em muitas regiões do mundo, as condições de vida agravam-se, a cada dia que passa. Hoje, mesmo, milhões de pessoas irão dormir com fome, sub-nutridas, vulneráveis a doenças e a epidemias que as deixarão marcadas para o resto das suas vidas ou as levarão a uma morte prematura – a SIDA é o caso mais flagrante, com dimensões devastadoras, mas continuam a matar a malária, a tuberculose, a cólera, etc. Hoje, mesmo, milhares seres humanos voltarão a cruzar desertos, continentes e oceanos, para chegar à Europa. Não têm alternativa. É de uma alternativa que precisam, os políticos europeus e mundiais têm a obrigação moral de a encontrar ou então a política vale muito pouco.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Que valor tem o referendo europeu?

Não percebo nada de economia, e, portanto, a minha desconfiança pode ser só ignorância. A economia tornou-se nos tempos que correm algo de "sagrado", com os seus gurus a analisar, a dizer, a prever (às vezes muito mal, por certo). Em nome dela, por ela, se governa o mundo, se fazem escolhas, decisões, etc. e até se põe em causa a democracia.
Mas, por favor, não enganem o povo, se acham que o Tratado de Lisboa - como já antes a Constituição que quiseram fazer aprovar - é algo decisivo para a Europa, para o futuro de todos nós, e já viram que muitos europeus, quando expressam o seu voto, não pensam assim, porque consultam o povo, apenas para cumprir formalidades democráticas ou para procederem democraticamente, cumprindo escrupulosamente os resultados? Basta um raciocínio simples: era necessário que a Irlanda aprovasse o Tratado, não aprovou, logo, não há Tratado. Mas à lógica, impõem-se os interesses da "alta política", o que antes era, hoje já não é, e siga o processo. Que bela democracia a destes senhores da Europa!

domingo, 15 de junho de 2008

A selva urbana

Como todas as frases que se aplicam a tudo, esta corre o risco de perder o sentido. Vi umas imagens do metropolitano de Paris - a suburbana linha 13 - que a partir das cinco e meia da manhã é já hora de ponta, com funcionários nas estações a empurrar as pessoas para se poderem fechar as portas, e quase fiquei em choque. O desumano da cena, comum a todas as grandes cidades, leva-me a pensar: caminhamos para onde? E se a gasolina continuar a subir, a subir, e mais, e mais, pessoas tiverem que andar de metro? Será a ruptura? Pensaremos então em novos modos de habitar os espaços?
Aprendemos tão pouco em tantos anos de civilização! Tantas incompatibilidades com o viver simples, próximo e solidário! Por mais que usemos a retórica, a realidade que criámos esmaga-nos.

sábado, 14 de junho de 2008

Todos os fundamentalismos reduzem o humano

Também não gostei de ouvir o Presidente da República referir-se à raça, mas não faço disso uma tempestade, até porque se tratou de uma gafe. É assim que eu vejo.
Estou contra os fundamentalismos, pela irracionalidade que muitas vezes contém e sempre pela pobreza que constituem, ao reduzirem o campo de conhecimento, de análise e de acção - aquilo que deve constituir a base da escolha individual - a uma resposta já feita, seja de natureza ideológica, religiosa ou outra.
Mas também me aborrecem, quase diría, os novos fundamentalismos, o daquelas pessoas "militantes", eu conheço algumas, que tem uma visão tão restrita que caem em atitudes que tocam o ridículo. Há tempos escrevi um pequeno texto, e alguém o corrigiu: onde eu tinha "os alunos", colocou " as alunas e os alunos", onde tinha "os professores", colocou "as professoras e os professores", onde tinha "os pais", colocou "a mãe e o pai", etc.
Observei: - isto prejudica a clareza do discurso.
-Mas tem de ser assim - disseram-me .
Em presença de tal correcção, perguntei: - então, é sempre o género feminino, antes?
- Não, a gente vai trocando, umas vezes "as" outras vezes "os".
Grande explicação, não percebeu nada do que lhe estava a querer dizer. Perante isto, desisti. O que ia dizer a quem tem da relação e da igualdade de género uma visão tão redutora? Nada. Por mim, não aceito fundamentalismos destes, porque o essencial não está aí, todos sabemos e essas pessoas também deviam sabê-lo. Mas se quiserem continuar, façam favor, mas já agora vejam se percebem que o mais importante é fazer tudo para que as pessoas não falhem nas suas atitudes e comportamentos, o mesmo é dizer, nos valores da estima, da igualdade e do respeito que devemos uns aos outros..

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Que loucura é esta!

Como se de uma catástrofe natural se tratasse, e como se os homens, os que dominam a política e a economia, não tivessem nada a ver com isto, aí está a falta de alimentos, a fome a espreitar, já não só em África mas em muitas outras partes do mundo e até nos países ricos, mas claro apenas para aqueles que nestes países são pobres, sem emprego, excluídos .
Parece que a civilização e o desenvolvimento, que julgámos imparável, dá mostras de ruptura, não é coisa que racionalmente não se possa compreender, não precisamos de profecias sobre o fim do mundo - já alguém disse que as próximas armas serão de novo os arcos e as flechas, tal o tamanho de destruição das que existem, e a fome é a pior. Será o regresso ao início, se houver inicio, não é seguro que haja.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Obama! Obama! Obama!

Olho Obama a declarar a sua vitória nas Primárias dos Estados Unidos, a abraçar a mulher, a dirigir-se à sua adversária, e penso: é uma pessoa especial, tem de ser, para isto ter sido possível, de vez enquando a humanidade é brindada com homens sábios, brilhantes, bons. Sei que Obama não vai decepcionar, tenho a certeza. Algo de novo acaba de acontecer.