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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Houla, mais uma matança

Nos últimos dias, as tropas do regime sírio atacaram civis, entraram nas casas, e mataram dezenas de homens, mulheres e crianças. Perante a barbárie a comunidade internacional começa a mexer-se, são expulsos embaixadores sírios de alguns países (Espanha, Reino Unido, Estados Unidos, Japão…), o presidente francês chega a falar de intervenção desde que com mandato das Nações Unidas – como deve ser, evidentemente.

Entretanto, o enviado especial para o conflito, Kofi Annan, vai a Damasco, mais uma vez, encontrar-se com o ditador: “o que acordamos não está ser cumprido, o povo não quer este futuro blá...blá…blá…). Já se viu, muitas vezes e em muito dos lados, que os ditadores nunca desistem, nunca saem pelo seu pé, só se depostos e, em muitos casos, depois de deixarem atrás um rasto de sangue e de destruição que há-de durar gerações. Com este senhor não ia ser diferente, depois de tantos meses de conflito, de tantas idas e vindas do enviado especial da ONU, infelizmente, só uma intervenção pode pôr fim ao regime e acabar com esta onda de mortes.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A fome espreita, no Sahel

A instabilidade política no Mali  levou a um número crescente de refugiados que pedem abrigo nos países vizinhos - Mauritânia, Burquina Faso, Níger, Chade…, aumentando a precariedade alimentar da região, sempre à beira da ruptura.
A fome é uma indignidade do mundo actual, de toda a gente. Uma enorme tragédia, tal como a guerra de que muitas vezes é consequência directa, a juntar aos desastres naturais e ao avanço das desertos.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Executado, pena de morte

Um enorme corredor, escuro, tétrico, três pessoas, um homem e duas mulheres,  de mais de sessenta anos, caminham em direcção à maca onde está o executado, embrulhado em lençóis mas com a cara descoberta. São, porventura, familiares próximos. Tocam-lhe com as mãos, como se fizessem mimos, despedem-se dele com palavras de ternura, de compaixão. Uma das senhoras (talvez a mãe) diz-lhe: “Sê um bom rapaz, porta-te bem”. O absurdo deste desejo podia ser patético, mas aqui não é. Ao contrário, a imagem é fortíssima.
Irá a enterrar daí a algum tempo. Mais uma vez não estará só, pelo menos os que aqui vieram estarão lá.

(sobre um executado, um jovem ainda, algures no Texas, mas que podia ser em muitos outros lugares do mundo)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Explosões em Damasco, capital da Síria

Damasco, uma cidade bíblica, carregada de simbolismo, é hoje palco de uma quase guerra civil, com uma desolação e uma ameaça crescentes invadindo as ruas. Ontem, duas bombas explodiram, mais de 55 pessoas mortas e mais de trezentas e setenta feridas. É a barbárie no seu auge, planeada, pensada, executada sobre inocentes.
A violência de um regime – uma ditadura – que finge eleições, promete cumprir acordos, mas tudo não passa de manobras de diversão para ganhar tempo e continuar eternizar-se no poder. Muda-se tanta coisa, intervêm-se em tanto lado, mas aqui a ONU assiste, sim, que o que fez até hoje pouco mais é que observar. Nenhuma Resolução, nenhuma acção capaz de parar com os confrontos, bem sei que a Rússia e outros o impedem. E, entretanto, o povo continua acurralado e a morrer.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

A extrema direita, na Europa

Assistimos, quase incrédulos, no dia das eleições gregas, ao partido da extrema direita, que acabava de eleger 20 deputados, a exigir, numa conferencia de imprensa, que os jornalistas se levantassem à entrada do líder.  Julgávamos isto do passado, mas não é, e de aqui ao lado, da velha e instruída Europa. É preciso reflectir sobre as razões deste fenómeno que não exclusivo da Grécia,  veja-se o que aconteceu com estes partidos na França, na Holanda, na Áustria e mesmo na Alemanha. Parece evidente que as democracias não sabem lidar com o problema, pois em nome da liberdade individual, entende-se que o povo tem direito a exprimir-se como quer, e tem , mas as sociedades não podem viver com quem não respeita os pilares das democracias, a dignidade humana, o respeito pelo outro e a pluralidade de valores.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

A escrava livre, o filme

É um filme antigo, um clássico do cinema, que retrata o final da escravatura nos Estados Unidos, nos finais do século XIX. Quem são os escravos? De algum modo, todos são escravos: uns por desumana imposição, outros porque não se conseguem libertar do seu passado cruel de mercadores e traficantes de seres humanos, outros por incapacidade de aceitar o que lhes calha em sorte ou azar.
O antigo mercador de escravos vive um particular tormento, degladia-se consigo mesmo,  dentro de uma consciência perturbada, incapaz  de uma saída.
Rau-rau, o jovem negro, que ele cria como se fosse filho, estuda, anda bem vestido e é bem tratado, mas é consumido por um quase ódio, pois, esta bondade do senhor é para ele  insuportável. Sente-se escravo, identifica-se com a luta mas como poderá revoltar-se contra o senhor?
A jovem mulata, a protagonista, filha de um senhor branco com uma negra, nunca se sentiu negra, julgava-se branca, livre, viveu sem qualquer problema de identidade, estudou nos melhores colégios e frequentou a melhor sociedade, até ao dia em que o pai morre e é vendida com todos os outros. O mesmo destino: o mercado de escravos, em Nova Orleães, vendidos pelo melhor preço, num humilhante leilão.
É aí que aparece o tal antigo mercador de escravos, agora um rico proprietário de fazendas e palacetes em várias regiões. Oferece uma quantia exorbitante que desafia qualquer outra proposta. Leva-a para casa, manda-a instalar no quarto de hóspedes e pede para que seja tratada como uma senhora. Ela reage, quer viver como os escravos, ser como eles, se é de facto escrava. Mas não está ali para isso, e sabe-o.
No primeiro dia que sai para comprar vestidos, chapéus e outros luxos vindos de Paris, tenta a fuga. É apanhada, à entrada do barco. Está vigiada por Rau-rau, o fiel criado. Volta para casa e a vida segue. Um dia acaba por ceder ao senhor, beijam-se. Enquanto, a bonita escrava, a governanta da casa, sofre por dentro e por fora em silêncio. “Gosta muito dele” - diz-lhe a jovem.
Mas há um dia em que o coração a trai, também ela começa a gostar dele. É por isso que, certa vez, não continua a viagem  e no último momento resolve sair também do barco, e é por isso que reage às investidas do fazendeiro branco, amigo do senhor,  quando este está fora.
Um dia, porque a ama, conta-lhe tudo, o seu passado de traficante, como enriqueceu, o que fez, como tratou os escravos…, conta também a história de Rau, a mae morre com um bébe ao colo, aos poucos dias de chegar ao barco negreiro, recolhe-o e cuida dele até hoje.
Depois disto, deixa a jovem voltar para casa. Mas, não é um regresso a casa, encontra o antigo namorado, mas muitas coisas estavam estilhaçadas e  sem possibilidade de se remediarem.
Volta à fazenda onde deixou o antigo mercador e encontra Rau,agora já soldado da revolução, também ele voltou para ter um duelo com o senhor, mas incapaz de o fazer, deixou-o fugir. “Sei onde está, sei como encontra-lo” – diz-lhe.
E sabia.  Encontram-se e partem num pequeno barco que os espera no rio. Ficamos a pensar que o amor pode tudo, pode até achar que olhos de monstros se tornam em olhos de cordeiros, ou se calhar que os monstros também são cordeiros.
Mas, para o espectador, pelo menos para mim, ele continua sombrio, olho-o e vejo o traficante de escravos que sem piedade comprou, aprisionou e maltratou milhares e milhares de inocentes. Não sou capaz de ver mais nada, é que ser mercador e negociante de escravos, dono e capitão de um barco negreiro, é demais.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Charles Taylor, julgado e condenado pelo TPI

O TPI (Tribunal Penal Internacional) julgou o antigo presidente da Libéria, por crimes contra a humanidade. É mais um aviso para o que pensam estar impunes. Senhores que matam, contrabandeiam, traficam, violam, mutilam, exploram…, como se nada se passasse, como se um poder absoluto lhes iluminasse a mente, pavoneando-se com toda a espécie de luxos e apertando a mão a outros que tais.
Agora, sabe-se que podem ser capturados, presos, julgados e condenados. Taylor não é o primeiro nem será o último a sentar-se no banco dos réus. Ficou provado que armou os rebeldes da Serra Leoa, que pactou ou patrocinou toda a espécie de crimes. Intolerável, portanto.