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sábado, 29 de março de 2008

Ainda, a violência na escola

Uma maneira de lidar com a questão da violência escolar, parece-me a mim, é tentar perspectivar as questões ao nível daquilo a que Ricoeur chama de sabedoria prática: há regras, todos sabemos, os alunos sabem, devem ser cumpridas, mas nem sempre são, umas vezes por impossibilidades práticas, motivadas por circunstâncias várias, outras vezes por escolhas e atitudes individuais. Aceite-se a dificuldade dos casos de violência, oiçam-se os que mais sabem sobre o problema, de forma discutida, concertada, sábia, para termos a certeza de encontrar as melhores respostas, mesmo que não sejam as soluções que desejamos.
Temo que a abordagem parcelar deste problema (a pedagogia, a psicologia, a sociologia, o regulamento escolar, a justiça criminal, etc. ), nos leve sempre a discursos e a procedimentos justapostos, quando não contraditórios, que em vez de reforçar a autoridade a diluem quase completamente. É o que tem acontecido.

quarta-feira, 26 de março de 2008

A violência na escola

Infelizmente não se pode dizer que a violência chegou à escola. A violência está na escola e desde há muito tempo. É uma questão tão complexa e difícil, que não tem explicações nem respostas lineares, por isso os que se têm pronunciado fazendo alarido podiam pensar nisto. Todos acabaríamos com a violência, na escola e em outros contextos, se pudéssemos. Mas denunciar é (e será sempre) a melhor maneira de minorar os problemas. As imagens gravadas pelo telemóvel de um aluno, numa escola do Porto, apesar da gravidade da situação - não é desculpável, nem o que fez a aluna nem o que fez a turma - podem ser uma oportunidade para se enfrentar com outra determinação o problema da violência em espaço escolar.

terça-feira, 25 de março de 2008

Ouvem-se os gritos !

O povo tibetano grita, mas onde estão os gritos da comunidade internacional? Têm medo de quê? De quem? Sim, é a China, a grande China. A ditadura chinesa.
A anexação do Tibete é a violação dos direitos de um povo, de uma cultura, de uma religião, subjugados ao poder e aos (des)mandos dos senhores de Pequim. Na altura dos Jogos Olímpicos aparecerão todos na fotografia, bem vestidos e aprumados, cumprimentando os poderosos deste mundo, como se nada fosse. E quem não sabe, olhará para eles e julgará que parecem santos. Que ricas personagens!

terça-feira, 11 de março de 2008

Mulheres ciganas, quando a tradição pesa tanto!

Ontem a TVI apresentou uma reportagem sobre os ciganos, ou melhor, com os ciganos: tornou-os protagonistas, coisa que quase nunca acontece. Falaram de si mesmos, da sua exclusão, dos seus sonhos, das seus modos de vida, da sua música, da sua cultura, dos seus valores. A situação da mulher cigana tocou-me particularmente - a menina de onze anos que anda no 4º ano e vai ter de deixar de estudar, dizendo o pai: "senão depois não casa, fica para aí, e nós não queremos isso para ela" ; a jovem de quinze anos, que adora moda, e está a aprender a costurar num curso de formação, a quem um dia, ao chegar a casa, comunicaram que estava noiva, a família tinha-lhe arranjado o casamento; a jovem viúva, de luto carregado para toda a vida, não poderá mais divertir-se, voltar a casar, ver televisão, ouvir rádio, como se a vida tivesse terminado ali; outra jovem viúva com o filho pela mão, que não pôs luto pelo marido, com quem já não vivia, e é por isso criticada, por mais que ande de cabeça levantada.
A questão premente é encontrar um ponto de equilíbrio, que permita, sem a oposição da comunidade e até com a sua participação, ajudar estas mulheres a terem uma vida distinta.

sábado, 8 de março de 2008

Mais uma vez as cheias

As cheias em Moçambique são uma tragédia cíclica. Demasiado frequente para que aquelas populações, já na mais profunda probreza, possam, ano após ano, perder a casa de colmo e a "machamba" com alguns alimentos de sobrevivência. Nada resta. E ao nada, acrescenta-se a desolação, o sofrimento e as doenças.
Não é possível esta incompatibilidade entre a natureza e o humano, algo falha no planeamento (se é que existe) e na ajuda a estas pessoas (sempre de emergência). Tem de ser possível encontrar outras respostas que actuem nas causas dos problemas. Não se pode imaginar que não voltará a chover e que o rio não voltará a transbordar.

terça-feira, 4 de março de 2008

Liberdade, para os prisioneiros políticos

Ingrid Betancourt tinha um sonho para o seu país. Sonhou ser presidente da Colômbia e dar o melhor de si ao povo, mas, maldição, acabou prisioneira das FARC. Há seis anos sequestrada, minada pela doença, esta mulher forte desmorona fisíca e psicologicamente. Se nada for feito, o fim está próximo, segundo algumas notícias. Aquela carta que escreveu à mãe ecoa na minha mente, como ecoam os apelos dos filhos, etc., não é possível ficar insensível. Apesar de se multiplicarem os apelos e as movimentações diplomáticas, ao mais alto nível, ela continua sequestrada, embora nos últimos meses alguns prisioneiros tenham sido libertados.
Qual é o preço para Ingrid Betancourt? Quem são os que querem tirar dividendos? Por que não é possível a sua libertação? Assistimos, sem saber .

domingo, 2 de março de 2008

A escola é a maior oportunidade

Os meninos que a SIC mostrou, em 1998, pedindo esmola nas ruas do Funchal, são hoje jovens adultos. Aparentemente, só um está bem, dá a cara, fala de si, do futuro. A mãe morreu nesse mesmo ano, e o avô foi buscá-los, a ele e à irmã. Voltou à escola, começou a trabalhar, tem uma vida normal. Um outro jovem fala, sem mostrar a cara, duma vida de problemas, e os outros dois não aparecem na reportagem: estão perdidos na vida, por causa da droga e da desorientação, um dormindo numa qualquer rua de Londres e o outro preso numa prisão da Madeira.
O bairro onde viviam foi demolido, as famílias realojadas, mas todos os problemas sociais foram atrás. Triste destino, nascer e viver em certos bairros, não ver a luz mesmo que o sol brilhe e se abram todas as janelas! Se o jovem que saiu do bairro e foi viver com o avô tivesse ficado no Funchal, a pedir esmola para o padrasto, teria tido, seguramente, o mesmo destino. É difícil, muito difícil, remar contra a maré.

sábado, 1 de março de 2008

Desespero ou maldade

Aconteceu um horrível crime, no Catujal-Loures: um filho, 40 anos, matou os pais e suicidou-se a seguir. Por mais razões que se possam aduzir, não há razões, nenhuma explicação é aceitável.

Mas, então, por que acontecem casos destes? Talvez, por um incontrolável desespero psicológico e mental, ou por um incontrolável afloramento de algo, vindo do lugar mais recôndito de nós mesmos, algo que desconhecemos, que julgamos impossível ter, mas que actos destes, cometidos por pessoas aparentemente normais, nos levam a questionar: que sabemos nós da natureza humana? Que sabemos nós da maldade que nós habita? Perturbador, não!