Pesquisar neste blogue

Mostrar mensagens com a etiqueta Interrogações. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Interrogações. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

O outro

 Quem é o outro, sentado a meu lado, em frente ou atrás de mim, no transporte público, na repartição, no teatro, na rua, na casa onde vivo…? 

Quem o outro que vejo sentado no muro de um qualquer lugar, que trabalha comigo, no mesmo gabinete, na mesma escola, no mesmo hospital…? 

Quem é o outro, meu vizinho, meu amigo, meu irmão, meu pai, meu marido, meu filho…?

quinta-feira, 17 de julho de 2014

A contingência humana

Todos os telejornais têm do mesmo: acidentes, mortes inesperadas… A certeza da morte deveria levar-nos a pensar no fundamental da condição humana: a contingência do viver.
Devíamos aprender desde pequenos  que estamos de passagem, e este pode ser o último dia, hora, minuto, segundo…
Palavreado cristão, etc., etc. Talvez, mas, no caso, é apenas bom senso.  Acumular riqueza, construir bancos, sistemas financeiros, com uma volatilidade tal que nos estonteia e que ninguém percebe ou controla, e não olhar para o essencial, não pode ser caminho para a humanidade.

Regressemos ao essencial, ao simples, ao olhar, em primeiro lugar, para o lado; resgatemos a proximidade com o outro; deixemos de nos estranhar uns aos outros. Terrível indiferença!

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Somos de onde? Somos quem?

Não lembro o título, era um filme/documentário, de que só vi uma parte, sobre uma jovem norte americana que chega à Palestina, a uma zona ocupada pelos israelitas, onde nasceram os pais e onde viveram todos os seus antepassados. É filha de palestinianos, imigrantes forçados, nos Estados Unidos.
Está aqui, na sua terra, mas é uma estranha. Clandestina nas suas intenções, fingindo-se turista, com um passaporte válido, mas com um visto já caducado, sabe que pode ser apanhada, num desses controlos policiais que estão por todo o lado e a cada passo.

Procura a aldeia dos pais. Mas já nada existe, ou melhor, nada existe como o ouviu descrever, vezes sem conta. Os nomes das cidades, das aldeias, dos vales e das colinas já não são os mesmos. Mudaram, tudo está escrito em hebraico, e ela não sabe hebraico.

Entra numa loja, pergunta pela terra dos pais, pronunciando diversas vezes, espaçadamente, o nome em árabe, mas o comerciante judio não sabe árabe e não pode ajudar.
Como se apaga assim um passado que, de resto, ainda é presente, é de há pouco mais de sessenta anos? Apaga-se, por decisão e persistência politicas, obviamente.

Ainda assim, a jovem continua o caminho e vai ter a um vale onde se depara com uma aldeia abandonada e destruída que julga ser a dos seus antepassados. Olha lenta e demoradamente o vale, o céu, as nuvens, o horizonte, o tudo e o nada, como se tivesse chegado a uma terra de destino que não consegue abarcar. Invadida por um sentimento profundo, abraça emocionada o jovem que a acompanha. Permanecem, nessa noite, na casa em ruínas, a um canto de parede, junto a um portal, talvez de uma antiga janela.

Partem na manhã, seguinte. Continuará a não pode dizer quem é, nem ao que veio, mentirá às autoridades, até ser possível, perdendo-se ou encontrando-se, nos vales da Palestina. Vales que também são seus. Podem lá os decretos, os Estados e as ocupações acabar com os sentimentos!

(releio e texto, e penso que se calhar o documentário não foi bem assim)


sexta-feira, 29 de julho de 2011

...toda a humanidade é rosto, Lévinas

Quem é esse outro que me responsabiliza e me humaniza continuamente? Esse outro que ocupa o lugar a meu lado, em frente ou atrás de mim, no transporte público, na repartição, no teatro, na rua, na casa onde vivo… Esse outro que vejo sentado no muro de um qualquer lugar, que trabalha comigo no mesmo campo, na mesma escola, no mesmo hospital… Esse outro, meu vizinho, meu amigo, meu irmão, meu filho…?
Algumas são pessoas a quem julgo conhecer bem e de quem, aparentemente, poderia falar. Mas, por mais que eu pudesse dizer acerca delas, nunca diria verdadeiramente quem são; o outro é alguém que não se deixa encerrar em nenhum conceito ou representação; o outro é e permanecerá um desconhecido, desde logo, para mim mas também para si próprio.
O outro é rosto. Não o rosto físico, percepcionado, que poderíamos descrever; mas o rosto metafísico, infinito, exterior a toda a ordem, a todo o significado, que se anuncia, na sua epifania. A manifestação do rosto é linguagem, discurso, fala, significado.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Violência: natureza ou condição do humano?

A célebre frase de Rousseau: “o homem nasce livre mas por
todo o lado o homem está a ferros”, que não perde infelizmente actualidade, conduz-nos à reflexão de que a maldade não é da natureza mas do viver humano.É a velha teoria de que o homem nasce bom... Contudo, a maldade faz parte de nós, ronda-nos, por dentro e por fora. Não somos bons, apenas. Se não fosse assim, como explicar a violência, os conflitos e a guerra, que não param, como se fosse destino do humano a contínua luta pela liberdade, pela justiça, pela tolerância e pela paz.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Quando tudo vale...

A multiplicidade de referências, aparentemente ilimitada, que os meios de comunicação, e particularmente a internet, põem na casa de cada um, não cria comunidade, proximidade, partilha e compromisso. Já ninguém luta por uma utopia, crescem, em vez disso, os individualismos, pessoais ou de grupo, com objectivos focados em que não se descortina o interesse geral. Tudo é efémero, precário, transitório, relativo. Mas se vale tudo e tudo se equivale, ao limite, nada vale. O vazio e o caos axiológico estão a uma curta distância.
Contudo, convém ter presente que nada é linear quando se trata de valores, há sempre contradições, paradoxos - por exemplo, a par da relatividade valorativa que caracteriza o mundo actual, crescem nalgumas sociedades os fundamentalismos mais exacerbados, sobretudo, os de natureza religiosa – e movimentos que levam à emergência de novos valores – diversidade, criatividade, ambiente, lazer, consumo, culto do corpo, competitividade … - que podem ou não tornar-se, no futuro, valores sedimentados, isso dependerá da discussão e da crítica que sobre eles fizermos no presente.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Inevitável metafísica

Por que teimamos em enfronhar-nos no para lá do tempo e do espaço que habitamos, do quotidiano que nos rodeia e nos absorve? Por que aspiramos ao invisível? Por que não deixamos de lado, de uma vez por todas, a metafísica? Por que teimamos em procurar o que não existe? Saciemo-nos com o que se compra, vende, troca, adquire, faz e desfaz, ou isso não é possível?
Deveriam chegar-nos as preocupações com o viver e o sobreviver, com os problemas e os dramas humanos, que acontecem no palco da história, onde se joga o poder e ocorrem todas as decisões. Mas tal não acontece. Por uma qualquer inevitabilidade, não somos capazes de o fazer. Habita-nos um “desejo invisível” que nos impele, continuamente, para uma distância, para um não lugar, de que nada sabemos. E eis-nos presos a uma ideia de infinito, a uma transcendência, sem a qual o mundo e a vida não ganham verdadeiro sentido.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Cruzar olhares

A questão da identidade é para mim uma interrogação profunda. Quem somos? O que fundamentalmente nos move? É verdade que aprendemos, desde crianças, a ver o mundo com os olhos da nossa cultura e isso condiciona a forma como sentimos e valorizamos o que nos rodeia. Muito do que somos, pela vida fora, está, ainda, nas experiências vividas e nas cumplicidades partilhadas, naquela rua, aldeia ou cidade da nossa infância, com a família, os vizinhos e os amigos, como se uma identidade familiar, cultural e social se nos colasse à pele e determinasse, em muito, o que somos.
É por isso que, frequentemente, olhamos o mesmo mas não vemos a mesma coisa e nem sequer lhe atribuímos o mesmo valor, por termos noções e sentimentos sobre o que consideramos ser o bem e o mal, o essencial e o acessório, muito distintos dos de outros grupos culturais. E é assim que, no mesmo espaço, às vezes, na mesma rua, no mesmo prédio, na mesma casa, encontramos diferentes modos de valorizar e de compreender as situações, e isso influi nas escolhas e nas opções de cada um. Portanto, o que incomoda não são os diferentes modos de sentir e de olhar, o que incomoda é a incapacidade de olharmos no mesmo sentido e de partilharmos esses olhares.

terça-feira, 15 de julho de 2008

A violência na Quinta da Fonte

Porventura, poucas coisas há tão complexas e tão "inevitáveis" como a violência, tenha lá a forma e a intensidade que tiver. É como se estivéssemos condenados a isto. Sempre foi assim , e assim será. Triste destino o nosso.
Mas para quê tanto pessimismo - pensarão alguns - quando somos capazes de tanta coisa boa, de explorar o espaço, de avançar desmesuradamente na ciência e na técnica, de pintar maravilhosos quadros, de escrever livros, construir monumentos, etc. Na verdade, somos capazes disto tudo e também do resto, duma agressividade animalesca sempre presente em nós, que não dorme, a qual devemos paciente e permanentemente controlar. Não é qualquer coisa que só os outros têm. Não se trata de uma questão étnica, social, cultural, mesmo que estes e outros aspectos possam comportar elementos potenciadores da violência. Todos somos violentos, todos nos devemos auto-vigiar, e mesmo assim não é seguro que não sejamos os primeiros a atirar pedras.

domingo, 11 de maio de 2008

Se a justiça não fosse o que é ...

Bem sei que com o mal dos nossos vizinhos podemos nós bem, mas depois de tanto se falar (e bem) da justiça portuguesa, do julgamento da Casa Pia, que parece não acabar nunca, eis que assistimos a casos, por essa Europa, verdadeiramente inacreditáveis: um pedófilo espanhol, que devia estar preso, mas não estava, por deficiências do sistema judiciário, sequestrou e matou uma criança; um ser inominável, austríaco, que tinha o cadastro limpo, mas não devia ter, porque já antes havia violado, sequestrou, aprisionou, na cave da casa , durante vinte e quatro anos, a própria filha, a quem violou sistematicamente, tendo nascido sete filhos. E, pasme-se, ninguém sabia, ninguém desconfiou, ninguém viu nada. Como é possível tamanha monstruosidade? Não parece, racionalmente, posssível, mas foi. Ainda, hão-de vir dizer que é inimputável!

sábado, 1 de março de 2008

Desespero ou maldade

Aconteceu um horrível crime, no Catujal-Loures: um filho, 40 anos, matou os pais e suicidou-se a seguir. Por mais razões que se possam aduzir, não há razões, nenhuma explicação é aceitável.

Mas, então, por que acontecem casos destes? Talvez, por um incontrolável desespero psicológico e mental, ou por um incontrolável afloramento de algo, vindo do lugar mais recôndito de nós mesmos, algo que desconhecemos, que julgamos impossível ter, mas que actos destes, cometidos por pessoas aparentemente normais, nos levam a questionar: que sabemos nós da natureza humana? Que sabemos nós da maldade que nós habita? Perturbador, não!