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segunda-feira, 8 de julho de 2019

Ainda sobre o reconhecimento cultural (1)


Recordo um jovem de origem cabo-verdiana que, há algum tempo, me disse: - “Chamam-me luso-africano, mas isso é o quê? Significa o quê? Já não sou o que os meus pais e os meus avós foram e são, mas também não sei o que sou. Afinal, sou quem? Pertenço a onde?”

Não são só jovens de origem africana que têm dificuldades de identidade, se questionam e se sentem, por vezes, marginalizados, são todos aqueles que, tendo raízes em culturas minoritárias, se sentem desconfortáveis na sua própria pele, tanto em casa, como na escola ou no meio onde vivem.  
E assim se iniciam processos de desadaptação e de reacção contra o que encontram e não lhes dá as respostas que precisam, de modo a sentirem-se incluídos e valorizados.



quinta-feira, 13 de junho de 2019

Sentidos de pertença...


Nalguns discursos do dia 10 de Junho – Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas – mais do que dissertar sobre a nação, a pátria, o sentido identitário do ser português, apareceu, no discurso do responsável pelas comemorações deste ano – João Miguel Tavares – um sentido de pertença plural, diverso e nem sempre inclusivo, às vezes, até, de não pertença, quando, como referiu, há tanto a fazer no sentido da equidade e da igualdade de oportunidades.
O Presidente da República fala de vários “Portugais”: O que será isto? Serão diferentes culturas,  diferentes desenvolvimentos, diferentes espaços geográficos...? – e, sempre, na crença de que podemos ser excelentes, aos mais diferentes níveis. Não chega acreditar,  diria eu.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Ter uma terra, sentimento de pertença

Ter uma terra é ter uma referência, um chão, uma raiz…; é ter um lugar, onde regressamos sempre que precisamos, física ou mentalmente.

Quantos saíram, passaram anos, longe, mas, de algum modo, sempre, estiveram aqui, acredito que aconteceu isso com os que emigraram para França ou outros países e lugares.

A terra é um lugar de encontro, de sentido, de viver com os outros, um sentimento de pertença a uma família, a uma comunidade, a  uma maneira de viver, a uns hábitos, a uma cultura, a uma maneira de ser. 

Ter uma terra, é muito: é uma identidade.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Somos de onde? Somos quem?

Não lembro o título, era um filme/documentário, de que só vi uma parte, sobre uma jovem norte americana que chega à Palestina, a uma zona ocupada pelos israelitas, onde nasceram os pais e onde viveram todos os seus antepassados. É filha de palestinianos, imigrantes forçados, nos Estados Unidos.
Está aqui, na sua terra, mas é uma estranha. Clandestina nas suas intenções, fingindo-se turista, com um passaporte válido, mas com um visto já caducado, sabe que pode ser apanhada, num desses controlos policiais que estão por todo o lado e a cada passo.

Procura a aldeia dos pais. Mas já nada existe, ou melhor, nada existe como o ouviu descrever, vezes sem conta. Os nomes das cidades, das aldeias, dos vales e das colinas já não são os mesmos. Mudaram, tudo está escrito em hebraico, e ela não sabe hebraico.

Entra numa loja, pergunta pela terra dos pais, pronunciando diversas vezes, espaçadamente, o nome em árabe, mas o comerciante judio não sabe árabe e não pode ajudar.
Como se apaga assim um passado que, de resto, ainda é presente, é de há pouco mais de sessenta anos? Apaga-se, por decisão e persistência politicas, obviamente.

Ainda assim, a jovem continua o caminho e vai ter a um vale onde se depara com uma aldeia abandonada e destruída que julga ser a dos seus antepassados. Olha lenta e demoradamente o vale, o céu, as nuvens, o horizonte, o tudo e o nada, como se tivesse chegado a uma terra de destino que não consegue abarcar. Invadida por um sentimento profundo, abraça emocionada o jovem que a acompanha. Permanecem, nessa noite, na casa em ruínas, a um canto de parede, junto a um portal, talvez de uma antiga janela.

Partem na manhã, seguinte. Continuará a não pode dizer quem é, nem ao que veio, mentirá às autoridades, até ser possível, perdendo-se ou encontrando-se, nos vales da Palestina. Vales que também são seus. Podem lá os decretos, os Estados e as ocupações acabar com os sentimentos!

(releio e texto, e penso que se calhar o documentário não foi bem assim)


quarta-feira, 24 de abril de 2013

Terrorismo, em Boston

Podem fazer-se muitas análises, mas a que a mim mais me impacta é a que tem a ver com o extremismo islâmico: matar por Alá. O absurdo é total.
O que aconteceu, na cabeça destes jovens, mais ou menos inseridos na sociedade americana, com perspectivas de futuro, para, dum momento para o outro, se fazerem jihadistas, combatentes por um radicalismo que considera que não é apenas o ocidente que ameaça as suas crenças (de que nem sequer eram grandes praticantes) mas até os moderados do islão?
Alguma coisa de muito perturbador nos escapa, para que não sejamos capazes de uma mínima compreensão sobre isto. Talvez, algo da ordem da identidade mais profunda de cada ser humano: somos quem?


sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Encontro em Goreia



Goreia, ilha frente a Dakar, funcionou como entreposto de escravos, durante mais de três séculos. Daí, entre quinze a vinte milhões de escravos devem ter embarcado em barcos negreiros, com destino à América, ao Brasil ou às ilhas do Caribe. Destes, mais de 6 milhões morreram na travessia, tal as condições miseráveis em que eram transportados, nos porões, como gado.
Partiam, deixando, tudo, atrás. Até o próprio nome, eram já números quando embarcavam e números quando chegavam aos cafezais, aos campos de algodão ou às plantações de açúcar. Aí, passavam a usar nomes americanos, se iam para a América, portugueses, se iam para o Brasil, ou espanhóis, se iam para o Caribe.
Ao serem roubados do nome africano, muitos descendentes destes escravos negros não sabem de onde vieram, nem como procurar as suas raízes, mesmo que o queiram fazer.
No entanto, há uma identidade africana, profunda, que permanece, mesmo que silenciosa. Uma noção de pertença que sobrevive a muito, a quase tudo, a séculos de exploração e de afastamento.
“Estou aqui pela primeira vez, mas é como se estivesse cá estado desde sempre, sou de África”, diz a jovem americana, integrante de um grupo de música afro jazz que junta músicos de diferentes origens – americanos, africanos, europeus… - para, juntos, reinventarem, uma alma, um espírito, que não exclua raças nem culturas.
“Onde estarão as minhas raízes? Talvez, estejam nalgum destes países da costa ocidental africana. Talvez, a minha tetra avó ou, antes dela, outro antepassado meu, tenha chorado nesse cais ao vir-se despedir do filho, do marido ou de outro familiar próximo”. Abeira-se dela uma jovem que lhe fala como se a conhecesse desde sempre: “ Olá, também sou cantora, também canto jazz” (não se sabe se sim, se não, pode ser uma estratégia de aproximação), mas que afinal resulta.
- Ah, sim!
- Sou a Amina, não esqueças, Amina. Sou daqui, de Dakar. E tu?
- Sou de Nova Orleães, Estados Unidos.
- Vou cantar uma canção para ti. Queres ouvir?
A americana faz gestos de incredibilidade, não esperava aquela atitude.
- É bonita – diz, sorrindo!
- Canta também uma música para mim – pede-lhe a africana de Dakar.
- Não, nunca canto fora dos espetáculos, só no duche.
- Canta, também cantei para ti.
Tenta lembrar-se de alguma canção e canta uns versos.
- Bonita, vais cantá-la no teatro?
- Não, esta não a canto, hoje, à noite. Cantei-a só para ti.
- Acabamos de nos conhecer e quem sabe se não nos voltamos a ver algum dia. O mundo é um “panuelo”, muito pequeno, podemos encontrar-nos. Talvez vá para a América, cante num clube de jazz e até no teu grupo…  
- Quem sabe, quem sabe...
A africana de Nova Orleães não quer acreditar no que acaba de lhe acontecer. Quando lhe perguntam o que se passou, não consegue dizer nada. Não tem palavras, algo se passou no seu encontro com Amina que não pode expressar. Não sabe expressar; um não dito, a está marcando por dentro.

(a propósito de um documentário a que assisti)