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segunda-feira, 2 de setembro de 2024
Estima, cuidado, compaixão...
sexta-feira, 2 de dezembro de 2022
Quando a deriva é tão visível...
Com uma
aparência de desleixo, afastado de todos, deixa-se cair contra o muro.
Abandona-se, como se desistisse de tudo.
- Deixem-me,
deixem-me, deixem-me... – Gritava, ao mesmo tempo que dizia palavrões.
- Estás bem?
Sentes-te bem?
- Como posso
estar bem? Vê além a “bófia”? Vêm de carro e armados, prontos para dar porrada. Para a “bófia” todos aqui são drogados e ladrões.
- E não são,
pois não?
- Claro que
não. Há “bué” de gente que trabalha e putos que andam na escola.
- E tu andas?
- Não. Já
andei, mas não gostava, não sabia nada, era perder tempo. Quando os “cotas” foram dentro nunca mais voltei à escola.
- Os teus
pais, estão presos?
- Estão, há
“bué” de tempo....
Faz silêncio e olha-me intensamente, não sei se com raiva ou súplica, como se eu tivesse alguma coisa a ver com tudo o que estava a acontecer e pudesse ajudá-lo.
(excerto de um texto maior)
sábado, 10 de setembro de 2022
Mãe e filha...
E a conversa continuou, nessa hora, nesse dia e em todos os dias da vida delas, porque a conversa entre mães e filhas não acaba nunca. A flor sabe que, nessas alturas, umas vezes vai rir, outras chorar, outras emocionar-se, outras suspirar…, e quem vir isso a acontecer, não vai entender o que se passa. Pensou que tem de avisar, pelo menos, o jardineiro de que, quando a vir rir ou chorar, emocionar-se ou suspirar…, por nada, não é por nada, é porque voltou ao colo da mãe, para lhe dizer:
- Mãe, preciso de ti, do teu abracinho!
- Filha, estou aqui! Vou estar, sempre aqui.
E assim é. Mãe e filha, juntas, a iluminar os dias uma da outra.
sábado, 29 de agosto de 2020
Sobre uma cena do filme Indochina – O que sabemos de sentimentos?
![]() |
Indochina, anos 30, quando era uma colónia francesa |
Vem-me à memória um jovem que viveu até á idade adulta com a avó, construindo uma imagem poderosa e, ao mesmo tempo, romântica e feliz de uma mãe guerreira, ativista política, na luta pela independência do Vietname.
Um dia, sabendo que estaria em França, numa receção, decide ir
ao seu encontro, com o propósito de lhe falar. Cruzam-se, sabe quem é ela, mas
não lhe fala. Ao contrário, ela não sabe quem é ele. Não o pode reconhecer, mesmo
que todos os dias, naquele dia mesmo, ao levantar-se, ao sair de casa, tenha
pensado no filho, porventura, a pessoa mais presente na sua vida.
Um filho que não viu crescer, ir à escola, jogar, ter sonhos ….
Um filho que não reconhece, apesar de existirem laços familiares tão próximos e
sentimentos tão profundos. Talvez ele tivesse ido aquela receção na esperança
de que um clique os lançasse nos braços um do outro, como se os anos não
tivessem passado e a vida separada não tivesse acontecido.
Mas, nem o tempo se suspendeu, nem os olhares se cruzaram, ao
ponto de se fundirem. Dois estranhos, passando lado a lado, incapazes de se
abraçarem, de se comunicarem. Ele podia tê-lo feito. Por que razão, quando passou
junto dele, permaneceu mudo e imobilizado, no cimo daquela escada? Por que não
foi capaz?
Talvez se encontrem de novo, noutras circunstâncias. Talvez,
volte a andar quilómetros e quilómetros para a ver de perto, aplaudir o
discurso, chorar uma lágrima e, quem sabe, ganhar coragem para dizer:
- Mãe!
E ela se virar para trás, parar o discurso e indiferente a
tudo, correr para ele e gritar:
- Filho!
Agora sim, aquele abraço pode durar para sempre!
quarta-feira, 18 de dezembro de 2019
É tempo de Natal
quarta-feira, 31 de julho de 2019
Um poema de Mahatma Gandhi
À DESCOBERTA DO AMOR
Ensaia um sorriso
domingo, 26 de maio de 2019
Urgentemente - poema de Eugénio de Andrade
domingo, 28 de abril de 2019
Carta de Zeca Afonso à filha Joana
sábado, 26 de maio de 2018
Mãe-negra - palmas para Paulo de Carvalho
Prelúdio
Pela estrada desce a noite
Mãe-negra desce com ela.
Nem buganvílias vermelhas,
Nem vestidinhos de folhos,
Nem brincadeiras de guisos,
Nas suas mãos apertadas.
Só duas lágrimas grossas,
Em duas faces cansadas.
Mãe-negra tem voz de vento,
Voz de silêncio batendo
Nas folhas do cajueiro...
Tem voz de noite descendo,
De mansinho pela estrada...
Que é feito desses meninos
Que gostava de embalar?....
Que é feito desses meninos
Que ela ajudou a criar?...
Quem ouve agora histórias
Que costumava contar?...
Mãe negra não sabe nada...
Mas ai de quem sabe tudo, como eu sei tudo
Mãe-negra!...
Os teus meninos cresceram,
E esqueceram as histórias
Que costumava contar...
Muitos partiram pr’a longe
Quem sabe se hão-de voltar!...
Só tu ficaste esperando,
Mãos cruzadas no regaço,
Bem quieta bem calada
É a tua voz deste vento,
Desta saudade descendo,
De mansinho pela estrada...
(poesia de Alda Lara, in Poemas,
1966, Angola, in Os direitos humanos
na Língua Portuguesa, )
Mãe-negra desce com ela.
Nem buganvílias vermelhas,
Nem vestidinhos de folhos,
Nem brincadeiras de guisos,
Nas suas mãos apertadas.
Só duas lágrimas grossas,
Em duas faces cansadas.
Voz de silêncio batendo
Nas folhas do cajueiro...
De mansinho pela estrada...
Que gostava de embalar?....
Que ela ajudou a criar?...
Quem ouve agora histórias
Que costumava contar?...
Mas ai de quem sabe tudo, como eu sei tudo
Mãe-negra!...
E esqueceram as histórias
Que costumava contar...
Quem sabe se hão-de voltar!...
Só tu ficaste esperando,
Mãos cruzadas no regaço,
Bem quieta bem calada
Desta saudade descendo,
De mansinho pela estrada...