Pesquisar neste blogue

segunda-feira, 27 de abril de 2015

O arco-íris humano

Se calhar acabava também com alguns adjectivos – espertos, inteligentes, maravilhosos, delinquentes, racistas... – e tentava que expressões tão bonitas como: "todos diferentes, todos iguais" , se não  tornassem banais e reganhassem sentido em histórias de vida, contadas de forma simples por gente simples: o Sasha, o Mamadou, a Shaila, o Xiang …- a ver se compreendemos o que temos de fazer para construir um arco-íris humano, onde brilhem com a mesma intensidade todas as cores. 


quinta-feira, 23 de abril de 2015

Vou ouvir o que tens para me dizer, imigrante ilegal

Olho as imagens dos naufrágios no Mediterrâneo e fico muda. Não parece possível o estado actual do mundo, depois de tanto progresso científico e técnico e de tantos saberes e explicações. É por isso que se eu pudesse acabava com todos os"...ismos" que têm servido para falar dos homens e das suas vidas – humanismo, etnocentrismo, multiculturalismo... – mas que esbarram sempre em novos problemas, como se uma contingência insuperável rondasse o humano.
Acabava com as grandes construções teóricas e passava a falar de ti, de mim, de nós, aqui e agora, num contexto marcado por condicionalismos que nenhuma teoria pode explicar, mas que a humanidade pode resgatar.
 Passava muito mais tempo a ouvir o Sasha, o Mamadou, a Shaila, o Xiang …- a ver se percebíamos, em conjunto, o que fazer para aprendermos a viver juntos - esta é a inevitabilidade que está aí em frente dos nossos olhos. Não se podem fechar as portas da Europa, não se podem construir muralhas e castelos. A resposta é outra, muitos já perceberam.


segunda-feira, 20 de abril de 2015

Mortes no Mediterrâneo, a imigração ilegal

Mais mortes no Mediterrâneo, setecentos, ou talvez mais; fala-se agora também de duzentas mulheres e de cinquenta crianças. O drama continua e continuará. Já era hora de se perceber que a resposta tem de ser outra. Todos falam: o Papa, os presidentes, os ministros dos negócios estrangeiros, outros responsáveis políticos..., mas uma resposta integrada, que considere os interesses de segurança da Europa e também a o desenvolvimento e a pacificação das zonas de onde vêm, parece tardar. Vigiar, salvar, acolher por uns dias e fazer retornar, não é solução. Voltarão a tentar sair das suas vidas de miséria e de guerra, uma e outra vez.






quinta-feira, 16 de abril de 2015

O último Samurai, o filme

1876. O filme é muito violento. Nathan Algren, o jovem capitão americano, é encarregado de organizar e de treinar as tropas do imperador Meiji para acabar com o domínio dos samurais. Perde a batalha e é feito prisioneiro pelo Katsumoto (o último samurai). E tudo começa a mudar para ele.
Seria um dos filmes que eu não veria. Vi-o, porventura, porque, para além dos aspectos históricos – a unificação do Japão..., e o jogo de interesses das potências estrangeiras, sempre presente em todas as guerras, esta não é excepção, são os americanos que vendem armas de última tecnologia, treinam e armam as tropas, mas estão também os ingleses, os franceses..., à espera de poder vendê-las – a partir de certa altura, desenha-se uma história de amor entre o jovem capitão e a irmã do samurai que o acolhe em casa, mesmo depois de saber que foi ele quem matou o marido. 
É uma história de amor improvável, subtil, presente, tranquila, pouco explícita, nem no final, como se houvesse sempre leis não escritas e códigos de honra a determinar os comportamentos, e, para perceber isso, fosse preciso pertencer ali, àquele vale, àquela aldeia, àquelas tradições. O americano sabia disso. Foi-se seduzindo pela cultura, pela língua, pelas pessoas, pela jovem e pelos seus filhos . Tornou-se de lá. O seu voltar a casa, seria o voltar aqui: ao seu amor.


terça-feira, 14 de abril de 2015

Um grito pelas meninas nigerianas raptadas, um grito pela educação

Faz um ano que as 276 meninas nigerianas foram raptadas pelo Boko Haram, esse grupo extremista, que, como todos os outros da mesma natureza, entende que o Islão proíbe a educação das mulheres. Destas, menos de cem foram libertadas, as outras continuam prisioneiras e escravas. Querem as mulheres em casa, analfabetas, submissas, menores..., como se nada se tivesse passado depois de tantos séculos de pensamento humano.

domingo, 12 de abril de 2015

Ligados, quando a tecnologia se impõe

Estamos cada vez mais ligados. A quê? A quem? De que modo? Andar ligado é comum, todos estão ligados a alguém, mesmo os mais desligados têm um telemóvel no bolso, para no caso de ser preciso.
Observo a senhora que fala ao telefone com a filha, ao mesmo tempo que fala com a empregada da charcutaria que a atende; fala de coisas aparentemente sérias, de assuntos familiares, enquanto pede "quero 200 g de queijo, 150 g de fiambre", mais isto e mais aquilo. 
Parece um mundo de esquizofrénicos. Por todo o lado, há conversas em tom audível, tudo parece possível, uns jogam, outros consultam a internet, outros ouvem música, outros enviam mensagens... Todos ligados: idosos, adultos, jovens, menos jovens, crianças, muitas crianças...; estar ligado, passou a ser uma necessidade, uma dependência. Mas por quê ? O mundo foge? Tudo é absolutamente urgente?  
Vou-me calar, pois,  pode acontecer que qualquer dia seja eu  de telemóvel na mão a atender alguém que me telefona enquanto peço produtos na charcutaria. 

sábado, 11 de abril de 2015

Anthony Hinton, a injustiça da pena de morte

Anthony Hinton foi libertado dia 3 de Abril. Esteve vinte e nove anos no corredor da morte, no Estado do Alabama, USA. Foi condenado pelo assassínio de duas pessoas, que afinal não tinha morto, pois comprovou-se agora que a arma encontrada em sua casa não tinha o mesmo calibre da que assassinou aquelas pessoas.
Vinte e nove anos roubados, mais do que isso, vinte e nove anos de sofrimento e de tortura. Podemos lá imaginar o que passaram este homem e a sua família!
A possibilidade de condenar inocentes é um argumento forte contra a pena de morte, mas não é único. O mais decisivo é o do direito inalienável à vida que ninguém pode tirar a ninguém, muito menos as leis de um sistema jurídico.
Ainda assim e apesar dos erros que ocorrem os Estados Unidos continuam a condenar pessoas à pena de morte, logo a seguir à China, ao Irão, à Arábia Saudita e ao Iraque.

terça-feira, 7 de abril de 2015

A violência, uma escolha ou um destino?

A violência é o maior enigma da natureza humana: por que existe o mal? Por que não somos capazes de evitá-lo? E o pior é que ninguém pode dizer que está a salvo, de um dia se tornar um assassino. Todos podemos odiar, ferir e até matar. Ou não podemos? Podemos. É este limite entre a violência e a bondade que define o humano. A liberdade é escolher entre a animalidade e a humanidade, entre a lei da selva e a civilização. A escolha é da razão e da bondade humanas.  A escolha é de cada um. A violência não não é um destino.

Terror e morte numa universidade do Quénia

Mais de cento e cinquenta mortos,  dezenas de feridos em estado grave, inexplicável o que se passa em tantos lugares, em que o extremismo árabe tem adeptos e grupos prontos a matar e a morrer.
É o mal em estado puro.  Não me venham falar de Deus, do profeta, de religião, do que seja, não me venham falar de valores não ocidentais, de pureza e  de regresso à essência do islão. Não me falem de nada, assassinos cruéis.  São vocês que têm de ouvir. Aqui não há passagens, não há pontes, enquanto se mantiverem nesse obscurantismo.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

As raparigas ciganas

Aconteceu pela Páscoa (há muito tempo). Penso que seriam duas ou três jovens mulheres ciganas, carregadas de filhos, uns ao colo, ainda bebés, e outros, também de curta idade, agarrados às longas saias. Bateram-me à porta a pedir esmola.
- Senhora dê-nos alguma coisinha, nasceu um menino no acampamento, esta noite, e a mãe está muito mal e não temos nada para lhe dar.
- Mas, o que posso dar?
- Podia dar-nos um bocadinho de azeite, um bocadinho de pão, arroz ou batatas, para fazer uma miga ou uma sopa, não temos nada.
- Não sei se tenho, vou ver.
- Pela sua saúde, pelas alminhas que lá tem, dê-nos alguma coisa, o azeite é o que mais precisamos.
Não sei por quê, mas para mim o pedido era verdadeiro, não me passava pela cabeça que estavam a mentir e que aquela era mais uma estratégia de pedir esmola. 
Acreditei. Fui buscar o azeite, como já não era muito, dei-lhes a garrafa. Não tinha pão, dei-lhes algum arroz e algumas batatas. Agradeceram e foram embora.
Fiquei a pensar, o dia todo, naquela rapariga que tinha tido um filho, em condições sub-humanas no acampamento da beira da estrada e no perigo que corria, ela e o seu bebé. Mesmo que, naquele caso, pudesse ter sido uma história, a realidade era essa: nascer à beira da estrada, sem quaisquer condições, sem quaisquer direitos.