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terça-feira, 19 de julho de 2022

combatente na Guiné, na guerra colonial

Passei por várias fases: mas, foi o álcool que me levou à decadência mais absoluta, estava no chão, caído; sem a mão da minha mulher, sempre presente para me ajudar a levantar, não teria sobrevivido.

Ela, que assiste à conversa, contrai-se, leva as mãos aos olhos, rasos de água, olha-o de um modo que ninguém, de fora, pode explicar; um olhar infinito que só eles conhecem, que só eles partilham, como se já não houvesse tempo, nem distâncias e tudo, neles, fosse já eternidade.
- É amor, um amor para a vida - confidenciam-me.
E eu sei que sim!

domingo, 4 de julho de 2021

Amor (em vez de Alzheimer)

 Tinha reduzido a sua vida ao marido, e parecia não precisar de mais. Agora que ele ia perdendo progressivamente a memória, sentia que não suportava a dor daquela ausência, sobretudo, quando deixou de reconhecer pessoas próximas… Chegará um dia que não a reconhecerá mais. A doença é muito cruel, sente que vai perdendo as forças, mas não quer deixá-lo ir: “para o lar, ainda não” – diz, muitas vezes. Mas chegará um dia, já não muito distante, em que terá de o deixar ir. Como irá continuar a dizer: “Eu e o meu marido, eu e ele”! Como vai sobreviver a tudo, ao que eram e já não são, a tudo o que ainda têm para viver nesta penosa situação? Não sabe, pressente que o seu quotidiano, mesmo muito difícil, está desmoronar-se. Só o amor é que não. Permanece, intacto. Tornou-se até mais forte. “Amo-o tanto” – confidenciou-me. Eu sei que sim. 

(escrevi este texto, em 2016. Infelizmente, é cada vez mais atual)  

segunda-feira, 9 de maio de 2016

O meu filho, diz-me o senhor

O filho ocupa toda a vida deste homem, mais de oitenta anos: “não consegui enviar um email para o meu filho, mas à noite telefono-lhe”. É assim, invariavelmente. Todos os dias vai aquela biblioteca utilizar o computador para se comunicar com o filho. Todos os dias e a todas as horas fala do filho. Às vezes conta histórias e situações que deixam perceber que o filho é ainda um menino, mas isso não pode ser, porque me diz que trabalha em Luanda.
Fico confusa, mas nada pergunto. Até que um dia me mostrou uma fotografia, ele, o filho e um casal amigo, em Nova Iorque, o rapaz com dezasseis anos, na altura em que caíram as Torres, 2001. O filho terá então trinta e um anos, mas para o pai, a idade está lá atrás, quando o levava pela mão e lhe perguntavam se era neto, quando viajava pela América, com ele adolescente, quando a ausência não existia, pelo menos desta forma.



quinta-feira, 16 de abril de 2015

O último Samurai, o filme

1876. O filme é muito violento. Nathan Algren, o jovem capitão americano, é encarregado de organizar e de treinar as tropas do imperador Meiji para acabar com o domínio dos samurais. Perde a batalha e é feito prisioneiro pelo Katsumoto (o último samurai). E tudo começa a mudar para ele.
Seria um dos filmes que eu não veria. Vi-o, porventura, porque, para além dos aspectos históricos – a unificação do Japão..., e o jogo de interesses das potências estrangeiras, sempre presente em todas as guerras, esta não é excepção, são os americanos que vendem armas de última tecnologia, treinam e armam as tropas, mas estão também os ingleses, os franceses..., à espera de poder vendê-las – a partir de certa altura, desenha-se uma história de amor entre o jovem capitão e a irmã do samurai que o acolhe em casa, mesmo depois de saber que foi ele quem matou o marido. 
É uma história de amor improvável, subtil, presente, tranquila, pouco explícita, nem no final, como se houvesse sempre leis não escritas e códigos de honra a determinar os comportamentos, e, para perceber isso, fosse preciso pertencer ali, àquele vale, àquela aldeia, àquelas tradições. O americano sabia disso. Foi-se seduzindo pela cultura, pela língua, pelas pessoas, pela jovem e pelos seus filhos . Tornou-se de lá. O seu voltar a casa, seria o voltar aqui: ao seu amor.