Pesquisar neste blogue

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Recordando José Afonso, cantor, poeta e tudo o mais



Hoje, no dia 25 de abril, deixo aqui um um texto que o Zeca Afonso escreveu à filha Joana quando estava preso.


«Querida Joana
 Como sabes eu estou preso mas também não sou um homem mau. Viste como foi. Não sejas rabugenta e ajuda o Pedro. Se ele estiver birrento lembra-te que ainda é bebé e tu mais crescida que ele. O que não gosto é que sejas egoísta porque é muito feio. Se alguma das tuas amigas querem tudo para elas deixa lá. Elas fazem mal mas tu não. Explica-lhes que não devem ser egoístas. Tem cuidado com os sugos e outras porcarias iguais porque podes ficar sem dentes. Depois mesmo que os queiras ter já ninguém te os pode pôr.
Ficas como os velhinhos. Alguns deles tinham a mania de comer guloseimas, gelados e caramelos. E também chocolates. Eu lembro-me muito de ti e do Pedro. O Zé ainda não cortou as barbas? Diz à Lena que eu não gosto que ela seja desarrumada. Todos têm que ajudar a mãe e a Dina.
 Muitos beijos do
Zeca Pai»
 


segunda-feira, 23 de abril de 2018

A lei da paridade: a questão das cotas, de 33% para 40%


Sou contra as cotas, na política, nos altos cargos diretivos de instituições públicas ou privadas, mas não porque considere que o problema está resolvido. Sou contra, por uma questão de princípio: quero que esses lugares sejam ocupados pelas pessoas mais capazes, independentemente do sexo; é a capacidade, a competência, o valor científico, técnico e humano, que aqui estão em causa. Claro que é muito difícil aferir algumas das competências, mas não pode ser de outra maneira e tem de processar-se da forma mais aberta e transparente que for possível.
Obviamente que sou sensível ao facto de tão poucas mulheres acederem a cargos de chefia; sou liminarmente contra os machismos, os preconceitos e a falta de oportunidades que impedem as mulheres que tem capacidade e vontade o possam fazer.



sexta-feira, 20 de abril de 2018

O dizer do Papa

Interessam-me particularmente os sinais do Papa, sendo que o meu plano de análise é sempre o do indivíduo e o da sociedade. O que ele tem vindo a dizer é que assistimos a limiares de exclusão, de violência, que ou  nos empenhamos todos, começando por olhar e por tratar com humanidade aquele que nos bate à porta, seja muçulmano, judeu, cristão, ateu…, ou a desumanidade está a uma curta distância. Todas as instituições, a começar pela ONU, têm de se empenhar a fundo, para que a demência de alguns não ponha em causa a vida de tanta e tanta gente.



terça-feira, 17 de abril de 2018

Não há um determinismo para o humano



“Quando a criação humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança a sua alma, todo o universo conspira a seu favor”.

                                                                                                                                             Goethe

Acredito nisto. Sei que serão os poetas, os escritores, os filósofos, os músicos,  os pintores... os primeiros a sonhar; sei que se juntarão num coro para mudar a realidade. Sei  que há um potencial, uma redenção para o  humano, que passa por aqui, pelo que formos capazes de criar. Criar do nada ou do todo, não sei bem. 

domingo, 15 de abril de 2018

Poema do Brecht contra a indiferença

 Indiferença

Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.

Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque não sou operário.

Depois prenderam os sindicalistas,
Mas não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir chegou a vez
de alguns padres, mas como não sou religioso, também não liguei.

Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.

(Bertolt Brecht)


quarta-feira, 11 de abril de 2018

18 soldados da freguesia de Águas Belas-Sabugal combateram na Primeira Grande Guerra


Na sequência das comemorações dos cem anos da batalha de La Lys, França, no dia 9 de abril, fiquei com curiosidade em saber quantos soldados houve daqui e fiz uma pequena pesquisa, no Arquivo Histórico Militar – Boletins Individuais de Militares do CEP, 1914- 1918, em relação ao distrito da Guarda. Pude ver que em todo o distrito foram mobilizados 2.829 soldados, no concelho do Sabugal 415 e na freguesia de Águas Belas 18.
Destes 18 soldados, 13 eram de Águas Belas, 3 do Espinhal, 1 da Quinta do Clérigo e 1 de Vale Mourisco (mas pode acontecer que alguns boletins digam só Águas Belas e os soldados sejam das anexas).Onze pertenciam ao Regimento de Infantaria nº12 (RI 12) da Guarda, dois ao Regimento de Infantaria nº14 (RI 14) de Viseu, um ao Regimento de Cavalaria 7 e quatro sem referência de regimento.
A lista é a seguinte:
1.       Alberto Augusto, soldado.
2.       António Esteves, soldado, RI 12.
3.       António Nunes, soldado, RI 12.
4.       António Pereira, soldado, Regimento Cavalaria 7.
5.       Augusto Ferreira, soldado, RI 12.
6.       Bernardino Nunes, soldado, RI 12, Espinhal.
7.       Cândido João, soldado, RI 12.
8.       Francisco Fernandes Cabral, soldado, RI 12.
9.       Francisco Rocha, soldado, RI 14.
10.   João Santana, soldado.
11.   Joaquim Nabais, soldado, RI 12.
12.   José da Costa, 1º cabo, Vale Mourisco.
13.   José Nunes, soldado, RI 12, Espinhal.
14.   José Nunes, soldado, RI 12.
15.   José Pires, soldado, RI 14, Espinhal.
16.   Luís Cardoso, soldado, RI 12.
17.   Manuel Esteves, soldado, Quinta dos Clérigos.
18.   Manuel Soares, soldado, RI 12.
Fiquei surpreendida, não esperava que fossem tantos soldados. Claro que, agora, já não somos capazes de reconstruir as suas vidas: saber os que regressaram bem, os que vieram com mazelas, os que morreram, os que decidiram ficar ou os que tomaram outro rumo. Ainda assim, pode acontecer que alguém reconheça, nesta lista, o nome de algum avô, bisavô, tio, tio-avô… ou outro familiar e tenha alguma memória de ter ouvido falar sobre esta guerra.


sábado, 7 de abril de 2018

A prisão de Lula da Silva: pobre natureza humana


Tudo indica que Lula vai hoje ser preso. É tempo para, sem histerismos, todos pensarmos no que se passou e passa com quem exerce o poder, quase parece uma inevitabilidade deixarem-se corromper. Mas não é, evidentemente.
Eu tenho pena que pessoas como Lula se tenham deixado cair nas malhas dessa generalizada corrupção. Milhões de pessoas acreditavam nele (acreditam nele ainda muitas), mas é inaceitável, negar, até ao absurdo, as evidências. Muitos acusam a justiça de politização, e isso é mau. A justiça tem de ser independente, é preciso que não haja vários pesos e várias medidas.

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Martin Luther King, 50 anos após a sua morte


Martin Luther King nasceu a 15 de Janeiro de 1929, nos Estados Unidos. Lutou toda a sua vida, de forma pacífica, pelos direitos dos negros. Em 1964, recebeu o Prémio Nobel da Paz. Morreu baleado, em 4 de Abril de 1968.

Excerto do célebre discurso “Eu tenho um sonho”

“Digo-vos meus amigos, embora tenhamos de enfrentar dificuldades, hoje e amanhã, ainda, tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho da América. Sonho que um dia esta nação se vai erguer para viver essa verdade: a evidência de que todos os homens são iguais. 
Sonho que um dia, nas vermelhas colinas da Geórgia, os filhos dos antigos escravos e os filhos daqueles que os escravizaram se vão sentar juntos, na mesma mesa, como irmãos fraternos. (...). Sonho que as minhas quatro crianças viverão um dia numa nação onde não sejam julgados pela cor da sua pele mas pelo seu carácter. (…)
Sonho que um dia teremos, no Alabama, rapazes e raparigas negras, juntando as mãos, com rapazes e raparigas brancas, como irmãos e irmãs”.



(Infelizmente, o sonho de Luther King, com este presidente Trump, regrediu).

quarta-feira, 4 de abril de 2018

O Grande Ditador, o filme (3)

«No capítulo 17, do Evangelho segundo São Lucas, lê-se: “O reino de Deus está no próprio homem”. Num único homem, não num único grupo de homens, mas em todos os homens,  e vós sois o povo, tendes o poder para criar máquinas, o poder para criar a felicidade. Vós, o povo, tendes o poder para criar a vida livre e esplêndida ... para fazer dessa vida uma radiante aventura.

Então, em nome da democracia, utilizemos esse poder... Unamo-nos todos, lutemos por um mundo novo, um mundo limpo que ofereça a todos a possibilidade de trabalhar, que dê à juventude um futuro e proteja os velhos da miséria.
Com estas mesmas promessas, gente ambiciosa exerceu o poder, mas mentiram, não mantiveram as suas promessas, nem as manterão nunca! Os ditadores liberaram-se, mas domesticaram o povo.
Combatamos agora para que se cumpra esta promessa. Combatamos por um mundo equilibrado ... Um mundo de ciência, no qual o progresso leve a todos a felicidade. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos»!
  


terça-feira, 3 de abril de 2018

O grande ditador, o filme (2)


«A aviação e a rádio aproximaram-nos uns dos outros, mas a própria natureza destes inventos requeria a bondade do homem e reclamava a fraternidade universal para a união de todos. Neste momento, a minha voz chega a milhares de seres oprimidos, espalhados pelo mundo. Aos que podem compreender-me digo-lhes:
- Não desespereis, a desgraça que caiu sobre nós, não é mais que o resultado do apetite feroz da amargura de uns homens que temem o caminho do progresso humano. O ódio dos homens passará, os ditadores morrerão e o poder que usurparam ao povo voltará ao povo.

Soldados não vos entregueis e esses brutos homens que vos desprezam e vos tratam como escravos, homens que governam as vossas vidas, decidem os vossos actos e os vossos pensamentos: domesticam-vos, tratam-vos como animais e utilizam-vos como carne para canhão. Não vos coloqueis nas mãos desses homens anti naturais, desses homens máquinas, com coração de máquinas.
Vós não sois máquinas! Não sois animais! Sois homens!; Levais o amor e a humanidade nos vossos corações. Não odieis. Só os que não são amados odeiam. Os que não são amados e os anormais... soldados não combatais pela escravatura, combatei pela liberdade».

segunda-feira, 2 de abril de 2018

O Grande Ditador, o filme (1)


Para quem não viu o filme (1940), uma nota sobre a situação: uma imensidão de soldados, todos bem alinhados e atentos, espera o discurso do grande ditador (Hitler, evidentemente). Em vez dele, Charlot (que devido à semelhança física fora confundido) faz este brilhante discurso sobre direitos humanos, falando de respeito pelos outros, de liberdade, de progresso, de justiça e de democracia.


 Discurso final de Charles Chaplin no filme “O grande Ditador”

 «Realmente sinto muito mas não aspiro a ser imperador. Isso não significa nada para mim. Não pretendo governar nem conquistar nada de nada. Ao contrário, gostaria de ajudar, se possível, cristãos e judeus, negros e brancos, todos temos o desejo de nos ajudarmos mutuamente. A gente civilizada é assim. Queremos viver da nossa sorte comum e não da nossa desgraça comum. Não queremos desprezarmos-nos nem odiarmos-nos mutuamente. Neste mundo há sítio para todos. A boa terra é rica e pode garantir a subsistência de todos.
 O caminho da vida pode ser livre e magnífico, mas perdemos esse caminho. A voracidade envenenou a alma dos homens, rodeou o mundo num círculo de ódio e fez-nos entrar na miséria e no sangue.
Melhorámos a velocidade, mas somos escravos dela, a mecanização, que traz consigo a abundância, afastou-nos do desejo. A ciência tornou-nos cínicos e a inteligência duros e brutais, pensamos em excesso e não sentimos bastante.
Temos mais necessidade de espírito humanitário do que de mecanização. Necessitamos mais de amabilidade e simpatia do que de inteligência. Sem estas qualidades a vida só pode ser violenta e tudo está perdido».
 

 (continua)