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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Radovan Karadzic

Preso em 2008, em Belgrado, onde vivia sob disfarce e falsa identidade (a de médico de medicinas alternativas, julgo), deveria, hoje, ter começado a ser julgado, em Haia, pelo Tribunal Penal Internacional, por genocídio, crimes de guerra... Nega todas as acusações, ameaçou faltar ao julgamento e foi o que aconteceu. Faltou e voltará a faltar, com toda a certeza.
Tristes criminosos estes, puros dementes, incapazes, nem sequer por uma vez na vida, de se colocarem face a face com a acusação. Não há redenção para gente desta, mas podiam ser menos cobardes.

domingo, 25 de outubro de 2009

A Cidade de Deus, o filme

O nome da favela é já por si desconcertante. E a vida, aí, inimaginável, ultrapassa tudo. É o inferno em toda a extensão e em todos os graus. Há coisas, muitas, até, ao limite. Tudo é noite, submundo, droga, violência, vingança, armas, mortes e mais mortes (na verdade todos estão mortos, quem será o próximo?). Não há dia nesta favela? Não há um parque, uma rua para lá do labirinto, uma escola, uma associação...? Não há famílias? Quem recolhe os mortos? Onde são enterrados? Quem os chora? Faltam muitos contextos, necessariamente.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

"...isso faz algum sentido"?

Parece-me que Saramago não diz o que diz por marketing, não precisa. Di-lo por um preconceito religioso e também pelo que julga ser um imperativo da sua consciência ética. Bem, podemos não lhe reconhecer autoridade, legitimidade, etc., mas se usasse uma argumentação sustentada (aliás, impossível) e se fosse perceptível uma saída que não esbarrasse, ao limite, em estafadas ideologias e superioridades morais, poderíamos entender a sua posição e o seu "ataque" à igreja. Assim, não. Desnecesário e inútil, apenas.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Inevitável metafísica

Por que teimamos em enfronhar-nos no para lá do tempo e do espaço que habitamos, do quotidiano que nos rodeia e nos absorve? Por que aspiramos ao invisível? Por que não deixamos de lado, de uma vez por todas, a metafísica? Por que teimamos em procurar o que não existe? Saciemo-nos com o que se compra, vende, troca, adquire, faz e desfaz, ou isso não é possível?
Deveriam chegar-nos as preocupações com o viver e o sobreviver, com os problemas e os dramas humanos, que acontecem no palco da história, onde se joga o poder e ocorrem todas as decisões. Mas tal não acontece. Por uma qualquer inevitabilidade, não somos capazes de o fazer. Habita-nos um “desejo invisível” que nos impele, continuamente, para uma distância, para um não lugar, de que nada sabemos. E eis-nos presos a uma ideia de infinito, a uma transcendência, sem a qual o mundo e a vida não ganham verdadeiro sentido.

O camareiro

Há poucos dias, assisti a esta peça, em cena no Teatro Nacional D. Maria II, e, como acontece com o bom teatro, toda a vida humana, com as suas tragédias, comédias e contingências, passa pela nossa mente, enquanto assistimos à fragilidade e à morte do velho actor, à ressonância em nós dos bombardeamentos (em plena II Guera Mundial) e ao desmoronamento inevitável daquela companhia . No fim todos perdem ou todos ganham, como em tudo, depende sempre do ponto de vista. O mais tocante é sempre a questão dos sentimentos, os amores claros ou ocultos, a dedicação, o acreditar, a ideia de necessidade... Teria sido necessária aquela representação, naquele dia, naquelas circunstâncias? Não teria sido melhor cancelar o espectáculo? O espectáculo não tem sempre que continuar...

domingo, 18 de outubro de 2009

Andando...

Ontem, vi o filme japonês "Andando", agora, em exibição nas salas de cinema. Vale a pena ver, por muitas coisas, sobretudo pelo que nele há de universal - os sentimentos, o sofrimento, a perda, as relações familiares, as subtilezas, o não dito, o silêncio, as nódoas negras que todos transportamos ... - mas, também os costumes e as marcas de uma cultura profunda.

sábado, 10 de outubro de 2009

Nobel da Paz

Fiquei contente com a atribuição do prémio, como não podia deixar de ser. Tem sido assinalado, no prémio, uma vertente, uma intencionalidade, notória, de condicionamento de Obama, ou seja, do mundo e dos valores que ele defende e representa. Parece-me verdade, e isso é mal? Julgo que não, precisamos todos, a América e o mundo, que Obama não falhe.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Tocar o sublime, senti isso

Muitas vezes damos de caras com algo que não podemos descrever, por ultrapassar tudo; com algo que não podemos pensar, porque o que nos atinge, naquele instante, é da ordem do novo, dum tempo inicial, seja ele qual for. Senti isso, na 4ª feira passada, quando, viajando pela ilha da Madeira, à saída de mais um dos incontáveis túneis, quando se vira para a Ribeira Brava, dou, de repente, com duas altas montanhas, que quase se tocam, um desfiladeiro profundo, um verde que me pareceu muito escuro, atravessado por um nevoeiro às vezes ténue e às vezes denso, naquele manhã chuvosa de Outono. Não há mistérios, numa paisagem tão humanizada como esta, só para o visitante desprevenido, disposto a deixar-se invadir por dentro.