Muitas vezes ouvimos dizer: “não sou daqui, isso não me diz nada, não tem a ver comigo, não me toca…”. Participar é, de facto, mais do que fazer parte, é pertencer: “ser daí, sentir-se apelado, identificado, tocado…”
Há no viver em comum uma dimensão ao nível dos sentimentos, que ultrapassa em muito a argumentação racional e o cumprimento de direitos e deveres. Adela Cortina (filósofa espanhola) fala de uma cidadania fundada na razão cordial – em que a virtude da prudência é substituída pela virtude da cordura (termo espanhol para o qual parece não haver uma boa tradução em português) – que integra “inteligência, sentimento e coragem”, ou seja, no viver com os outros é importante a capacidade de argumentar segundo regras, de nos reconhecermos uns aos outros como interlocutores válidos, mas também a capacidade de estimar valores, de entrar em sintonia, de compadecer-se e de se envolver. Quem não tem a capacidade da estima e da compaixão é incapaz de descobrir as injustiças e de sentir em relação aos outros aquelas necessidades que só a gratuidade pode assegurar.
2 comentários:
É com enorme agrado que encontro este blog. Para si, os meus parabéns!
A Adela Cortina propõe uma nova ética que eu ando interessadíssima a estudar. Irei preparar um trabalho académico sobre ela, fico contente por saber que também faz parte das suas leituras.
Um grande abraço
Maria do Céu Pires
Cara Maria do Céu, muito obrigada pelas suas palavras. Só há muito pouco tempo descobri a autora, depois de uma conferência dela a que assisti em Zaragoza. Desejo-lhe um bom trabalho.
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