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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Escravatura, tráfico humano

Sei que naquela casa há pessoas presas, a quem tiraram o passaporte, a quem proibiram de andar livremente pela cidade, a quem obrigam a prostituir-se. Pessoas a quem maltratam, espezinham, humilham e ameaçam o tempo todo. Porta fechada, telefone bloqueado, e um porteiro musculado e de olhos aterradores, qual feitor ou capitão do mato, vigiando e punindo.
Vivem com o pesadelo da noite – álcool, sexo, drogas, violência, doenças – e o medo de chantagens sem fim sobre elas mesmas, os filhos e outros familiares que ficaram lá longe e vivem na esperança de uma vida melhor, com a ajuda de uns euros que a mãe ou a filha ganhará honradamente. Acreditam nisso, porque era nisso que elas acreditavam, sem poderem sequer imaginar o pesadelo.
Mas há quem levante a cabeça e ouse enfrentar o "senhor": - Não sai da minha terra para isto! Todos me enganaram! Todos! Malditos! Onde começa e acaba a rede? Onde?
- Cala a boca sua …, nem mais uma palavra. Posso fazer de ti o que quiser, sou eu que mando. Ouviste bem? Não te fui buscar à toa. Tens de ganhar para pagar tudo o que me deves e ainda mais.
- Você não é o meu dono, não vai destruir-me, não serei nunca sua escrava. Um dia, vou deixar esta vida. Um dia, vou denunciá-lo, irei à polícia e contarei tudo. Tudo, ouviu bem?
- É o teu fim e o dos seus filhos, não vai ficar nenhum para amostra. Atreve-te!
- Os meus filhos, não! A minha família, não! Não! Não! Não! Até onde vou aguentar?
Ela e todas as outras só poderão sair com ajuda. Quem as poderá ajudar? Quem está disposto a fazê-lo? Vem-me à memória aquela frase de Luther King "O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons".

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