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sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Desejo (e espero) que 2022 seja diferente

2021 não deixa saudades, foram muitos os problemas. Destaco a pandemia, os talibãs e a imigração ilegal. - A pandemia continua sem dar tréguas, temo que deixe marcas psicológicas em muita gente. É tempo a mais, a fugirmos uns dos outros, como se todos fossem um perigo. É tempo a mais, sem olhar o rosto das pessoas, parece que não conhecemos ninguém e que ninguém nos conhece. Tornámo-nos estranhos! - O regresso dos talibãs ao poder no Afeganistão e a tragédia daquele povo. Custa acre-ditar como o governo de Cabul caiu sem resistência, com o presidente a fugir do país, os americanos e outras forças internacionais em debandada e as frágeis instituições a su-cumbirem, uma a uma. - As vagas de migrantes do Norte África para a Europa e da América Latina para os Es-tados Unidos. Muitos morreram, muitos foram detidos, permanecendo, sem saída, em campos de refugiados e de detenção. Foram poucos os que conseguiram chegar e iniciar processos de legalização.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

A morte de Desmond Tutu

Morreu, ontem, aos 90 anos, o arcebispo da igreja anglicana, Desmond Tutu. Era verdadeiramente a voz dos que não tinham voz. Lutou pela liberdade, igualdade e justiça, contra o apartheid e todas as formas de opressão. Quando finalmente termina esse regime segregacionista, que uma minoria branca impunha aos negros sul-africanos, falou e participou na reconciliação de todos os sul-africanos fossem quem fossem. Sonhou com uma África do Sul onde brilhasse sempre um arco-íris, sem discriminação, sem indignidades, sem corrupção... Premio nobel da paz em 1984.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Um Bom Natal

Desejo a todos um bom Natal. Para uns será melhor do que para outros, certamente. Muitos viverão sentimentos inexplicáveis por palavras; espero que permaneçam os gestos de gratidão, partilha e amizade.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

O Dia Internacional Da Solidariedade Humana

Hoje, dia 20 de dezembro, celebra-se o DIA INTERNACIONAL DA SOLIDARIEDADE HUMANA. Instituído pela ONU para lembrar a todos os países, a todas as organizações, públicas ou da sociedade civil, que temos um compromisso inadiável com a humanidade. Um compromisso de justiça, com todos os seres humanos: os que se vão deitar de estômago vazio, os que não tomaram uma única vacina, os que dormem na rua, os que morrem no Mediterrâneo, os que permanecem em campos de refugiados ou de detenção… Temos um compromisso com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), para que se possam cumprir os direitos humanos.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

A mulher do semáforo

Era quase noite, já se via muito mal, num cruzamento de Nova Deli, Índia, uma senhora, com um filho ao colo, magra, muito magra, quase esquelética, aproxima-se dos vidros do autocarro e pede esmola. Uma pessoa lá de dentro, abre o vidro da janela e dá-lhe algum dinheiro (bastante até); ela agarra-o, amarrota-o dentro da mão e, em momento algum, olha a senhora que tenta comunicar com ela. Quase desvia o olhar, como se muros invisíveis a separassem dos outros. Ficará ali, à espera de outros turistas, de autocarros que parem, para mais uma vez se dirigir aos vidros, de olhar perdido, pedindo esmola; ou deixará aquele cruzamento e aquele semáforo, quando perceber que a quantia que acaba de receber é suficiente para comprar comida e alimentar os filhos por muitos dias.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

O pianista (o texto mais lido neste blogue)

É o relato de um sobrevivente, de alguém que perdeu toda a família, passou o inimaginável para sobreviver, mas nunca vendeu a alma. É sobre uma pessoa real, Szpliman, que, na altura do filme, em 2000, ainda vivia em Varsóvia. Talvez, o que mais perturbe sejam as cenas de humilhação, quando se perde completamente a capacidade de autonomia (ainda que, em rigor possamos dizer que tudo era humilhante), como a cena da dança, à saída do gueto, os judeus dançavam para os guardas, que troçavam, riam, voltavam a rir…; ou as cenas de sobrevivência, como quando um grupo de pessoas tenta roubar uma panela de sopa das mãos de uma senhora; ela foge, a sopa entorna-se, e aquelas pessoas lambem do chão, tudo, até ao mínimo resto de alimentos. Também a cena da criança que grita desesperadamente em casa, a certa altura, sai por um buraco para a rua, mas é tal seu estado que morre, ali, à nossa frente. Foi o mesmo desespero por comida que levou o pianista, quando estava refugiado numa casa e a pessoa que devia levar-lhe alimentos não pode fazê-lo, tal a dimensão do tiroteio em Varsóvia, a procurar alimentos por todo o lado, a abrir portas de armários, a fechar portas, procurando alguma coisa que pudesse comer. Quando finalmente encontra uma lata, agarra-a com tanta força que a lata cai no chão, espalha-se a farinha e o barulho é tal que os vizinhos chamam a polícia e o pianista é preso. Também, há no filme encontros humanos muito bonitos: os polacos não judeus que resolvem ajudar os judeus a sobreviver, a organizar a resistência no gueto, etc. Há um encontro particularmente improvável de um soldado alemão que encontra o pianista, fugindo e escondendo-se. Olha-o e pergunta-lhe: - Quem é você? - Sou pianista, eu era pianista. Há um clic qualquer no SS que resolve ajudá-lo. Depois do cerco a Varsóvia, este soldado, tal como todos os outros, é preso e lavado pelos russos para um campo de prisioneiros. Um dia viu, ao longe, um rapaz que gritava:“eu era violinista, tiraram-me tudo". Lembrou-se do pianista, levantou-se, afastou-se do grupo e disse ao violinista: - Conhece Szpliman? - Sim. - Diga-lhe que estou aqui. Mas, quando Szpilman o procurou, no campo de prisioneiros, depois de ter tido conhecimento do sucedido, percebeu que o campo tinha sido desmantelado e que esse soldado já não estava vivo. O filme é em sua memória e em memória dos judeus mortos

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Dia Mundial dos Direitos Humanos

No dia 10 de dezembro de 1948, em Paris, foi assinada a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Dotados de razão e consciência, devem agir uns com os outros em espírito de fraternidade” (1º artigo).

 Todos iguais, em dignidade e direitos. Ter consciência disto, é o primeiro passo, para se compreender a universalidade e legitimidade moral dos direitos de toda a humanidade. Mas, são tantos os excluídos! São tantos os que não têm o mínimo dos mínimos!

Sempre, o drama da imigração clandestina


sábado, 4 de dezembro de 2021

Estima, cuidado, compaixão...

 Quem não tem a capacidade de estima e de compaixão, não têm a capacidade de sentir as injustiças, de criar vínculos e de um envolvimento que ultrapasse os direitos e obrigações formais e inclua a dimensão da gratuidade. 

Esta perspetiva da cidadania inclui para além da razão, os sentimentos e é capaz de incorporar a estima pelos valores.

sábado, 27 de novembro de 2021

Um sinal verde e uma luz acesa

 Em muitas casas polacas, junto à zona de fronteira com a Bielorrússia, à noite, colocam um plástico verde às janelas e acendem uma luz lá dentro. É o sinal, para o que vagueiam por ali, os imigrantes asiáticos, saberem que podem bater àquela porta, comer uma refeição, aquecerem-se, carregar os telemóveis, ouvir uma palavra de alento….

Gestos de humanidade como os dos polacos que colocam sinais verdes e acendem luzes, são do mais tocante que há.

Enquanto isto, a polícia polaca tem ordens para os levar à força para longe, floresta dentro, para os levar a desistir.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

A importância da cultura

 No reconhecimento cultural, tal como o conceptualiza Taylor (1998), todas as culturas têm igual valor, desde que exista um quadro de valores partilhado, por todos os seus membros, onde se inclua uma noção de bem, ou seja, onde se inclua um sentido ético de vida boa, de vida plena, que os indivíduos não encontram noutro lugar.

domingo, 21 de novembro de 2021

Convenção Internacional dos Direitos das Crianças (1981)

 Foi ontem o dia internacional desta convenção. Existe para lembrar aos governos que as crianças e jovens até aos dezoito anos são um grupo vulnerável a requerer cuidados e programas especiais, por parte das família e da sociedade em geral.

Em Portugal, onde julgamos existirem todos os direitos, continua a pobreza infantil, uma em cada seis crianças, é pobre. Ou melhor, vivem em agregados familiares pobres que, por desemprego, baixos salários ou outras razões, não podem dar aos seus filhos o que é necessário para o seu pleno e devido desenvolvimento.


Crianças sorrindo à vida

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

COP26 e o acordo global

 Terminou a COP 26 e com um acordo global, assinado pelos 197 países presentes. Para muitos, foi um fracasso, sobretudo, devido às exigências de última hora da Índia e China que obrigaram a retirar do texto final a referência a uma data para se deixar de usar o carvão. Já devíamos estar acostumados a isto: é a alta política e o seu contínuo jogo de interesses.

O meu ponto é que, em vez de agendas políticas, os acordos globais deviam centrar-se nas evidências científicas; dar ouvidos a quem sabe dos assuntos, seria o modo sério de responder aos problemas climáticos.

 

                                                     Central a carvão (Foto: Getty Images)

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Radicalismo talibã (mais uma vez)

 Os radicalismos religiosos são, porventura, aqueles em que o extremismo parece mais acentuado. Fazem letra morta dos valores da modernidade – direitos humanos, democracia, laicidade do estado…, depois de tantos séculos de conhecimento, ciência pensamento crítico... – chegando ao ponto da impossibilidade de perceber o que se passa, como o caso dos talibãs no Afeganistão.

sábado, 13 de novembro de 2021

O drama da imigração ilegal, às portas da Europa

Imigrantes na fronteira da Bielorrússia (Foto: Observador)

37 imigrantes são resgatados, por um barco da marinha portuguesa, em águas internacionais, ao sul do Algarve. Uma rota já várias vezes utilizada, sucedendo-se os desembarques. Vão ser presentes a um juiz e enviados para os países de origem, no cumprimento de protocolos europeus que não resolvem nenhum dos problemas.

Na fronteira da Bielorrússia com a Polónia, centenas de migrantes, do Iraque e outros países são tratados com coisas, vigiados por tropas, os que tentam passar a fronteira, são forçados a entrar em viaturas, não para serem enviados para os países de origem, mas para a floresta, deixados à sua sorte, com temperaturas gélidas, sem protocolos europeus que polacos e húngaros, há muito não cumprem.

 

terça-feira, 2 de novembro de 2021

COP26, Conferência da ONU sobre as alterações climáticas, em Glasgow

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sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Educação e valores

 Grande parte dos sistemas educativos, desde logo, os da União Europeia, mas também em todas as  sociedades democráticas, plurais e livres, têm nas suas Leis de Base da Educação intenções gerais onde se refere a formação ética e moral dos alunos, muitas vezes, mais no enfoque da cidadania, valores democráticos, justiça e solidariedade social.

sábado, 23 de outubro de 2021

Um mal extremo, quase banal

 Quando se tentou pensar, sobre o que se passou nos campos nazis, de como tinha sido possível aquele extermínio, surgiu a noção de banalidade do mal: um mal que ninguém questiona, ninguém denuncia, visto e vivido como algo normal.

Temo que um dia qualquer, o mal se volte a banalizar, mesmo na Europa. Pois, não pode ser banal um político britânico ser morto, há pouco mais de uma semana, por um radical islâmico, numa igreja metodista, quando reunia com os seus eleitores. Não pode ser banal um jovem de 19 anos ser morto, num ajuste de contas, por outros de gangues rivais, como aconteceu, há poucos dias, no metro das Laranjeiras, em Lisboa.

Uns, estão dispostos a tudo por radicalismo religioso; outros, por um vazio de sentimentos e de referências igualmente perturbador. Todos, como se a vida humana não tivesse qualquer valor.

 

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Diferentes culturas da sociedade portuguesa

 Em Portugal, estiveram, desde sempre, os ciganos. Mas, a seguir ao 25 de abril de 1974 e à descolonização, a diversidade cultural ganha outra expressão, com a vinda de comunidades de origem africana das ex-colónias: Angola, Moçambique, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde. Nas décadas seguintes, até hoje, continuam a vir migrantes africanos, mas sobretudo brasileiros (a maior comunidade de migrantes, nos últimos vinte anos) da Europa de Leste e de vários países asiáticos (chineses, paquistaneses, nepaleses, indianos…). Persistem  problemas de integração variados, apesar de politicas ativas de integração.

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Onde não há o que distribuir...

Não podemos falar de direitos, em sociedades onde não há para distribuir, onde há desequilíbrios de tal ordem que em vez de respostas, criam-se impasses, maiores e novos problemas.

Por isso, casos como os acesso gratuito a consultas, mas impossibilidade económica de comprar a medicação receitada, escolas gratuitas, mas incapacidade de comprar os livros, cadernos, sapatos ou uniforme escolar..., não servem de muito. Tem de existir um mínimo garantido.

domingo, 10 de outubro de 2021

Educação: contra os radicalismos

 Para mim é cada vez mais claro, que só há uma saída para os radicalismos: a educação, o conhecimento.

Sem capacidade de pensarem de forma reflexiva e crítica, o que muitos radicalismos culturais proíbem ou nem sequer possuem, como no exemplo gritante dos talibãs, no Afeganistão, torna-se impossível dialogar com eles. 

Ao imporem quase um analfabetismo generalizado, sobretudo às mulheres, mas também a eles próprios, tornam-se incapazes de apresentar e discutir argumentos (obviamente, do ponto de vista racional, que os diferentes interlocutores possam entender); tornam-se incapazes de perceber o atoleiro de irracionalidades em que estão.

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Abuso de menores na igreja francesa

 São tão assustadores e tão trágicos os dados do relatório independente, feito em França, sobre os abusos sexuais na igreja francesa, nos últimos 70 anos, que não consigo escrever nada sobre o assunto. Republico um texto que escrevi sobre o tema depois de ver o filme: 

Os meninos de São Judas

O filme fala dos meninos do reformatório de São Judas, na Irlanda, em 1939. Revela uma realidade que, apesar da brutalidade de algumas práticas, como o abuso sexual e a tortura física, se prolongou, por muitas décadas, em instituições similares – e é por isso que aquela violência parece quase não nos surpreender.
Mas há sempre um limite. Tínhamos assistido à tortura dos dois jovens, debruçados sobre um banco comprido de madeira, rente ao chão, com o resto dos companheiros a assistirem – tal como se torturavam, há séculos atrás, os escravos, presos ao tronco, em espectáculo público, para que todos vissem o que lhes podia também acontecer se ousassem desobedecer – mas não estávamos preparados para a cena do assassínio de Liam, a quem o padre John mata à chicotada e  pontapé.
O padre mata por motivos impossíveis de compreender. Quer saber por que apareceu no reformatório um professor laico, William Franklin. "Será comunista"?
O professor trata os jovens como pessoas, pelo nome próprio, promete responder às suas perguntas e levá-los a pensar para lá de si próprios e dos muros do colégio. Na noite de Natal, oferece a todos uma prenda, um livro, que contém algo de especial para cada um – poesia, literatura, teatro, vida, sentimentos, comprometimento… Os miúdos decoram frases, versos, fazem coros, récitas, teatros…
Algo de novo aconteceu e o padre John não aguenta. Estes são fantasmas que se prolongam por décadas. De algum modo, todos somos testemunhas, eu própria recordo uma adolescência e um início da idade adulta em que o comunismo era uma palavra maldita, como não seriam as pessoas que tinham essa ideologia e se empenhavam em transmiti-la? Excomungadas, obviamente. Ainda, hoje, não percebo nada. Mas, depois de sabermos o que se passou, nessa Europa de Leste, quando se derruba o muro de Berlim, vemos que nunca há o branco e o preto, mas nada justificava a paranóia e a maldade do padre John.
Franklin luta, com todas as suas forças, até os abusadores saírem de cena. (Sabe -se, no final do filme, que o padre Mac, o dos abusos sexuais, vai para os Estados Unidos, é-lhe dada uma paróquia e ainda vive; o padre John, o torturador implacável, é mandado para África e morre em 1969).  Decide, então, abandonar o colégio, mas não resiste à despedida, particularmente, à atitude de um dos jovens ao recitar-lhe poesias do livro que lhe dera. Franklin quebra. Não pode deixá-los já. Fica por mais cinco anos, alistando-se depois nas tropas aliadas. Morre, na frente de batalha, em 1944.
Para a sua luta é o fim, mas quantos começos não tinha já deixado atrás, junto dos jovens do colégio São Judas! Quantos começos não deixa, ainda, hoje, naqueles que vêem o filme e percebem a força de uma consciência! Nem tudo são entardeceres, mesmo nestes sombrios colégios. Viva o professor Franklin!

(publicado em 28/9/2012)