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terça-feira, 23 de novembro de 2021

A importância da cultura

 No reconhecimento cultural, tal como o conceptualiza Taylor (1998), todas as culturas têm igual valor, desde que exista um quadro de valores partilhado, por todos os seus membros, onde se inclua uma noção de bem, ou seja, onde se inclua um sentido ético de vida boa, de vida plena, que os indivíduos não encontram noutro lugar.

sábado, 29 de abril de 2017

Viagem à Índia (2)



Em viagens turísticas, como a que fiz, só vemos uma parte (pequena) da realidade. Temos a sensação de viajar dentro de uma bolha. Preservados de tudo, em hotéis bons, autocarros novos, com ar condicionado, motorista, guia e ajudante, cumprindo um roteiro que não deixa muita margem a iniciativas individuais.
Devem existir ruas, mercados, praças..., onde a multidão seja visível, mas, nesta viagem, nunca pude observá-la. Onde estão os milhões de indianos? Onde estão “presos”? Quem os "prende"?
Há coisas que impressionam pela grandiosidade: as fortificações mongóis, com vários palácios dentro, as cidades abandonadas, os monumentos como o Taj Mahal, marcas de uma Índia estratificada de há duzentos ou trezentos anos: os reis e a plebe, os marajás e o povo.
Mas, para mim, foi particularmente intrigante a visita panorâmica a Nova Deli, depois de uma manhã a visitar os monumentos da antiga cidade. Quase tudo é herança britânica, uma cidade administrativa, monumental, com grandes avenidas, um arco de triunfo, praças..., muitos parques verdes, zonas residenciais, palacetes individuais, em zonas fechadas, onde, antes, viviam os funcionários da coroa, hoje, destinados a serviços do Estado. 
Quando passamos junto aos edifícios do Estado, palácios do presidente e do 1º ministro, ministérios, parlamento..., o guia avisa: “aqui não se pode parar, nem descer, aqui, nenhum carro particular pode circular, nós passamos, porque é turismo. Só duas vezes por ano (em dias nacionais) as pessoas comuns podem visitar esta parte da cidade".
Afinal, Nova Deli (ou parte) é uma cidade proibida, para o comum dos indianos; aberta, sem muralhas, mas vigiada, destinada a governantes, políticos, funcionários e afins... Não se compreende.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Identidade(s)

Numa reportagem da televisão de Castilla-Leon, por terras de fronteira, Bragança e Sanabria, questionava-se sobre se há ou não a identidade do “transfronteiriço”, algo que corresponderia a ser habitante da fronteira, a ser de cá e de lá; ou se, como acontece noutros casos, é uma palavra vazia, ou quase. Quando perguntam à jovem portuguesa que trabalha, há anos, numa cidade do lado de lá da fronteira, responde: “não, sentimo-nos portugueses, somos portugueses, mas se me perguntam se quero ir para Portugal, digo que não, aqui vive-se melhor, o ordenado mínimo é quase o dobro”.

Parece, então, não serem as condições materiais que criam sentimento de identidade. Ninguém se sente transfronteiriço, o máximo que o repórter consegue, nisto de “confundir identidades” é: “somos uma coisa e outra, somos espanhóis e somos portugueses, somos como irmãos”, diz uma senhora espanhola responsável por um organismo ligado ao turismo.
Enquanto, um jovem presidente duma associação, ligada ao parque de Montesinho, diz: “há projectos ibéricos, com financiamento europeu, como o Museu da Máscara, mas nós temos as nossas coisas, eles têm a deles, há uma identidade nossa e uma identidade deles”. Impossível explicar melhor, não se diluem identidades culturais profundas, mesmo com usos e costumes próximos.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Os ciganos (2)

Era uma vez uma jovem de olhos negros, com uma longa cabeleira preta, que passeava pelo bosque, junto à aldeia onde vivia, quando encontrou o príncipe daquele reino. Olharam-se, e ele ficou enamorado da sua beleza e da forma como corria descalça e livre pelas margens do rio. Desde então, passou a ir muitas vezes à aldeia da jovem, com a intenção de a namorar.
As famílias não achavam bem o casamento, por serem pessoas muito diferentes. Naquela aldeia, não era costume casar com pessoas de fora, davam muita importância à família: se alguém fazia um bom negócio, era como se todos fizessem; se alguém tinha uma grande alegria, todos tinham; se alguém ficava doente, todos corriam a dar-lhe carinho; se alguém cometia um delito, toda a família se sentia envergonhada. Nunca abandonavam as crianças nem os velhos. Em todas as famílias, o homem mais velho – a quem chamavam o patriarca – era muito respeitado, representava a família no Conselho da Aldeia, dava conselhos e procurava que todas as tradições se cumprissem.
O Conselho do Reino e também o Conselho da Aldeia reuniram-se para discutir o namoro de um príncipe com uma aldeã. Depois de ultrapassados os problemas, começou a preparar-se o casamento. Uns dias antes, como era costume do seu povo, a jovem fugiu com o noivo para o palácio. Foi bem recebida, apreciavam a sua música, as suas danças e as suas capacidades para adivinhar o futuro. Mas, mesmo assim, começou a sentir-se infeliz, não se sentia livre. Não questionava a autoridade do marido, mas custava-lhe cumprir todas as regras do palácio, as horas de comida, as horas de saída, os sapatos sempre a apertar-lhe os pés, tudo previamente fixado…
Decidiu, então, que não iria mais casar-se. Pediu perdão à família e ao povo por não ter pensado bem nas consequências do seu casamento com o príncipe. O seu povo aceitou, mas não podia mais ficar naquele reino, a renúncia ao casamento era uma ofensa que não podiam suportar, esse povo nunca quebrava os seus compromissos. Arrumaram as suas coisas e, à hora em que se devia celebrar a boda, iniciaram uma longa viagem, sem fim e sem destino, que ainda hoje dura. Dizem que, lá pelo século XII, um monge os encontrou nos Montes Athos, no norte da Grécia, talvez vindos da Ásia Menor, mas a partir do século XV há relatos da sua presença em vários países da Europa. Também chegaram a Portugal, dizem que são entre 40 a 50 mil.