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sábado, 30 de maio de 2015

O pianista, o filme

É o relato de um sobrevivente, de alguém que perdeu toda a família, passou o inimaginável para sobreviver, mas nunca vendeu a alma. É sobre uma pessoa real, Szpliman,  que, na altura do filme, em 2000, ainda vivia em Varsóvia.
Talvez, o que mais perturbe sejam as cenas de humilhação, quando se perde completamente a capacidade de autonomia (ainda que, em rigor possamos dizer que tudo era humilhante), como a cena da dança, à saída do gueto, os judeus dançavam para os guardas, que troçavam, riam, voltavam a rir…; ou as cenas de sobrevivência, como quando um grupo de pessoas tenta roubar uma panela de sopa das mãos de uma senhora; ela foge, a sopa entorna-se, e aquelas pessoas lambem do chão, tudo, até ao mínimo resto de alimentos. Também a cena da criança que grita desesperadamente em casa, a certa altura, sai por um buraco para a rua, mas é tal  seu estado que morre, ali, à nossa frente.
Foi o mesmo desespero por comida que levou o pianista, quando estava refugiado numa casa e a pessoa que devia levar-lhe alimentos não pode fazê-lo, tal a dimensão do tiroteio em Varsóvia, a procurar alimentos por todo o lado, a abrir portas de armários, a fechar portas,  procurando alguma coisa que pudesse comer. Quando finalmente encontra uma lata, agarra-a com tanta força que a  lata cai no chão, espalha-se a farinha e o barulho é tal que os vizinhos chamam a polícia e o pianista é preso.
Também, há no filme encontros humanos muito bonitos: os polacos não judeus que resolvem ajudar os judeus a sobreviver, a organizar a resistência no gueto, etc. Há um encontro particularmente improvável de um soldado alemão que encontra o pianista, fugindo e  escondendo-se.  Olha-o e pergunta-lhe:
- Quem é você?
- Sou pianista, eu era pianista.
Há um clic qualquer no SS que resolve ajudá-lo. Depois do cerco a Varsóvia, este soldado, tal como todos os outros, é preso e lavado pelos russos para um campo de prisioneiros. Um dia viu, ao longe, um rapaz que gritava:“eu era violinista, tiraram-me tudo".
Lembrou-se do pianista, levantou-se, afastou-se do grupo e disse ao violinista:
- Conhece Szpliman? 
- Sim.
- Diga-lhe que estou aqui.
Mas, quando Szpilman o procurou, no campo de prisioneiros, depois de ter tido conhecimento do sucedido, percebeu que o campo tinha sido desmantelado e que esse soldado já não estava vivo.
O filme é em sua memória e em memória dos judeus mortos


sábado, 23 de maio de 2015

Violência, uma vez mais

Pode legitimar-se a violência? Não pode, venha de onde vier e tome a forma que tomar.
Podemos atribuir as causas às desigualdades sociais, à miséria, às doenças e desequilíbrios mentais, à sucessão de fracassos em que tantas vidas se transformaram, mas não chega.  A violência está em nós, precisamos de nos vigiar continuamente.
Sucedem-se assaltos, crimes, agressões..., a violência tornou-se geral e quase banal, embora ainda não o seja totalmente, ainda se abrem telejornais com noticias enquadradas na lógica de uma sociedade livre, democrática, de direito e com a consciência cívica de que é preciso fazer alguma coisa. 
É preciso indignação contra a violência, não a aceitar como inevitável, não fechar os olhos, o que aconteceu em Salvaterra, o que aconteceu em Guimarães e o que acontece todos os dias em tantos lados, diz-nos respeito, também é connosco.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

A rigidez das leis, a justiça social

"Não vê a minha situação, não me deixa explicar, diz-me que não pode fazer nada, que a lei não o permite” - diz a senhora que acaba de sair do gabinete em frente. Referia-se à assistente social, com quem tinha acabado de falar, depois de ver esgotado o subsídio de desemprego. Ao ouvir esta senhora que, no seu sentido comum de justiça, acabara de (d)enunciar toda a conflitualidade do campo prático: entre a universalidade da lei e a pessoa concreta, penso na necessidade de encontrar respostas que conciliem a rigidez das normas com a solicitude das pessoas singulares. 
Nessa mesma manhã, assisti a uma sucessão de situações da mesma natureza, portanto, é bem visível, no quotidiano social, o impacto da crise económica que estamos a viver. 

segunda-feira, 4 de maio de 2015

O amor das mães, incondicional

Ontem foi dia da mãe.  Quero aqui recordar aquelas mães que no sismo do Nepal ou em outras catástrofes ou revezes da vida perderam filhos, por estes dias. Recordo a imagem indescritível daquela mãe nepalesa que, mesmo sabendo que o filho não poderá mais ser resgatado dos escombros da casa onde viviam, continua lá, à sua espera, à espera de um milagre.