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sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

27 de janeiro - Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto

 

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segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

O pianista (o texto mais lido neste blogue)

É o relato de um sobrevivente, de alguém que perdeu toda a família, passou o inimaginável para sobreviver, mas nunca vendeu a alma. É sobre uma pessoa real, Szpliman, que, na altura do filme, em 2000, ainda vivia em Varsóvia. Talvez, o que mais perturbe sejam as cenas de humilhação, quando se perde completamente a capacidade de autonomia (ainda que, em rigor possamos dizer que tudo era humilhante), como a cena da dança, à saída do gueto, os judeus dançavam para os guardas, que troçavam, riam, voltavam a rir…; ou as cenas de sobrevivência, como quando um grupo de pessoas tenta roubar uma panela de sopa das mãos de uma senhora; ela foge, a sopa entorna-se, e aquelas pessoas lambem do chão, tudo, até ao mínimo resto de alimentos. Também a cena da criança que grita desesperadamente em casa, a certa altura, sai por um buraco para a rua, mas é tal seu estado que morre, ali, à nossa frente. Foi o mesmo desespero por comida que levou o pianista, quando estava refugiado numa casa e a pessoa que devia levar-lhe alimentos não pode fazê-lo, tal a dimensão do tiroteio em Varsóvia, a procurar alimentos por todo o lado, a abrir portas de armários, a fechar portas, procurando alguma coisa que pudesse comer. Quando finalmente encontra uma lata, agarra-a com tanta força que a lata cai no chão, espalha-se a farinha e o barulho é tal que os vizinhos chamam a polícia e o pianista é preso. Também, há no filme encontros humanos muito bonitos: os polacos não judeus que resolvem ajudar os judeus a sobreviver, a organizar a resistência no gueto, etc. Há um encontro particularmente improvável de um soldado alemão que encontra o pianista, fugindo e escondendo-se. Olha-o e pergunta-lhe: - Quem é você? - Sou pianista, eu era pianista. Há um clic qualquer no SS que resolve ajudá-lo. Depois do cerco a Varsóvia, este soldado, tal como todos os outros, é preso e lavado pelos russos para um campo de prisioneiros. Um dia viu, ao longe, um rapaz que gritava:“eu era violinista, tiraram-me tudo". Lembrou-se do pianista, levantou-se, afastou-se do grupo e disse ao violinista: - Conhece Szpliman? - Sim. - Diga-lhe que estou aqui. Mas, quando Szpilman o procurou, no campo de prisioneiros, depois de ter tido conhecimento do sucedido, percebeu que o campo tinha sido desmantelado e que esse soldado já não estava vivo. O filme é em sua memória e em memória dos judeus mortos

terça-feira, 23 de outubro de 2018

O Principezinho...(2)

O  Principezinho convida o leitor a viver a criança que cada um leva dentro,  parte integrante e esquecida de nós próprios e de que necessitamos para viver com ilusão, frente a um futuro incerto e a um presente que nos confunde e agride.

O livro é sobre a responsabilidade (a fidelidade a uma flor) e a amizade (que prende, que dói, que absorve, mas que realiza). Questiona os valores do mundo dos adultos como o poder, a autoridade, a vaidade, a ostentação, a marginalização, o dinheiro , a riqueza, o sentido do trabalho.




 A viagem do Principezinho


No 1º planeta, trata-se da questão da autoridade; a autoridade é o bom senso. Todos eram súbditos, as ordens eram sensatas, “só se pode exigir a uma pessoa o que essa pessoa pode dar”. Julgar-se a si próprio é o mais difícil de tudo, é bem mais difícil julgarmos-nos a nós próprios do que aos outros.
Diziam-lhe: “faço-te ministro, faço-te embaixador... as pessoas grandes são mesmo esquisitas - pensou o Principezinho que não queria poder. Só queria ver o pôr-do-sol. Como é que as pessoas grandes podem entender isto. Não entendem.

No 2º planeta, habita o homem vaidoso, tal como, aqueles que querem ser admirados, aclamados, “os vaidosos nunca ouvem senão elogios”. Questiona o que significa admirar e pensa: - “Não há dúvida de que as pessoas grandes são mesmo muito esquisitas”......

 

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Os meninos de São Judas, o filme

O filme fala dos meninos do reformatório de São Judas, na Irlanda, em 1939. Revela uma realidade que, apesar da brutalidade de algumas práticas, como o abuso sexual e a tortura física, se prolongou, por muitas décadas, em instituições similares – e é por isso que aquela violência parece quase não nos surpreender.
Mas há sempre um limite. Tínhamos assistido à tortura dos dois jovens, debruçados sobre um banco comprido de madeira, rente ao chão, com o resto dos companheiros a assistirem – tal como se torturavam, há séculos atrás, os escravos, presos ao tronco, em espectáculo público, para que todos vissem o que lhes podia também acontecer se ousassem desobedecer – mas não estávamos preparados para a cena do assassínio de Liam, a quem o padre John mata à chicotada e  pontapé.
O padre mata por motivos impossíveis de compreender. Quer saber por que apareceu no reformatório um professor laico, William Franklin. "Será comunista"?
O professor trata os jovens como pessoas, pelo nome próprio, promete responder às suas perguntas e levá-los a pensar para lá de si próprios e dos muros do colégio. Na noite de Natal, oferece a todos uma prenda, um livro, que contém algo de especial para cada um – poesia, literatura, teatro, vida, sentimentos, comprometimento… Os miúdos decoram frases, versos, fazem coros, récitas, teatros…
Algo de novo aconteceu e o padre John não aguenta. Estes são fantasmas que se prolongam por décadas. De algum modo, todos somos testemunhas, eu própria recordo uma adolescência e um início da idade adulta em que o comunismo era uma palavra maldita, como não seriam as pessoas que tinham essa ideologia e se empenhavam em transmiti-la? Excomungadas, obviamente. Ainda, hoje, não percebo nada. Mas, depois de sabermos o que se passou, nessa Europa de Leste, quando se derruba o muro de Berlim, vemos que nunca há o branco e o preto, mas nada justificava a paranóia e a maldade do padre John.
Franklin luta, com todas as suas forças, até os abusadores saírem de cena. (Sabe -se, no final do filme, que o padre Mac, o dos abusos sexuais, vai para os Estados Unidos, é-lhe dada uma paróquia e ainda vive; o padre John, o torturador implacável, é mandado para África e morre em 1969).  Decide, então, abandonar o colégio, mas não resiste à despedida, particularmente, à atitude de um dos jovens ao recitar-lhe poesias do livro que lhe dera. Franklin quebra. Não pode deixá-los já. Fica por mais cinco anos, alistando-se depois nas tropas aliadas. Morre, na frente de batalha, em 1944.
Para a sua luta é o fim, mas quantos começos não tinha já deixado atrás, junto dos jovens do colégio São Judas! Quantos começos não deixa, ainda, hoje, naqueles que vêem o filme e percebem a força de uma consciência! Nem tudo são entardeceres, mesmo nestes sombrios colégios. Viva o professor Franklin!

(publicado em 28/9/2012)

quarta-feira, 6 de junho de 2018

O pianista, o filme

Por razões que me escapam, os textos mais lidos neste blog são sobre filmes. Vou voltar a publicar alguns deles.   

É o relato de um sobrevivente, de alguém que perdeu toda a família, passou o inimaginável para sobreviver, mas nunca vendeu a alma. É sobre uma pessoa real, Szpliman,  que, na altura do filme, em 2000, ainda vivia em Varsóvia.
Talvez, o que mais perturbe sejam as cenas de humilhação, quando se perde completamente a capacidade de autonomia (ainda que, em rigor possamos dizer que tudo era humilhante), como a cena da dança, à saída do gueto, os judeus dançavam para os guardas, que troçavam, riam, voltavam a rir…; ou as cenas de sobrevivência, como quando um grupo de pessoas tenta roubar uma panela de sopa das mãos de uma senhora; ela foge, a sopa entorna-se, e aquelas pessoas lambem do chão, tudo, até ao mínimo resto de alimentos. Também, a cena da criança que grita desesperadamente em casa, a certa altura, sai por um buraco para a rua, mas é tal  o seu estado que morre, ali, à nossa frente.
Foi o mesmo desespero por comida que levou o pianista, quando estava refugiado numa casa e a pessoa que devia levar-lhe alimentos não pode fazê-lo, tal a dimensão do tiroteio em Varsóvia, a procurar alimentos por todo o lado, a abrir portas de armários, a fechar portas,  procurando alguma coisa que pudesse comer. Quando finalmente encontra uma lata, agarra-a com tanta força que a  lata cai no chão, espalha-se a farinha e o barulho é tal que os vizinhos chamam a polícia e o pianista é preso.
Também, há no filme encontros humanos muito bonitos: os polacos não judeus que resolvem ajudar os judeus a sobreviver, a organizar a resistência no gueto, etc. Há um encontro particularmente improvável de um soldado alemão que encontra o pianista, fugindo e  escondendo-se.  Olha-o e pergunta-lhe:
- Quem é você?
- Sou pianista (hesita), eu era pianista.
Há um clic qualquer no SS que resolve ajudá-lo. Depois do cerco a Varsóvia, este soldado, tal como todos os outros, é preso e lavado pelos russos para um campo de prisioneiros. Um dia viu, ao longe, um rapaz que gritava:“eu era violinista, tiraram-me tudo".
Lembrou-se do pianista, levantou-se, afastou-se do grupo e disse ao violinista:
- Conhece Szpliman? 
- Sim.
- Diga-lhe que estou aqui.
Mas, quando Szpilman o procurou, no campo de prisioneiros, depois de ter tido conhecimento do sucedido, percebeu que o campo tinha sido desmantelado e que esse soldado já não estava vivo.
O filme é em sua memória e em memória de todos os judeus mortos.

(publicado em 30/5/2015)

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Os falsificadores, o filme

É um filme sobre a falsificação da libra esterlina pelos nazis que se preparavam, também, para falsificar o dólar americano, já, no final da II Guerra Mundial.

Um grupo de judeus é deportado para um campo alemão, onde se dedicam à falsificação de moeda. O falsificador foi preso em Berlim pelas SS e levado para esse campo para se aproveitarem das suas habilidades; o mesmo aconteceu com todos os outros, uns percebiam de tipografia, outros de grafismo, outros de dinheiro e de bancos…. Era assim, sempre que os prisioneiros tinham capacidades de trabalho que interessavam à estratégia nazi, eram poupados à morte.

Este falsificador é tratado com alguma deferência, os alemães sabem bem que precisam dele e por isso dão-lhe condições de trabalho, materiais, ajudantes… para que se torne num falsificador perfeito. No grupo, há diferentes sentimentos: uns querem conspirar contra os alemães e negarem-se a colaborar; outros fazem tudo para sobreviver, quando pensam no fuzilamento imediato, se ousassem fugir e fossem apanhados. Uns deixam a sua parte psicológica arruinar-lhes os dias, outros continuam cerebrais e manipuladores, fazendo o jogo do inimigo, não deixando que lhes aprisionem o pensamento – é o caso do falsificador. Tem consciência do seu valor para os alemães e permite-se esticar a corda, até um dia.

Durante muito tempo, vai enredando, para evitar colaborar na falsificação do dólar, dá desculpas: é a gelatina, é o papel, é a máquina tal...; enfim, o comandante do campo percebe, mas não pode fazer muito mais, pressiona-o, porque também é pressionado. Ameaça-o: “há quem o substitua, não é o único a falsificar notas”!
O falsificador resiste. Tem um olhar de dureza que, às vezes, perturba; mas, mesmo sem quebrar, pressente-se que vive um tormento interior, por exemplo, quando um dos jovens do grupo adoece, gravemente. É visto pelo médico do campo, pensa-se que é tuberculose, mas não há medicamentos; o falsificador vai fazer tudo para os conseguir. Vai a casa do SS, o comandante do campo, com a receita, e pede-lhe: “arranje-me estes remédios e em troca falsificarei o dólar. Se encontrar os medicamentos, arranjarei maneira de falsificar o dólar”. E o comandante arranjou-os.
Entretanto, os russos tomam Berlim, os nazis destroem o campo e as máquinas de falsificar moeda, para que não se soubesse o que ali se fazia.
Na realidade, os judeus desse campo fogem, no fim da guerra, numa carruagem, são intercetados e presos, mas libertos, algum tempo, depois; alguns ainda vivem.
O filme começa com o falsificador numa praia, no Mónaco, depois de perder uma grande quantia de dinheiro no casino e termina, no mesmo sítio, agora, já com uma jovem bailarina que lhe diz: “foi muito o dinheiro que perdeu”! “O dinheiro não é problema – responde-lhe”.

Talvez, o mais forte do filme tenha sido ver o falsificador disposto a tudo, para salvar o jovem russo; a força duma amizade e o sentido profundo de uma identidade (cultural, religiosa…) são inexplicáveis.   



terça-feira, 29 de setembro de 2015

Anne Frank: o diário (3)

Há-de chegar o dia em que esta guerra medonha acabará, há-de chegar o dia em que também nós voltaremos a ser gente como os outros e não apenas judeus” – escreveu Anne no seu diário, em 11 de abril de 1944.
Para ela e para milhões de judeus esse dia não chegou. Ficou o seu diário, um importante testemunho. Quando Anne fez treze anos e vivia ainda uma vida normal e feliz com os pais e a irmã numa casa no centro de Amesterdão, recebeu de presente um diário, que leva consigo para o refúgio no depósito das empresas do pai. 
Escrever tornou-se uma tábua de salvação. “Quando escrevo, sinto um alívio, a minha dor desaparece, a coragem volta”- escreve a 5 de abril de 1944. 
Com o diário, de capa axadrezada, em que o vermelho é a cor dominante, a que chama de Kitty, a amiga, pode desabafar, conversar, dialogar, interrogar, pensar.... Este e os cadernos que se seguiram foram guardadas por Miep, uma das colaboradoras, e entregues ao pai, sobrevivente de Auschwitz, que o publicou pela primeira vez em 1947. 
No museu está o original, aberto, podemos ver a letra de Anne, certinha, pequena...impressiona um pouco, pois escreve já com o objectivo de publicar, sabe que no fim da guerra haverá interesse por escritos desta natureza. Ela tem planos, quer ser escritora, ironicamennte, o seu livro é um dos mais editados e lidos do mundo. 
(O diário de Anne Frank acaba de ser reeditado em Portugal, pela editora Livros do Brasil).

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Anne Frank: o anexo (2)

Em 6 de Julho de 1942, a família FranK, o pai Otto, a mãe Edith, as filhas Anne e Margot, “mergulha” na clandestinidade, uma semana mais tarde junta-se a família Van Pels, pai, mãe e filho, e pouco depois o senhor Fritz, amigo da família Frank. São todos alemães, fugiram para a Holanda, mas não estão a salvo. A perseguição aos judeus não tem limites, chegou aqui também. 
Estas oito pessoas passam a viver naquilo a que Anne, no seu diário, chama o “anexo”, ajudadas por quatro colaboradores. Não é uma casa pequena separada da casa principal, como estaríamos à espera. O anexo é a parte de cima da casa onde o pai  tinha as suas empresas, com a fachada da frente virada para um dos canais de Amesterdão. O anexo é a parte de trás, ocupando dois andares e o sótão virados para as traseiras da casa, espaço que serviu, até então, para depósito/armazém das especiarias e outros produtos transformados nas empresas, com janelas pintadas de preto, para que a luz não os deteriorasse. O depósito/o anexo estava separado do resto da casa por uma porta disfarçada de estante (está como na época) para não levantar suspeitas.
Permanecem neste refúgio, muito exíguo, mas onde conseguem ter um quotidiano "quase normal", lêem, escutam a rádio, alegram-se com o avanço dos Aliados nas costas da Normandia, exasperam com as notícias sobre as câmaras de gás e os campos de concentração... Sobrevivem, sobrevivem..., esperam o fim da guerra. Mas, a 4 de Agosto de 1944, dois anos e um mês depois, são presos e levados para diferentes campos de concentração. Anne e a irmã morrem em Bergen-Belsen, na Alemanha, de tifo, a mãe morre em Auschwitz; o pai, que também foi levado para aí, foi o único dos oito refugiados que sobreviveu. Depois da guerra, em 3 de Junho de 1945, regressa a Amesterdão, sabe, então, da morte da mulher e das filhas. Miep, uma das colaboradoras, entrega-lhe o diário de Anne. 

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Anne FranK (1)

Estive há pouco tempo na casa museu Anne Frank, em Amesterdão. Havia muitos visitantes, jovens de escola, adolescentes. Pensei na importância de lugares como este,  pelo que significa, pelo que simboliza, pelo grito ensurdecedor que não deixamos de ouvir, durante toda a visita. Voltamos a mais de setenta anos atrás, recriamos, na mente, o cenário, a vida, os sonhos e os medos, daquelas pessoas que ali viveram durante dois anos.  Fechadas, literalmente, como se não existissem, até que um dia são traídas, denunciadas e presas pelos alemães.Voltamos atrás, mas não podemos, infelizmente, achar que tudo é história, que tudo é passado. Não é. Nesse dia, semana e mês, outros perseguidos por guerras, religiões..., atravessam países, procuram refúgio, apelam por solidariedade. 

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Armas nucleares, o perigo permanece

Há 70 anos (6 de Agosto de 1945), caiam, em Hiroxima e Nagasáqui, no Japão, duas bombas atómicas. Morreram, nos minutos seguintes, de 40 a 80 mil pessoas e, depois, nos dias, semanas, meses e anos, continuaram a morrer pessoas, devido ao efeito radioativo.
Os sobreviventes (crianças na altura) ainda choram os seus mortos e as suas vidas. Vão chorar sempre. E o mundo? O mundo não chora? Parece que não, está tudo no passado, lá longe, nos arquivos da II Guerra Mundial. Não aprendemos nada. Muitos países têm capacidade nuclear e outros que não a têm querem tê-la. O raciocínio parece viciado: ter armas nucleares (com todos os perigos que as mesmas representam) com a intenção de nunca as usar. Apenas, para dissuadir, amedrontar. O raciocínio devia ser: se não quero usar uma coisa, simplesmente, não a construo. Ponto final. O pior é que as relações internacionais são tudo menos raciocínios lineares.  

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Discurso final de Charles Chaplin no filme "O grande Ditador” - Parte 2

- "Soldados não vos entregueis a esses homens brutos que vos desprezam e vos tratam como escravos; homens que governam as vossas vidas, decidem os vossos actos e os vossos pensamentos; domesticam-vos, tratam-vos como animais e utilizam-vos como carne para canhão. Não vos coloqueis nas mãos desses homens anti naturais, desses homens máquinas, com coração de máquinas.
Vós não sois máquinas! Não sois animais! Sois homens! Levais o amor e a humanidade nos vossos corações. Não odieis. Só os que não são amados odeiam. Os que não são amados e os anormais... soldados não combatais pela escravatura, combatei pela liberdade.
No capítulo 17 do Evangelho segundo São Lucas lê-se: “O reino de Deus está no próprio homem”, não num único homem, não num único grupo de homens, mas em todos os homens e vós, vós, sois o povo, tendes o poder para criar máquinas, o poder para criar a felicidade. Vós, o povo, tendes o poder para criar a vida livre e esplêndida ... para fazer dessa vida uma radiante aventura.
Então, em nome da democracia, utilizemos esse poder... Unamos-nos todos, lutemos por um mundo novo, um mundo limpo que ofereça a todos a possibilidade de trabalhar, que dê à juventude um futuro e  que proteja os velhos da miséria".

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Discurso final de Charles Chaplin no filme “O grande Ditador” - Parte 1

Para quem não viu o filme, uma nota sobre a situação: uma imensidão de soldados, todos bem alinhados e atentos, espera o discurso do grande ditador (Hitler, evidentemente). Em vez disso aparece Charlot (que devido à semelhança física fora confundido) que faz este brilhante discurso sobre os direitos humanos, falando de respeito, de liberdade, de progresso, de justiça e de democracia.


 "Realmente sinto muito mas não aspiro a ser imperador. Isso não significa nada para mim. Não pretendo governar nem conquistar nada de nada. Ao contrário, gostaria de ajudar, se possível, cristãos e judeus, negros e brancos; todos temos o desejo de nos ajudarmos, mutuamente. A gente civilizada é assim: queremos viver da nossa sorte comum e não da nossa desgraça comum. Não queremos desprezarmos-nos nem odiarmos-nos, uns aos outros. Neste mundo, há sítio para todos. A terra é boa,  rica e pode garantir a subsistência de todos.
O caminho da vida podia ser livre e magnífico, mas perdemos esse caminho. A voracidade envenenou a alma dos homens, rodeou o mundo num círculo de ódio e fez-nos entrar na miséria e no sangue.
Melhorámos a velocidade, mas somos escravos dela, a mecanização que traz consigo a abundância afastou-nos do desejo. A ciência tornou-nos cínicos e a inteligência duros e brutais, pensamos em excesso e não sentimos o bastante.
Temos mais necessidade de espírito humanitário que de mecanização. Necessitamos mais de amabilidade e simpatia do que de inteligência. Sem estas qualidades, a vida só pode ser violenta e tudo está perdido.
A aviação e a rádio aproximaram-nos uns dos outros, mas a própria natureza destes inventos requeria a bondade do homem e reclamava a fraternidade universal para a união de todos. Neste momento, a minha voz chega a milhares de seres oprimidos espalhados pelo mundo. Aos que podem compreender-me lhes digo:
- Não desespereis, a desgraça que caiu sobre nós não é mais que o resultado do apetite feroz da amargura de uns homens que temem o caminho do progresso humano. O ódio dos homens passará, os ditadores morrerão e o poder que usurparam ao povo voltará ao povo".

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sábado, 30 de maio de 2015

O pianista, o filme

É o relato de um sobrevivente, de alguém que perdeu toda a família, passou o inimaginável para sobreviver, mas nunca vendeu a alma. É sobre uma pessoa real, Szpliman,  que, na altura do filme, em 2000, ainda vivia em Varsóvia.
Talvez, o que mais perturbe sejam as cenas de humilhação, quando se perde completamente a capacidade de autonomia (ainda que, em rigor possamos dizer que tudo era humilhante), como a cena da dança, à saída do gueto, os judeus dançavam para os guardas, que troçavam, riam, voltavam a rir…; ou as cenas de sobrevivência, como quando um grupo de pessoas tenta roubar uma panela de sopa das mãos de uma senhora; ela foge, a sopa entorna-se, e aquelas pessoas lambem do chão, tudo, até ao mínimo resto de alimentos. Também a cena da criança que grita desesperadamente em casa, a certa altura, sai por um buraco para a rua, mas é tal  seu estado que morre, ali, à nossa frente.
Foi o mesmo desespero por comida que levou o pianista, quando estava refugiado numa casa e a pessoa que devia levar-lhe alimentos não pode fazê-lo, tal a dimensão do tiroteio em Varsóvia, a procurar alimentos por todo o lado, a abrir portas de armários, a fechar portas,  procurando alguma coisa que pudesse comer. Quando finalmente encontra uma lata, agarra-a com tanta força que a  lata cai no chão, espalha-se a farinha e o barulho é tal que os vizinhos chamam a polícia e o pianista é preso.
Também, há no filme encontros humanos muito bonitos: os polacos não judeus que resolvem ajudar os judeus a sobreviver, a organizar a resistência no gueto, etc. Há um encontro particularmente improvável de um soldado alemão que encontra o pianista, fugindo e  escondendo-se.  Olha-o e pergunta-lhe:
- Quem é você?
- Sou pianista, eu era pianista.
Há um clic qualquer no SS que resolve ajudá-lo. Depois do cerco a Varsóvia, este soldado, tal como todos os outros, é preso e lavado pelos russos para um campo de prisioneiros. Um dia viu, ao longe, um rapaz que gritava:“eu era violinista, tiraram-me tudo".
Lembrou-se do pianista, levantou-se, afastou-se do grupo e disse ao violinista:
- Conhece Szpliman? 
- Sim.
- Diga-lhe que estou aqui.
Mas, quando Szpilman o procurou, no campo de prisioneiros, depois de ter tido conhecimento do sucedido, percebeu que o campo tinha sido desmantelado e que esse soldado já não estava vivo.
O filme é em sua memória e em memória dos judeus mortos


sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Rudolf Höss


Já fora do campo, mas bem próximo, rodeada de árvores, fica a casa onde vivia o comandante do campo, Rudolf Höss. Era aí que, no maior conforto familiar, descansava, recebia visitas, brincava com os filhos…, depois de mandar espancar, prender, fuzilar, enforcar, enterrar, gasear, queimar…, tudo o que possamos imaginar e sempre como se nada fosse. Quantas faces têm os assassinos! Como é que um rapaz simples, filho de camponeses, se transforma na pessoa prepotente, cruel, mesquinha, assassina, alucinada…?

Impressiona profundamente, nesta máquina de guerra, por um lado, a estratégia, tudo obedecia a um plano, toda a máquina ao serviço do extermínio dos judeus e outras minorias, como ciganos e homossexuais.
Impressiona também a, quase, não consciência, ninguém se questiona sobre o que faz. A partir de certa altura, todos parecem agir como autómatos, numa linha de comando que chega a Hitler, como se cada um não fosse mais do que peça de uma engrenagem, como se ninguém ouvisse ou visse nada. Tudo parece invisível.
Invisibilidade que chega a todo o lado, então, as povoações vizinhas, as vilas e aldeias, que rodeavam os campos não sabiam o que se passava em Auschwitz-Birkenau? Custa a acreditar. 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Birkenau- Auschwitz II

Aqui, praticamente, tudo foi destruído pelos nazis, no final da guerra. O campo é atravessado pela linha férrea que trará, como gado, milhões de judeus de toda a Europa, são para aqui deportados os judeus das ilhas anglo-normandas, da França, Holanda, Bulgária…, chegam enganados, pensam que vêm para trabalhar, aos meninos dizem, “voltarás para os teus pais”, mesmo sabendo, em muitos caos, que os pais acabarão mortos nos próximos dias.

Dos dois lados da linha, foram  construídos, alinhados, 350 barracões de madeira, restam três ou quatro barracões que são visitáveis, um deles mostra como viviam, muitas centenas de pessoas, numa espécie de beliches, de  um  lado e do outro do barracão, com camas empilhadas, umas ao lado das outras e umas sobre as outras, podendo dormir sete ou oito pessoas em cada cama. Está de pé ainda um dos barracões com fossas sanitárias ( havia nos campos regras de higiene absolutamente determinantes, quem não cumprisse era preso ou morto).  

Quando olhamos a imensidão do campo, até às árvores lá do fundo, e o percorremos ao longo da linha férrea, não podemos imaginar, por impossibilidade, o que aqui se passou. Birkenau foi um campo de extermínio, puro e simples, matar, com o menor alarido e o menor custo, o número máximo de pessoas, era o objectivo dos nazis, e assim se chega ao 1, 3 milhões só neste campo. 

No campo, foram construídos também quatro grandes fornos crematórios, os de 2000 pessoas, e respectivas câmaras de gás, muitos dos que aqui chegam morrem gaseados no primeiro dia, os outros (os tais 80%), a que se vai juntando sempre o número de doentes e esfomeados que deixaram de poder trabalhar morrerão conforme a capacidade dos fornos. A desumanidade, em estado puro, está ali, pensada, planeada, levada a cabo por gente que supostamente era civilizada. (Que vidas a destes nazis ao serviço do III Reich) . 

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Auschwitz I


Auschwitz é hoje um museu, um importante documento para toda a humanidade, para que a barbárie, nos seus requintes de maior malvadez, não se repita. No final da guerra, quando os russos chegam e libertam os campos, os nazis destroem o que podem, em Birkenau, quase tudo.
A visita guiada é feita a um ritmo que não permite pensar, nem sequer ver as coisas com a atenção devida. Optei por não tirar fotografias e seguir, com a atenção possível, a guia, através dos fones distribuídos logo à entrada. O discurso é muito padronizado, muito pouco claro, não ajuda nada aquele português/espanhol; há algumas perguntas das pessoas do grupo…, mas, mesmo assim, crescem em mim as interrogações, sobretudo, sobre a dimensão do que aqui se passou.

Dos 45 pavilhões (julgo), em Auschwitz I, tenho a sensação de que apenas dez ou onze fazem parte do circuito das visitas, mas talvez sejam mais; a guia faz ainda referência ao pavilhão 11, a prisão dentro do campo, para quem ousasse fazer perguntas, roubar comida, discutir com alguém…, ao pavilhão de janelas entaipadas, pintadas de preto, onde se faziam experiências, se esterilizavam mulheres eslavas…; entre estes dois pavilhões fica o muro de fuzilamentos, lá está, com um pequeno memorial. Os outros pavilhões ou são de apoio ao museu ou são de países que perderam cidadãos neste campo (Holanda, Hungria, República Checa, Eslováquia …), com exposições próprias, mas que não fazem parte destas visitas normais.

A visita segue, de algum modo, o circuito dos judeus, desde que chegavam, de comboio, à rampa de Birkenau (Auschwitz II, a quatro quilómetros de Auschwitz I), até ao que resta das câmara de gás e de um forno crematório, o único que existe.
Os primeiros pavilhões falam da guerra, da deportação, dos prisioneiros, do extermínio em massa dos judeus europeus. Lá estão, com legendas em polaco e inglês, os documentos escritos, os mapas e as fotografias ampliadas que, tenho a sensação, todos já vimos, em filmes e documentários: sobre a chegada dos deportados (os olhares assustados, o medo, a separação, filhos que eram tirados às mães…); sobre o médico que os observava, ainda na rampa, e decidia arbitrariamente sobre as suas vidas, cerca de oitenta por cento ia diretamente para as câmaras de gás e vinte por cento, os mais capazes de trabalhar, ficavam. Eram registados, cadastrados, fotografados, já com o fato listado de prisioneiros e, a seguir, selecionados para os trabalhos forçados que havia dentro e fora do campo; sobre as imagens da fome, das doenças, das condições sub-humanas em que viviam e trabalhavam; sobre os corpos deformados pelas experiências de Mengele; e muito, muito mais, documentando uma tragédia humana sem limites. Sem limites, mesmo! Até onde teria ido – perguntamos?

Nos pavilhões seguintes, estão expostos objectos encontrados no campo: roupas, não muita; sapatos, muitos sapatos, de todos os tamanhos; óculos; próteses; utensílios de cozinha (panelas, tachos, pratos…); malas, muitas malas, com nomes e direcções, faziam crer aos prisioneiros que seriam guardadas e entregues depois; cabelo, muita quantidade (penso que duas toneladas deixaram os nazis no campo), a vitrina que mostra o cabelo impressiona, ocupa a longitude de um pavilhão (rapavam as pessoas antes de as gasear e aproveitavam o cabelo para forro de casacos das tropas alemãs, de colchões, de almofadas…); as latas de Zyklon B, o tal gás letal, que matava em 20 minutos 800 ou duas mil pessoas conforme a capacidade dos fornos.

Dentro de Auschwitz I, a visita acaba no que resta do forno crematório, o mais pequeno, de oitocentas pessoas; depois de percorrermos um primeiro corredor, acedemos a uma câmara onde se despiam, pensando que iam tomar banho, aqui, há também um memorial (um pequeno vaso de flores vermelhas) e o acesso limitado por um cordão, segue-se a câmara de gás, lá está por onde era lançado, a partir de uma espécie de tubo ou de alçapão, o corredor de acesso aos fornos, as mesmas portas…. É terrífico, talvez o ponto mais impactante, pelo que perturba, pelo que diz desta máquina de morte. A visita é dura. Aguenta-se a custo.