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sábado, 28 de julho de 2018

De mãos dadas


 "Não serei um poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho os meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.


Não serei cantor de uma mulher de uma história,
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
Não fugirei para as ilhas, nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.”

(Carlos Drummond de Andrade)






quinta-feira, 26 de julho de 2018

Princípios


Princípio significa começo, início, origem, fundamento, primeiro de uma série e, em geral, aquilo de que algo procede, seja de que modo for. No sentido original, é o começo de uma grandeza espacial e, por consequência, do movimento e do tempo. 
Trata-se de um termo polissémico que vai do uso comum da linguagem, à lógica, à filosofia e a outros saberes científicos.
Há princípios a que chegamos por raciocínio dedutivo, de natureza racional, portanto, universais, que podem ser demonstrados, como os princípios lógicos; e há princípios particulares das ciências, a que chegamos por generalizações indutivas, que podem ser verificados.
Ao nível da acção, dizer que “temos princípios”, é dizer que agimos com base em valores inquestionáveis, objectivos, que não mudamos ao sabor das circunstâncias ou dos interesses – por exemplo, os princípios éticos da liberdade, respeito, igualdade – princípios universais assentes no primado da razão.


quarta-feira, 18 de julho de 2018

O direito internacional em causa


Os últimos tempos, e particularmente as últimas semanas, têm mostrado que  o mundo vive tempos difíceis;  o aspeto mais preocupante é o abandonar de acordos, tratados, protocolos...sem que nada de consistente tenha, entretanto, surgido. 
 Seria suficiente olhar a realidade – que não inventamos – para perceber que a pergunta que faz mais sentido é: «Como construímos um viver em comum em que tudo tem a ver com tudo e em que, de algum modo, todos temos responsabilidades pelo que sabemos se passa no mundo?»  
Em vez disso, surgem os egoísmos mais variados, sempre assentes na ideia de uma qualquer supremacia (somos melhores, por isto, aquilo e o outro).   

segunda-feira, 16 de julho de 2018

A complexidade das coisas


Nada é simples. Tudo se interligou a um ponto e a uma dimensão que estamos cada vez mais longe de poder controlar seja o que for. Somos controlados, vigiados, os nossos dados pessoais andam pelo mundo…, a publicidade bombardeia-nos (é uma guerra) continuamente. A economia é o centro de tudo, somos obrigados a perceber de mercados, disto e daquilo, fazem-nos crer  e descrer, confundem-nos, propositadamente. 

Hoje, a maior utopia (quando não restam outras) é o simples, viver de forma simples, encontrar respostas simples, não ter necessidade de vinte pares de sapatos, três telemóveis, dois carros... É um cansaço.  Não aguentamos.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

O outro - convocando Lévinas


 Acabo de me encontrar com o João que sorri e me diz:
 - Bom dia. 
A partir desse momento, cabe-me responder ao cumprimento ou nada fazer.
Decido cumprimentar:
- Bom dia João, então, que tal? Como estás?
Aqui, estamos: eu e o João, face a face, em diálogo, numa proximidade desinteressada, sem esperar nada em troca. 
Quem são o João, o Paulo, a Sofia, a Joana… toda a multiplicidade de seres humanos? São pessoas singulares, distintas entre si, diferentes, radicalmente separadas de mim, que nenhum conceito pode definir.
Não há saberes, da antropologia, da filosofia, da sociologia, da religião…, para definirem os seres humanos, na sua relação face a face, porque o que neles é fundamental escapa à percepção é à racionalização que possamos fazer. O encontro com o outro, seja quem for, é sempre uma novidade, uma surpresa, um dizer que se torna presente na manifestação do rosto; não do rosto físico, material, que poderíamos descrever, mas do rosto transcendente,  vindo de um não lugar, de um infinito, de que só o próprio pode falar.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Jovem columbiana insultada e espancada



Nicol, a jovem de 21 anos, colombiana, agredida na madrugada do São João no Porto, é uma vítima mais do racismo sempre latente na sociedade portuguesa. O racismo, como sucessivos relatórios da ONU têm mostrado, é a maior das discriminações e por isso não podemos deixar passar atos desta natureza.
Sei que se vão abrir inquéritos (na empresa de segurança privada a que pertencia o agressor, na PSP, chamada ao local, no Ministério Público…) e vamos ver o que vai acontecer; o que se passou é muito grave, para não haver qualquer consequência.