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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Morreu a jovem indiana


Hoje, último dia do ano, queria muito escrever sobre coisas alegres, mas não é possível.
Morreu a jovem indiana, de Nova Deli, num hospital de Singapura, para onde foi transportada depois de violada, por um grupo de homens (seis ou mais). A barbárie, aí, está, com requintes de malvadez, tomando formas de humilhação e de violência extrema, até à morte, como se viu. O mal tem muitas faces, mais ou menos violentas, mais ou menos irracionais, mais ou menos patológicas, mais ou menos perversas… Mas, neste caso, como em tantos outros, parece ter-se ultrapassado tudo.
A violência sobre as mulheres é nesta sociedade uma triste realidade, e, não raro, são absolutas tragédias. Espero que de uma vez por todas as autoridades acordem para o problema e actuem, como devem. Espero que os média internacionais não deixem o caso (não podem deixar), pois só denunciando, levando a tribunal, julgando…, se pode fazer face ao problema da violência de género, presente em todas as culturas, mas, assumindo, em determinados contextos, proporções inacreditáveis.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Síria, mais um massacre

 Parece impossível, mas foi o que aconteceu, foram bombardeados e mortos, pelas tropas governamentais,  enquanto faziam fila à porta de uma padaria para comprar pão. O conflito da Síria é pior que uma guerra aberta, é maldade em estado puro,  planeada, levada aos limites...
Enquanto isso, a comunidade internacional  pouco faz. Será que não é possível uma solução?

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Sonho ou pesadelo, emigração clandestina

Vou colocar-te uma situação: imagina que estavas fechado numa casa, sem alimentos nem meios de sobrevivência. O que farias? Com certeza, que esperavas algum tempo - uns dias, no máximo - por socorro, mas se não conseguisses farias tudo para sair de lá. Partirias as janelas, arrombarias as portas, o que fosse possível e mais fácil, para saíres dessa situação e sobreviveres. Se te perguntassem: - porque fizeste isso? Dirias: - era a única solução.
É o mesmo que se passa com milhões de africanos. “Fechados” num continente, onde nem todos têm alimentos, onde a miséria, a fome, a violência e às vezes a guerra, matam mesmo. Nestas condições, sair daí é a única solução para sobreviver. Por isso, não é de admirar que deixem a sua casa, as suas aldeias, o seu país, pondo em risco a própria vida. São populações em desespero, não têm nada a perder, arriscam tudo para chegar à Europa. O mais fácil (a tal janela) é atravessar o estreito de Gibraltar, de noite, para fugirem à vigilância das autoridades espanholas, em barcos de borracha, sobrelotados, com muitas dezenas a mais do que seria possível levar. São jovens, mulheres (algumas grávidas) e crianças que chegam em condições sub-humanas. Clandestinamente, como se não existissem, fazem tudo para não ser vistos, espalham-se, separam-se, confundem-se. Mas nem todos chegam, muitos morrem, mas que importa nem sequer ficam nas estatísticas – pensarão alguns. Claro que importa, e muito. Os países ricos do Norte têm o dever de fazer alguma coisa. Partirão daqui para outras cidades europeias, não sei se ainda com algum sonho. Eu espero que sim, às vezes parece terem desistido de alguma parte de si mesmos, a gente vê isso no olhar. Parecem ausentes, perdidos, como se não olhassem as ruas, como se não vissem as pessoas ou não sentissem o movimento. Estão aonde? Pensam em quê?

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Revolução de Jasmim, um amanhecer desfeito


Passam dois anos sobre a Revolução de Jasmim ou a Primavera árabe, começada na Tunísia e que se estendeu, depois, a outros países árabes, até aí, blindados à democracia e à livre expressão do seu povo. Foi assim na Líbia, no Egipto, no Iémen…, mas o que parecia uma aurora de liberdade e de bem-estar transformou-se, pouco a pouco, numa desilusão para muitos dos próprios e para o mundo em geral que acreditaram que outro devir fosse possível.
Por quê? Por que é que depois de eleições, aparentemente livres e justas, ganham maiorias islâmicas? Por que é que o Presidente Morsi, da Irmandade Muçulmana, acaba de convocar um referendo para chamar a si poderes para lá do que lhe permite a constituição do país? Por que é que o governo de Damasco continua, depois de tantas e tantas mortes? Por quê? Por quê? Podíamos continuar a questionar esta realidade, mas de pouco serviria, pois não a entendemos.
Há uma tal complexidade, ligada sobretudo ao fundamentalismo religioso (por mais que se apelidem de moderados), em que estado e religião se confundem, que torna impossível qualquer compreensão racional. Não temos categorias, faltam enquadramentos, teorizações (talvez, sejam impossíveis)...
É certo que é um outro estar. E ainda há quem entenda que não há conflito de civilizações. Há, certamente.



segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Dia Mundial dos Direitos Humanos


10  de Dezembro, passa mais um aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Muito caminho feito e muito ainda  por fazer, é o que podemos dizer. Às vezes, descremos, sobretudo,    quando, em tantas ocasiões, assistimos à inoperância das instituições, às burocracias, aos trâmites legais, às dificuldades, quer se trate de aprovar resoluções nas Nações Unidas, quer se trate de fazer chegar ajuda humanitária de emergência a quem precisa. Nessa altura, é impossível não pensarmos se não haverá outro entendimento para os direitos humanos, menos normativo, mais próximo e desinteressado.
Algo escapa, ao sistema jurídico e institucional que conforma os direitos humanos que impede que vivamos, todos, mais como irmãos do que como concidadãos; algo, da ordem da proximidade ética com o outro que a formalidade das leis não fixa. É sobre este algo que a reflexão tem de incidir, sob pena de  deixarmos  que cada vez seja mais difícil responder a tempo e adequadamente. 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Paz: ano zero, sempre


Vejo as imagens do Egito, de Israel, da Síria, do Mali...e de tantos e tantos lugares, e o que me apetece é descrer em tudo. Parece que estamos sempre no início, mesmo depois de séculos e séculos de civilização. 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), que assenta a sua justificação no primado da razão e da liberdade humana, diz logo no 1º artigo que “Todos os homens nascem livres e iguais, dotados de razão e consciência devem viver uns com os outros em espírito de fraternidade”. 
No entanto, estamos a anos luz deste princípio, apesar das declarações e convenções já existentes. Tudo são interesses, destes, daqueles e dos outros; enquanto o interesse comum da humanidade é todos os dias posto em causa.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A Faixa de Gaza


Perguntava-me um jovem: “Que conflito é este”?
É um conflito tão complexo que não se pode explicar em poucas palavras ou tomando o partido de uma das partes: israelitas ou palestinianos. Não é possível dizer que uns são bons e que os outros são maus, que uns têm razão os que os outros não. A realidade nunca é a preto e branco, são muitos os matizes. 
Na essência, o conflito é político: há a formação do Estado de Israel, depois da II Guerra Mundial, quando o sionismo (o regresso dos judeus à Terra Santa) ganha proporções. Encurralam-se os árabes, os palestinos, que sempre tinham vivido nessas terras, na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Estes territórios embora, hoje, sejam autónomos e com autoridade própria, não constituem ainda um estado (é isso que os palestinos reivindicam, a criação do Estado da Palestina). O conflito dura há décadas, já se sucederam várias guerras e a tensão está sempre iminente, como se viu nesta última semana.
Mas, o conflito é também religioso, e num enfoque fundamentalista, com a religião a justificar tudo o resto. Difícil de compreender, judeus e árabes condenados a viver juntos, mas separados, mesmo quando quase se tocam, como acontece nas ruas estreitas da cidade santa, em Jerusalém ou em outras cidades. As divisões são palpáveis, sabe-se bem quando estamos no bairro judeu ou quando estamos no bairro árabe; são costumes, vidas e entendimentos distintos.
A questão cultural é, portanto, outro ponto de divisão, a que se junta a questão económica e social. Tudo parece dividi-los, por mais negociações e caminhos para a paz que se retomem ou iniciem (vem de muito longe e com muitos protagonistas de ambos ao lados, os Estados Unidos do lado de Israel e países árabes do lado de Palestina). Desta vez, parece ganhar relevo o papel mediador do presidente Morsi, do Egito, desanuviando o ambiente com a retirada do Irão da linha da frente. Parece já um bom sinal para que se sentem à mesa, não os próprios, como devia ser, mas os negociadores, de modo a procurarem uma solução que, a meu ver, só será definitiva com o estabelecimento do Estado da Palestina (mesmo que a sua viabilidade económica e social seja muito precária ou quase impossível).