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domingo, 26 de janeiro de 2025
Partida...
quarta-feira, 8 de agosto de 2018
Lá longe, a França
segunda-feira, 6 de agosto de 2018
“Já estive na América” - diz-me a senhora
segunda-feira, 20 de abril de 2015
Mortes no Mediterrâneo, a imigração ilegal
sexta-feira, 6 de março de 2015
Emigrante
sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
Lá longe, na minha infância
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
Tragédia humana, Lampedusa
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Sonho ou pesadelo, emigração clandestina
quarta-feira, 30 de março de 2011
A pobreza extrema
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Casas à venda (6)
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Os desertores (4)
Não percebia por que jovens de dezassete, dezoito anos, alguns até menos, também fugiam a "salto", para França. Ficavam desertores, não podiam regressar, senão seriam presos. Mas que mal teriam feito? Por que tinham de deixar o país, de sair assim de junto das famílias?
Agora sei. Fugiam à guerra, à guerra colonial, de uma guerra de que eu nada sabia e talvez eles e as suas famílias também não, a não ser que lhes podia roubar a vida. Por causa da guerra de África, muitos pais ficaram anos a fio, décadas, sem ver os seus filhos. Só quando acabou a ditadura puderam regressar de novo. Mas alguns, sem apoio familiar, nessa grande Paris, mais ou menos perdidos nas encruzilhadas da vida (sim, porque sempre a má sorte bate à porta de alguém) acabaram por não voltar mais. Aos que chegavam, a pergunta era invariavelmente a mesma: - Viu por lá o meu filho? – Não o vi, mas sei que está bem. Estive com alguém que o viu.
E o coração daquela mãe, ou daquele pai, sossegava um pouco.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
A salto para a França (3)
Deixo aqui um relato mais ou menos imaginado vivido por muitas crianças, naquela época.
“Era alta noite, quando o pai foi ao seu quarto dar-lhe um beijo. Era um beijo de despedida, ele partia nessa madrugada a "salto" para a França. A menina nem sequer suspeitava o que era ir "a salto" para França, mas devia ser alguma coisa de mau, de perigoso, pois sempre que a mãe falava disso com a avó, fazia-o muito baixinho, quase em segredo. Desconfiada e a medo, na tarde desse dia, atreveu-se a perguntar:
- O pai vai embora?
- Cala-te, não digas a ninguém. Não digas a ninguém, ouviste bem!
- Mas, o pai vai para a França?
- Não, não vai. Cala-te!
Ela sabia o que estava para acontecer. Como não ia saber, tinha visto a mãe chorar pelos cantos, limpar as lágrimas a correr, quando alguém a via sofrer. Em toda a noite, não pregou olho. Esperava o pai, ainda que tivesse um desejo profundo de que isso não viesse a acontecer. Quando o pai abriu a porta do quarto, fingiu-se dormida, por não conseguir suportar a dor. A porta fechou-se e o mundo desabou. Como iriam viver sem o pai? Por que tinha ele de partir?
Não sabia nada das necessidades da sua família, não imaginava sequer. Tinha oito anos, como podia saber! Agora sabe, sabe que o pai, como tantos outros, fugia da miséria em que viviam. Iam à procura de dinheiro para alimentar as suas famílias, para mandar os filhos à escola, para fazer uma casa. Era assim.
Mas muitos não conseguiam passar as fronteiras. Na manhã seguinte, finalmente, a mãe tenta explicar-lhe porque é que o pai tem de ir embora e o que é ir a salto, e que talvez o pai nem sequer consiga chegar a França, talvez seja apanhado pelos guardas-fiscais ou pelos carabineiros, a polícia espanhola, logo na fronteira e tenham que regressar a casa.
Todos vivíamos nos arredores de Paris (2)
Quando hoje penso no que era, nessa altura, para mim a França, Paris …, não consigo chegar a qualquer imagem, por mais difusa que seja. Paris era as pessoas que conhecia, que chegavam invariavelmente cada mês de Agosto e que eu julgava viverem lá. Talvez houvesse pouca gente a falar do país, da cidade, a mostrar qualquer fotografia que fosse. Também nunca, na minha imaginação, estiveram os “bidonvilles”, as “cités”; estavam, isso sim, as miniaturas da Torre Eiffel e do General De Gaulle, pequenas lembranças que traziam os “franceses” e que ficavam a enfeitar a chaminé da cozinha ou o móvel da sala. Mais tarde, vim a constatar que até para os emigrantes Paris era uma cidade desconhecida. Viviam nas margens. Atravessavam-na, apenas.
domingo, 29 de novembro de 2009
Emigração, sempre (1)
Mais de cinquenta anos de emigração, a 1ª geração quase morta, a 2ª a entrar na reforma, a terceira e a quarta gerações cada vez mais integradas no país onde nasceram, cresceram e se tornaram adultos, numa separação permanente de que só os primeiros sentem mágoa. Todos os outros se foram progressivamente afastando, sem nostalgia, duma terra e de um povo dos quais já não guardam grandes recordações. O sentimento de ser emigrante diluiu-se ou não existe neles e, de certo, que não tardará a acabar por completo. E com isso acabarão os meses de Agosto, as festas e as romarias dos emigrantes. Está prestes a fechar-se um ciclo.