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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

A favor de um rendimento mínimo garantido

Quando os discursos de extrema-direita ganham espaço; quando muita gente está contra determinados apoios sociais, nomeadamente o RSI (rendimento social de inserção), é preciso dizer o óbvio: sem esse mínimo de subsistência garantido não podemos falar de direitos humanos.

Claro que esse apoio deve ser dado a quem não tenha, por razões comprovadas (e que devem ser verificadas e fiscalizadas), outros rendimentos para sobreviver. 

Uma rua de uma cidade


segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

O Dia Internacional Da Solidariedade Humana

Hoje, dia 20 de dezembro, celebra-se o DIA INTERNACIONAL DA SOLIDARIEDADE HUMANA. Instituído pela ONU para lembrar a todos os países, a todas as organizações, públicas ou da sociedade civil, que temos um compromisso inadiável com a humanidade. Um compromisso de justiça, com todos os seres humanos: os que se vão deitar de estômago vazio, os que não tomaram uma única vacina, os que dormem na rua, os que morrem no Mediterrâneo, os que permanecem em campos de refugiados ou de detenção… Temos um compromisso com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), para que se possam cumprir os direitos humanos.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

A mulher do semáforo

Era quase noite, já se via muito mal, num cruzamento de Nova Deli, Índia, uma senhora, com um filho ao colo, magra, muito magra, quase esquelética, aproxima-se dos vidros do autocarro e pede esmola. Uma pessoa lá de dentro, abre o vidro da janela e dá-lhe algum dinheiro (bastante até); ela agarra-o, amarrota-o dentro da mão e, em momento algum, olha a senhora que tenta comunicar com ela. Quase desvia o olhar, como se muros invisíveis a separassem dos outros. Ficará ali, à espera de outros turistas, de autocarros que parem, para mais uma vez se dirigir aos vidros, de olhar perdido, pedindo esmola; ou deixará aquele cruzamento e aquele semáforo, quando perceber que a quantia que acaba de receber é suficiente para comprar comida e alimentar os filhos por muitos dias.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Os imigrantes haitianos, debaixo daquela ponte, no Texas

Chegaram aos milhares, atravessando o rio Grande na fronteira do México com os Estados Unidos, junto da cidade Del Rio, no estado do Texas. Uma vaga de migrantes clandestinos, na maioria haitianos, na maior precariedade que possamos imaginar: não têm literalmente nada.

É-lhes atribuído um número e têm de aguardar que as autoridades americanas os chamem para ser feito o registo e o longo inquérito sobre a possibilidade de abrigo ou a deportação. Milhares já regressaram ao Haiti, um país em ruínas.  

Entretanto, assistimos a atos cruéis que julgávamos uma coisa do passado; policias a cavalo, contra aquela multidão, pisando, agredindo indiscriminadamente. Isto é perversidade, um abuso. Era necessário isto, quando olhamos a fragilidade daquelas  pessoas? Claro, que não era.

sábado, 6 de janeiro de 2018

A menina que pedia esmola

- Como e que te chamas?
- Alice.
- Quantos anos tens?
- Catorze.
- Há quanto tempo estás na rua a pedir esmola?
- Não sei, perdi a conta. Sei que desde que ando a pedir já me nasceu mais uma irmã. Vi-a este fim de semana. 
- É bonita, a tua irmã bebé? 
- Muito bonita, mas estou farta de bebés, tenho oito irmãos e sou a mais velha.
- Pedes todos os dias?
- Sim, mas dou o dinheiro à minha mãe.
- Adeus, Alice. Tu também és muito bonita, sabes!

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Vou ouvir o que tens para me dizer, imigrante ilegal

Olho as imagens dos naufrágios no Mediterrâneo e fico muda. Não parece possível o estado actual do mundo, depois de tanto progresso científico e técnico e de tantos saberes e explicações. É por isso que se eu pudesse acabava com todos os"...ismos" que têm servido para falar dos homens e das suas vidas – humanismo, etnocentrismo, multiculturalismo... – mas que esbarram sempre em novos problemas, como se uma contingência insuperável rondasse o humano.
Acabava com as grandes construções teóricas e passava a falar de ti, de mim, de nós, aqui e agora, num contexto marcado por condicionalismos que nenhuma teoria pode explicar, mas que a humanidade pode resgatar.
 Passava muito mais tempo a ouvir o Sasha, o Mamadou, a Shaila, o Xiang …- a ver se percebíamos, em conjunto, o que fazer para aprendermos a viver juntos - esta é a inevitabilidade que está aí em frente dos nossos olhos. Não se podem fechar as portas da Europa, não se podem construir muralhas e castelos. A resposta é outra, muitos já perceberam.


segunda-feira, 20 de abril de 2015

Mortes no Mediterrâneo, a imigração ilegal

Mais mortes no Mediterrâneo, setecentos, ou talvez mais; fala-se agora também de duzentas mulheres e de cinquenta crianças. O drama continua e continuará. Já era hora de se perceber que a resposta tem de ser outra. Todos falam: o Papa, os presidentes, os ministros dos negócios estrangeiros, outros responsáveis políticos..., mas uma resposta integrada, que considere os interesses de segurança da Europa e também a o desenvolvimento e a pacificação das zonas de onde vêm, parece tardar. Vigiar, salvar, acolher por uns dias e fazer retornar, não é solução. Voltarão a tentar sair das suas vidas de miséria e de guerra, uma e outra vez.






sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Lá longe, na minha infância

Queria falar, neste Natal, dos que, longe de casa, são imigrantes, refugiados, deslocados..., mas regressei à minha infância. 
Anos sessenta. Era criança e não percebia muitas coisas. Não percebia, porque homens, pela calada da noite, em segredo, partiam, a"salto", para a França, atravessando montes e vales, levados por "passadores". Agora sei, fugiam da miséria em que viviam. Iam à procura de dinheiro para alimentar as suas famílias, mandar os filhos à escola, fazer uma casa. Era assim. Nunca teria ido estudar, se o meu pai não tivesse ido para a França. Homens que deixavam as suas casas, os seus filhos, as suas mulheres e partiam, quantos sacrifícios, para chegar à fronteira francesa e quem sabe a Paris, e aí arranjar um alojamento e um trabalho, precários que fossem. 
Era criança e não percebia muitas coisas. Não percebia por que jovens, de dezoito, dezanove, anos e alguns até menos, também, fugiam a "salto", para França e a Alemanha. Ficavam desertores, não podiam regressar, se voltassem ao seu país seriam presos. Agora sei, fugiam à guerra, à guerra colonial, uma guerra de que talvez pouco ou nada soubessem, senão que lhes podia roubar a vida.



sexta-feira, 21 de março de 2014

Nova vaga de imigrantes clandestinos

A vaga de imigrantes que tentam chegar à Europa revelou-se nos últimos dias de grandes proporções, tanto os que atravessando o norte da África tentam a fronteira de Melilla como os que atravessando o mediterrâneo tentam a ilha de Lampedusa. Nada que não seja previsível. À espera têm, muitas vezes, as autoridades que os intercetam e detêm em centros de acolhimento.
Em seguida, espera-os o regresso às terras de origem, a volta ao nada, onde o que podem fazer é voltar a tentar de novo os perigos da imigração. A Europa, a terra de todos os sonhos, é uma casa fechada, com portas onde não é possível bater, os que insistem não apenas ficam nas mãos de máfias clandestinas, muitos caindo nas valas de Ceuta e Melilla e morrendo em barcos superlotados. Pode lá haver coisa pior que túneis sem saída! A emigração está assim.


sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Quantos rostos tem a pobreza

Tinha vestido o casaco novo, as luvas e o cachecol da sua melhor amiga. Sentia-se outra:
 - Estou bonita? – Perguntou-me.
- Estás muito bonita.
- Eu não posso ter roupa nova, porque a minha mãe é pobre. Falava da situação familiar e da pobreza de forma desconcertante, como se isso normal,
- Tu tens roupa muito bonita, andas sempre muito vaidosa – digo-lhe.
 Saiu para intervalo, mas esse dia não brincaria com os colegas, não jogaria à bola, não jogaria à macaca… Esse dia iria subir e descer a rampa de acesso ao recreio e passear de um ao outro lados do parque como  se fosse uma modelo. Queria que a vissem, precisava disso, era uma maneira de passear a sua estima, de sentir-se elogiada…
Recordei uma história que na minha infância ouvi por várias vezes contar a uma vizinha: não tinha roupa, apenas um fato para a “cote”, um fato para os dias de semana, muitas vezes remendado, e um fato para o domingo.
Quando ia à casa da senhora, onde a mãe trabalhava, observava a roupa da filha da senhora e não resistia a vestir os vestidos da “menina”, que tinha a sua idade, e, às escondidas da mãe, punha-se à janela a ver se alguém passava e a via e também para ver a sua imagem reflectida nos vidros.
Ambas, com o espaço de quase um século, experimentavam sentimentos semelhantes: o desejo de ser bonitas, de ser vistas e  reconhecidas, que alguém as  valorizasse.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Pobreza

Há uma definição técnica para pobreza, os que vivem com menos de um dólar por dia, penso. Aparentemente, se considerássemos esta definição seriam poucos os pobres em Portugal. Contudo, aumentam a olhos vistos, como refere a Cáritas e outras organizações que estão no terreno.
Pobreza é não poder fazer face ao dia a dia  e aos compromissos que temos, daí que muitos pobres sejam por isso classe média e média alta, pessoas que, com a crise e os cortes nos rendimentos disponíveis, vêem o salário a pagar contas sem que fique o tal dólar para comer.
Para onde caminha este modelo de sociedade? Quando nos confrontamos com a impossibilidades de pagar dívidas, o Estado e as famílias, começamos a perceber que nos venderam um modelo social que não podemos suportar.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A banalidade dos naufrágios


Temo a banalidade dos naufrágios no Mediterrâneo; temo que, qualquer dia, se tornem em não notícia, passando a considerar-se como algo de tal modo normal que já  não nos perturba. Temo que se deixe de questionar o que está verdadeiramente em causa: a impossibilidade de “fechar”, nos seus países, pessoas na mais extrema pobreza.
Quando Hannah Arendt, ao presenciar a forma como os carrascos nazis se referiam, sem qualquer pingo de emoção, às barbáries cometidas, falou da banalidade do mal, não sabia da tragédia dos emigrantes clandestinos , mas sabia da incapacidade dos seres humanos (de alguns seres humanos) se revoltarem e tomarem medidas sobre tragédias desta natureza. 

terça-feira, 9 de julho de 2013

Imigrantes ilegais, Lampedusa

Esta ilha italiana, a pouco mais de cem quilómetros da costa africana, recebe grandes levas de imigrantes clandestinos que, aqui, chegam impelidos pelas circunstâncias em que vivem nos seus países de origem. São quase todos jovens, trazem sonhos, vidas por viver, força e vontade de chegar à Europa rica, para eles, o maná do deserto, o que necessitam para melhorar a sua vida e a das suas famílias. Mas, acontece que em vez de maná encontram, muitas vezes, desconsideração e dias amargos.
O Papa foi, ontem, a Lampedusa, rezar missa e falar da imigração clandestina. Falou da urgência da não indiferença, do acolhimento, da atenção ao outro, a quem devemos tratar, antes de tudo, como irmão, fraternalmente. Podem não ter a cidadania europeia, podem não ter documentos válidos, mas são pessoas a quem devemos acolher em vez de explorar.
Vítimas da pobreza e do subdesenvolvimento, das mafias que os trouxeram até aqui e dos que agora se aprontam a empregá-los clandestinamente, sem direitos e por baixos salários – é bem uma face da escravatura do século XXI – são pessoas em estado de grande fragilidade.
Contam com o trabalho dedicado de ONG’S e de organizações da igreja, que fazem o que podem, mas, decerto, menos do que desejariam. A resposta à imigração ilegal é fundamentalmente política e global, todos sabem isso; se a política internacional não fosse um jogo de interesses, muitos dos problemas que enfrentam estes imigrantes já teriam sido resolvidos.


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Sonho ou pesadelo, emigração clandestina

Vou colocar-te uma situação: imagina que estavas fechado numa casa, sem alimentos nem meios de sobrevivência. O que farias? Com certeza, que esperavas algum tempo - uns dias, no máximo - por socorro, mas se não conseguisses farias tudo para sair de lá. Partirias as janelas, arrombarias as portas, o que fosse possível e mais fácil, para saíres dessa situação e sobreviveres. Se te perguntassem: - porque fizeste isso? Dirias: - era a única solução.
É o mesmo que se passa com milhões de africanos. “Fechados” num continente, onde nem todos têm alimentos, onde a miséria, a fome, a violência e às vezes a guerra, matam mesmo. Nestas condições, sair daí é a única solução para sobreviver. Por isso, não é de admirar que deixem a sua casa, as suas aldeias, o seu país, pondo em risco a própria vida. São populações em desespero, não têm nada a perder, arriscam tudo para chegar à Europa. O mais fácil (a tal janela) é atravessar o estreito de Gibraltar, de noite, para fugirem à vigilância das autoridades espanholas, em barcos de borracha, sobrelotados, com muitas dezenas a mais do que seria possível levar. São jovens, mulheres (algumas grávidas) e crianças que chegam em condições sub-humanas. Clandestinamente, como se não existissem, fazem tudo para não ser vistos, espalham-se, separam-se, confundem-se. Mas nem todos chegam, muitos morrem, mas que importa nem sequer ficam nas estatísticas – pensarão alguns. Claro que importa, e muito. Os países ricos do Norte têm o dever de fazer alguma coisa. Partirão daqui para outras cidades europeias, não sei se ainda com algum sonho. Eu espero que sim, às vezes parece terem desistido de alguma parte de si mesmos, a gente vê isso no olhar. Parecem ausentes, perdidos, como se não olhassem as ruas, como se não vissem as pessoas ou não sentissem o movimento. Estão aonde? Pensam em quê?