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segunda-feira, 2 de abril de 2012

Colaborador de Israel, um árabe

"Finalmente, uma rapariga bonita de Hebron"! Exclamou o irmão mais novo, olhando uma das irmãs pequenas, de 3 e 4 anos, depois de ter ajudado a mãe a dar-lhes banho, a vesti-las e a penteá-las. E continuou, com alguma ironia: “eu nasci em Hebron e não sou bonito”!
“Sim, tu és bonito, és um rapaz bonito” - diz-lhe a mãe.
A Cisjordânia, Hebron… – embora vivessem naquele subúrbio, no sul de Telavive, não pudessem regressar a casa (o pai tinha traído o seu povo e jamais seria aceite de volta, tal como a mulher e os filhos) –, eram todas as referências que davam ânimo, abriam sorrisos, traziam boas recordações.
O resto era desintegração, impossibilidade de obter a cidadania israelita, os filhos mais velhos perdendo-se (dezasseis, catorze e onze anos), insucesso escolar, fugas, acosso policial, tribunal de menores, reformatório, colégio interno …
Forte era a mãe, apesar, do problema físico! Aguentava. Sempre presente, lutando, indo…, mesmo quando o marido ficou oito meses em prisão domiciliária, por lhe ter batido. Só desmorona quando o filho mais novo é levado para um colégio interno, pensa que é igual ao reformatório onde está o filho do meio. O mais velho explica-lhe que não, que vai para estudar. Chora. Olha o marido e diz: “estamos a perder todos os nossos filhos”.
"Por que estás a chorar" - pergunta-lhe a filha de quatro anos?
"Dói-lhe o estômago" – responde o pai.
Como lhe vai dizer que lhe dói a alma! À mãe dói a alma, e muito! Se calhar, ao pai também, mas vinte anos de colaboração com os serviços secretos israelitas ditaram a sentença da sua vida. O pior é que ditaram também a da sua família.



(a propósito de um documentário na RTP 2)