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sábado, 23 de março de 2013

Voltando aos olhos da Sheila…

De que falam?  Falam do que lhe está a acontecer. Falam da vida mesma, de expectativas frustradas, de desentendimentos quotidianos, da família que não vê, da escola que não pode frequentar, do emprego que precisa, de ausências sofridas, de amores que doem…
Os olhos da Sheila falam, sem falar. E eu que escuto, o que faço? Continuo instalada, nas minhas certezas e nas minhas comodidades, como se nada se tivesse passado. Mas, passou.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Os olhos da Sheila


- Sabes com quem sonhei, hoje? - pergunta-me a minha mãe - com aquela menina moçambicana que queria vir contigo para Lisboa. Não te lembras dela?
- Às vezes, lembro – respondi.
Fico a pensar: estranha a pergunta. Lembro sobretudo do olhar, falava pouco. Era uma jovem de dezasseis anos, encantadora, mas vivendo, como quase todas as adolescentes, um turbilhão de emoções.
Por que queria tanto vir para Portugal?  Por que queria deixar tudo, ou talvez não deixar nada? Que sei eu!

waris Dirie, mutilada


Conhecia a história, já tinha visto o filme, mas ontem voltei a vê-lo e o impacto foi o mesmo. Talvez tenha passado, por se discutirem por estes dias em Nova Iorque, na ONU, os direitos das mulheres.
Waris Dirie – modelo somali - falou abertamente na mutilação genital feminina de que tinha sido vítima aos 3 anos, primeiro numa entrevista a uma revista de moda, com divulgação mundial, depois nas Nações Unidas. Contou como era feita, por quê, como duas das suas irmãs não resistiram; contou o que significa, cultural, social, mas, sobretudo, pessoalmente. As imagens são de um grande realismo, a cena da mutilação é pungente (ainda oiço os gritos da menina), fechei os olhos, não aguentei. Fico sem palavras, sem saber o que pensar é que não há qualquer justificação, para tamanha humilhação, para tamanha desumanidade.
Agora, a ex-modelo, é embaixadora da ONU para os direitos das mulheres, tem uma fundação onde luta diariamente contra esta prática absolutamente inaceitável, que muitos países condenam mas que a cultura e o fechamento social destas comunidades continuam a permitir.