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sábado, 20 de dezembro de 2008

A loucura do ditador

Sempre o inqualificável Mugabe e a sua insanidade mental a determinar a agonia de um povo. A negação da realidade, é absurda. Não vê a cólera, a fome, a miséria, a opressão. Nada existe, tudo está controlado e bem. Negar a evidência seria tolerável, se este senhor estivesse internado num hospício, mas não está, é presidente dum país. Se a comunidade internacional continuar a assistir sem nada fazer ou a fazer tão pouco que nada se vê feito torna-se cúmplice do ditador por omissão ou falta de firmeza. Estão à espera do quê, que ele morra? Vêm-me à ideia a palavra cobardia.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A família da "Ilha Paraíso", os direitos das crianças

A família de alemães (pai, mãe, seis filhos ainda crianças e mais dois jovens de um primeiro casamento do pai), vivendo numa quinta no concelho de Marvão, seguindo um modo de vida e uma ideologia/religião/crença fundamentalista que tem como grande argumento viver o mais natural possível, em contacto pleno com a natureza, sem quaisquer sinais de civilização (ainda que haja um telefone e um computador) e ou de direitos sociais (casa, higiene, cuidados de saúde, escola, ...), não pode deixar de nos incomodar.
Se os adultos querem viver desta maneira, pondo em causa muitas coisas, pode compreender-se e pensar-se que estão no direito de fazer uso, até ao limite, da sua liberdade individual; mas que imponham este modo de vida aos filhos (que tem direitos mesmo antes de nascer) é inaceitável, e o Estado português tem de fazer alguma coisa. Os direitos humanos são dos indivíduos, de cada pessoa, os direitos dos filhos não são direitos dos pais, eles têm direito a ser protegidos pelas instituições da república portuguesa (sendo ou não portugueses), mesmo que os pais não queiram, de resto, é isto mesmo que acontece noutros casos.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Dia Mundial dos Direitos Humanos

Hoje, 10 de Dezembro, a Declaração Universal dos Direitos Humanos faz 60 anos. Olhamos à volta e perguntam-nos: - o que fez a humanidade desses 30 artigos, princípios de acção, válidos para todos os seres humanos, novos ou velhos, saudáveis ou com alguma deficiência, negros, brancos, amarelos ou peles vermelhas, vivendo aqui ou em qualquer lugar do mundo? Não é justo dizer que nada foi feito, há um quadro jurídico importante - declarações, tratados internacionais, convenções - e há também um crescente movimento de consciencialização a nível mundial. Contudo, muito falta ainda fazer para que as condições mínimas a uma vida digna sejam garantidas a todas as pessoas, e isto é válido para as situações mais dramáticas, como a guerra, a extrema pobreza, etc., que temos sempre tendência a ver lá longe, como para a violência doméstica, os sem-abrigo, etc., problemas do prédio, da rua ou da cidade onde vivemos e que fingimos não ver. Os direitos humanos são uma questão de ontem, de hoje e de amanhã, de aqui e de todos os lugares do mundo. Este é o desafio. Nada está definitivamente adquirido, em lugar nenhum. Talvez, o mais permanente do humano seja a sua imprevisibilidade.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Crise sobre crise e mais crise

Imigrantes, sobretudo do norte de África mas também de outros países, desesperam na Andaluzia por um trabalho na campanha da apanha da azeitona. Alguns vêm há quatro, cinco anos a fazer este trabalho, mas este ano não há trabalho para eles. Muitos espanhóis, agora desempregados, aproveitam estes trabalhos, antes apenas realizados por clandestinos.
"Não se lhes pergunta por documentos, a todos se dá um bilhete de regresso a casa", dizem os serviços de apoio. Um bilhete para regressar a uma casa e a um país onde não vislumbram qualquer futuro. Começamos a ter a noção do impacto da crise dos mercados na economia real, no emprego, na sobrevivência de cada vez mais pessoas, uma bola de neve que ainda está no início.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Imigrantes ilegais

Nos últimos dias, foram interceptados pelas autoridades portugueses 22 imigrantes ilegais, de diversas nacionalidades, a trabalhar na zona do Algarve. Vão ser extraditados para os países de origem, cumprindo a legislação existente para estes casos.
- É assim em toda a Europa, dirão. Mas a legalidade não supõe aqui a justiça, quando sabemos da impossibilidade destas pessoas sobreviverem nos seus países, de alimentarem os seus filhos e as suas famílias. As leis da imigração têm de tornar possível outra abertura e outras saídas.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Terror e morte em Bombaim

Os ataques da última quarta-feira na cidade indiana de Bombaim a alvos seleccionados, relacionados com interesses ou a presença de ocidentais - grandes hotéis - fazem pensar no dedo da rede terrorista Al-qaeda . Afinal, pouco ou nada se avançou no cambate ao terrorismo. Estamos no mesmo ponto.
Muitos discutem se isto é ou não um choque de civilizações? Talvez não seja, mas é de certo um choque entre a liberdade e o fanatismo, entre a razão e a crença, entre valores culturais muito distintos. Seja como for, há já rupturas visíveis, basta visitar países árabes, mesmo os ocidentalizados, como Marrocos, Tunísia e Egipto, para se perceber que há dois mundos de costas voltadas. A questão é esta: ou continuamos assim e, então, a tendência é para agudizar o problema, ou procuramos a proximidade do face a face, deixando que o sentir e o existir humanos tornem possível o encontro. Como Lévinas podia ajudar, a uns e a outros, a perceber a questão da violência! (Que livros lerão estes senhores que planeam e executam estes ataques? Que referências terão? Quem deixarão esperando em casa?)

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Uma nódoa, muitas nódoas negras

Hoje, 25 de Novembro, dia Internacional contra a violência contra as mulheres, a APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) lança uma campanha contra a violência de género. Um tipo de violência que atravessa toda a sociedade e todos os grupos sociais. É, porventura, um problema tão velho como a humanidade, mas isso não é nenhuma atenuante, ao contrário, devia envergonhar-nos, por ainda não termos sido capazes de acabar com esta violação dos direitos fundamentais. Trata-se de algo absolutamente condenável, é o não respeito pela dignidade e a integridade da pessoa humana. Fala-se também cada vez mais da violência entre jovens namorados, uma situação incompreensível e preocupante, mais ainda quando acreditávamos ser o namoro um tempo de paz e de felicidade. Em qualquer ponto, ou em muitos pontos, a família, a escola e a sociedade falharam e falham. O problema parece sair-nos das mãos, tal é a evidência.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

"Deixámos de precisar do seu trabalho"

Acabo de ouvir um jovem de 39 anos, licenciado, com a vida adiada, há mais de uma dezena de anos a recibos verdes, a trabalhar aqui e ali. Sendo o trabalho um direito humano, tão importante como a liberdade ou qualquer outro dos chamados direitos fundamentais, porque o desemprego põe em causa a própria dignidade humana, a precariedade laboral que os jovens e muitos adultos vivem é uma violação de direitos intolerável. As sociedades actuais têm de olhar com olhos de ver o problema do emprego, ou um dia destes, mais cedo que tarde, o desmoronamento social é inevitável.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Meninos-soldado, que fizeram dos vossos sonhos

No Congo, reacendeu com a brutalidade de sempre a eterna guerra civil que opõe facções tribais e políticas. É incompreensível como o conflito parece fugir do controlo da ONU, apesar do número de capacetes azuis no terreno; parece impossível como a irracionalidade dos senhores da guerra tem tamanha maldade e atinge tamanha proporção. Vale tudo. Vão às escolas e recrutam crianças de nove, dez, onze anos para envolverem na guerra, transformando-os em carregadores de material bélico ou ensinando-os a matar. Roubam-lhes tudo: a inocência, os sonhos, os sentimentos, a vida.
De nada valem as declarações e os tratados internacionais que defendem os direitos das crianças, de nada valem tantos organismos internacionais que devem regular e vigiar a aplicação destes tratados. É tudo letra morta, é tudo impossibilidade. E o cidadão comum que assiste às notícias não pode acreditar em tanta ineficácia. Para que serve uma ONU assim? Para que servem as instituições regionais, africanas, europeias, etc.? Demitam-se, criem espaço e condições para a reforma dessas instituições.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A escola: o ideal e o possível

Não é possível qualquer política educativa sem um ideal de escola que dê consistência e uma visão de conjunto às medidas que vão sendo tomadas; na certeza porém de que esse ideal é isso mesmo, uma referência de excelência, sempre procurada, o que obriga a um questionamento e a uma construção permanentes por parte de todos, desde os mais directamente envolvidos à sociedade em geral.
Acontece que não descortinamos, nos tempos que correm, essa ideia de escola, em vez dela ouvimos falar de coisas avulso, de um modelo educativo, de um modelo de avaliação, de um modelo disto e daquilo, como se as situações e as relações vividas na realidade escolar se pudessem fixar, determinar e controlar por antecipação, através de leis, regras, medidas, programas, etc., pretensamente objectivos, e cuja eficácia só dependeria da boa vontade e do trabalho dos professores e gestores escolares. Puro engano, pois nem a escola é uma empresa, nem os professores e os alunos são peças de uma engrenagem, são pessoas, devem por isso ser participantes activos da sua realidade escolar.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Violência na escola, demasiado recorrente

Na semana passada houve notícias de actos de violência em várias escolas, noticiados pela comunicação social: numa escola do 1º ciclo na Ajuda, Lisboa, os pais fecham a escola contra a falta de segurança e de auxiliares de educação, acusando sobretudo meninos de etnia cigana ; numa escola do 2º e 3º ciclos em Alcabideche um aluno esfaqueia um colega que tem de ser hospitalizado; numa outra escola de Mangualde um aluno agride a socos e pontapés uma professora por causa de um telemóvel. Atitudes destas parecem multiplicar-se por muitas outras escolas. As razões, há muitas, umas mais visíveis que outras; as soluções, há poucas e todas muito difíceis. O problema tenderá a agravar-se, porque as tensões em ambiente escolar se têm vindo a degradar.
Na verdade não são os "Magalhães", os quadros electrónicos e toda a tecnologia, que se crê necessária, que constroem relações humanas - a base da escola e da educação - é a proximidade, a comunicação, o compromisso, o cada um ser capaz de se sentir responsável pelo outro, sem esperar nada em troca. Cada vez nos afastamos mais, qualquer dia, vamos dar-nos conta que nas escolas a desumanidade tomou o primeiro lugar, é o salve-se quem puder e a qualquer preço.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A avó negra de Obama

Não sei nada de protocolos, nem do que é "politicamente correcto", mas gostava que Obama fosse ao Quénia em visita oficial e tirasse um dia para visitar a avó. Fizesse uma visita familiar, para olhar a sua terra, a sua casa, rezar aos seus mortos (uma oração cristã ou muçulmana, tanto faz), intuir o espírito dos seus antepassados e colher ramos de árvore para dançar com a avó aquela dança africana que ela dançou no dia da sua vitória.

Obama ganhou

Obama ganhou, e muitos ganharam com ele. Acreditamos que o mundo todo ganhou, pela importância e pelo simbolismo da sua eleição . Tenho uma crença desmesurada em Obama, aliás, há nele algo que ultrapassa a medida, o formatado, o predefinido, por mais que alguns digam que nele tudo é racionalidade e autocrontolo; não, há nele acontecimento, revelação, profundidade, sentimento, algo que vem do lugar mais recôndito da alma humana.
Obama é ele, mas não é apenas ele. Quando fala na senhora de 106 anos, Ann Nixon Cooper, pertencente à primeira geração de negros depois de abolida a escravatura, e que só votou pela primeira vez aos 66 anos, torna presente uma história, um povo, vidas, muitas vidas. O que se terá passado na cabeça e na alma dos que o escutavam? As lágrimas de muitos, diziam tudo.
Enquanto isto, numa aldeia do Quénia, uma família e uma comunidade dançam com ramos de árvores uma dança africana. Foi bonito. Há dias assim.

domingo, 19 de outubro de 2008

A fome, lá longe e não só

Vi na televisão, há dois dias, quando tanto se fala e tanto se explora a crise, mesmo a um nível que, muitas vezes, não respeita, como é dever da imprensa, a dignidade das pessoas - fazem perguntas, mostram primeiros planos de rostos, mãos, etc. e recantos de miséria que não são necessários para todos percebermos tudo - um jovem pai paquistanês dizer: "não temos nada para comer. Não tenho comida para os meus filhos, o melhor é matar-me a mim e a eles". Demasiado forte. Demasiado brutal. Demasiado tudo. E o mundo assiste, uns manejando estatísticas, números, planos contra a crise, sem nunca fixarem um rosto, imunes às tragédias mesmo que tenham o poder de decidir sobre estas vidas ; outros fazendo o que podem, em associações, por conta própria, etc. , ainda assim são os únicos que fazem a diferença.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O tempo de que não podemos falar

Um documentário sobre "A casa tropical", casas construídas, no pós II Guerra Mundial, em cidades africanas como Brazaville (Congo) ou Niamey (Níger), coloca-nos uma importante interrogação sobre o tempo. Casas que, passados mais de cinquenta anos, já muito degradadas e desfiguradas, foram compradas, desmontadas peça a peça, metidas em contentores e levadas para o 1º mundo para serem transformadas em obra de arte. São agora exibidas em Paris, Roma, Nova Yorque. Discutia-se: são ou não património do Congo e do Níger? Devem voltar a estes países? Têm estes países alguma noção de património, de passado histórico? Alguma noção da importância de preservação do passado? Ao limite, tem noção de passado?
São os próprios a responder. A antiga proprietária da casa de Brazaville acha que ainda bem que a sua "casa" (que um francês lhe comprou e pagou bem, tirando-a da miséria) seja agora obra de arte que todos admiram, está certa de que se tivesse ficado teria sido completamente destruída. Um artista local diz: - os africanos não preservam o passado, não precisam do passado.
Não compreendo. Compreendo que, se alguém vive na mais extrema pobreza, não se interesse por guardar as pedras ou os ferros do edifício histórico, se as precisa para fazer um muro; compreendo que utilize a casa/o monumento para viver, guardar o gado ou o que seja; compreendo que se alguém que vive obcecado com a comida desse dia, não tenha como preocupação preservar marcas da história. Mas estas pessoas hão-de ter alguma noção de passado, porque ninguém escolhe ter ou não memória, temos memória, temos passado, mesmo que não saibamos que vozes o habitam, que imagens, que antepassados ou que deuses eternos o povoam. Não sabemos, mas eles sabem. É o tempo de cada um, subjectivamente vivido e pensado, de que não podemos objectivamente falar. Um tempo que existe sem precisar de qualquer marca visível.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Sempre, a violência

Há três dias, um motorista reformado, de 65 anos, mata a tiros de caçadeira dois vizinhos por supostamente um deles estacionar de forma sistemática um carro em frente de sua casa. O motivo parece ridículo, e é. Não é motivo, não pode ser motivo, para tamanho descontrolo e para tamanho tiroteio. Mas foi. Talvez este homem se tenha sentido mil vezes desrespeitado, pelo abuso e a arrogância de quem mesmo sabendo como isso era perturbador para este senhor continuava a estacionar o carro naquele sítio. Mas também isto não pode justificar o que aconteceu. Talvez a perturbação mental, nestes casos, e há muitos, seja sempre a justificação mais plausível. Não sei. O que sei é que a violência humana é inata, o mal faz parte de nós; mas as armas não, ninguém nasceu com armas e munições na mão. A questão das armas é temível,a quantidade de armas legais e ilegais que andam por aí são mortes em potência. Isto é uma certeza, como se tem visto, não apenas em Portugal.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

"Estou aqui, porque gosto muito de si"

Ontem, assisti a um momento emotivo, no Congresso Internacional sobre Eduardo Lourenço. O escritor António Lobo Antunes subiu à tribuna e disse palavras muito bonitas, sobretudo, porque ficou clara a sinceridade das mesmas e a profunda admiração e amizade. No final, quando desceu, Eduardo Lourenço levantou-se, dirigiu-se a ele e abraçaram-se. Não foi uma formalidade, foi muito mais. Lobo Antunes saiu, logo de seguida, mas este momento perdurará para sempre, pelo menos, na minha memória. Há gestos, há aconteceres, que são autênticos tratados sobre a psicologia e a alma humana, seja lá o que isso for. Tenho a certeza que o momento ultrapassou os próprios.

sábado, 27 de setembro de 2008

Terror em Islamabad

Na semana passada, um luxuoso hotel da capital do Paquistão foi atingido por bombas terroristas. Muitos ocidentais estavam lá, alguns morreram e outros ficaram feridos. Ouvimos as notícias e ficamos com a sensação de que as dezenas de mortos paquistaneses são deixadas em segundo plano, porque é preciso falar em primeiro lugar da morte dos americanos e europeus que ocupavam altos cargos diplomáticos. A vida humana não tem o mesmo valor? A morte de alguém não se lamenta da mesma maneira? Talvez eu esteja a ver mal.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Onde fica a estima de si

Li não sei onde que os produtos cosméticos para o branqueamento da pele são na Índia e em África um dos negócios mais lucrativos. Falava-se de um anúncio de uma televisão indiana que mostra uma mulher triste, abandonada, a quem o marido troca por outra de pele mais clara. É, então, anunciado um creme extraordinário que lhe branqueará a pele e lhe trará o marido de volta. Penso: não é apenas um anúncio racista, intolerável e triste ( são os próprios a assimilar e a subjugarem-se aos estereótipos de sempre), é também um anúncio miseravelmente machista. Por que razão hão-de ser as mulheres brancas mais bonitas e desejadas? Por nenhuma razão. Assim, não chegamos a lado nenhum.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Que "raio" de desenvolvimento

Um norte-americano, de férias numa ilha do Pacífico, interroga um habitante local:
- O que faz o senhor? Como é a sua vida?
- Levanto-me e vou pescar duas ou três horas pela manhã. Venho, almoço, durmo a sesta com a minha mulher; à tarde vou para o bar jogar com os meus amigos e ouvir música; e quando chega a noite janto e deito-me.
- Por que não trabalha mais horas? Podia pescar cinco ou seis horas, vender o peixe que não precisasse e ganhar mais dinheiro.
- E para quê?
- Para poder comprar um barco a motor, pescar mais peixe e montar um negócio.
- E para quê?
- Para poder comprar outro barco, montar outra peixaria e ganhar mais dinheiro.
- E para quê?
- Para montar uma fábrica de conservas e ganhar mais dinheiro.
- E para quê?
- Para poder comprar uma grande frota de barcos, tornar-se o maior exportador de peixe da ilha e ganhar muito dinheiro.
- E para quê?
- Para construir mais e mais empresas, negociar na Bolsa e ganhar muito dinheiro.
- E para quê?
- Para poder viver como um milionário, ter muitas casas, muitas piscinas, muitos barcos, um avião particular e ganhar muito dinheiro.
- E para quê?
- …
Podíamos seguramente continuar, mas para quê? Entre os que nada ambicionam e aqueles que tudo ambicionam, não haverá um meio-termo? Sem mais comentários.

(Ouvi esta história há uns dias a alguém que questionava a racionalidade do desenvolvimento económico).

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A violência que não pára

O que mais assusta é perceber que, de repente (claro que não é de repente), toda a gente saca de uma arma, até nas barbas da própria polícia, como ontem aconteceu na esquadra de Portimão. Parece que ter uma arma é tal qual como ter o mais pacato dos objectos de uso pessoal. É tão inaceitável e tão assustador, que eu, embora não percebendo nada de segurança, penso que o governo faz bem em pôr a tónica na lei das armas. Claro que não resolve, como vai resolver quando o problema é tão grave e tão complexo! É a justiça que não temos, um policia que prende e um juíz que solta, etc., etc. Por mais que o ministro e outros venham dizer que o governo está a responder eficazmente à situação, de facto, não está. Descobrimos da pior maneira como a insegurança faz cair todas as liberdades. Esta é uma das questões mais sérias da democracia, ou se investe a sério na educação e na coesão social ou então todos sairão a perder.

domingo, 7 de setembro de 2008

Rania, a menina armadilhada

25 agosto. Rania, uma menina de 13 anos, iraquiana, armadilhada, preparava-se para cometer um atentado suicida, na cidade de Baquba. Desiste no último momento. Não foi capaz.
Por que razão o terá feito? Medo, (in)consciência, impossibilidade, desespero, instinto de sobrevivência ... ? Por que utilizam meninas como máquinas para matar? Porque escapam mais facilmente aos controlos policiais, dizem. A maldade humana não tem limites e o fanatismo também não.
Voltará à sua família, ao seu ambiente social? Será rejeitada? Que medos percorrem o seu corpo e a sua alma? Precisa de ajuda, mas como podemos ajudar estas crianças e adolescentes?

sábado, 6 de setembro de 2008

Afinal, é uma campeã

Tenho entendido que Naide Gomes, na última semana, nuns campeonatos que não sei precisar, bateu a campeã e a vice campeã olímpicas. Isto, depois de falhar, em Pequim, contra todas as expectativas, a passagem à final do salto em comprimento e, assim sendo, falhar também a tão ambicionada medalha, que muitos e ela própria julgavam possível.
Aparentemente, não há razões para o sucedido. O que aconteceu? Por que é tão ténue e tão frágil a distância entre a glória e a desgraça, entre o sucesso e o insucesso, entre o tudo e o nada?
A atleta não perdeu as suas capacidades, é das melhores do mundo. Se voltasse a saltar, podia ganhar o ouro, mas, naquele instante, não foi possível. Nada aconteceu de extraordinário, apenas, a precaridade do humano, visível tantas vezes e em tantas situações. Há momentos em que nos superamos e há momentos em que caímos. Não somos máquinas programadas, somos pessoas.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Caída no chão, morta

Aquela imagem da jovem morta, numa rua de um bairro portuense, que entretanto a polícia já resguardou com uma cobertura, não me sai da cabeça. A jovem assassinada pelo marido ou companheiro levava a filha de ambos, de oito meses, ao colo. Mas nem isso evitou a tragédia. Conseguem imaginar maior barbárie? Conseguem imaginar maior monstruosidade? Eu não.
Como ela muitas outras mulheres, trinta e tal, já morreram no que vai de ano. Justiça, cadeia para os assassinos, claro. Mas, por favor, percebam que isso não chega, é preciso ir mais fundo, é preciso ir à família, à escola, à sociedade. Todos somos um pouco responsávéis.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Fidel, o retrato pelo próprio

Vi no início do passado mês de Agosto, na televisão espanhola, um documentário, que apanhei já a meio, sobre Fidel Castro. O repórter fala inglês, não cheguei a perceber qual a nacionalidade, e há uma tradutora. Estão num restaurante a almoçar. Enquanto isso, falam de eleições. - Deviam fazer um estudo sobre o sistema eleitoral cubano, há representatividade, são os vecinos que elegem os seus representantes – explica o velho ditador. Só pode ser ironia, penso.
Fidel parece muito fragilizado, come e fala com alguma dificuldade, precisa de ajuda para entrar no carro. Ainda assim, está impecavelmente vestido de comandante.
Perguntam-lhe pelo estado civil e pelas mulheres que amou. Não sabe muito bem explicar: - Só casei uma vez, mas não foi uma vida sem amor, diz. Referem-lhe uma das mulheres com quem viveu, dizendo-lhe o quanto foi extraordinária. Confirma: - Foi uma mulher extraordinária, uma grande mulher, não vou falar dela, nunca falei. Perguntam-lhe: - Nem daquelas com quem teve filhos? - Não, nunca falei, por respeito a elas". Falam-lhe de uma outra senhora, ele não a identifica, só quando lhe referem o apelido, se recorda, e de outra ainda, mas ele nada diz. Por que têm os revolucionários comunistas tamanha reserva de intimidade? Por que não amam às claras?
- E os filhos? Poucas ou nenhumas fotografias há, dizem-lhe. Responde que sempre os recorda, mesmo que estejam longe e não os veja por longos períodos, também não parece um assunto cómodo. Numa imagem televisiva antiga, aparece um filho, ainda criança, com um cãozinho ao colo, sentado a seu lado, Fidel fala com ele com imensa ternura.
- E o Che Guevara? Fala do encontro no México, da revolução, da saída de Cuba, da ida para a Bolívia, da morte. Ouve-se a despedida do Che Guevara, pela voz do próprio. É um hino revolucionário, uma crença desmesurada na ideologia. Eu, mesmo sabendo da violência e da morte que semearam as revoluções, ao ouvir o Che, sinto-me, por instantes, revolucionária, há neste acontecer algo que transcende tudo. Não se explica.
A conversa continua: - As autoridades de Moscovo não lhe pediram para se livrar do Che? - Não, sabiam que não valia a pena, nunca o faria, tal como com Raul.
- Não há negros no governo? - A revolução a quem mais beneficiou foi aos negros, há negros, diz. - O que pensa do futuro do mundo? - O mundo está a ficar ingovernável, responde, tecendo considerações. Fazem-lhe perguntas incómodas, mas nunca são levadas até ao fim. Fidel responde o que quer, como quer, sem mais perguntas.
Termina a reportagem no gabinete, querem despedir-se, mas ele diz que vai ao aeroporto: - É a única maneira de saber que partem, ironiza. Todos sorriem. É estranho ver aquela quase informalidade no trato, por parte de Fidel.
Lá está, no aeroporto. Despede-se do repórter, de outras pessoas e por fim do câmara, este não está à espera e fica desconcertado. Fidel dá-lhe um abraço, diz-lhe qualquer coisa e todos riem. Parece um homem com humor.
Depois de tantos anos, dou por mim a olhá-lo com outros olhos. Mas a história não se reescreve e os longos anos da ditadura cubana também não, a falta de liberdades e a pobreza continuam. Não tenho outra opção senão voltar a olhá-lo com os olhos de sempre.

(Nota: Não sei quando foi feita a reportagem, com toda a certeza pouco tempo antes de Fidel transferir o mando para o irmão Raul).

terça-feira, 22 de julho de 2008

Finalmente, preso

Ontem, prenderam o criminoso de guerra, Karadzic, há 13 anos fugido à justiça internacional do Tribunal de Haia. É muito tempo, demasiado, sobrevivendo com cumplicidades, disfarces e artimanhas. Choca pensar que só agora , quando a Sérvia está interessada em aderir à União Europeia, comece a preocupar-se com este e outros criminosos, a prendê-los e a entregá-los; é perturbador que este senhor, um médico psiquiatra , tenha exterminado milhares de pessoas, seria de supor que alguma coisa soubesse sobre a psicologia e a alma humana, mas não, foi capaz das maiores atrocidades; o que pensarão agora as pessoas a quem este homem, disfarçado de médico de medicina alternativa, tratava numa clínica de Belgrado? Acreditam? Acham impossível? Estão horrorizadas? É medonha a mente dos assassinos. Têm de ser medonhos os olhos deste sujeito. Espera-se que possa finalmente ser julgado, que não aconteça o que aconteceu com o Milosevic.

sábado, 19 de julho de 2008

Mandela, sempre

Mandela é mais que o homem, o político, o defensor dos direitos humanos, o pai, o marido, o avô, o amigo, é um daqueles símbolos que aparecem de vez em quando, só muito de vez em quando, para apontar o caminho aos outros seres humanos.
Os olhos de Mandela são já o infinito, como se a luz e o brilho que deles irradiam não desaparecessem nunca. Não desaparecerão, acreditamos. Precisamos dessa luz. Noventa anos de sabedoria, parabéns Mandela.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Responsável por genocídio, prova-se

Ou muito me engano ou o ditador número um do mundo, Omar al-Bashir, do Sudão, está preocupado com a pele, senão para quê tantas manifestações ensaiadas, em Cartum, de mulheres e de homens (tive a sensação de que se manifestam em separado, será?) a dar vivas ao ditador. A acusação de crimes contra a humanidade é para levar a sério e ele sabe disso, o TPI não se amedronta com manifestações ou pressões, mas ainda assim, temos de ver o que vai fazer a China a quem o ditador já pediu ajuda, se este país vetar a acusação no Conselho de Segurança da ONU, é um revés para o povo do Darfur e para os direitos humanos no mundo.

terça-feira, 15 de julho de 2008

A violência na Quinta da Fonte

Porventura, poucas coisas há tão complexas e tão "inevitáveis" como a violência, tenha lá a forma e a intensidade que tiver. É como se estivéssemos condenados a isto. Sempre foi assim , e assim será. Triste destino o nosso.
Mas para quê tanto pessimismo - pensarão alguns - quando somos capazes de tanta coisa boa, de explorar o espaço, de avançar desmesuradamente na ciência e na técnica, de pintar maravilhosos quadros, de escrever livros, construir monumentos, etc. Na verdade, somos capazes disto tudo e também do resto, duma agressividade animalesca sempre presente em nós, que não dorme, a qual devemos paciente e permanentemente controlar. Não é qualquer coisa que só os outros têm. Não se trata de uma questão étnica, social, cultural, mesmo que estes e outros aspectos possam comportar elementos potenciadores da violência. Todos somos violentos, todos nos devemos auto-vigiar, e mesmo assim não é seguro que não sejamos os primeiros a atirar pedras.

sábado, 12 de julho de 2008

Para quê tanta burocracia

Aparentemente, pareceria, nesta era da Internet, que a burocracia teria os dias contados. Qual quê! Continua, implacável, com os zelotas de sempre. A burocracia é das coisas que mais me desorienta, e mais um documento, e mais uma declaração, e mais um fax, e mais isto e mais aquilo, para nada, apenas e só para complicar. Aquele argumento de que são os papéis que salvaguardam os nossos procedimentos, até pode ser válido, mas o que se perde em energias, em tempo, em dinheiro, é demasiado. Às vezes, apetece desistir.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Índios brasileiros

Há uma semana atrás dois representantes de um povo índio foram recebidos por deputados da Assembleia da República portuguesa. Têm uma história e querem contá-la. Têm uma luta e precisam de ajuda. Não impressiona o seu ar diferente, as penas na cabeça, impressiona sobretudo o que sentem e o que dizem. Falam de dignidade, de direitos e de respeito por um povo e uma terra que lhes pertence. Sempre, pertenceu. Antes, ninguém invadia as suas terras, incomodava as suas caçadas, destruía as suas florestas, poluía os seus rios, mandava nas suas vidas. Agora tudo mudou. Alguém destruiu o que era deles, sem pedir ordem, sem pedir licença, sem consideração. Alguém invadiu e roubou os seus haveres. Isto é maldade, mesmo que tenha por base uma decisão política. A política não se faz contra as pessoas e os povos, mas com eles.
Os índios não querem donos, nem patrões, nem homens brancos, que apareçam a ensinar tudo e nada queiram aprender em troca.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Liberdade para os prisioneiros

Ontem, Ingrid Betancourt, com mais catorze reféns, foi libertada, depois de anos prisioneira das FARC, na selva colombiana. Aparentemente, todos estão bem, sorridentes, felizes, junto de familiares. Mas, só aparentemente, quem passa por uma situação limite desta natureza não pode mais ser o mesmo. O que impressiona mais é a capacidade de resistência do ser humano, apoiada ou não na crença, ninguém sabe os seus limites. Aguentamos muito, demasiado. Sobrevivemos a tantos dramas, a tantos tormentos, que às vezes nem nos parece possível!
Que imagens, pesadelos, horrores e delírios povoaram os anos de cativeiro? Deixaram a selva, mas talvez nunca mais deixem uma imensidão de nódoas negras, por mais invisível que seja.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Espécie de democracia, não existe

A conferência que ontem teve lugar numa instância balnear egípcia, dos representantes da União Africana mostra bem o entendimento que a maioria daqueles senhores tem da democracia: não se pode agir contra Mugabe, porque há outros ditadores e farsantes democratas à volta da mesa. Nem sequer, no documento final, é dito que as eleições foram condicionadas e injustas, condena-se apenas a violência. Assim, não. O argumento daqueles que advogavam que é preciso deixar os africanos resolver os problemas de África, cai por terra, já se viu que eles não o fazem. É preciso que a ONU intervenha, já passou tempo de mais. Do que estão à espera?

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Uma situação insustentável

O que se está a passar no Zimbabué ultrapassa o que se pode pensar como possível, mesmo tendo em conta a total maldade do ditador e dos seus comparsas. Para mim, é um caso de sanidade mental, Mugabe não pode estar em perfeito juízo, não pode. O que fazer? Esperar que Deus o tire do lugar, a única forma possível, como diz o próprio, ou obrigar, por pressão das opiniões públicas mundiais, a ONU e outros organismos a fazer alguma coisa de substantivo? Não chega condenar, não reconhecer, impor sanções, porque nada resulta. Este homem não pode continuar no poder. A farsa é desmesurada, maior só a miséria do povo.
Não há outro interlocutor no regime? Mas há oposição, que o povo já legitimou, por que é que a comunidade internacional não tem isto em conta? Esperamos para ver.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Antigo entreposto de escravos

Visitei uma fortaleza na costa africana, monumento recuperado pela cooperação espanhola, que foi, por mais de quatro séculos, entreposto de escravos. Por momentos, o peso da história - que não podemos reescrever nunca, mas que nos deve ensinar sempre alguma coisa - cai-nos em cima. O tráfico negreiro é uma nódoa na história do mundo, da Europa e de Portugal. Tantos momentos tristes, mesmo que depois nos falem de coisas de que nos devemos orgulhar. Falem do resto também.

domingo, 22 de junho de 2008

O regresso de refugiados

Há dois dias, a 20 de Junho, comemorou-se o dia Internacional do Refugiado, mais de 30 milhões em todo o mundo. Por perseguições religiosas, políticas ou étnicas, devido a conflitos armados, muitas pessoas fogem das suas terras, do seu país, para encontrarem segurança em países vizinhos. Há uma Convenção Internacional (1951) e um Alto Comissariado (ACNUR) que define o seu estatuto e os apoia. Quando os conflitos terminam muitos regressam ao país de origem, com alguma ajuda para iniciar de novo a sua vida. Mas todos trazem a ideia da aldeia, da estrada, dos campos, da casa, do poço, da horta, que deixaram. O pior é quando ela já não existe, ou já não se reconhece ou já não se pode fazer prova da sua posse. Uma refugiada do Burundi, dez anos em campos de refugiados na Tanzânia, sem ninguém para a receber, conta a sua história ao funcionário do governo, quando descem da carrinha do ACNUR:
- O senhor não me está a compreender. Eu não tenho familiares nesta zona, mas sou daqui, os meus pais e os meus sogros tinham terras aqui, mas não sei onde elas ficam. Eu quero ficar nas terras dos meus sogros, sou viúva, tenho oito filhos. Morreram todos os meus familiares. Não há ninguém para me receber, compreende o senhor! Mas sou daqui.
- Tem de esperar, espere aí, tenho de saber...
É assim a vida para muitos dos que voltam, uma vez mais no fim da fila, à espera. Porventura, de nada.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Má sorte, ser imigrante ilegal

Ontem, a Comissão Europeia aprovou a nova lei do repatriamento de imigrantes ilegais. Na verdade, não podem entrar na Europa todos aqueles que o desejem , é preciso regular os fluxos e garantir-lhes condições mínimas. Mas, em muitos casos, a imigração ilegal é o fim da linha, não têm outra saída. São repatriados, mas voltarão a tentar de novo, porque em muitas regiões do mundo, as condições de vida agravam-se, a cada dia que passa. Hoje, mesmo, milhões de pessoas irão dormir com fome, sub-nutridas, vulneráveis a doenças e a epidemias que as deixarão marcadas para o resto das suas vidas ou as levarão a uma morte prematura – a SIDA é o caso mais flagrante, com dimensões devastadoras, mas continuam a matar a malária, a tuberculose, a cólera, etc. Hoje, mesmo, milhares seres humanos voltarão a cruzar desertos, continentes e oceanos, para chegar à Europa. Não têm alternativa. É de uma alternativa que precisam, os políticos europeus e mundiais têm a obrigação moral de a encontrar ou então a política vale muito pouco.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Que valor tem o referendo europeu?

Não percebo nada de economia, e, portanto, a minha desconfiança pode ser só ignorância. A economia tornou-se nos tempos que correm algo de "sagrado", com os seus gurus a analisar, a dizer, a prever (às vezes muito mal, por certo). Em nome dela, por ela, se governa o mundo, se fazem escolhas, decisões, etc. e até se põe em causa a democracia.
Mas, por favor, não enganem o povo, se acham que o Tratado de Lisboa - como já antes a Constituição que quiseram fazer aprovar - é algo decisivo para a Europa, para o futuro de todos nós, e já viram que muitos europeus, quando expressam o seu voto, não pensam assim, porque consultam o povo, apenas para cumprir formalidades democráticas ou para procederem democraticamente, cumprindo escrupulosamente os resultados? Basta um raciocínio simples: era necessário que a Irlanda aprovasse o Tratado, não aprovou, logo, não há Tratado. Mas à lógica, impõem-se os interesses da "alta política", o que antes era, hoje já não é, e siga o processo. Que bela democracia a destes senhores da Europa!

domingo, 15 de junho de 2008

A selva urbana

Como todas as frases que se aplicam a tudo, esta corre o risco de perder o sentido. Vi umas imagens do metropolitano de Paris - a suburbana linha 13 - que a partir das cinco e meia da manhã é já hora de ponta, com funcionários nas estações a empurrar as pessoas para se poderem fechar as portas, e quase fiquei em choque. O desumano da cena, comum a todas as grandes cidades, leva-me a pensar: caminhamos para onde? E se a gasolina continuar a subir, a subir, e mais, e mais, pessoas tiverem que andar de metro? Será a ruptura? Pensaremos então em novos modos de habitar os espaços?
Aprendemos tão pouco em tantos anos de civilização! Tantas incompatibilidades com o viver simples, próximo e solidário! Por mais que usemos a retórica, a realidade que criámos esmaga-nos.

sábado, 14 de junho de 2008

Todos os fundamentalismos reduzem o humano

Também não gostei de ouvir o Presidente da República referir-se à raça, mas não faço disso uma tempestade, até porque se tratou de uma gafe. É assim que eu vejo.
Estou contra os fundamentalismos, pela irracionalidade que muitas vezes contém e sempre pela pobreza que constituem, ao reduzirem o campo de conhecimento, de análise e de acção - aquilo que deve constituir a base da escolha individual - a uma resposta já feita, seja de natureza ideológica, religiosa ou outra.
Mas também me aborrecem, quase diría, os novos fundamentalismos, o daquelas pessoas "militantes", eu conheço algumas, que tem uma visão tão restrita que caem em atitudes que tocam o ridículo. Há tempos escrevi um pequeno texto, e alguém o corrigiu: onde eu tinha "os alunos", colocou " as alunas e os alunos", onde tinha "os professores", colocou "as professoras e os professores", onde tinha "os pais", colocou "a mãe e o pai", etc.
Observei: - isto prejudica a clareza do discurso.
-Mas tem de ser assim - disseram-me .
Em presença de tal correcção, perguntei: - então, é sempre o género feminino, antes?
- Não, a gente vai trocando, umas vezes "as" outras vezes "os".
Grande explicação, não percebeu nada do que lhe estava a querer dizer. Perante isto, desisti. O que ia dizer a quem tem da relação e da igualdade de género uma visão tão redutora? Nada. Por mim, não aceito fundamentalismos destes, porque o essencial não está aí, todos sabemos e essas pessoas também deviam sabê-lo. Mas se quiserem continuar, façam favor, mas já agora vejam se percebem que o mais importante é fazer tudo para que as pessoas não falhem nas suas atitudes e comportamentos, o mesmo é dizer, nos valores da estima, da igualdade e do respeito que devemos uns aos outros..

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Que loucura é esta!

Como se de uma catástrofe natural se tratasse, e como se os homens, os que dominam a política e a economia, não tivessem nada a ver com isto, aí está a falta de alimentos, a fome a espreitar, já não só em África mas em muitas outras partes do mundo e até nos países ricos, mas claro apenas para aqueles que nestes países são pobres, sem emprego, excluídos .
Parece que a civilização e o desenvolvimento, que julgámos imparável, dá mostras de ruptura, não é coisa que racionalmente não se possa compreender, não precisamos de profecias sobre o fim do mundo - já alguém disse que as próximas armas serão de novo os arcos e as flechas, tal o tamanho de destruição das que existem, e a fome é a pior. Será o regresso ao início, se houver inicio, não é seguro que haja.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Obama! Obama! Obama!

Olho Obama a declarar a sua vitória nas Primárias dos Estados Unidos, a abraçar a mulher, a dirigir-se à sua adversária, e penso: é uma pessoa especial, tem de ser, para isto ter sido possível, de vez enquando a humanidade é brindada com homens sábios, brilhantes, bons. Sei que Obama não vai decepcionar, tenho a certeza. Algo de novo acaba de acontecer.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Violência e Xenofobia

Nos últimos dias tem havido notícias sobre imigrantes de Moçambique, Zimbabué, Malawi ... saindo apavorados da África do Sul, onde uma onda de violência e de xenofobia varre os bairros e as ruas de algumas cidades, destruindo, queimando, matando. Triste ironia, os que antes eram segregados, segregam agora, com o mesmo ódio e a mesma indiferença estampados no rosto, não é nada que a história não tenha já mostrado inúmeras vezes. Triste natureza humana! Séculos de civilização de pouco adiantaram.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Bemba, na alçada do TPI

Prenderam, em Bruxelas, o senhor Bemba, antigo vice-presidente do Congo, há um ano a viver no Algarve. Com quantas mordomias privadas vivia, não sei, nem me interessa, interessa-me, isso sim, que polícias portugueses lhe tenham garantido a segurança, pagos com o dinheiro dos nossos impostos. É um caso claro de hipocrisia internacional ao mais alto nível: - não está fugido, não é refugiado, foi o responsável da ONU em Kinsasha que pediu a Portugal para o receber, nunca o TPI (Tribunal Penal Internacional) pediu a sua captura, etc. - diz o Ministro dos Negócios Estrangeiros português. Então, é o quê? Um híbrido que viveu sossegado e principescamente com o dinheiro que depositou em bancos europeus e a casa luxuosa que comprou na Quinta do Lago. Que importava o rasto de violência e de morte que semeou no seu país! Nada importou, mas devia importar, pois não chega ser oposição e dizer que o adversário é corrupto e assassino, é preciso mostrar que não se é igual, e ele não mostrou. Ainda bem que existe o TPI e começa a fazer o seu trabalho. Talvez muitos palácios europeus de ditadores africanos fiquem às moscas, eles sabem que se arriscam. Até que enfim!

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Antiga Birmânia III

Finalmente, aquela Junta Militar, inclassificável, começa a deixar entrar a ajuda internacional, dias depois do Enviado Especial do Secretário Geral da ONU ter chegado ao país.
O mais incrível é que o fazem não preocupados com as mortes e as doenças dos milhares de vítimas mas por estratégia e sobrevivência próprias. De alguma coisa serviu a pressão internacional, classificando o que se passava como um crime contra a humanidade, sabemos que já, no passado recente, alguns ditadores pagaram por tal crime. Apesar de tudo, ainda bem.

domingo, 18 de maio de 2008

Terramoto na China, uma situação limite

Sempre, o pior é o drama humano, os mais de cinquenta mil mortos, os pais que ficaram sem os filhos, os que continuam desesperadamente à procura de familiares, os filhos que não encontram os pais, etc., etc, uma tragédia que, para estes sobreviventes, não vai acabar nunca.
Podem reconstruir-lhes as casas, as estradas, as escolas, as praças, os jardins, os empregos, mas como poderão reconstruir-lhes a vida, o coração, a alma? Não é possível. Trata-se de uma experiência humana que toca o limite. É sofrimento puro. O que poderá consolá-los?

sábado, 17 de maio de 2008

Birmânia, a morte continua

Tanta ajuda internacional disponibilizada, à espera de poder entrar no país, e aquela junta militar impedindo o acesso, enquanto milhares e milhares de pessoas morrem podendo ser salvas. Isto é genocídio, é morte planeada, sistemática, intencional de inocentes.
Se a ONU e os organismos internacionais não fizerem nada é o seu próprio descrédito. Servem para tão pouco, emperram em dificuldades e interesses tais, que o melhor é reconhecer a sua ineficácia e abrir espaço para um longo e profundo debate que permita refundar e tornar eficazes as instituições que deviam prover a catástrofes desta natureza e não são capazes. Às vezes, pergunto-me: invadiu-se o Iraque, por causa das supostas armas, e não se se invade a Birmânia para salvar milhões de pessoas da loucura daqueles generais? Que mundo é este?

segunda-feira, 12 de maio de 2008

"Tenho de ir, é meu amigo"

Outra vez tiroteios nas ruas de Beirute, as mesmas imagens de fuga e desespero. Os extremismos de sempre a mostrar a sua intolerância. Até quando? Aquela mãe, chorando a morte do filho assassinado, quando foi ao enterro de um amigo, também assassinado, é de uma profunda dor. Diz que lhe pediu para não ir e ele lhe respondeu: - Tenho de ir, é meu amigo.
Ficamos a pensar: a amizade ainda vale alguma coisa, pode valer até a vida, como neste caso.

domingo, 11 de maio de 2008

Se a justiça não fosse o que é ...

Bem sei que com o mal dos nossos vizinhos podemos nós bem, mas depois de tanto se falar (e bem) da justiça portuguesa, do julgamento da Casa Pia, que parece não acabar nunca, eis que assistimos a casos, por essa Europa, verdadeiramente inacreditáveis: um pedófilo espanhol, que devia estar preso, mas não estava, por deficiências do sistema judiciário, sequestrou e matou uma criança; um ser inominável, austríaco, que tinha o cadastro limpo, mas não devia ter, porque já antes havia violado, sequestrou, aprisionou, na cave da casa , durante vinte e quatro anos, a própria filha, a quem violou sistematicamente, tendo nascido sete filhos. E, pasme-se, ninguém sabia, ninguém desconfiou, ninguém viu nada. Como é possível tamanha monstruosidade? Não parece, racionalmente, posssível, mas foi. Ainda, hão-de vir dizer que é inimputável!

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Tantas fardas, na Praça Vermelha

Voltaram às ruas de Moscovo, as infindáveis e "impecáveis" paradas militares. Assim, comemoram o fim da II Guerra Mundial, ao mesmo tempo que mostram o seu poderio militar. Olha-se para aquilo, e pensa-se: voltámos a que tempo? Quase confundo Putin e o actual Presidente com outros senhores de tempos idos. Quero estar enganada, espero que esta democracia, tão militarizada, tão musculada e tão outras coisas ..., não acabe por aqui.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Rasto de morte, na antiga Birmânia

A crueza das imagens do ciclone e dos poucos relatos que chegam dão a dimensão da tragédia, sempre a aumentar. Para o governo são 22 mil mortos, para os diplomatas dos Estados Unidos mais de 100 mil, como se uma guerra de números, nestas circunstâncias, fizesse qualquer sentido. A incrível burocracia, as dificuldades nos vistos e os entraves à ajuda humanitária, mostra a paranóia daquela Junta Militar que governa o país. Até onde é que isto chegará? Os organismos da comunidade internacional têm de ter alguma capacidade de ingerência quando se trata de casos assim, não podemos ficar à espera, quando esperar significa deixar morrer milhares e milhares de pessoas.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Meninos palestinianos

Há poucos dias ouvimos a notícia de que um raid israelita tinha estilhaçado uma casa palestiniana. Quatro crianças mortas, uma família destruída. Um ódio infinito, que assim não pode acabar nunca. Não sei se há justificações, haverá, mas que me importam quando acabam por morrer crianças inocentes. Maldita política, malditas bombas, maldita retaliação! Não existirão outras soluções? Para que serve a diplomacia, para que servem as Organizações Internacionais? Às vezes custa a acreditar, como é possível.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Pertenças, sou ou não sou daqui

Hoje fui à igreja do bairro que não frequento com nenhuma regularidade. Fui à missa. Mas o que mais me emocionou foi o antes a missa, as pessoas que estavam e iam chegando. O modo como se posicionavam, se cumprimentavam, falavam... Pareceu-me um espaço comum envolvendo dentro dele múltiplas pertenças: era o grupo do coro, que ocupando o lugar designado, se iam
cumprimentando à medida que chegavam, era um grupo da catequese, as crianças que vinham com a catequista e se sentavam juntas ocupando todo um banco, era o grupo de leitores... Todos falavam, trocavam breves conversas...
Fiquei a pensar: há aqui uma identidade, um sentimento de pertença que ajuda a viver, que faz bem, que compromete, que dá vontade de estar e de voltar ...
Eu não pertenço a nada. Sou quase uma estranha, e sinto pena ...

quinta-feira, 24 de abril de 2008

A escravatura que não acaba

Ontem, soube-se que cinquenta portugueses tinham sido libertados de uma rede de tráfico de seres humanos, em Espanha. O que mais perturba é a maldade humana, quase em estado puro, sem um pingo de sentimento, que utiliza as fragilidades emocionais, mentais e sociais das pessoas para as utilizar a belo prazer. Coisas que não julgamos possíveis, entre nós, são possíveis.
Já sabíamos que o mundo não protege os fracos, mas não estamos na lei da selva. Portugal e Espanha são Estados de direito, por que é que a lei e as autoridades não protegem estas pessoas? Talvez não tenham tido conhecimento em devido tempo, mas havia quem conhecesse o caso, quem visse estas pessoas ser exploradas, escravizadas, maltratadas, e nada tenha feito para o denunciar. Todos somos responsáveis por estes e outros casos idênticos, basta que fechemos os olhos e achemos que não temos nada a ver com o assunto.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Nojoud Muhammed Nasser, a menina do Yemen

No início deste mês uma menina muçulmana do Yémen , de oito anos, foi sozinha a um tribunal pedir o divórcio do marido, um homem de trinta anos com quem vivia há mais de dois meses. Neste caso, choca-nos a imensa pobreza que leva aqueles pais, por um mísero dote, a entregar a filha ainda criança a um adulto. Tudo é explicado pela (in)questionável tradição, mas se ao menos a tradição fosse cumprida, não o foi por este marido, que consumou o casamento antes da menina atingir a puberdade. O grau de violência sobre estas crianças, violadas e abusadas, é imenso, mas o pior é que ninguém as ouve por mais que gritem e peçam ajuda . Não ajuda a família, não ajuda a sociedade, ninguém ajuda. É a tradição, dizem. Mas também é tradição não cumprir a tradição?
Como quase sempre, em situações limite, o ser humano descobre forças onde antes não existiam, e esta menina corajosa vai denunciar o marido e o pai. Tem a sorte de encontrar um juiz também corajoso que não decreta o divórcio mas sim a anulação do casamento para que aquele homem não volte a incomodá-la. A menina foi recolhida por um tio, está a salvo. Mas, até quando? Que fazer destas tradições, como ajudar estas vidas!

sábado, 19 de abril de 2008

Confiar, afinal resolve

- Que horas são? – pergunta-me o jovem (muito menos de vinte anos) que acaba de me ajudar a arrumar o carro.
- São seis horas. Por que será que há tanto movimento, tanta gente, aqui?
- Porque há jogo no Benfica. Já está tudo cheio, teve muita sorte em arranjar aqui um lugar. Podia dar-me este dinheiro todo, por lhe ter arranjado um lugar tão bom – referia-se à nota de cinco euros que eu lhe tinha dado para retirar um euro e devolver-me o resto.
- Sabe que, quando não tenho moedas, não paro, mas olhei para si e confiei – digo-lhe. Pensei: ‑ posso dar-lhe a nota que ele vai dar-me o troco.
- E vou mesmo, senhora. Vou mesmo. Não se enganou.
- Está a ver como vale a pena olhar nos olhos das pessoas!

quarta-feira, 16 de abril de 2008

A fome sempre à espreita

Países como o Haiti, o Egipto, etc., em crise de alimentos são um grande alerta para o mundo, sobretudo, para os que entendem de desenvolvimento, de economia global, de mercados e de tudo o resto, e parece ainda não terem entendido que nada há de mais importante e necessário que um saco de farinha ou de arroz, por mais lucro que dê plantar essas grandes extensões de terreno com os tais biocombustíveis ou lá o que seja. Este modelo económico, de que eu não compreendo nada, parece um trapézio sem rede, os desequilíbrios aparecem até mesmo de onde não se estava à espera. Ninguém está seguro, mas os menos seguros e mais prejudicados são como sempre os mais pobres.

domingo, 13 de abril de 2008

A paciência tem limites

Não sei o que se vai passar no Zimbabué, não prevejo nada de bom. Tive a ténue esperança de que o ditador Mugabe deixasse publicar os resultados das eleições presidenciais e aceitasse sair de cena, mas a minha tese de que nenhum ditador deixa o poder vai infelizmente confirmar-se de novo. Maldito poder, como transforma a cabeça e o coração dos homens! Infames ditadores que levam despudoradamente o povo à miséria mais absoluta, convocam uma espécie de eleições, mas quando perdem não são capazes de aceitar os resultados. O que irá fazer a comunidade internacional ? E o presidente sul-africano ? Já se passou tempo demais.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

O menino do acordeão

Encontrava-o todos os dias à mesma hora, no mesmo semáforo. Tinha sete, oito, anos, e transportava um acordeão que, mesmo sendo pequeno, era demasiado grande para o seu tamanho. Muitas vezes, se o sinal estava fechado, conversávamos e ele invariavelmente me pedia esmola. Mas naquele dia tinha outras preocupações, uma correia do acordeão tinha-se desprendido, e ele não podia tocar.
Perguntou-me: ‑ Não tem um preguinho?
- Um preguinho? Como ia eu adivinhar que ias precisar de um preguinho?
Se fosse agora, depois de ver como esse acordeão era tão precioso para ti, ia ter uma mão cheia de preguinhos.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Campo minado, perigo de morte

O dia 4 de Abril é o Dia Internacional de Sensibilização para as Minas e Ajuda em Acções Relativas a Minas. Bem é preciso que pensemos sobre este grave problema, que continua muito para além dos conflitos. São extensões imensas de campos minados, antes, bons para o cultivo e, depois, reduzidos a um cobarde campo de batalha, onde o inimigo não se vê, embora continue lá, pronto a matar, a estropiar e a aterrorizar. E assim se abandonam as terras, se impedem as pessoas de cultivar, de ganhar o seu sustento e de manter a esperança. Desminar estes campos é uma necessidade e um direito, há uma Convenção Internacional de Proibição de Minas Anti-Pessoais, em vigor desde 1999, mas muito falta ainda fazer. É que nestas questões, das armas e da guerra, sempre a política e a economia degladiam os seus interesses, esquecendo ou deixando para segundo plano a dignidade e os direitos da pessoa humana. Basta pensar, ironia das ironias, que são os mesmos que fizeram esses milhões de bombas os que agora produzem o material para a desminagem. Que círculo vicioso este!

domingo, 6 de abril de 2008

Uma dor que não acaba

Há muito tempo que a via sozinha. Deixei de ver o filho, mas não imaginei o pior. Ontem, disse-me: - O meu filho já cá não está. Já não tenho o meu filho.
Quantas vezes esta senhora me falou do filho! De como permaneceu com ele mesmo quando todos o abandonaram e teve de escolher entre ele e o resto da família; de como lutou por sucessivas recuperações; de como acreditou ao mais pequeno sinal: - Viu o meu filho, está tão bonito! Não parece o mesmo, engordou, tratou-se; de como vigiou o consumo com medo de uma overdose; de como continuava a trabalhar a dias, mesmo reformada e com mais de sessenta anos. Agora ele morreu. O inferno acabou, mas o vazio que a consome é-lhe insuportável.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

O menino da pedreira

Encontrei-o em Cabo Verde, na Ilha de Santiago. Lá estava ele, mais um dia, sentado naquela maldita posição, que lhe dava cabo das costas e lhe punha os braços que não podia mais. Horas a fio, a partir pedra. Como podia uma criança aguentar, tantas horas, a fazer paralelos para as calçadas e os passeios da cidade! Cidade que não conhecia e passeios onde nunca tinha passeado. Quando iria ele à cidade? Talvez, só daqui a muito tempo, quando crescesse mais um pouco. Não importava que a cidade não fosse longe. Para ele era.
- Ganha para aí uns trezentos escudos (três euros) - disseram-me. O que significará para ele aquele dinheiro? Pensará que é muito ou que é pouco? A quem o irá entregar? O que pensará da vida que tem? Terá sonhos? Certamente que sim, todos os meninos têm.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Meninas escravas, até quando

A propósito de uma reportagem na RTP2. Incomoda ver a vida daquelas meninas, escravas domésticas, fabris ou sexuais, nessa imensa, desigual e injusta Índia, onde o tempo passa, o progresso chega para alguns, enquanto outros continuam na mais profunda pobreza. Percebemos o que é nascer, crescer e morrer nas margens, sem ter a esperança de mudar de vida. Vemos meninas, ainda crianças, de corpo dorido, trabalhando horas sem fim na fábrica ou na casa dos senhores (há sempre senhores); vemos meninas de olhar perdido, a tremer de medo, trabalhando horas sem fim nos bordéis da cidade. Onde ficou a infância? Onde ficou a escola? Onde está o futuro? Acreditamos em organizações como a SACCS ou a STOP, mas é tempo dos governos criarem as condições para implementar e fazer cumprir as Convenções Internacionais que assinam.

sábado, 29 de março de 2008

Ainda, a violência na escola

Uma maneira de lidar com a questão da violência escolar, parece-me a mim, é tentar perspectivar as questões ao nível daquilo a que Ricoeur chama de sabedoria prática: há regras, todos sabemos, os alunos sabem, devem ser cumpridas, mas nem sempre são, umas vezes por impossibilidades práticas, motivadas por circunstâncias várias, outras vezes por escolhas e atitudes individuais. Aceite-se a dificuldade dos casos de violência, oiçam-se os que mais sabem sobre o problema, de forma discutida, concertada, sábia, para termos a certeza de encontrar as melhores respostas, mesmo que não sejam as soluções que desejamos.
Temo que a abordagem parcelar deste problema (a pedagogia, a psicologia, a sociologia, o regulamento escolar, a justiça criminal, etc. ), nos leve sempre a discursos e a procedimentos justapostos, quando não contraditórios, que em vez de reforçar a autoridade a diluem quase completamente. É o que tem acontecido.

quarta-feira, 26 de março de 2008

A violência na escola

Infelizmente não se pode dizer que a violência chegou à escola. A violência está na escola e desde há muito tempo. É uma questão tão complexa e difícil, que não tem explicações nem respostas lineares, por isso os que se têm pronunciado fazendo alarido podiam pensar nisto. Todos acabaríamos com a violência, na escola e em outros contextos, se pudéssemos. Mas denunciar é (e será sempre) a melhor maneira de minorar os problemas. As imagens gravadas pelo telemóvel de um aluno, numa escola do Porto, apesar da gravidade da situação - não é desculpável, nem o que fez a aluna nem o que fez a turma - podem ser uma oportunidade para se enfrentar com outra determinação o problema da violência em espaço escolar.

terça-feira, 25 de março de 2008

Ouvem-se os gritos !

O povo tibetano grita, mas onde estão os gritos da comunidade internacional? Têm medo de quê? De quem? Sim, é a China, a grande China. A ditadura chinesa.
A anexação do Tibete é a violação dos direitos de um povo, de uma cultura, de uma religião, subjugados ao poder e aos (des)mandos dos senhores de Pequim. Na altura dos Jogos Olímpicos aparecerão todos na fotografia, bem vestidos e aprumados, cumprimentando os poderosos deste mundo, como se nada fosse. E quem não sabe, olhará para eles e julgará que parecem santos. Que ricas personagens!

terça-feira, 11 de março de 2008

Mulheres ciganas, quando a tradição pesa tanto!

Ontem a TVI apresentou uma reportagem sobre os ciganos, ou melhor, com os ciganos: tornou-os protagonistas, coisa que quase nunca acontece. Falaram de si mesmos, da sua exclusão, dos seus sonhos, das seus modos de vida, da sua música, da sua cultura, dos seus valores. A situação da mulher cigana tocou-me particularmente - a menina de onze anos que anda no 4º ano e vai ter de deixar de estudar, dizendo o pai: "senão depois não casa, fica para aí, e nós não queremos isso para ela" ; a jovem de quinze anos, que adora moda, e está a aprender a costurar num curso de formação, a quem um dia, ao chegar a casa, comunicaram que estava noiva, a família tinha-lhe arranjado o casamento; a jovem viúva, de luto carregado para toda a vida, não poderá mais divertir-se, voltar a casar, ver televisão, ouvir rádio, como se a vida tivesse terminado ali; outra jovem viúva com o filho pela mão, que não pôs luto pelo marido, com quem já não vivia, e é por isso criticada, por mais que ande de cabeça levantada.
A questão premente é encontrar um ponto de equilíbrio, que permita, sem a oposição da comunidade e até com a sua participação, ajudar estas mulheres a terem uma vida distinta.

sábado, 8 de março de 2008

Mais uma vez as cheias

As cheias em Moçambique são uma tragédia cíclica. Demasiado frequente para que aquelas populações, já na mais profunda probreza, possam, ano após ano, perder a casa de colmo e a "machamba" com alguns alimentos de sobrevivência. Nada resta. E ao nada, acrescenta-se a desolação, o sofrimento e as doenças.
Não é possível esta incompatibilidade entre a natureza e o humano, algo falha no planeamento (se é que existe) e na ajuda a estas pessoas (sempre de emergência). Tem de ser possível encontrar outras respostas que actuem nas causas dos problemas. Não se pode imaginar que não voltará a chover e que o rio não voltará a transbordar.

terça-feira, 4 de março de 2008

Liberdade, para os prisioneiros políticos

Ingrid Betancourt tinha um sonho para o seu país. Sonhou ser presidente da Colômbia e dar o melhor de si ao povo, mas, maldição, acabou prisioneira das FARC. Há seis anos sequestrada, minada pela doença, esta mulher forte desmorona fisíca e psicologicamente. Se nada for feito, o fim está próximo, segundo algumas notícias. Aquela carta que escreveu à mãe ecoa na minha mente, como ecoam os apelos dos filhos, etc., não é possível ficar insensível. Apesar de se multiplicarem os apelos e as movimentações diplomáticas, ao mais alto nível, ela continua sequestrada, embora nos últimos meses alguns prisioneiros tenham sido libertados.
Qual é o preço para Ingrid Betancourt? Quem são os que querem tirar dividendos? Por que não é possível a sua libertação? Assistimos, sem saber .

domingo, 2 de março de 2008

A escola é a maior oportunidade

Os meninos que a SIC mostrou, em 1998, pedindo esmola nas ruas do Funchal, são hoje jovens adultos. Aparentemente, só um está bem, dá a cara, fala de si, do futuro. A mãe morreu nesse mesmo ano, e o avô foi buscá-los, a ele e à irmã. Voltou à escola, começou a trabalhar, tem uma vida normal. Um outro jovem fala, sem mostrar a cara, duma vida de problemas, e os outros dois não aparecem na reportagem: estão perdidos na vida, por causa da droga e da desorientação, um dormindo numa qualquer rua de Londres e o outro preso numa prisão da Madeira.
O bairro onde viviam foi demolido, as famílias realojadas, mas todos os problemas sociais foram atrás. Triste destino, nascer e viver em certos bairros, não ver a luz mesmo que o sol brilhe e se abram todas as janelas! Se o jovem que saiu do bairro e foi viver com o avô tivesse ficado no Funchal, a pedir esmola para o padrasto, teria tido, seguramente, o mesmo destino. É difícil, muito difícil, remar contra a maré.

sábado, 1 de março de 2008

Desespero ou maldade

Aconteceu um horrível crime, no Catujal-Loures: um filho, 40 anos, matou os pais e suicidou-se a seguir. Por mais razões que se possam aduzir, não há razões, nenhuma explicação é aceitável.

Mas, então, por que acontecem casos destes? Talvez, por um incontrolável desespero psicológico e mental, ou por um incontrolável afloramento de algo, vindo do lugar mais recôndito de nós mesmos, algo que desconhecemos, que julgamos impossível ter, mas que actos destes, cometidos por pessoas aparentemente normais, nos levam a questionar: que sabemos nós da natureza humana? Que sabemos nós da maldade que nós habita? Perturbador, não!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

"As crianças, Senhor..."

Soube-se há três ou quatro dias que em Portugal 20% das crianças são pobres, uma em cada cinco. Pronunciaram-se uns e outros, políticos, sindicalistas, pessoas ligadas à igreja e a ONG'S, e ninguém mostra surpresa, todos sabiam. Pergunta-se: e, então, por que chegámos a esta situação vergonhosa? Mais ainda, quando grande parte desta pobreza , que é a pobreza das famílias, resulta de rendimentos do trabalho, não apenas do desemprego. Alguma coisa está mal, muito mal, quando as pessoas, apesar de trabalharem oito ou mais horas por dia não ganham para viver condignamente e cuidar como é necessário das suas crianças. Todos sabiam, mas nem todos têm as mesmas responsabilidades, uns podem fazer muito mais e outros fazem tudo o que podem.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Ganhei o dia!

Ontem, encontrei num grande centro comercial uma rapariga que vendia numa loja, onde eu estava procurando algo.
- Desculpe, a senhora não é professora?
- Sou.
- Foi minha professora no 10º ano, há muito anos, na secundária do Lumiar. Está igual, lembro-me de si como se fosse hoje.
- Como é possível se já vão lá mais de 15 anos?
A conversa prolongou-se por uns instantes. Claro que eu não me lembrava dela, quantos alunos já tive nestes anos todos! Mas fiquei feliz, não sei bem porquê ou talvez saiba: é bom pensar que aqui e ali podemos ter deixado alguma marca.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Sair e ficar, tudo na mesma

Fidel Castro deixa o poder, depois de 49 anos. É muito tempo, demasiado tempo, para viver sem liberdade, sem esperança, assistindo ao desfazer de todos os sonhos. Fica o quê? Um povo à espera, uma democracia adiada, miséria, muita miséria, e a mesma retórica de sempre. Não é crível que muita coisa mude, não parece possível que possa mudar, mas a inevitabilidade da mudança chegará um dia, o que é pena é que seja necessário que morram os principais mandantes, mas claro, não estamos à espera que nenhum ditador se regenere.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Os números que dão para tudo

Hoje soube-se que o desemprego em Portugal subiu em 2007. Mas depois, vêm os que entendem de estatísticas e falam dos números conforme lhes convém, é esquisito ver como os números dão para tantas leituras. Para uns nunca se esteve tão mal, para outros que não, que estamos no bom caminho, porque o que se tem é de comparar é o último trimestre com o período homólogo do ano anterior, enfim... Mais de quatrocentas mil pessoas no desemprego, sem direito ao trabalho , com a sua vida parada ou à deriva. Quantos créditos por pagar! Quantas penhoras! Quantas expectativas frustradas! O custo pessoal e social de tudo isto tem de ser uma enormidade.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Outra vez Timor

O que há a fazer? Não podemos falar em democracias a funcionar, quando o grau de pobreza, de miséria e de falta de esperança são tão grandes para a maioria esmagadora da população, nomeadamente para os jovens. Claro que a resposta é política, claro que não questionamos a honestidade de alguns políticos, de muitas organizações internacionais e de tantas ONG'S presentes no terreno, mas, então, por que razão não conseguem uma situação de estabilidade mínima, apesar das forças militares e de segurança estrangeiras?
Outra vez um Estado sitiado e o povo à espera. À espera de sobreviver, de poder fazer coisas simples, como semear uma horta ou andar em paz pelas ruas. Ainda se vai descobrir que a resposta à violência está em grande medida na resposta que formos capazes de dar ao desenvolvimento, baseado em ideias simples e em ajudas consistentes com as pessoas e os locais. O microcrédito já começou a provar isso, porque não humilha a pessoa de mão estendida à espera de uma esmola, ao contrário, puxa pela sua auto-estima, ao dizer: acredito em si e no seu trabalho, por isso lhe empresto sem juros este dinheiro que me devolverá conforme as possibilidades que tiver. Mas claro, como é que os que ganham milhões e milhões e fazem tudo para ganhar ainda mais, entendem isto? Nunca entenderão.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Não poder olhar o rosto

A Holanda acaba de proibir o uso da burka , mesmo sendo apenas 150 as mulheres a usá-la naquele país, onde vivem cerca de oitocentos mil muçulmanos. Nem que fosse apenas uma, a lei seria igualmente importante, o que se trata aqui é de reconhecer que não podemos relacionar-nos com os outros, sem perder aspectos da nossa humanidade, se estamos impedidos de os olhar no rosto. É a própria identidade individual que está em causa, e nada há de mais fundamental, nenhuma crença, nenhum sentimento, nenhuma tradição. Ou será que há? O que faz com que pessoas educadas na Europa, vivendo em ambientes sociais livres e respeitadores dos direitos humanos, se sujeitem a isto? Há, porventura, algo da ordem da convicção profunda, onde a razão nem sequer espreita, que nos escapa. Eu por mim não entendo.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Treinados para morrer e matar

Uma reportagem da CNN mostrava um grupo de meninos, no Afeganistão, a quem a Al-qaeda treina para futuros terroristas ou mártires (depende do ponto de vista, como se sabe). Armados e encapuzados, como se fosse necessário, desde o primeiro momento, perder a relação como outro, com os outros, ficando o mais possível indistintos, despersonalizados, aprendem técnicas de terror.
Como se sentirá um menino de arma na mão a quem ensinam a matar ao mesmo tempo que lhe falam de um Deus? Será que é capaz de sentir ou já não sente? Voltará à noite a casa, jantará com os pais e os irmãos, alguém lhe dará um beijo de boa noite? Voltará a rezar a Alá antes de adormecer?

O uso de meninos pelos mandantes da guerra não é novo; a maldade humana também não, e o pior é que não cessa por decreto. Ainda que parcial, porque sempre o mal estará à espreita, é outra a resposta: racionalidade, justiça, desenvolvimento, educação, etc. Todos sabem disto.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Quando a escolha é impossível

Uma mulher francesa converteu-se ao islamismo para poder casar com um engenheiro da Arábia Saudita, com quem teve dois filhos. Foi, porventura,uma bonita história de amor e, quando é assim, nada mais há a dizer. Acontece que o senhor morre e ela quer voltar para França com os filhos. Parece uma coisa razoável, mas acontece que pela lei islâmica é à família do marido que cabe prover ao sustento dela e dos filhos. Desenha-se um imenso conflito: submeter-se e ficar ou deixar os filhos e partir sozinha. Mas como se pode escolher entre estas duas alternativas? Quantos direitos aqui estão violados? Como pode uma tradição religiosa sobrepor-se ao direito humano de cada um viver livremente como entender e onde quiser?

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Lá longe, a escola

Ontem comecei a ver uma reportagem na SIC sobre o analfabetismo e fiquei tão perturbada que fechei a televisão. Não consegui ver. Na verdade, a miséria é uma bola de neve, um problema traz outro, e outro, e mais outro ... e a dado momento a quase impossibilidade de reacção.
Aquelas imagens, de uma jovem mãe com uma filha ao colo, junto à barraca onde mora, são um quadro que nos devia incomodar a todos, pois não chega dizer que pagamos impostos (os que pagam), mas devia sobretudo incomodar, dar pesadelos, a quem tem o poder e a obrigação de fazer alguma coisa mais e não faz.

Como estamos longe de uma escola para todos, por mais que as leis e os discursos digam o contrário!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Têm um diploma, e agora ...

É grande a discussão sobre a equidade dos sistemas educativos, a própria Comissão Europeia se tem referido a isso. Há quem entenda que há uma incompatibilidade teórica entre equidade e eficácia e, portanto, mais valeria um sistema rigoroso, selectivo, em vez de um facilitismo generalizado e um descrédito social nos diplomas e na própria instituição escolar, o que a longo prazo se voltará contra aqueles que agora o sistema pretende beneficiar. Outros entendem que nunca a eficácia se pode sobrepor à equidade e argumentam a favor duma complementaridade, a partir do princípio da diferença de Rawls.
Aparentemente também nós estamos aqui: temos um sistema equitativo que diferencia em benefício dos mais desfavorecidos, com o objectivo de incluir toda a gente. Isto tem notoriamente eficácia interna - diminue o abandono e o insucesso escolares e eleva o nível de escolarização dos portugueses -, mas terá igual eficácia externa? Terão os diplomas a credibilidade necessária? Haverá respostas para o futuro dos jovens ?

É que uma escola justa não pode ser geradora de outras e maiores desigualdades.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Estão todos inocentes, não há culpados?

Se é verdade que 700 prisioneiros passaram mesmo por território português a caminho da prisão de Guantanamo, onde alguns foram torturados, alguém tem que responder por isto. Ou estão todos inocentes? Quem faz estas coisas, ou fecha os olhos permitindo que se façam, não merece a nossa confiança. É uma questão de consciência cívica, de dever moral, de vergonha na cara; não são trocos (que me importa o petróleo ou outros negócios, se estou a falar da vida de pessoas, da DIGNIDADE humana), também não podem ser estratégias para determinadas carreiras políticas. Isto virá ou não, alguma vez, a ser apurado? Haverá consequências? Se calhar nenhumas, ninguém sabe, ninguém viu.

Que justiça é esta, que Estado é este, onde tudo termina em arquivamentos, prescrições e outras coisas que tais, por mais inquéritos que se façam! Parece que é tudo para entreter o povo, e o emaranhado da lei a (des)proteger a lei .

domingo, 27 de janeiro de 2008

Acredito em Obama

Estou feliz por Obama ter ganho folgadamente nas primárias da Carolina do Sul. Dizem que Hillary Clinton tem mais experiência, um marido atrás, e que os Estados Unidos estão numa situação tal que seria bom uma espécie de "dois em um". O velho argumento dos imprescindíveis, dos salvadores da pátria, dos vencedores antecipados, ou eles ou o caos.

Por que não pode Obama ser o presidente que os Estados Unidos e o mundo precisam? Decerto que pode, porque milhões de pessoas o querem, este é o valor e a força da democracia. É tempo de algo de novo acontecer!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

A impressora era um esmero, mas não imprimia

Uma situação real: uma semana de trabalho, num país africano, um gabinete aparentemente equipado, um computador e uma impressora de última geração, e ainda assim a quase impossibilidade de poder trabalhar. É que não foi possível imprimir uma página, nem pedindo no gabinete ao lado, nem no outro, nem em nenhum lado. Há muito que a tinta para as impressoras se tinha esgotado.

Má organização ou simplesmente um dos inevitáveis paradoxos duma certa ideia de desenvolvimento?

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Em bicos de pés, mas invisíveis

Há pessoas que têm uma necessidade, para mim incompreensível, de se fazerem íntimas de tudo o que é "gente importante", conhecem toda a gente, já estiveram aqui, ali e além, são amigos, etc. , etc. Depois, vai-se a ver e apenas os conhecem da televisão, ou , na melhor das hipóteses, de um colóquio ou reunião, nunca lhes dirigiram a palavra, trocaram uma ideia ou seja lá o que for. Mas enquanto dura a ilusão também elas são "importantes".

Fico a pensar: porque será que esta gente em bicos de pés é para mim cada vez mais invisível. Se calhar sou eu que não estou bem. Precisarei de óculos?

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Imigrantes ilegais, de volta a uma casa vazia

Dizem-me que se cumpriu a lei, e que tudo foi feito. Eu sossegava se de facto este fosse um caso apenas de legalidade. Não é. É um caso de duvidosos modelos de desenvolvimento, de injustiças várias e, portanto, é um caso também de moralidade. Por isso, Portugal e todos os outros países europeus e desenvolvidos têm muito mais a fazer que simplesmente cumprir a lei.
O que aconteceria se os "Senhores de Bruxelas" fossem encerrados, tempo sem fim, numa casa vazia? Fariam tudo para sair de lá: até mesmo arrombar portas e janelas, para encontrarem uma saída e sobreviverem. É isto o que acontece com os africanos, ontem, hoje, e amanhã, repatriados para os seus países de origem.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

A menina cigana deixou a escola

A Ana contou-me, com ar preocupado: - Sabes, a minha colega, aquela menina cigana de quem às vezes te falo, deixou de ir à escola, foi proibida pela família de continuar a estudar. Dizem que está prometida, o que é isso de estar prometida, quando se tem onze anos? Não percebo!
- Também não sei Ana, ou melhor não te sei explicar, foi prometida em casamento pelos pais e vai ter de cumprir esse acordo, dizem que é a tradição. Mas, o que eu sei é que ela, como todas as crianças, tem direito à educação e a poder pronunciar-se sobre aquilo que lhe diz respeito. Quem garante os direitos às crianças ciganas?