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sábado, 8 de maio de 2021

Harmonia interior...

 Diz-me, um jovem:

- Sinto que não pertenço a parte nenhuma, tenho um desassossego interior que é também um mal estar físico. Nunca se desiludiu com nada?

- Meu caro jovem, quantas pessoas me falharam, quantos ideais sociais e políticos me falharam…. Perdi a conta, e sei que vão acontecer mais, não podemos evitá-lo. O que podemos, é fazer tudo para que esse desassossego não se transforme em desarmonia contigo mesmo. Isso depende de ti, o resto não. 

sábado, 11 de maio de 2013

Não choro a morte dos meus filhos, a droga

A sala de espera estava cheia, à nossa frente, duas senhoras conversavam sobre os netos, quando a senhora do meu lado direito me diz: “Também, com filhos assim, quem pode viver com eles? Acha estranho que eu diga isto - questiona-me? Sei que acha, muita gente não entende, mas já passei por coisas… Sei bem que, quando não se pode fazer mais nada, o melhor é deixá-los. Deixar os filhos, para não morrermos também”.
Prossegue, olhando-me: “Eu não conto a minha vida, se contasse! Não conto. Um filho morreu-me com trinta e cinco anos, na cadeia, mas ninguém o matou, foi ele que se matou, com comprimidos, davam-lhe muita medicação, tinha hepatite, sida… O outro morreu com uma overdose, com vinte seis anos, nunca trabalhou, em vez de injectar na veia, estava tão perdido, injectou-se fora da veia e morreu. Tenho muito para contar, mas não conto. Criticam-me por não ter chorado a morte dos meus filhos, não choro, sei que foi o melhor que aconteceu a mim e a eles”.
Sigo o que diz, com o olhar e expressões de circunstância: “é assim, a vida é assim, não se pode fazer nada… Não faço qualquer pergunta, mas ela continua: “O mais velho teve filhos, tenho netos…”. Penso: como estará esta mulher por dentro? Olhando-a, ninguém diria que uma tragédia (ou várias) a consomem, mesmo que repita mil vezes que não quer falar, que foi melhor assim.

E como estará, por dentro, a senhora do meu lado esquerdo? E a que está à minha frente? E a que está atrás de mim? Que sabemos uns dos outros? 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

as jovens sequestradas de Cleveland

Dez anos sequestradas, até um dia é muito tempo. O que se passou, o que se viveu naquela casa, ninguém sabe. Só as jovens podem falar daquela maldade, com requintes de perversidade. Só as jovens podem falar do inferno que viveram, Para já, a nós, parece-nos quase impossível o que aconteceu, Mas não foi. Que sabemos nós de quem vive na casa ao lado?

sábado, 7 de agosto de 2010

Situações-limite


Tenho assistido a uns programas , da parte da tarde, na RTP 2, em que se coloca uma questão, a pessoas de diferentes países e continentes. Aparentemente, uma pergunta simples, mas que pode levar a respostas que tocam o fundo da alma dos inquiridos. Ontem, a pergunta era: Qual foi o momento mais difícil da sua vida?
E as respostas, ocupando o tempo que cada um entende, pausadas, sofridas, falam da morte (do filho, do pai, da mãe, do irmão...), da guerra (relatos de sofrimento, tortura, humilhação, morte...), da prisão (própria ou de um filho...), do desemprego (relatos de miséria, descrença, humilhação...).
Ficamos a pensar até onde resiste o humano, a que ponto as situações limite nos moldam os dias, a esperança, os sentimentos, as crenças e a confiança no outro. Ficamos a pensar no que nos molda a existência, no sofrimento que nos tolda até ao limite de nós mesmos, quantas vezes sem reacção, pensando que nada mais faz sentido, que tudo é impossibilidade, demasia, excesso, dias a mais.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O tempo de que não podemos falar

Um documentário sobre "A casa tropical", casas construídas, no pós II Guerra Mundial, em cidades africanas como Brazaville (Congo) ou Niamey (Níger), coloca-nos uma importante interrogação sobre o tempo. Casas que, passados mais de cinquenta anos, já muito degradadas e desfiguradas, foram compradas, desmontadas peça a peça, metidas em contentores e levadas para o 1º mundo para serem transformadas em obra de arte. São agora exibidas em Paris, Roma, Nova Yorque. Discutia-se: são ou não património do Congo e do Níger? Devem voltar a estes países? Têm estes países alguma noção de património, de passado histórico? Alguma noção da importância de preservação do passado? Ao limite, tem noção de passado?
São os próprios a responder. A antiga proprietária da casa de Brazaville acha que ainda bem que a sua "casa" (que um francês lhe comprou e pagou bem, tirando-a da miséria) seja agora obra de arte que todos admiram, está certa de que se tivesse ficado teria sido completamente destruída. Um artista local diz: - os africanos não preservam o passado, não precisam do passado.
Não compreendo. Compreendo que, se alguém vive na mais extrema pobreza, não se interesse por guardar as pedras ou os ferros do edifício histórico, se as precisa para fazer um muro; compreendo que utilize a casa/o monumento para viver, guardar o gado ou o que seja; compreendo que se alguém que vive obcecado com a comida desse dia, não tenha como preocupação preservar marcas da história. Mas estas pessoas hão-de ter alguma noção de passado, porque ninguém escolhe ter ou não memória, temos memória, temos passado, mesmo que não saibamos que vozes o habitam, que imagens, que antepassados ou que deuses eternos o povoam. Não sabemos, mas eles sabem. É o tempo de cada um, subjectivamente vivido e pensado, de que não podemos objectivamente falar. Um tempo que existe sem precisar de qualquer marca visível.

sábado, 6 de setembro de 2008

Afinal, é uma campeã

Tenho entendido que Naide Gomes, na última semana, nuns campeonatos que não sei precisar, bateu a campeã e a vice campeã olímpicas. Isto, depois de falhar, em Pequim, contra todas as expectativas, a passagem à final do salto em comprimento e, assim sendo, falhar também a tão ambicionada medalha, que muitos e ela própria julgavam possível.
Aparentemente, não há razões para o sucedido. O que aconteceu? Por que é tão ténue e tão frágil a distância entre a glória e a desgraça, entre o sucesso e o insucesso, entre o tudo e o nada?
A atleta não perdeu as suas capacidades, é das melhores do mundo. Se voltasse a saltar, podia ganhar o ouro, mas, naquele instante, não foi possível. Nada aconteceu de extraordinário, apenas, a precaridade do humano, visível tantas vezes e em tantas situações. Há momentos em que nos superamos e há momentos em que caímos. Não somos máquinas programadas, somos pessoas.

domingo, 15 de junho de 2008

A selva urbana

Como todas as frases que se aplicam a tudo, esta corre o risco de perder o sentido. Vi umas imagens do metropolitano de Paris - a suburbana linha 13 - que a partir das cinco e meia da manhã é já hora de ponta, com funcionários nas estações a empurrar as pessoas para se poderem fechar as portas, e quase fiquei em choque. O desumano da cena, comum a todas as grandes cidades, leva-me a pensar: caminhamos para onde? E se a gasolina continuar a subir, a subir, e mais, e mais, pessoas tiverem que andar de metro? Será a ruptura? Pensaremos então em novos modos de habitar os espaços?
Aprendemos tão pouco em tantos anos de civilização! Tantas incompatibilidades com o viver simples, próximo e solidário! Por mais que usemos a retórica, a realidade que criámos esmaga-nos.

domingo, 18 de maio de 2008

Terramoto na China, uma situação limite

Sempre, o pior é o drama humano, os mais de cinquenta mil mortos, os pais que ficaram sem os filhos, os que continuam desesperadamente à procura de familiares, os filhos que não encontram os pais, etc., etc, uma tragédia que, para estes sobreviventes, não vai acabar nunca.
Podem reconstruir-lhes as casas, as estradas, as escolas, as praças, os jardins, os empregos, mas como poderão reconstruir-lhes a vida, o coração, a alma? Não é possível. Trata-se de uma experiência humana que toca o limite. É sofrimento puro. O que poderá consolá-los?