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sexta-feira, 31 de agosto de 2018

A morte de Kofi Annan


No dia 18 de agosto passado, morreu Kofi Annan. Natural do Gana, foi Secretário Geral das Nações Unidas, entre 1997 e 2006 e Prémio Nobel da Paz partilhado com a ONU, em 2001. Foi o primeiro negro a chefiar aquela organização, onde era um alto funcionário, desde há muito.
Annan era alguém a quem o mundo deve prestar homenagem, pela força, pela capacidade de falar com todos, na procura das melhores decisões. Sempre que se via Annan, via-se e sentia-se a presença de uma pessoa boa, de uma calma e de uma sensibilidade que poderiam tornar tudo menos difícil. E houve tempos muito difíceis, durante os dez anos à frente da ONU: as guerras do Ruanda, dos Balcãs, do Iraque... Em Portugal, já foi referido por muita gente o papel decisivo que teve na independência de Timor-Leste.


terça-feira, 14 de agosto de 2018

A educação em direitos humanos


Os direitos humanos vão para além da vida cívica, na comunidade e nas relações com o Estado e as instituições; respeitam ao género humano, àquilo que é pertença de todos os homens por ser próprio da sua natureza racional. 
Trata-se de uma aprendizagem global – não, apenas, porque o seu horizonte é toda a humanidade – mas também pelo facto de termos de assumir responsabilidades, num mundo cada vez mais aberto, onde os problemas de uns não podem deixar de dizer respeito também aos outros, passem-se lá longe ou na rua que acabámos de atravessar.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Lá longe, a França


Nenhuma memória é mais real, mais marcada e mais continuada na minha vida do que a da emigração. Naqueles idos anos sessenta, a França era uma realidade diária, estava nas ruas, nas conversas e nas vidas de todos os habitantes. Se víamos duas ou mais pessoas a conversar na rua era quase certo que falavam de familiares a viver em França.
Não havia família que não tivesse alguém naquele país. Em muitos casos, todos estavam lá, tinham ficado, apenas, os avós, já de idade. O mesmo acontecia com a minha família. De algum modo, eu, a minha mãe, os meus irmãos, os meus avós, tal como o resto das pessoas daquela terra, também estávamos vivendo nos arredores de Paris.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

“Já estive na América” - diz-me a senhora


Cheguei muito cedo à estação do porto do Pico. Queria apanhar o primeiro barco do dia. A sala de espera estava deserta; passado algum tempo, chegou uma senhora com mais de meia cesta de ovos, empilhados uns em cima dos outros, como antigamente se fazia.
- Vai ao médico – pergunta-me?
Percebi que eu podia ser dali. Na verdade, nesta ilha, a pronuncia não é acentuada.
- Não, estou a passear, vou passar o dia ao Faial.
-Ah! Não é daqui! Achei estranho, não a ter visto antes.
- Sou da Guarda, não longe da serra da Estrela, a segunda montanha mais alta de Portugal, a seguir ao Pico.
- Nunca fui ao continente. Mas já estive na América, tenho dois filhos na América.
Não refere a cidade, nem o Estado, diz na América, como se se tratasse duma coisa única, duma identidade. E tem razão; quando um açoriano diz «América», fica-se a saber tudo. Sabemos do que fala.
Quase em cima da hora do barco, aparecem os que vão trabalhar, os que vão de facto ao médico, ao tribunal ou a outra instituição pública que só há na  cidade da Horta.
Entrámos, pouca gente. Só para mim, aquela travessia parecia uma novidade. Deixei-me levar, olhando a ilha que ficava para trás, o mar revolto, as enormes ondas e, pouco tempo depois, o porto da Horta. A cidade parece um alpendre, ao longo daquela baía, em declive, roçando o mar. À saída  a senhora, com quem tinha falado no Pico, quase me esperou para me desejar um bom dia. Agradeci.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

A identidade de género


Acaba de ser promulgada a lei sobre a identidade de género, depois da primeira ter sido vetada pelo Presidente da República que a devolveu ao Parlamento com algumas recomendações. 

A identidade de género, quando alguém tem traços biológicos e físicos de determinado género, mas  se identifica com o outro género, ser homem em corpo de mulher ou mulher em corpo de homem, é uma questão humana séria. Trata-se de reconhecer uma necessidade básica, anterior a quaisquer outros direitos: a identidade pessoal de cada pessoa, perante sim mesma e perante os outros.