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sexta-feira, 16 de julho de 2021

A lei húngara

 A lei aprovada, recentemente, na Hungria, contra a comunidade LGBT, viola os direitos humanos.  

Sou contra essa lei, porque sou contra qualquer tipo de discriminação que não respeite o que é a liberdade individual. É esta liberdade que funda todos os direitos; se aceitamos pôr em causa este princípio, qualquer arbitrariedade é possível. É uma questão de dignidade humana.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

A identidade de género


Acaba de ser promulgada a lei sobre a identidade de género, depois da primeira ter sido vetada pelo Presidente da República que a devolveu ao Parlamento com algumas recomendações. 

A identidade de género, quando alguém tem traços biológicos e físicos de determinado género, mas  se identifica com o outro género, ser homem em corpo de mulher ou mulher em corpo de homem, é uma questão humana séria. Trata-se de reconhecer uma necessidade básica, anterior a quaisquer outros direitos: a identidade pessoal de cada pessoa, perante sim mesma e perante os outros.

terça-feira, 14 de março de 2017

Fotografias de guerra

Sou a favor de que se editem reportagens e fotografias de guerra. Nem tudo o que é filmado ou fotografado pode ser exibido, pois, há um ponto em que se toca, profundamente, na dignidade de alguém. E isso não é possível acontecer.
Mas sou sensível ao argumento de que, sem o impacto de fotografias, como a da criança vietnamita, em chamas, nua, correndo numa estrada, fugindo de um ataque com napalm ou mais recentemente a daquela criança síria, dando à costa, numa praia, o mundo não tinha acordado, da mesma maneira, para o drama das guerras de que foram vítimas. Ao tornarem-se ícones, podem tornar-se decisivas para a tomada de consciência, para o debate e a reflexão sobre o absurdo da violência.
Ainda assim, a menina vietnamita e o menino sírio, não merecem ser exibidos, durante décadas ou sabe se lá quanto tempo, em exposições pelo mundo, se isso supuser perder essa integridade, de que falo, e que, temo, a banalização e a falta de contextualização possam destruir.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Os meninos de São Judas, o filme


O filme fala dos meninos do reformatório de São Judas, na Irlanda, em 1939. Revela uma realidade que, apesar da brutalidade de algumas práticas, como o abuso sexual e a tortura física, se prolongou, por muitas décadas, em instituições similares – e é por isso que aquela violência parece quase não nos surpreender.
Mas há sempre um limite. Tínhamos assistido à tortura dos dois jovens, debruçados sobre um banco comprido de madeira, rente ao chão, com o resto dos companheiros a assistirem – tal como se torturavam, há séculos atrás, os escravos, presos ao tronco, em espectáculo público, para que todos vissem o que lhes podia também acontecer se ousassem desobedecer – mas não estávamos preparados para a cena do assassínio de Liam, a quem o padre John mata à chicotada e  pontapé.
O padre mata por motivos impossíveis de compreender. Quer saber por que apareceu no reformatório um professor laico, William Franklin. "Será comunista"?
O professor trata os jovens como pessoas, pelo nome próprio, promete responder às suas perguntas e levá-los a pensar para lá de si próprios e dos muros do colégio. Na noite de Natal, oferece a todos uma prenda, um livro, que contém algo de especial para cada um – poesia, literatura, teatro, vida, sentimentos, comprometimento… Os miúdos decoram frases, versos, fazem coros, récitas, teatros…
Algo de novo aconteceu e o padre John não aguenta. Estes são fantasmas que se prolongam por décadas. De algum modo, todos somos testemunhas, eu própria recordo uma adolescência e um início da idade adulta em que o comunismo era uma palavra maldita, como não seriam as pessoas que tinham essa ideologia e se empenhavam em transmiti-la? Excomungadas, obviamente. Ainda, hoje, não percebo nada. Mas, depois de sabermos o que se passou, nessa Europa de Leste, quando se derruba o muro de Berlim, vemos que nunca há o branco e o preto, mas nada justificava a paranoia e a maldade do padre John.
Franklin luta com todas as suas forças até os abusadores saírem de cena. (Sabe -se, no final do filme, que o padre Mac, o dos abusos sexuais, vai para os Estados Unidos, é-lhe dada uma paróquia e ainda vive; o padre John, o torturador implacável, é mandado para África e morre em 1969).  Decide, então, abandonar o colégio, mas não resiste à despedida, particularmente, à atitude de um dos jovens a recitar-lhe poesias do livro que lhe dera. Franklin quebra. Não pode deixá-los já. Fica por mais cinco anos, alistando-se depois nas tropas aliadas. Morre, na frente de batalha, em 1944.
Para a sua luta é o fim, mas quantos começos não tinha já deixado atrás, junto dos jovens do colégio São Judas! Quantos começos não deixa, ainda, hoje, naqueles que vêem o filme e percebem a força de uma consciência! Nem tudo são entardeceres, mesmo nestes sombrios colégios. Viva o professor Franklin! 

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O véu islâmico integral

Em França, foi proibido o uso do véu islâmico integral. Eu estou de acordo, absolutamente de acordo. Sei bem que há aqui um conflito de valores, sei bem que há aqui liberdades individuais, sei bem que há muita discussão...
Mas se tivéssemos alguma dúvida de que lado estar, bastaria ver aquele grupo de mulheres, todas cobertas, apenas com os olhos a reluzir, dando uma conferência de imprensa, logo a seguir à aprovação da lei: veio-me à mente a imagem de outras conferências de imprensa em que indivíduos encapuçados se reunem atrás de uma mesa para falar aos jornalistas. Faltavam as armas e as intenções (perdoem-me, sei que isto é violento e injusto, porque estas mulheres são pacíficas, integradas, mães de família, não duvido disso), mas a imagem é igualmente tétrica. Nenhum ser humano pode estar sujeito a isto, seja qual for a crença, esta é uma questão básica de dignidade humana que se sobrepõe a tudo o mais, do ponto de vista dos valores e dos direitos humanos. O direito a um rosto, a uma identidade, a um ser para os outros. É a base do humano.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Os padres, o vaticano e tudo o resto

Quase sempre, resisto a escrever sobre religião, por respeito, por incapacidade de análise, por ignorância... Mas quando se trata de analisar factos concretos, é possível opinar, falar, mesmo com toda a falta de claridade, visto o fenómeno permanecer, em muito, na penumbra. Que há padres pedófilos e crianças e jovens abusados, parece não haver dúvida, se é mais nos Estados Unidos, na Alemanha, aqui ou ali, não sei, haverá em muitos lados, a natureza humana não muda por mudar a geografia. Mas a mesma natureza humana dotou-nos de livre arbítrio, de vontade, de capacidade de distinguir o bem do mal, não há desculpa para isto. Mas é certo que daqui não decorre que todos os padres pratiquem semelhantes abusos ou que neste grupo se pratiquem mais que noutros. Certo é que é um crime, maldade pura, continuada, ignorada, escondida, por anos e décadas, muito mais grave do que nos querem fazer crer. Quem tem culpas? Muita gente, certamente. Veremos até onde vai e como é tratado todo este abuso.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Aminetu Haidar, mulher saraui

Num texto muito bonito, em que fala sobre a sua experiência num campo de trabalhos forçados da Alemanha nazi, Lévinas conta como a sua vida e a dos seus companheiros, integrando um comando florestal de prisioneiros israelitas, era uma espécie de parênteses. Pois, apesar de continuarem a sentir interiormente "um múrmúrio da sua essência racional", apesar de terem pensamento e vocabulário, eram seres sem linguagem. Seres encerrados em si mesmos, condenados a “significantes sem significado”. Para as pessoas ditas livres, com quem se cruzavam, de quem recebiam ordens ou mesmo um sorriso, não passavam de seres quase humanos. Em circunstâncias de perseguição, tortura, humilhação, em que a autonomia, a liberdade, se suspende, apesar da vida continuar e de, em muitos aspectos, continuar na mesma, nada é igual.
A propósito, penso na activista saraui que tem resistido a ser um ser sem linguagem. Veremos a que preço. Continua retida, no aeroporto de Lanzarote, em greve de fome, desde de 15 de Novembro, impedida de regressar ao Saara Ocidental pelas autoridades marroquinas.