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terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Balanço do trabalho da Amnistia Internacional (2)

FORÇÁMOS OS MAIS PODEROSOS A MUDAREM AS SUAS AÇÕES
4) Foram muitas as situações em que 2019 nos mostrou que juntos somos mais fortes e o projeto Dragonfly é um bom exemplo. A Google pretendia ajudar a China a levar a censura a outro nível, com uma plataforma que permitia vigiar online as pesquisas de todas as pessoas. Uma campanha mundial fez o projeto ser extinto.
5) Pela primeira vez na história, o Comando dos Estados Unidos para África teve de admitir – após o relatório que emitimos – que alguns dos ataques aéreos que realizou na Somália mataram e feriram civis, o que é proibido pela lei internacional para conflitos armados.
6) Todos os anos a marcha pelos direitos das mulheres acabava em violência na Ucrânia, com elementos da extrema-direita a atacar as manifestantes perante a passividade da polícia. Após um ano de campanha com a ativista Vitalina Koval, que esteve em Lisboa, a marcha de 2019 teve proteção policial e decorreu de forma pacífica.
7) Angola recebeu finalmente uma delegação da Amnistia Internacional, incluindo o nosso diretor-executivo, Pedro A. Neto, e reconheceu falhas na atribuição de terras de povos indígenas a fazendeiros comerciais.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Balanço do trabalho da Amnistia Internacional em 2019 (1)


AJUDÁMOS A LIBERTAR PESSOAS E A SALVAR VIDAS
1) Um dos casos mais mediáticos talvez seja o do futebolista Hakeem al-Araibi. Reconhecido crítico do governo do país onde nasceu, o Bahrein, esteve 76 dias detido na Tailândia após um falso alerta vermelho lançado pela Interpol. De regresso à Austrália, onde está refugiado, garante não ficar calado.
2) Longe dos holofotes de grande parte do mundo, ajudámos a salvar a ativista da Arábia Saudita, Israa al-Ghomgham, condenada à morte por participar pacificamente em protestos, e o blogger mauritano Mohamed Mkhaitir, condenado pelos conteúdos que publicava no seu blogue.
3) Após intensas campanhas, saíram em liberdade também os dois jornalistas da Reuters que vê na imagem em cima, o jornalista Behrouz Boochani, o realizador ucraniano Oleg Sentsov, o refugiado Ahmed H, o jornalista moçambicano Amade Abubacar, entre tantos outros.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Bom Natal


Desejo a todos um  Bom Natal. Contra todas as discriminações, deixo um poema.  


A cor que se tem 

Quando for crescida
Hei-de inventar
Um perfume de encantar.
 Quem o cheirarhá-de ficar
Com a cor da pele
Que mais gostar.
 Branco ou amarelo
Se preferir
Preto ou vermelho
É só decidir.
 Para alegrar
até vou pensar
Outras cores acrescentar.
 Cor de rosa
Verde ou lilás
São cores bonitas
E tanto faz.
 E assim,
Há-de chegar
O dia de acreditar
Que o valor de alguém
Não se pode avaliar
Pela cor que se tem
 E então,
Tudo estará bem.
 
                                (Maria Cândida Mendonça



quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

É tempo de Natal


Por mais banais e repetidas que pareçam as palavras e as expressões, devemos usá-las: bom Natal, muitas prendas no sapatinho, harmonia familiar, festas felizes… 
Por mais banais que pareçam os mesmos encontros, os mesmos almoços, os mesmos jantares...,  devemos sair de casa e participar em partilhas de Natal.  
Pode haver e haverá hipocrisias, fachadas, sorrisos de circunstância, pessoas que se desdobram em em iniciativas destas para ganharem palco, visibilidade, seja o que for. Não é nada de novo; a maioria tem sentimentos verdadeiros e isso é o que conta. 


segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Cimeira do clima das Nações Unidas – COP25



Há vinte cinco anos que se realizam, em diferentes cidades do mundo, conferências sobre o clima. Apesar disso, chegámos a um ponto que é já de emergência, com os efeitos das alterações climáticas sempre piores do que se tinha previsto. Ou seja, pode mesmo acontecer que um dia seja tarde de mais; é isto que os Estados Unidos, o Brasil, a China… parecem não entender.



terça-feira, 10 de dezembro de 2019

10 de dezembro - Dia Internacional dos Direitos Humanos



No dia 10 de dezembro de 1948, foi proclamada, em Paris, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento fundador que reconhece a todos os seres humanos a mesma dignidade e os mesmos direitos.
 Passaram 71 anos e, apesar do caminho feito, todos os dias surgem violações, atropelos e discriminações. O ponto é de contínuo estado de alerta, a este nível,  nada está adquirido, como sabemos.
Em Portugal, quero lembrar os sem abrigo, as vítimas de violência doméstica, as condições de desamparo em que vivem muitos idosos…; quero lembrar também os voluntários e as associações  que incansavelmente trabalham nesta área dos direitos humanos.  

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Greta Thunberg (2)


Estive a ouvir com atenção o discurso de Greta Thunberg na sua chegada a Lisboa; interessa-me sobretudo perceber a questão da instrumentalização de que possa ser vítima.

Dois pontos me parecem relevantes: primeiro, o discurso é muito articulado, fala sem qualquer tipo de dificuldades sobre os temas das alterações climáticas, colocando ênfase no que dizem os cientistas e na ação dos políticos; segundo, não parece aceitável que uma jovem de dezasseis anos não frequente a escola e não tenha a estabilidade familiar, social…, de que precisa para a sua vida.

Também, há nela radicalismos que não levam a lado nenhum, porque, embora a realidade nos esmague, não temos outra. Precisávamos voltar a uma vida simples, sem aviões, plásticos, emissões de carbono…, mas isso só será possível, encontrando pontos de equilíbrio.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Greta Thunberg (1)

Foto: TVI24

 É recebida em Lisboa com se fosse uma estrela. É uma estrela, pelo que já fez e continua a fazer a favor duma  consciência global dos perigos que atingem o planeta.
É recebida pelo presidente da câmara de Lisboa, pelo presidente da comissão do ambiente da Assembleia da República, por associações ambientais e por jovens portugueses ativistas que foram para a receber e também para afirmar envolvimento e compromissos que operem mudanças, para os problemas já conhecidos. Há muito que se sabe que não chegam discursos e belas intenções.

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Joacine Katar Moreira: a desculpa da deputada

Foto: Partido Livre


É uma jovem de 37 anos, com licenciatura em história, mestrado e doutoramento, de quem esperávamos argumentos válidos, posições fundamentadas, responsabilidade e lucidez para levar a cabo o mandado de deputada que não a representa apenas a ela, mas ao programa do partido – Livre – e a todas as pessoas que votaram nele.
O que não fez, quando se absteve na votação contra a ocupação de Gaza por Israel. Dá como justificação a falta de orientação do partido e as dificuldades de contacto – o que é irónico, num tempo como o de hoje, em que todos andam com um ou mais telemóveis.
Mas o que me parece mais triste, aqui, é a desculpa, quase infantil: «não fui eu que parti o jarro, foi o meu irmão». Claro, que o partido tem de atuar.

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

José Mário Branco (1942-2019)

José Mário Branco (Foto: Diário de Notícias)
Morreu ontem um homem  de luta pela liberdade, obrigado a exilar-se, porque foi objetor de consciência, um revolucionário de Abril, um ativista político, cívico, poeta, músico, cantor..., que incarnava como poucos  uma ideia de sociedade que, pouco a pouco, se foi esboroando. Viu-o, não há muito tempo, num concerto do fadista Camané e fiquei a pensar na força de uma consciência.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

A mãe que deitou o filho no caixote do lixo

Foto: INEM 
Por mais que existam atenuantes, dramas vários, múltiplas rejeições..., na vida desta mãe, de 22 anos, sem-abrigo, que, depois do parto, ocorrido na rua,  sem  qualquer apoio,  colocou o filho num caixote do lixo, é inaceitável o que fez, pela desumanidade, por tudo...
Não descortino, por isso,  como se pode reduzir tudo ao plano social. Não descortino, como há quem  considere tratar-se apenas de um crime de  exposição ao abandono. É muito mais do que isso, obviamente, a não ser que se venha a provar que ela não tinha consciência do ato.
Por outro lado, também é incompreensível, como é que o Estado não consegue atuar, através das instituições e  das técnicas competentes, na ajuda atempada, a vidas miseráveis como esta.

sábado, 9 de novembro de 2019

O Muro de Berlim - caiu há 30 anos



Uma parte do  Muro de Berlim  
Este muro separava os dois blocos geo-políticos que resultaram da II Guerra Mundial, no período designado de Guerra Fria: o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, e o Leste, liderado pela União Soviética. Foi construído em 1961, separava a mesma cidade, em Berlim Ocidental e Berlim Leste, e o mesmo país, em República Federal Alemã (RFA) e República Democrática Alemã (RDA). Caiu em 9 de novembro de 1989, depois do colapso da União Soviética.

Estive em Berlim, há uns anos, frente ao que resta do muro, deixado para memória das futuras gerações; por mais que nos esforcemos, não se compreende o facto da sua construção, tal como não se percebe esta impossibilidade de, depois de guerras, não haver soluções que permitam a inclusão de todos, vencedores e vencidos. Aconteceu o mesmo na Coreia, no Vietname, no Sudão…, há sempre uma política dos interesses a sobrepor-se a valores.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Centenário do nascimento de Sophia de Mello Breyner


Foto: CNC.pt 

Deixo um poema, dessa enorme poetisa (1919- 2004):

Liberdade

Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.
Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, 27 de outubro de 2019

O camião do terror, trinta e nove mortos

Malditas máfias, maldita pobreza, malditas circunstâncias…! 39 pessoas, 31 homens e 8 mulheres, morrem dentro de um camião frigorífico, quando tentavam entrar clandestinamente no Reino Unido. Trinta e nove pessoas, com vidas, sonhos, famílias…, tudo desfeito.
É tal o grau de clandestinidade e de rede que não se sabe ainda quem são; primeiro, pensou-se que eram todos chineses, agora, já se pensa que há vietnamitas…; espero que se saiba verdadeiramente quem são, o que aconteceu e os responsáveis sejam devidamente punidos.
Pagaram quantias impensáveis a bandidos, para acabar assim. Mortes que se juntam a tantas outras, no Mediterrâneo e em campos de detenção saturados e insalubres.
Na verdade, a imigração ilegal é um problema que se agrava a cada dia, ao mesmo ritmo com que crescem as desigualdades, a guerra e a fome.


quinta-feira, 17 de outubro de 2019

A maldade não tem limites


Quando a gente pensava que os horrores da II Guerra não se repetiriam, que a humanidade tinha aprendido alguma coisa, vemos que a maldade humana continua a tomar formas tão ou mais cruéis. Falo das jovens nigerianas aliciadas a ir para Lagos, a capital do país, para trabalharem como empregadas domésticas, e acabavam presas e engravidadas em série por indivíduos que a seguir vendiam os recém-nascidos.
Mas que mundo é este? Onde está o respeito pelo ser humano?
Alguns dos bandidos da rede, talvez, rezem cinco vezes por dia ao profeta, talvez tenham família e uma vida de aparência normal, mas não passam de monstros. 

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Nobel da Paz 2019


Abiy Ahmed Ali, de 43 anos, primeiro-ministro da Etiópia, ganhou o Prémio Nobel da Paz pelos seus esforços na paz assinada entre o seu país e a Eritreia, que durava há vinte anos. Está empenhado em dar passos para a democracia, os direitos, a justiça e o desenvolvimento do seu povo, mais de 100 milhões de pessoas. 
Ocupa o poder há pouco tempo, desde abril de 2018, mas já se percebeu a força da sua consciência, das suas convicções e da sua ação política. Oxalá os retrocessos e as pedras no caminho não sejam inultrapassáveis e aquele país e aquela região possam ser exemplo para muitos outros países africanos!

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Cidadania ética

questão hoje é a de saber como lidar com o pluralismo moral. Adela Cortina, filósofa espanhola, fundamenta uma resposta interessante: articular o bem e o justo. Ou seja, para que as sociedades se possam organizar e dar as respostas sociais que esperamos, há uns mínimos de justiça que todos têm de aceitar – liberdade, igualdade, diálogo e respeito –  algo da ordem do normativo, exigido a todos, no espaço público.  

A partir daqui, todos podem viver, privadamente, com a sua ideia de bem, prosseguindo os fins bons que entenderem, conforme os  seus valores pessoais, familiares, culturais, ideológicos.... 


Ao incluir o diálogo e ao exigir atitudes de abertura e de disponibilidade, a intenção é criar a possibilidade de conhecermos valores diferentes dos nossos que possamos reconhecer e  estimar

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Eleições legislativas do próximo domingo


A campanha eleitoral está nos últimos dias; os políticos dos diferentes partidos dão o tudo por tudo para convencer eleitores, nomeadamente, os indecisos ou os abstencionistas.
Muitos cidadãos não votam; é elevada a abstenção em Portugal, pelo simples facto de acharem que não vale a pena, de acharem que sempre a situação se repete, mais ou menos, do mesmo modo. O meu ponto é que o voto é um direito, não um dever, sou contra o voto obrigatório, mas se não participamos não podemos contribuir para que as coisas mudem. O voto é fundamental às democracias.
O caso de Tantos dominou a campanha; outros assuntos, como a saúde, os impostos, a segurança social, a justiça…, ficaram para segundo plano. Ora, a discussão sobre os problemas e as soluções para a vida das pessoas têm de ficar claras e não parece que isso tenha ocorrido.


quinta-feira, 26 de setembro de 2019

A Cimeira de Ação Climática


Convocada pelo Secretário Geral da ONU, ocorreu a 23 de setembro. Tem no seu título uma exigência: quem vier e quiser discursar não pode continuar com abordagens gerais e abstratas sobre os problemas das alterações climáticas. Tem de trazer compromissos e ações concretas que minimizem o que se passa com o clima e ao qual muitos líderes políticos teimam em não dar a importância devida.

Temos todos de perceber melhor o que é o aquecimento global, o efeito de estufa, a destruição dos ecossistemas, o degelo das calotes polares e dos glaciares e a subida da água do mar, os fenómenos meteorológicos extremos…, para que a consciência do problema nos leve a comportamentos a favor do clima e da preservação do planeta, a começar na nossa casa e no nosso quotidiano.


terça-feira, 17 de setembro de 2019

Carolina Beatriz Ângelo: a primeira mulher a votar em Portugal


 Nasceu na cidade da Guarda, em 1877, numa família de ideais republicanos. Foi médica, a primeira cirurgiã mulher, e também uma ativista política e social, criando ou integrando, com outras companheiras, movimentos para a emancipação da mulher, nomeadamente o direito de votar.

Quando em 1911, a primeira lei eleitoral da república dizia que tinham direito de voto os «cidadãos portugueses com mais de 21 anos que soubessem ler e escrever e fossem chefes de família», sem especificar se eram homens ou mulheres, Carolina Beatriz Ângelo, viúva e com uma filha, considerou que era chefe de família e pediu o recenseamento eleitoral.

Foi-lhe negado; recorreu para o tribunal e num veredicto de um juiz sensível aos direitos das mulheres (pai de Ana de castro Osório, outra sufragista) foi-lhe concedido o direito de votar. Escusado será dizer que a próxima lei eleitoral já referia «chefes de família homens».

Morre aos 33 anos, em 3 de outubro de 1911, quatro meses depois de votar para a assembleia constituinte.  

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Ainda sobre o papel da educação


Quem deu à luz um monstro, está obrigado a amamentá-lo.

                                                                                           (Provérbio africano)


Quem criou um monstro, o ajudou a crescer, está obrigado a conviver com ele, pois, de algum modo é responsável por aquilo em que esse ser se transformou. Este provérbio mostra bem como a acção de criar, de ajudar a crescer, de educar, é tão fundamental. 

Educar é uma verdadeira responsabilidade. Como criamos? Como educamos? Que valores, ideias e sentimentos colocamos no coração e na mente daqueles a quem educamos? 

Se crescemos a aprender a odiar, é normal que odiemos; se crescermos a aprender a amar, a escutar, a cuidar...é natural que sejamos capazes de ser pessoas íntegras, na nossa vida pessoal, familiar, comunitária...


sábado, 7 de setembro de 2019

A morte de Roberto Mugabe


Morreu o ditador que governou durante 37 anos o Zimbabué, deposto em 2017 por um golpe do seu próprio partido. Lutou contra os ingleses, os colonizadores do seu país, mas foi incapaz de criar um país justo, próspero e respeitador dos direitos humanos. Ao contrário, houve repressão, tirania, corrupção, colapso do sistema financeiro e económico…, uma tragédia que transformou aquele país num dos mais pobres do mundo.

Portou-se como um vilão, de resto como muitos outros chefes de estado africanos que, a seguir às independências, foram incapazes de ser pessoas decentes: enquanto cresciam os seus palácios e as suas contas no estrangeiro o povo vivia na mais extrema miséria.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Um provérbio sobre educação: «Não dês o peixe, ensina a pescar»

Não dês o peixe, ensina a pescar

                                                                               (Provérbio chinês)


 Parece óbvio, pois, quem sabe pescar, se tiver condições e vontade, pesca.

É isto educar: dar ferramentas, conhecimentos, desenvolver capacidades e tornar possível determinadas atitudes e comportamentos.


Mas, é mais que isso. Educar é também um modelo de desenvolvimento, por exemplo, os países do Terceiro Mundo só se desenvolverão de forma sustentada se “forem ensinados a pescar”, se desenvolverem as suas capacidades e os seus conhecimentos, se aliarem, de forma consistente, o saber, a técnica e os recursos naturais.


Na educação, está a chave para o desenvolvimento e a justiça globais.
  


quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Os incêndios na Amazónia


Os incêndios na floresta amazónica têm, nos últimos meses, ganho um enorme destaque, chegando o tema a ser discutido na reunião do G7, os sete países mais industrializados do mundo.  

Há, desde logo, a questão ambiental: é a maior floresta tropical do mundo; possui a maior biodiversidade num território daquela dimensão (5,5 milhões de quilómetros quadrados), são 10% do oxigénio de todo o planeta…, portanto, o assunto não pode ser apenas um problema do Brasil.

Provocados por mão humana, criminosa, na maioria das vezes, acontecem, para desmatar terrenos, onde instalam grandes produções agropecuárias; para abrir clareiras e estradas, que permitam o corte e o transporte das árvores com valor comercial; para explorar o ouro dos rios e tudo o mais que der dinheiro.

Mas há também a questão das populações indígenas que são afetados nos seus modos ancestrais de vida. Desrespeitados e encurralados num território que de facto lhes pertence. Como se pode falar da Amazónia, sem colocar em primeiro lugar voz dos aí vivem e aí pertencem? O que querem as populações da Amazónia? Que tipo de desenvolvimento querem? 


sábado, 17 de agosto de 2019

Sentido humano

Independentemente de raças, etnias, crenças, culturas…, só há uma humanidade e, portanto, seja qual for a situação política, social, económica, religiosa…, em que nos encontremos mergulhados, o compromisso é com todos os seres humanos, sem exceção.
De algum modo, todos caímos ao mar mediterrâneo, todos estamos detidos em campos de detenção para migrantes, todos resistimos em campos de refugiados, todos somos apátridas, todos somos sem abrigo, vagueando pelas cidades, todos somos sem terra …

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Violações de Direitos Humanos


Sei que o tempo é de férias, mas tenho de escrever sobre temas tristes. Muito tristes, como se  a maldade continuasse à solta.

Barcos de ONG’S, que salvam vidas no Mediterrâneo, continuam sem porto aonde poder atracar. Ninguém os quer (nem Itália, nem Malta, nem Chipre, nem Espanha…). A lei internacional é letra morta.

Maduro, o presidente da Venezuela, cada vez mais alucinado, grita, grita, contra as sanções dos Estados Unidos e mobiliza os seus fiéis, com a mais pura propaganda. Entretanto, o povo vai morrendo, sem comida, medicamentos e o mais básico para a sobrevivência.  

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Tiroteios nos Estados Unidos - sem tréguas!


Os tiroteios sucedem-se a um ritmo que parece uma guerra aberta, sem quartel; as mais pacatas comunidades são atacadas por indivíduos que as integram.
No último fim de semana, em dois estados, Texas e Ohio, dois jovens, com um intervalo de 13 horas, mataram 31 pessoas, o primeiro 22 e o outro 9. Mataram com armas de guerra e ódio expresso às minorias, nomeadamente, aos mexicanos.
O presidente Trump revelou a cegueira de sempre: a sociedade é violenta, por causa dos videojogos, o problema não são as armas, mas as perturbações mentais. Pode ser, não digo que não, mas sem armas aqueles jovens não teriam feito tamanha matança. Para quando a revisão da lei das armas numa América em que se matam quotidianamente uns aos outros?

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Novo Blogue

Hoje, comecei um blogue sobre a minha terra.
Para os que tiverem interesse fica o endereço: https://aguasbelassabugal.blogspot.com/

quarta-feira, 31 de julho de 2019

Um poema de Mahatma Gandhi

(Tudo o que importa na vida, está neste poema).

À DESCOBERTA DO AMOR

Ensaia um sorriso
e oferece-o a quem nunca teve nenhum.

Agarra um raio de sol
e desprende-o onde houver noite.

Descobre uma nascente
e nela limpa quem vive na lama.

Toma uma lágrima
e pousa-a a quem nunca chorou.

Ganha coragem
e dá-a a quem não sabe lutar.

Inventa a vida
e conta-a a quem nada compreende.

Enche-te de esperança
e vive à sua luz.

Enriquece-te de bondade
e oferece-a a quem não sabe dar.

Vive com amor
e fá-lo conhecer ao mundo.

                                                     Poema de Mahatma Gandhi




terça-feira, 30 de julho de 2019

As alterações climáticas - uma causa que move os jovens

Por toda a parte, em mais de cem cidades, jovens  manifestam-se a favor do clima  e pela salvação do planeta. Juntam as suas vozes à da jovem sueca que, há mais de um ano, todas as sextas-feiras, não vai à escola para se manifestar junto ao parlamento do seu país. A urgência é tal, e o impacto tem sido tanto, que ela já discursou nas mais altas instâncias internacionais - ONU, Conselho da Europa... - levando a tomar consciência do que está em jogo e da necessidade de todos participarmos.

domingo, 21 de julho de 2019

Ilhan Omar – a congressista que enfrenta Trump


É uma das quatro congressistas pertencentes a minorias étnicas, eleitas para o congresso americano, pelo Partido Democrata, alvo de críticas e comentários racistas por parte do presidente Trump
Esta mulher, a mais nova de sete irmãos, nasceu na Somália, perdeu a mãe aos dois anos, a família fugiu da guerra civil do seu país e esteve quatro anos num campo de refugiados no Quénia, antes de obter asilo nos Estados Unidos, no Estado do Minnesota. Tem a cidadania americana desde os 17, há vinte anos. Estudou ciência política e relações internacionais e envolveu-se na política do seu estado; este ano foi eleita para o congresso federal.
Trump não a amedronta, pelo contrário, dá-lhe força para falar dos migrantes detidos em centros com condições degradantes e de muitos outros temas. Já avisou que não foi eleita para ficar calada.   

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Contra a xenofobia e a indiferença

Ontem, mesmo,  Salvini, o ministro italiano do Interior, quer que se faça um exaustivo recenseamento de todos os ciganos para, a seguir, serem expulsos de Itália.  A xenofobia cresce a olhos vistos por toda a Europa: ou, de uma vez por todas,  nos empenhamos a fazer tudo o que pudermos, ou um dia qualquer a indiferença bate à nossa porta.  Não escapa ninguém. Deixo um poema (que já divulguei outras vezes) de um poeta alemão que sabia bem do que falava.

A Indiferença

Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.

Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque não sou operário.

Depois prenderam os sindicalistas,
Mas não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir chegou a vez
de alguns padres, mas como não sou religioso, também não liguei.

Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde

(Bertolt Brecht)



quinta-feira, 11 de julho de 2019

Ainda sobre o reconhecimento cultural (2)

Na etnia cigana, a cultura determina quase tudo. Sem se perceber o papel das tradições – o menino que vai ao cemitério pôr flores frescas todos os dias, na campa do pai, pelo menos nos primeiros tempos, da menina que deixa a escola, porque vai casar dai a nada com um rapaz a quem está prometida desde criança; os conflitos entre famílias; a hierarquia do mais velho… - nenhuma política pública será bem sucedida.

O desconhecimento da realidade cultural dos ciganos, tem dificultado o sucesso de inúmeros programas de integração, por toda a Europa e também em Portugal. Continuam, em relação aos ciganos, os estereótipos, as intolerâncias, as dificuldades de integração social que vê fechadas as oportunidades, tanto no mundo do trabalho, como no acesso à habitação…

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Ainda sobre o reconhecimento cultural (1)


Recordo um jovem de origem cabo-verdiana que, há algum tempo, me disse: - “Chamam-me luso-africano, mas isso é o quê? Significa o quê? Já não sou o que os meus pais e os meus avós foram e são, mas também não sei o que sou. Afinal, sou quem? Pertenço a onde?”

Não são só jovens de origem africana que têm dificuldades de identidade, se questionam e se sentem, por vezes, marginalizados, são todos aqueles que, tendo raízes em culturas minoritárias, se sentem desconfortáveis na sua própria pele, tanto em casa, como na escola ou no meio onde vivem.  
E assim se iniciam processos de desadaptação e de reacção contra o que encontram e não lhes dá as respostas que precisam, de modo a sentirem-se incluídos e valorizados.



terça-feira, 2 de julho de 2019

O reconhecimento cultural: para sociedades mais inclusivas

Um dos temas que mais tenho trabalhado, nos últimos tempos, tem a ver com o reconhecimento cultural. Acaba de sair um artigo que escrevi sobre isso.  Deixo a referência para o caso de alguém  ter interesse em ler.

http://www.revistasisifo.com/2019/06/o-reconhecimento-cultural-para.html

sábado, 29 de junho de 2019

Milton Nascimento


Fui ver, ao Coliseu dos Recreios, Milton Nascimento. Tem 76 anos, quase não se pode movimentar, canta sempre sentado e precisa ajuda para se levantar, sair do palco e agradecer no final. Mas a voz está como sempre: límpida, segura, única, transcendente... Foi Elis Regina que um dia disse: «Se Deus quisesse cantar, escolheria a voz do Milton». Está tudo dito.
Os temas são os de sempre: a vida, os sentimentos, a liberdade, os direitos, a discriminação, a exploração… (por isso, parece estranho que este espetáculo passe por Telavive).
Houve duas convidadas especiais:  Carminho, a fadista, cantou duas canções, muito tocantes - Milton  abraçou-a, numa cumplicidade invulgar; Fáfa de Belém, artista brasileira, falou da amizade com Milton e da importância incomparável da sua música. Foi muito bonito. 
Fiquei a pensar no valor e no poder da música. Fiquei a pensar na «eternidade» do Milton.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

20 de junho - Dia Internacional do Refugiado


O número de deslocados, dentro do próprio país, e de refugiados, os que pedem refúgio em países estrangeiros, atingiu este ano números impressionantes: 70 milhões. São pessoas que deixaram as suas casas, a sua terra, por causa da guerra, da fome, da insegurança, de catástrofes naturais ou  de perseguições política, religiosa ou outra.
Impossível, sequer, imaginar, o que isto significa. Olhamos os rostos, as chagas, os corpos, mas não imaginamos o tormento interior de cada uma delas: o que lhes vai na alma, as tragédias que carregam, as vidas desfeitas, os sonhos troncados…
Mesmo assim, uma grande parte do mundo tenta não ver; constrói muros, vigia fronteiras, cria barreiras. Em Portugal, há estruturas do Estado e da sociedade civil para ajudar os refugiados que o governo recebe, no âmbito do programa europeu de recolocação, vindos sobretudo da Grécia.

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Sentidos de pertença...


Nalguns discursos do dia 10 de Junho – Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas – mais do que dissertar sobre a nação, a pátria, o sentido identitário do ser português, apareceu, no discurso do responsável pelas comemorações deste ano – João Miguel Tavares – um sentido de pertença plural, diverso e nem sempre inclusivo, às vezes, até, de não pertença, quando, como referiu, há tanto a fazer no sentido da equidade e da igualdade de oportunidades.
O Presidente da República fala de vários “Portugais”: O que será isto? Serão diferentes culturas,  diferentes desenvolvimentos, diferentes espaços geográficos...? – e, sempre, na crença de que podemos ser excelentes, aos mais diferentes níveis. Não chega acreditar,  diria eu.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

O massacre de Tiananmen – trinta anos depois


Pequim, praça de Tiananmen, 4 de junho de 1989: jovens que aí se manifestam, há já algum tempo, pela abertura do regime e por liberdades individuais e políticas, que não tinham e ainda hoje não têm, apesar do boom económico ocorrido na sociedade chinesa, são reprimidos e mortos (muitos) com tanques de guerra.
Quantos morreram, em Tiananmen? Ninguém sabe. Há vários números, desde várias centenas até 10 mil. Tal como não se sabe, hoje, quantas são as pessoas a quem o regime censura, vigia, reprime, prende, mata…(voltarão os tanques, se acharem necessário). E tudo, como se nada fosse, sempre o desgraçado argumento da não ingerência externa: «trata-se de assuntos internos da China».  
Mas, como ficar impávidos, quando a violação de direitos humanos é tão evidente e tão generalizada? Denunciar, é uma obrigação.


sábado, 1 de junho de 2019

Dia Internacional da criança

(Última parte do poema que  Matilde Rosa Araújo escreveu sobre os direitos das crianças).


10.
A criança deve ser respeitada
Em suma,
Na dignidade do seu nascer,
Do seu crescer,
Do seu viver.
Quem amar verdadeiramente a criança
Não poderá deixar de ser fraterno.
Uma criança não conhece fronteiras,
Nem raças
Nem classes sociais.
Ela é o sinal mais vivo do amor,
Embora, por vezes, nos possa parecer cruel.
Frágil e forte, ao mesmo tempo,
Ela é sempre a mão da própria vida
Que se nos estende, nos segura
E nos diz:
Sê digno de viver!
Olha em frente!

                                                
                                                 


sexta-feira, 31 de maio de 2019

Nusrat Jahan Rafi – queimada e morta


Esta jovem, de 19 anos, do Bangladesh, foi morta, há dois dias, na escola que frequentava, por ter denunciado, junto das autoridades, que um dos professores a tinha assediado sexualmente, quando a levou para uma sala e a tocou de forma inapropriada.
Foi-lhe pedido que retirasse a queixa; como não o fez, sofreu as consequências. Foi atacada e regada com querosene por um grupo de homens, na escola, que vestiam burkas para não serem identificados. Regaram-lhe todo o corpo, menos a cabeça, para poderem dizer que se tinha tratado de um suicídio – malvadez e perversidade em estado puro. Morreu passado umas horas, mas, ainda, denunciou alguns dos atacantes que reconheceu pela voz e pediu justiça.
Custa a crer nesta brutalidade, nesta animalidade; custa a crer numa cultura que trata as mulheres como seres de segunda e onde os direitos e a justiça são uma miragem.


domingo, 26 de maio de 2019

Urgentemente - poema de Eugénio de Andrade


É urgente o amor
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
Ódio, solidão e crueldade,
Alguns lamentos, muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
Multiplicar os beijos, as searas,
É urgente descobrir rosas e rios
E manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
Impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente permanecer.

                                                                    (Eugénio de Andrade)








quarta-feira, 22 de maio de 2019

Soledad Bravo - uma artista venezuelana

Nasceu em 1943, em Logronho, Espanha, onde viveu até aos sete anos. Tem uma voz que impressiona. Canta poetas, folclore, revoluções..., diferentes géneros de música.
Descobri-a, há muito mais de trinta anos, numa rádio espanhola e comprei vários CD’S. Ouvia-os, em silêncio, concentrada, como se fossem uma iniciação à liberdade, à justiça, ao amor, à vida, ao comprometimento, à política..., numa América Latina, cheia de latifundiários e oligarcas, onde as revoluções faziam sentido.
Mas, tudo desmoronou; a revolução fez-se morte, sangue, pobreza, miséria, dor profunda… Por que falharam as revoluções? O que fizeram os revolucionários? Por que traíram o povo?
Soledad Bravo já não canta canções revolucionárias, não esteve com Chaves nem está com Maduro; continua, como pode, a lutar por uma Venezuela livre. Descubram-na no Youtube e  confirmem o que digo.    

segunda-feira, 20 de maio de 2019

A importância de votar nas europeias


Muita gente está desencantada com a política e sobretudo com os políticos; não vai votar, por falta de consciência política, mas por falta de confiança nos protagonistas do costume (segundo as sondagens, nenhum dos pequenos partidos elegerá deputados). A abstenção atinge, por isso, percentagens elevadas.
Mesmo, compreendendo que há razões para esta desconfiança, participar impõe-se quase como um dever de consciência; pois, o viver em comum, com instituições justas e democráticas, nesta União Europeia tão fragmentada e tão atreita a deixar crescer os radicalismos políticos, depende das escolhas que todos os cidadãos dos diferentes países forem capazes de fazer.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Os atos terroristas no Sri Lanka


Há pouco mais de três semanas, houve, no Sri Lanka, 253 mortos, levados a cabo por 7 fundamentalistas islâmicos que se fizeram explodir, em quatro hotéis de luxo e em três igrejas católicas. 
Parece o desumano à solta, e o pior é que o fazem em nome de Deus. É tão irracional esta intolerância! É tão triste esta desumanidade! Não aprendemos nada, não aprendemos o mínimo dos mínimos: ver no outro um semelhante, independentemente de quais sejam as diferenças. Nos últimos tempos, retrocedemos em direitos fundamentais, como seja a liberdade religiosa.



domingo, 12 de maio de 2019

As eleições europeias


À porta das eleições europeias, a 26 de maio, sucedem-se os debates entre os candidatos. Temo que sem a atenção devida, pois, é muito o que está em jogo, quando muita da nossa vida é decidida em Bruxelas e Estrasburgo.
A União Europeia é composta por 28 países (ainda com a Grã-Bretanha), que elegem 751 deputados (21 são portugueses), muitas vezes, com interesses divergentes ou até contraditórios. As questões da migração, das alterações climáticas, da privacidade dos cidadãos, da corrupção, das ameaças reais à democracia, com derivas extremistas, em muito países, parecem não ter uma resposta satisfatória, o que faz com que muita gente se afaste da participação.


quinta-feira, 9 de maio de 2019

A demografia em Portugal

No país, a demografia é um dos mais graves problemas. Somos cada vez menos: 10 milhões e trezentos mil no censo de 2017. Uma população cada vez mais envelhecida, para cada 100 jovens há 153,2 idosos. 
Existe um decréscimo na natalidade acentuado, com uma previsão de que, daqui a quarenta anos, seremos menos dois milhões. Se isto não é uma preocupação séria para os políticos, não sei o que seja! 

terça-feira, 7 de maio de 2019

Reis e rainhas

Quando, há poucos dias,  o imperador do Japão abdicou a favor do filho e um novo rei na Tailândia foi coroado, pensei na quase irracionalidade que vejo nesta forma de poder. Não encontro razões para alguém, vindo de uma determinada linhagem, poder ser rei ou rainha. A democracia devia ser antimonárquica.
O rei pode ser a melhor pessoa, ter todos os méritos, indiscutíveis qualidades, carisma, tudo mais e melhor do que qualquer possível presidente, mesmo assim, não parece justo que alguém nasça para ser rei.
Sou contra esta ideia de que o rei  tem um poder quase divino,  não falha; é Deus no céu e o rei na terra (de resto nas monarquias o rei é também o chefe da igreja). 


sábado, 4 de maio de 2019

Lá longe, um país sentido (2)

O barco navega, às vezes depressa, às vezes devagar, afastando-se, mais e mais, até, de repente, desaparecer. Já não vejo o barco, nem quem o conduzia, desapareceram. Surge, como por encanto, um grande jardim, um campo de flores brancas ou, melhor, quase brancas, a puxar para  um dourado claro, muito claro!

O sol brilha, intensamente; tudo resplandece, tudo se liga, como se o tempo contasse de outro modo e as vidas decorressem de outra maneira. É assim, lá longe, no fundo de um vale, a minha aldeia. Pessoas conversando, meninos correndo...,  um lugar a que pertenço, mesmo que a vida me leve para outros mundos e outros lugares.

quinta-feira, 2 de maio de 2019

Lá longe, um país sentido (1)

Um dia um trabalhador migrante que pinta, há anos, prédios altos em Lisboa, falou-me, num inglês perfeito, do seu país como se fosse um sonho. Reescrevo o que me disse, em homenagem a todos os trabalhadores migrantes que deixaram a sua terra, mas, na verdade, nunca saíram dela.

O dia está a despertar, as nuvens, ainda rasteiras, junto às montanhas, afastam-se de mansinho, esfumando-se no ar, passando de cinzento-escuro a um cinzento quase branco e depois a um azul, cada vez mais azul, que se confunde com o céu. Já não são nuvens. É o céu. É dia claro. 

Cá em baixo, a planície é um infinito campo de arroz, de um verde tão forte que, às vezes, cansa o olhar, mas que sempre nos anima a alma; a meio do campo, um canal estreito, onde uma barcaça, a remos, se move sem parar. Anda, distancia-se...

Sempre o mesmo campo, no mesmo arrozal, debaixo do mesmo sol. É um lugar muito longe, num sítio não sei onde, se calhar, na Ásia, porque a única pessoa que vejo, a que conduz o barco, tem uns olhos rasgados, uma pele escura e um chapéu com abas largas, preso ao pescoço com uma fita. Nunca me olhou, se calhar não sabe que eu estou aqui. 



domingo, 28 de abril de 2019

Carta de Zeca Afonso à filha Joana


(Talvez, eu já tenha divulgado, aqui,  este texto. Não recordo. A emoção que nos provoca é do mais belo que há). 

“Querida Joana

Como sabes eu estou preso mas também não sou um homem mau. Viste como foi. Não sejas rabugenta e ajuda o Pedro. Se ele estiver birrento lembra-te que ainda é bebé e tu mais crescida que ele. O que não gosto é que sejas egoísta porque é muito feio. Se alguma das tuas amigas querem tudo para elas deixa lá. Elas fazem mal mas tu não. Explica-lhes que não devem ser egoístas. Tem cuidado com os sugos e outras porcarias iguais porque podes ficar sem dentes. Depois mesmo que os queiras ter já ninguém te os pode pôr.
Ficas como os velhinhos. Alguns deles tinham a mania de comer guloseimas, gelados e caramelos. E também chocolates. Eu lembro-me muito de ti e do Pedro. O Zé ainda não cortou as barbas? Diz à Lena que eu não gosto que ela seja desarrumada. Todos têm que ajudar a mãe e a Dina.

Muitos beijos do
Zeca Pai"


sábado, 27 de abril de 2019

Valores democráticos - respeito pelas diferenças e o papel da lei e da justiça



O respeito pelas diferenças: em democracia, ninguém deve ser ou sentir-se discriminado. Não só os indivíduos têm direitos iguais, também os grupos, independentemente das diferenças sociais e culturais, devem ser protegidos. As diferenças caracterizam-nos e isso não nos diminui, pelo contrário, confere-nos identidade. Temos que pensar que somos diferentes uns dos outros e não que os outros são diferentes de nós. A frase, tantas vezes ouvida: todos diferentes, todos iguais, é mesmo verdadeira e faz todo o sentido.



O papel da lei e o direito à justiça: numa democracia, todos os cidadãos estão sujeitos à lei, ninguém pode agir achando que está acima e que nada lhe vai acontecer. Os que violarem as leis do Estado democrático devem ser julgados, independentemente dos cargos e poderes que exerçam; as democracias asseguram a todos o acesso à justiça e à legítima defesa.

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Valores democráticos - eleições livres e transparência


As eleições livres: são actos regulares na vida política democrática. Periodicamente, há eleições legislativas, presidenciais e autárquicas. Os cidadãos, com mais de 18 anos de idade, podem manifestar o seu desejo, quanto ao destino político do seu país. Através delas, elegemos os deputados que nos vão representar na Assembleia da República. A nossa democracia é representativa, são os deputados com mandato eleitoral conferido pelo povo que decidem da vida política, social e económica do país.  .

A aceitação dos resultados eleitorais: em democracia a vontade expressa dos eleitores é indiscutível. Não se podem pôr em causa os resultados eleitorais, faz parte das regras democráticas. Os que ganham governam, os que perdem vão para a oposição. A maioria deve criar condições para que os partidos da oposição cumpram o seu papel e estes não devem impedir o governo de governar e aprovar as leis. A tolerância e o respeito pelas regras democráticas são fundamentais.

A transparência: um governo democraticamente eleito, através de eleições livres, responde perante os deputados e também perante todos nós, por isso devemos estar informados daquilo que acontece: o quê e o porquê das decisões, o modo como atuam e tomam as decisões. Neste aspecto, é muito importante o papel da comunicação social, chamado nas democracias de 4º poder.


terça-feira, 23 de abril de 2019

Valores democráticos - os direitos humanos e a cidadania


Os direitos humanos: todas as democracias têm o dever de proteger a vida e a dignidade da pessoa humana. A Declaração Universal dos Direitos Humanos consagra um conjunto de valores comuns a toda a humanidade, por isso, é a referência fundamental para todos os Estados e governos democráticos do mundo. A democracia ao defender a liberdade, a igualdade, a justiça e a identidade cultural está a defender os direitos humanos. 


A cidadania: um dos pilares da democracia, é a participação  de todos os cidadãos na vida pública, começando pelos ambientes e locais onde desenvolvemos o nosso trabalho - a escola, a família, o bairro, a associação, o clube... A participação tem de ser informada e responsável; quando debatemos um assunto, participamos numa reunião, manifestação ou campanha, temos de saber porque o fazemos, quais as razões que justificam o nosso empenhamento e o nosso compromisso e, também, quais as consequências. Temos todos o dever de ajudar a construir uma sociedade melhor e mais justa.

domingo, 21 de abril de 2019

Valores democráticos - a justiça social e a diversidade


A justiça social: só há verdadeira liberdade e igualdade se a justiça social existir. As sociedades democráticas devem assegurar aos cidadãos as condições mínimas para uma vida digna. A equidade é um valor muito importante em democracia, pois para existir igualdade na distribuição dos benefícios sociais - educação, saúde, emprego, tempos livres, cultura... - é necessário, muitas vezes, diferenciar o apoio, em relação aos mais desfavorecidos.

A diversidade: as sociedades democráticas integram diferentes grupos étnicos, culturais e religiosos, com distintos pontos de vista e modos de vida. A multiculturalidade é uma realidade das nossas sociedades, não pode ser causa de conflitos, mas antes uma forma de todos nos sentirmos socialmente enriquecidos. O nosso país acolhe cada vez mais imigrantes que vêm contribuir não só para a riqueza económica do país, mas também para a sua riqueza cultural e cívica.


quarta-feira, 17 de abril de 2019

Valores democráticos - a liberdade e a igualdade


 A liberdade: a democracia reconhece que todas as pessoas têm capacidade para projetar, escolher e decidir por si próprias, intervindo de forma refletida na construção e na mudança das coisas. As sociedades democráticas garantem não apenas as liberdades individuais - de expressão, opinião, associação, reunião, religião, … - mas também as liberdades sociais e económicas.

A igualdade: as democracias partem do princípio de que todas as pessoas são iguais em dignidade e direitos - aspecto consagrado, logo, no 1º artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Os governos democráticos devem assegurar as condições necessárias - através de leis, instituições... - para que todos tenham igualdade de oportunidades.




terça-feira, 16 de abril de 2019

Escravatura (4)


O silêncio imposto aos que assistem não pode ser mais perturbador, ainda que os olhos, rasos de água, denunciem a tristeza e a raiva que os consomem por dentro. A que ponto chegam as leis inumanas e a demência de alguns!
Mas, nenhum destes homens deixou de ser gente, e alguns são fortes, muito fortes – é que há alturas em que uma pessoa não pode mais continuar de cabeça baixa – e ousam enfrentar o senhor: reúnem-se, combinam, planeiam a fuga. 
Lá fora, estão os quilombos. Lá fora, está a liberdade, sempre sonhada, mas quase nunca possível. Quem poderá ajudá-los? Talvez, alguns negros já libertados, talvez algum abolicionista. Esperam. Resistem.


domingo, 14 de abril de 2019

Escravatura (3)

Século XVIII, numa qualquer fazenda de café, cacau, algodão ou plantação de açúcar, multidões de negros vivem reduzidos à força de trabalho. Cabeça baixa, sempre em atitude de submissão: - "Sim senhor, sim senhor. Está bem, senhor". Uma vida inteira debaixo do mesmo sol, da mesma poeira, da mesma desumanidade. Sem família, sem escola, sem documentos.
- "Você me desobedeceu". Tronco, chibata, espectáculo público, para que todos vejam o que acontece a quem enfrenta o senhor ou as ordens do feitor, essa figura sinistra de que todos os cobardes mandantes precisam. Sofrem até ao limite, no corpo e na alma, caem inconscientes, irremediavelmente estropiados e muitas vezes mortos. Mas que importa, são mercadoria! Lamenta-se apenas o prejuízo: - "Era um escravo forte, bom para o trabalho. Tanto dinheiro que dei por ele"!

terça-feira, 9 de abril de 2019

Escravatura (2)

Durante quatro séculos, milhões de seres humanos cruzaram o Atlântico, de África para as Américas, em viagens de desespero e de morte, onde cerca de 40% morriam. Os que sobreviviam eram utilizados como força de trabalho, nas plantações de café, nos engenhos de açúcar ou em outras explorações agrícolas ou mineiras. Um dos destinos mais marcantes, foi o Brasil; primeiro com os portugueses, na 2ª metade do século XVI, depois com os holandeses que levavam escravos das colónias africanas, para as senzalas brasileiras (aquela espécie de casa), onde viviam, sem quaisquer direitos, torturados e acorrentados, de onde só saiam para trabalhar. Foi assim até quase finais do século XIX.


segunda-feira, 8 de abril de 2019

Escravatura (1)

 Recordo o que me disse uma professora de História caboverdiana quando visitei com ela o Forte da Cidade Velha, antiga capital do arquipélago, a primeira cidade europeia em África e um enorme entreposto de compra e venda de escravos:
-"Não podemos analisar o passado, com os olhos de hoje; o que se passou há séculos, teve um enquadramento, umas razões, que precisamos conhecer e situar na época. A escravatura e o tráfico negreiro não começou com os portugueses, nem terminou com eles..."
Não é por isso que pode haver desculpabilização. Eu não vejo assim; para mim, compreender a história não pode ser desculpar atrocidades; não pode ser aceitar o tratamento de seres humanos como se fossem simples mercadoria. 

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Um Poema de José Craveirinha - lembrando Moçambique

UM HOMEM NÃO CHORA

Acreditava naquela historia
do homem que nunca chora.

Eu julgava-me um homem.

Na adolescência
meus filmes de aventuras
punham-me muito longe de ser cobarde
na arrogante criancice do herói de ferro.

Agora tremo.
E agora choro.

Como um homem treme.
Como chora um homem!




terça-feira, 26 de março de 2019

A redistribuição da riqueza - um dos maiores problemas do mundo

Quando olhamos as imagens da tragédia moçambicana, vemos bem o que é não ter nada; vemos bem o que significa salvar um alguidar e uma panela que pode significar a única maneira de uma família continuar a sobreviver.   
O fosso, entre ricos e pobres, é inaceitável. Todos o sabem, mas que importa! Aquando da reunião de Davos, soube-se, através de um estudo da Oxfarm, que 26 pessoas detêm fortunas iguais a 50% da população mais pobre. Portanto, a redistribuição da riqueza é um logro, as desigualdades vão, todos os anos, aumentando, concentradas em cada vez menos pessoas.
Este sistema político capitalista não funciona, em vez de transparência, cria opacidade, com os que mandam no mundo e na riqueza a protegem-se uns aos outros.



sexta-feira, 22 de março de 2019

Ajuda humanitária em Moçambique


Em Moçambique, o ciclone Idai destruiu tudo à sua passagem, originando cheias que estão a arrasar extensas zonas, sobretudo, da província de Sofala e concretamente a cidade da Beira. Os números são já alarmantes, centenas de mortos, milhares de feridos, mais 600 mil desalojados..., pessoas a viver a maior tragédia que só a ajuda internacional, em força, bem coordenada e com a avaliação exata da situação, pode minorar. 
Desejo que o maior número de pessoas seja salvo e que os hospitais de campanha possam ser instalados de modo a suprir a situação existente nesta área, tratar os feridos e prevenir a cólera, a malária e outras doenças. A seguir, haverá tempo para a reconstrução, mas esta fase de emergência parece tão ampla e tão difícil que temo que a situação se agrave.

sexta-feira, 15 de março de 2019

O descontentamento dos professores

Os professores acabam de perder a «guerra» com o governo pela a contagem integral do tempo de serviço a que tinham (e têm) direito, e isto não é justo.  

O resultado imediato é o aumento da insatisfação da classe docente e a instabilidade nas escolas, com inevitáveis reflexos nas aulas e no aproveitamento dos alunos. 
Governo e sindicatos radicalizaram posições e agora  voltar atrás não parece tarefa fácil.

segunda-feira, 11 de março de 2019

Um furo de água, simplesmente

Não podia ir à escola, porque tinha de ajudar a mãe a acartar água. Durante toda a manhã, subiria, vezes sem conta, a encosta da montanha, até à fonte mais próxima, e transportaria, à cabeça, dentro de um alguidar, garrafas de água – a maneira de levar mais e de não deixar cair nenhuma pinga –, até encher todos os cântaros e regar toda a horta.

Muitas vezes sonhava: - «E se de repente nascesse uma fonte, perto da minha casa»!
Sim, isso era possível, porque a água estava lá, bem no fundo da terra, talvez cheia de preguiça e sem vontade de se levantar, de esfregar os olhos e de iniciar uma aventura até à superfície.

Mas, talvez não seja preguiça, pode acontecer que a água não consiga mesmo sair, é que, lá em baixo, é sempre de noite, e ela, como acontece connosco, não sabe mover-se no escuro. A solução era abrir uma janela, uma espécie de furo, que descesse, descesse, até lá ao fundo, para mostrar o caminho à água. Já fora, haveria de nascer uma fonte.

No dia em que isso acontecer, haverá festa nos rios, nos parques e, até, nos pátios das escolas, com meninos felizes que não precisam mais de gastar os dias a acartar garrafas de água, dentro de alguidares.








terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Bom Ano de 2019


Desejo a todos um bom ano de 2019, a todos os níveis.  
Um dos meus desejos, seria que esta zona interior do país, onde vivo, pudesse reverter a sua crescente desertificação, o seu quase abandono. Não vejo políticas de desenvolvimento sustentáveis que levem os jovens a permanecer.
As autarquias do interior não podem transformar as terras em «parques» ou roteiros temáticos (históricos, gastronómicos, desportivos…), para turista ver, quando, até essa «bênção» do turismo, com expressão, no global, do país, parece não ter por aqui números muito significativos. Não sou contra, mas não vejo o impacto desejado na vida das pessoas de forma a melhorar a sua realidade social.