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quarta-feira, 13 de maio de 2020

Os ciganos - defender a integração


O André Ventura, deputado eleito pelo Chega, que já anunciou a candidatura a presidente da República, defendeu o confinamento dos ciganos a propósito da COVID-19, como se fossem a fonte de toda a infeção.

Sou absolutamente contra, é preciso tratar os ciganos como se tratam todos os cidadãos portugueses, há leis e deveres que todos temos de cumprir. 

Em vez de marginalização é preciso que os 37 mil ciganos que há em Portugal tenham condições de vida, habitação, trabalho, saúde…, mas não podem as próprias comunidades deixar de fazer a sua parte – mandar os filhos à escola, cumprir obrigações e horários, perceber que há um espaço público que os obriga ao cumprimento de regras…

sexta-feira, 31 de maio de 2019

Nusrat Jahan Rafi – queimada e morta


Esta jovem, de 19 anos, do Bangladesh, foi morta, há dois dias, na escola que frequentava, por ter denunciado, junto das autoridades, que um dos professores a tinha assediado sexualmente, quando a levou para uma sala e a tocou de forma inapropriada.
Foi-lhe pedido que retirasse a queixa; como não o fez, sofreu as consequências. Foi atacada e regada com querosene por um grupo de homens, na escola, que vestiam burkas para não serem identificados. Regaram-lhe todo o corpo, menos a cabeça, para poderem dizer que se tinha tratado de um suicídio – malvadez e perversidade em estado puro. Morreu passado umas horas, mas, ainda, denunciou alguns dos atacantes que reconheceu pela voz e pediu justiça.
Custa a crer nesta brutalidade, nesta animalidade; custa a crer numa cultura que trata as mulheres como seres de segunda e onde os direitos e a justiça são uma miragem.


sábado, 3 de maio de 2014

A menina egípcia que vendia marcadores de papiro (8)

Não sei bem, mas eram, seguramente, mais de uma dezena de crianças que vendiam marcadores e outros pequenos objectos, junto a uma fábrica de transformação de papiro, onde os turistas param para observar o processo de produção e fazer compras.
Era uma menina muito bonita! Não tinha mais de seis ou sete anos, no máximo. Muito pequenina, muito esperta, vestidinha à árabe a vender aos turistas marcadores de papiro. Contava, na perfeição, em inglês, francês, espanhol, e repetia, sem parar, os números até doze, número que correspondia ao “molhinho” de marcadores que vendia por um dólar.
Toda a gente, literalmente toda, enquanto eu estive a observar, lhe comprou os marcadores. Ela era o centro de todas as atenções, impossível não a fixar, pela graça, pela desenvoltura, pelo modo como uma criança, tão pequena e tão linda, contava marcadores de papiro.
A mãe vigiava-a, por perto, mas mesmo assim não evitava que os “maiorzinhos” não achassem piada à freguesia que conseguia atrair e lhe dessem encontrões, a obrigassem a sair da frente e a sentassem a um canto. Por um lado, percebo, ela tirava-lhes todo o negócio, conseguia todas as atenções. Mas continuava. Contava, repetidamente, sem parar, não desistia, e isso foi o mais impressionante, não desistiu nunca, a determinada altura chorava convulsivamente, lágrimas rosto abaixo, mas continuava: one two, three, …e mais um molhinho de marcadores, e outro, e outro e mais outro … .
- Minha menina, não podes brilhar tanto! Tens de deixar os outros também vender. Vá lá, tem de ser assim! Não te dão encontrões e socos por não gostarem de ti, apenas porque não suportam não vender nada aos turistas que param junto a fábrica de transformação do papiro. Vai descansar um pouco, cuidar da tua voz, já rouca de tanto apregoar marcadores de papiro, deixa os outros meninos também venderem um bocadinho. Não quero ver-te chorar mais!

                                                                                     Agosto, 2005, arredores do Cairo 

terça-feira, 18 de março de 2014

A menina cigana, casada aos onze anos

Uma menina de onze anos, duma comunidade cigana da região de Aveiro, foi dada em casamento a um rapaz da mesma comunidade. O caso não é único, mas, neste, as autoridades intervieram, os pais e os sogros foram levados à justiça.
Muitas vezes, as autoridades assistem sem fazer nada. O ir à escola é uma obrigação, com onze anos, aquela criança deve estar na escola e deve ter tempo para brincar. 
Os pais têm deveres e as crianças têm direitos, independentemente da etnia, cultura, local de nascimento, situação social…
Estas famílias são cidadãos portugueses, têm direitos e apoios sociais – escola, saúde, segurança social… - têm por isso de viver com os outros, socialmente, cumprindo as leis fundamentais do país.


segunda-feira, 15 de julho de 2013

Olhando a gente, Istambul

Talvez, o mais importante das viagens seja aquele aspecto cultural que só podemos tocar se nos misturarmos com as pessoas, passando despercebidas, sentadas numa praça, numa esplanada, percorrendo um mercado, entrando numa igreja, numa mesquita…
Houve um dia, nesta viagem à Turquia, em que isso foi possível. Era um fim de tarde, depois de um agradável passeio no Bósforo – aquele estreito mítico, onde se cruzam povos, civilizações e continentes, com uma paisagem inebriante, palácios, casas luxuosas, jardins, colinas verdejantes…, mas que, por vezes, até se torna desconfortável, quando percebemos os preços, o nível de vida, o que separa esta de outras zonas da cidade.

Voltando àquele final de tarde. Era numa zona movimentada de Istambul, junto ao mercado egípcio. Percorri o mercado, limpo, organizado, sem ser labiríntico, com uma parte central que claramente espera pelos turistas e potencia o negócio dos produtos característicos, mas também o mercado da carne, das flores…, não propriamente para quem vem de fora.  
Entrei, depois, na mesquita, situada mesmo ao lado. As portas estavam abertas, com os indispensáveis sacos de plásticos, à entrada, para podermos colocar os sapatos.
Achei interessante ver como as pessoas ocupavam o espaço. Logo, à entrada, um casal jovem com uma criança, estava sentado no corredor do lado direito. Depois, na parte central da mesquita vários homens (era a parte deles), uns rezavam, outros descansavam, outros meditavam, outros liam, outros deitados ao comprido, pareciam até dormir. Encontrei-os nos sítios mais insuspeitos, atrás de uma coluna, no fundo do corredor junto a um vitral, no canto da sala…

Fiquei a pensar nesta normalidade que, nas nossas igrejas, não seria tão normal; se alguém se deitasse como que a dormir, viria alguém falar-lhe de desrespeito e de falta de boas maneiras, convidando-a a sair. Aqui, não. Parecem coexistir formas de estar muito diferentes, tudo em silêncio, isso sim, sem a música ambiente das mesquitas com visitas organizadas para turistas.

Saio e sento-me quase no cimo da enorme escadaria. Olho a praça: há vendedores ambulantes com os respectivos tabuleiros, vendendo guloseimas, gelados, brinquedos, uma espécie de milho e outras coisas que não identifico. A vida corre…, como em quase todas as praças, há pessoas apressadas e outras sem pressa, conversando, passeando os filhos, apanhando transportes, carregando sacos, ignorando os turistas…, vivendo, como se vive, afinal, em tantos lados.




quarta-feira, 24 de abril de 2013

Terrorismo, em Boston

Podem fazer-se muitas análises, mas a que a mim mais me impacta é a que tem a ver com o extremismo islâmico: matar por Alá. O absurdo é total.
O que aconteceu, na cabeça destes jovens, mais ou menos inseridos na sociedade americana, com perspectivas de futuro, para, dum momento para o outro, se fazerem jihadistas, combatentes por um radicalismo que considera que não é apenas o ocidente que ameaça as suas crenças (de que nem sequer eram grandes praticantes) mas até os moderados do islão?
Alguma coisa de muito perturbador nos escapa, para que não sejamos capazes de uma mínima compreensão sobre isto. Talvez, algo da ordem da identidade mais profunda de cada ser humano: somos quem?


quinta-feira, 11 de abril de 2013

Mulheres sem rosto



Vimos, há dois ou três dias, numa reportagem televisiva, aquando da deslocação do ministro da saúde à Arábia –Saudita, procurando negócios, nomeadamente nesta área, mulheres de bata branca e um enorme véu preto sobre o rosto, ficando apenas a descoberto os olhos. Chocante, para dizer o mínimo. Inaceitável, quando o mundo de hoje é de inter-relações globais.
 Já escrevi tantas vezes sobre este assunto, mas sinto que não podemos continuar sem nada fazer, o argumento religioso e cultural não chega, não estamos mais na Idade Média, em sociedades fechadas, a abertura impõe novos critérios, desde logo o do respeito pela relação com os outros.
Sem rosto, parecem também sem identidade, como é que as vemos, como é que as recordamos? Não há relação, nos moldes em que a entendemos, da solicitude, da reciprocidade, do olhar o rosto. Não queremos impor nada mas parece razoável perguntar: não temos o direito a uma relação face a face, a uma relação  de proximidade que só o rosto, torna possível. Mulheres sem rosto, quem lhes impõe tal destino?