Talvez, o mais importante das viagens seja aquele aspecto cultural que só
podemos tocar se nos misturarmos com as pessoas, passando despercebidas,
sentadas numa praça, numa esplanada, percorrendo um mercado, entrando numa igreja,
numa mesquita…
Houve um dia, nesta viagem à Turquia, em que isso foi possível. Era um
fim de tarde, depois de um agradável passeio no Bósforo – aquele estreito
mítico, onde se cruzam povos, civilizações e continentes, com uma paisagem
inebriante, palácios, casas luxuosas, jardins, colinas verdejantes…, mas que,
por vezes, até se torna desconfortável, quando percebemos os preços, o nível de
vida, o que separa esta de outras zonas da cidade.
Voltando àquele final de tarde. Era numa zona movimentada de Istambul, junto
ao mercado egípcio. Percorri o mercado, limpo, organizado, sem ser labiríntico,
com uma parte central que claramente espera pelos turistas e potencia o negócio
dos produtos característicos, mas também o mercado da carne, das flores…, não
propriamente para quem vem de fora.
Entrei, depois, na mesquita, situada mesmo ao lado. As portas estavam
abertas, com os indispensáveis sacos de plásticos, à entrada, para podermos colocar
os sapatos.
Achei interessante ver como as pessoas ocupavam o espaço. Logo, à entrada,
um casal jovem com uma criança, estava sentado no corredor do lado direito. Depois,
na parte central da mesquita vários homens (era a parte deles), uns rezavam,
outros descansavam, outros meditavam, outros liam, outros deitados ao comprido,
pareciam até dormir. Encontrei-os nos sítios mais insuspeitos, atrás de uma
coluna, no fundo do corredor junto a um vitral, no canto da sala…
Fiquei a pensar nesta normalidade que, nas nossas igrejas, não seria tão normal;
se alguém se deitasse como que a dormir, viria alguém falar-lhe de desrespeito
e de falta de boas maneiras, convidando-a a sair. Aqui, não. Parecem coexistir
formas de estar muito diferentes, tudo em silêncio, isso sim, sem a música
ambiente das mesquitas com visitas organizadas para turistas.
Saio e sento-me quase no cimo da enorme escadaria. Olho a praça: há vendedores
ambulantes com os respectivos tabuleiros, vendendo guloseimas, gelados, brinquedos,
uma espécie de milho e outras coisas que não identifico. A vida corre…, como em
quase todas as praças, há pessoas apressadas e outras sem pressa, conversando, passeando
os filhos, apanhando transportes, carregando sacos, ignorando os turistas…, vivendo,
como se vive, afinal, em tantos lados.