Não sei
bem, mas eram, seguramente, mais de uma dezena de crianças que vendiam
marcadores e outros pequenos objectos, junto a uma fábrica de transformação de
papiro, onde os turistas param para observar o processo de produção e fazer
compras.
Era uma
menina muito bonita! Não tinha mais de seis ou sete anos, no máximo. Muito
pequenina, muito esperta, vestidinha à árabe a vender aos turistas marcadores
de papiro. Contava, na perfeição, em inglês, francês, espanhol, e repetia, sem
parar, os números até doze, número que correspondia ao “molhinho” de marcadores
que vendia por um dólar.
Toda a gente, literalmente toda, enquanto eu estive a observar, lhe comprou
os marcadores. Ela era o centro de todas as atenções, impossível não a fixar,
pela graça, pela desenvoltura, pelo modo como uma criança, tão pequena e tão
linda, contava marcadores de papiro.
A mãe vigiava-a, por perto, mas mesmo assim não evitava que os
“maiorzinhos” não achassem piada à freguesia que conseguia atrair e lhe dessem
encontrões, a obrigassem a sair da frente e a sentassem a um canto. Por um
lado, percebo, ela tirava-lhes todo o negócio, conseguia todas as atenções. Mas
continuava. Contava, repetidamente, sem parar, não desistia, e isso foi o mais
impressionante, não desistiu nunca, a determinada altura chorava
convulsivamente, lágrimas rosto abaixo, mas continuava: one two, three, …e mais
um molhinho de marcadores, e outro, e outro e mais outro … .
- Minha
menina, não podes brilhar tanto! Tens de deixar os outros também vender. Vá lá,
tem de ser assim! Não te dão encontrões e socos por não gostarem de ti, apenas
porque não suportam não vender nada aos turistas que param junto a fábrica de
transformação do papiro. Vai descansar um pouco, cuidar da tua voz, já rouca de
tanto apregoar marcadores de papiro, deixa os outros meninos também venderem um
bocadinho. Não quero ver-te chorar mais!
Agosto,
2005, arredores do Cairo
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