Há anos que procurava uma paz,
uma certeza qualquer, de que o retorno àquele campo não seria um sofrimento a
somar às memórias vivas e cruéis do sítio onde passara mais de sete anos da sua
juventude, trabalhando, cumprindo ordens, guardando ideias, lendo livros, arquitetando revoluções…, criando uma rotina, a possível, que
impunha a si próprio para não endoidecer.
Salvaguardar a saúde mental, que
a física essa ressentir-se-ia – mesmo quando, nessa idade, se julga possível
passar por tudo sem marcas no corpo - era a primeira das preocupações. Marcas
de meses seguidos num total isolamento, numa sela fechada, húmida, onde mal
cabia uma pessoa, sem cama, com um balde e uma refeição diária.
Como se consegue sobreviver a
isto? Só uma convicção interior fortíssima, só um dever de consciência, uma responsabilidade, uma
inabalavel defesa da dignidade humana – em que vergar, ajoelhar,
comprometer..., mesmo quando os interrogatórios e a tortura pareciam deixá-lo à
beira de uma quase semi consciência, era o impensável. Sabia quiem era e porque estava ali. Sabia o que devia a si e aos outros que como ele lutavam contra o colonialismo português.
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