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quarta-feira, 25 de novembro de 2020

O Holocausto, Shoah , extermínio...

A  palavra holocausto significa todos queimados; shoah palavra hebraica significa destruição; extermínio significa genocídio, crime contra a humanidade (o que realmente aconteceu). 

Não é possível nenhum apaziguamento humano com o que aconteceu, de 1942 a 1944, nos campos de concentração, onde foram exterminados judeus e outras minorias. Senti essa impossibilidade, quando visitei Auschwitz-Birkenau. É algo que esmaga, mesmo; algo que excede a nossa capacidade de compreensão. 

O extermínio funcionava, como uma qualquer linha de montagem de uma qualquer fábrica, em que o importante era produzir mais e ao menor custo, a diferença é que aqui produziam cadáveres e cinzas. É duro, muito duro, mas foi assim.


sábado, 25 de janeiro de 2020

Treblinka – o filme de Sérgio Tréfaut


(A propósito do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto – 27 de janeiro)

Treblinka é um filme/documentário, realizado a partir do livro: “Sou o último judeu”, de um sobrevivente, deste campo de extermínio nazi, na Polónia, onde foram mortos mais de novecentos mil judeus.
O que mais impressiona, é a rotina deste homem e de todos os que, por terem alguma profissão ou competência que servisse os nazis, eram poupados e passavam a colaborar na morte dos seus «irmãos» judeus.
Chegou ao campo com a irmã que morreu nesse mesmo dia. Quando os SS perguntam: «Há aí cabeleireiros»? Ele responde, por instinto de sobrevivência: «Eu sou cabeleireiro». Dão-lhe uma tesoura e assim começa a sua colaboração naquele extermínio.
A cada chegada de mais um comboio, transportando judeus de toda a Europa, os que tinham a incumbência de cortar o cabelo, corriam a executar esse trabalho. Seguiam-se os que faziam a triagem da roupa, dos objetos de valor (relógios, anéis, fios, brincos…) - tudo, os SS levavam.
A descrição mais pungente é a do rosto dos cadáveres, em pilhas, depois de saírem das câmaras de gás, e de como a fisionomia da morte era variável, conforme tinham sido gaseados. Os das câmaras maiores saem deformados, negros, esverdeados…
Tudo continua, chegada, após chegada, de mais um comboio, como se uma invisibilidade viral atacasse todos (parece que ninguém via nada) e tornasse tudo menos doloroso; como se o ver, todos os dias, o mesmo horror, os deixasse insensíveis. Para alguns, sobreviver é o único pensamento, para outros desistir é o único pensamento; cada manhã, mais um, outro e outro, aparecem estrangulados nos barracões onde dormem.
O horror de Treblinka desumanizou, para lá de todos os limites. Que pensamentos e sentimentos, que realidades e fantasmas, que deuses e homens, povoavam as mentes dos que morriam, dos que matavam, dos que sobreviviam…? O horror paralisa. À impossibilidade de ver, junta-se a impossibilidade de pensar. Todos são autómatos. É tão incompreensível, isto!

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Os falsificadores, o filme

É um filme sobre a falsificação da libra esterlina pelos nazis que se preparavam, também, para falsificar o dólar americano, já, no final da II Guerra Mundial.

Um grupo de judeus é deportado para um campo alemão, onde se dedicam à falsificação de moeda. O falsificador foi preso em Berlim pelas SS e levado para esse campo para se aproveitarem das suas habilidades; o mesmo aconteceu com todos os outros, uns percebiam de tipografia, outros de grafismo, outros de dinheiro e de bancos…. Era assim, sempre que os prisioneiros tinham capacidades de trabalho que interessavam à estratégia nazi, eram poupados à morte.

Este falsificador é tratado com alguma deferência, os alemães sabem bem que precisam dele e por isso dão-lhe condições de trabalho, materiais, ajudantes… para que se torne num falsificador perfeito. No grupo, há diferentes sentimentos: uns querem conspirar contra os alemães e negarem-se a colaborar; outros fazem tudo para sobreviver, quando pensam no fuzilamento imediato, se ousassem fugir e fossem apanhados. Uns deixam a sua parte psicológica arruinar-lhes os dias, outros continuam cerebrais e manipuladores, fazendo o jogo do inimigo, não deixando que lhes aprisionem o pensamento – é o caso do falsificador. Tem consciência do seu valor para os alemães e permite-se esticar a corda, até um dia.

Durante muito tempo, vai enredando, para evitar colaborar na falsificação do dólar, dá desculpas: é a gelatina, é o papel, é a máquina tal...; enfim, o comandante do campo percebe, mas não pode fazer muito mais, pressiona-o, porque também é pressionado. Ameaça-o: “há quem o substitua, não é o único a falsificar notas”!
O falsificador resiste. Tem um olhar de dureza que, às vezes, perturba; mas, mesmo sem quebrar, pressente-se que vive um tormento interior, por exemplo, quando um dos jovens do grupo adoece, gravemente. É visto pelo médico do campo, pensa-se que é tuberculose, mas não há medicamentos; o falsificador vai fazer tudo para os conseguir. Vai a casa do SS, o comandante do campo, com a receita, e pede-lhe: “arranje-me estes remédios e em troca falsificarei o dólar. Se encontrar os medicamentos, arranjarei maneira de falsificar o dólar”. E o comandante arranjou-os.
Entretanto, os russos tomam Berlim, os nazis destroem o campo e as máquinas de falsificar moeda, para que não se soubesse o que ali se fazia.
Na realidade, os judeus desse campo fogem, no fim da guerra, numa carruagem, são intercetados e presos, mas libertos, algum tempo, depois; alguns ainda vivem.
O filme começa com o falsificador numa praia, no Mónaco, depois de perder uma grande quantia de dinheiro no casino e termina, no mesmo sítio, agora, já com uma jovem bailarina que lhe diz: “foi muito o dinheiro que perdeu”! “O dinheiro não é problema – responde-lhe”.

Talvez, o mais forte do filme tenha sido ver o falsificador disposto a tudo, para salvar o jovem russo; a força duma amizade e o sentido profundo de uma identidade (cultural, religiosa…) são inexplicáveis.   



terça-feira, 29 de setembro de 2015

Anne Frank: o diário (3)

Há-de chegar o dia em que esta guerra medonha acabará, há-de chegar o dia em que também nós voltaremos a ser gente como os outros e não apenas judeus” – escreveu Anne no seu diário, em 11 de abril de 1944.
Para ela e para milhões de judeus esse dia não chegou. Ficou o seu diário, um importante testemunho. Quando Anne fez treze anos e vivia ainda uma vida normal e feliz com os pais e a irmã numa casa no centro de Amesterdão, recebeu de presente um diário, que leva consigo para o refúgio no depósito das empresas do pai. 
Escrever tornou-se uma tábua de salvação. “Quando escrevo, sinto um alívio, a minha dor desaparece, a coragem volta”- escreve a 5 de abril de 1944. 
Com o diário, de capa axadrezada, em que o vermelho é a cor dominante, a que chama de Kitty, a amiga, pode desabafar, conversar, dialogar, interrogar, pensar.... Este e os cadernos que se seguiram foram guardadas por Miep, uma das colaboradoras, e entregues ao pai, sobrevivente de Auschwitz, que o publicou pela primeira vez em 1947. 
No museu está o original, aberto, podemos ver a letra de Anne, certinha, pequena...impressiona um pouco, pois escreve já com o objectivo de publicar, sabe que no fim da guerra haverá interesse por escritos desta natureza. Ela tem planos, quer ser escritora, ironicamennte, o seu livro é um dos mais editados e lidos do mundo. 
(O diário de Anne Frank acaba de ser reeditado em Portugal, pela editora Livros do Brasil).

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Anne Frank: o anexo (2)

Em 6 de Julho de 1942, a família FranK, o pai Otto, a mãe Edith, as filhas Anne e Margot, “mergulha” na clandestinidade, uma semana mais tarde junta-se a família Van Pels, pai, mãe e filho, e pouco depois o senhor Fritz, amigo da família Frank. São todos alemães, fugiram para a Holanda, mas não estão a salvo. A perseguição aos judeus não tem limites, chegou aqui também. 
Estas oito pessoas passam a viver naquilo a que Anne, no seu diário, chama o “anexo”, ajudadas por quatro colaboradores. Não é uma casa pequena separada da casa principal, como estaríamos à espera. O anexo é a parte de cima da casa onde o pai  tinha as suas empresas, com a fachada da frente virada para um dos canais de Amesterdão. O anexo é a parte de trás, ocupando dois andares e o sótão virados para as traseiras da casa, espaço que serviu, até então, para depósito/armazém das especiarias e outros produtos transformados nas empresas, com janelas pintadas de preto, para que a luz não os deteriorasse. O depósito/o anexo estava separado do resto da casa por uma porta disfarçada de estante (está como na época) para não levantar suspeitas.
Permanecem neste refúgio, muito exíguo, mas onde conseguem ter um quotidiano "quase normal", lêem, escutam a rádio, alegram-se com o avanço dos Aliados nas costas da Normandia, exasperam com as notícias sobre as câmaras de gás e os campos de concentração... Sobrevivem, sobrevivem..., esperam o fim da guerra. Mas, a 4 de Agosto de 1944, dois anos e um mês depois, são presos e levados para diferentes campos de concentração. Anne e a irmã morrem em Bergen-Belsen, na Alemanha, de tifo, a mãe morre em Auschwitz; o pai, que também foi levado para aí, foi o único dos oito refugiados que sobreviveu. Depois da guerra, em 3 de Junho de 1945, regressa a Amesterdão, sabe, então, da morte da mulher e das filhas. Miep, uma das colaboradoras, entrega-lhe o diário de Anne. 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Birkenau- Auschwitz II

Aqui, praticamente, tudo foi destruído pelos nazis, no final da guerra. O campo é atravessado pela linha férrea que trará, como gado, milhões de judeus de toda a Europa, são para aqui deportados os judeus das ilhas anglo-normandas, da França, Holanda, Bulgária…, chegam enganados, pensam que vêm para trabalhar, aos meninos dizem, “voltarás para os teus pais”, mesmo sabendo, em muitos caos, que os pais acabarão mortos nos próximos dias.

Dos dois lados da linha, foram  construídos, alinhados, 350 barracões de madeira, restam três ou quatro barracões que são visitáveis, um deles mostra como viviam, muitas centenas de pessoas, numa espécie de beliches, de  um  lado e do outro do barracão, com camas empilhadas, umas ao lado das outras e umas sobre as outras, podendo dormir sete ou oito pessoas em cada cama. Está de pé ainda um dos barracões com fossas sanitárias ( havia nos campos regras de higiene absolutamente determinantes, quem não cumprisse era preso ou morto).  

Quando olhamos a imensidão do campo, até às árvores lá do fundo, e o percorremos ao longo da linha férrea, não podemos imaginar, por impossibilidade, o que aqui se passou. Birkenau foi um campo de extermínio, puro e simples, matar, com o menor alarido e o menor custo, o número máximo de pessoas, era o objectivo dos nazis, e assim se chega ao 1, 3 milhões só neste campo. 

No campo, foram construídos também quatro grandes fornos crematórios, os de 2000 pessoas, e respectivas câmaras de gás, muitos dos que aqui chegam morrem gaseados no primeiro dia, os outros (os tais 80%), a que se vai juntando sempre o número de doentes e esfomeados que deixaram de poder trabalhar morrerão conforme a capacidade dos fornos. A desumanidade, em estado puro, está ali, pensada, planeada, levada a cabo por gente que supostamente era civilizada. (Que vidas a destes nazis ao serviço do III Reich) . 

terça-feira, 13 de maio de 2014

Tarrafal, o prisioneiro

Há anos que procurava uma paz, uma certeza qualquer, de que o retorno àquele campo não seria um sofrimento a somar às memórias vivas e cruéis do sítio onde passara mais de sete anos da sua juventude, trabalhando, cumprindo ordens, guardando ideias, lendo livros, arquitetando revoluções…, criando uma rotina, a possível, que impunha a si próprio para não endoidecer.
Salvaguardar a saúde mental, que a física essa ressentir-se-ia – mesmo quando, nessa idade, se julga possível passar por tudo sem marcas no corpo - era a primeira das preocupações. Marcas de meses seguidos num total isolamento, numa sela fechada, húmida, onde mal cabia uma pessoa, sem cama, com um balde e uma refeição diária.
Como se consegue sobreviver a isto? Só uma convicção interior fortíssima, só um dever de consciência, uma responsabilidade, uma inabalavel defesa da dignidade humana – em que vergar, ajoelhar, comprometer..., mesmo quando os interrogatórios e a tortura pareciam deixá-lo à beira de uma quase semi consciência, era o impensável. Sabia quiem era e porque estava ali. Sabia o que devia a si e aos outros que como ele lutavam contra o colonialismo português.