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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Carmelo, clausura

Num programa sobre a felicidade ou, talvez, melhor, sobre o sentir-se feliz, entra na reportagem uma carmelita jovem que, depois da licenciatura, quando, aparentemente, o seu rumo iria num certo sentido, resolve entrar para o Carmelo. “Aqui, no Carmelo, vivemos muito a consciência da comunidade. Foi Jesus que nos chamou, foi Ele que nos escolheu, é um processo de adaptação à vida de oração e de amizade com Deus. Pelo amor chegamos a qualquer parte do mundo, o amor é eterno, difunde-se" . Bonitas, estas palavras! E continua: "Às vezes, vê-se uma certa inutilidade, aqui escondidas com Deus, numa total gratuidade, uma vida escondida, numa totalidade, sem limites..., queria poder dar-me sem estar à espera de ver os frutos, dar-me sem recompensas, quando nos entregamos sem limites, na intimidade com Jesus, nada fica longe, tudo é perto. Há um enamoramento na oração “a oração enamorada”, como o poema de São João da Cruz, porque Cristo é tudo para mim, em Jesus Cristo, não há longe, não há distância". 
Fico a pensar: quantos quererão fugir, tal como esta jovem freira, da fragmentação e do relativismo que nos invade por todos os lados? Muitos, com toda a certeza, mas poucos "são chamados".  Por que são tão pouco os eleitos? Por que entendemos tão pouco de um discurso como este?

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Identidade(s)

Numa reportagem da televisão de Castilla-Leon, por terras de fronteira, Bragança e Sanabria, questionava-se sobre se há ou não a identidade do “transfronteiriço”, algo que corresponderia a ser habitante da fronteira, a ser de cá e de lá; ou se, como acontece noutros casos, é uma palavra vazia, ou quase. Quando perguntam à jovem portuguesa que trabalha, há anos, numa cidade do lado de lá da fronteira, responde: “não, sentimo-nos portugueses, somos portugueses, mas se me perguntam se quero ir para Portugal, digo que não, aqui vive-se melhor, o ordenado mínimo é quase o dobro”.

Parece, então, não serem as condições materiais que criam sentimento de identidade. Ninguém se sente transfronteiriço, o máximo que o repórter consegue, nisto de “confundir identidades” é: “somos uma coisa e outra, somos espanhóis e somos portugueses, somos como irmãos”, diz uma senhora espanhola responsável por um organismo ligado ao turismo.
Enquanto, um jovem presidente duma associação, ligada ao parque de Montesinho, diz: “há projectos ibéricos, com financiamento europeu, como o Museu da Máscara, mas nós temos as nossas coisas, eles têm a deles, há uma identidade nossa e uma identidade deles”. Impossível explicar melhor, não se diluem identidades culturais profundas, mesmo com usos e costumes próximos.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O homem que plantava árvores

Era francês. Tinha chegado ali, àquele vale, no interior de Madagáscar, depois de muito ter andado pelo mundo. Chegou sem intenção de ficar, mas algo o prendeu à terra, às montanhas, às florestas, à natureza quase intacta que apenas a erosão destruía. Chegado aí, pousou a mochila, montou a tenda e misturou-se com o vale e os seus habitantes. É de lá.
Mas como é daí, se está a milhares e milhares de quilómetros de casa? Como é daí, se nada em redor é para si conhecido?
Talvez, não seja; ou talvez, sim.
Pois, como não é daí, se sente com o povo e a paisagem uma identificação profunda!

Há mistérios, nisto da vida, das pessoas e das relações, que ninguém explica. É daí, e chega. Não há mais necessidade de justificações. Aprendeu a língua, os costumes, a magia e o misticismo, a que não se pode fugir, construiu viveiros de várias espécies de árvores, fez educação ambiental nas escolas e com a ajuda de crianças e jovens reflorestou encostas e iniciou florestas. Criou vida sustentável, vida que se perpetuará enquanto houver quem recorde (e siga) o homem que plantava árvores.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Tiroteio em Homs, cidade Síria

“Espero que o meu Deus os assassine”, gritava um homem sírio, da cidade de Homs, depois de mais um tiroteio, num dos bairros, com dezenas de mortos.
“Que o meu Deus os assassine”, arrepia só de ouvir; arrepia só de pensar no turbilhão de emoções e de sentimentos que invadem este homem. É um paradoxo que o Deus misericordioso, manso e compassivo, que a todos acolhe, salva e dá abrigo, seja também o Deus vingativo, que retalia, assassina e massacra. Custa a crer nesta menoridade face à religião; uma religião que abrange, justifica e direcciona tudo. Sem outro espaço, não admira os resultados. Se ao menos fosse possível deixar de instrumentalizar Deus e a religião! Avança tudo, mas  a violência, a crueldade, é a mesma de sempre. Para que queremos séculos de civilização, se estamos sempre no ano zero!