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sexta-feira, 22 de março de 2019

Ajuda humanitária em Moçambique


Em Moçambique, o ciclone Idai destruiu tudo à sua passagem, originando cheias que estão a arrasar extensas zonas, sobretudo, da província de Sofala e concretamente a cidade da Beira. Os números são já alarmantes, centenas de mortos, milhares de feridos, mais 600 mil desalojados..., pessoas a viver a maior tragédia que só a ajuda internacional, em força, bem coordenada e com a avaliação exata da situação, pode minorar. 
Desejo que o maior número de pessoas seja salvo e que os hospitais de campanha possam ser instalados de modo a suprir a situação existente nesta área, tratar os feridos e prevenir a cólera, a malária e outras doenças. A seguir, haverá tempo para a reconstrução, mas esta fase de emergência parece tão ampla e tão difícil que temo que a situação se agrave.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Árvores eternas...

Muitas vezes, ao atravessarmos certas regiões de África, invade-nos um sentimento de contingência, de precariedade, como se as areias, os ventos, as brumas, o calor, o sol e a chuva se combinassem para eternizar o presente e a necessidade de um contínuo recomeço.

Só as árvores parecem eternas, lá, onde estão, cumprindo um destino. São eternos os coqueiros que guardam, de muito alto, a baía de Inhambane, à saída do barco, em Maxixe. São eternos os cajueiros, de enormes copas, quase tocando o chão, que vislumbramos pelos vidros do autocarro, pelas estradas de Gaza; são eternas as altas e frondosas mangueiras, carregadas de mangas, que  passam de verdes a amarelas e vão caindo de maduras, no recreio do Instituto São José, em Inhambane ; são eternas as acácias vermelhas que sobem por cima dos telhados no pátio dos salesianos, em Maputo. São eternos os olhares que olham as árvores. Há uma eternidade em cada instante, por mais breve que seja.

sábado, 8 de janeiro de 2011

"ELE me chamou", a fé

“ELE me chamou”, diz-me um jovem que está a terminar o 12º ano, com um livro na mão sobre a vida e obra dos Franciscanos. ELE é o seu, o meu, o Deus de todas as pessoas que acreditam. Nenhuma demonstração ou experiência atesta a Sua existência, mas nada mais real para um crente. Acerca da fé, nada há a discutir. Nada há a dizer. Todos somos, antes de tudo o mais, aquilo em que acreditamos. São os valores, as crenças e os costumes que nos habitam que nos fazem pessoas e nos determinam a vida.

Tinha combinado encontrar-se comigo para falar de filosofia, embora já tivesse feito exame e ter a certeza de que ia ter positiva. Colocou-me uma questão de lógica, sobre silogismos hipotético-disjuntivos (a que eu não soube responder, há mais de doze anos que não toco nessa matéria), mas percebi logo que a conversa sobre filosofia era um pretexto, queria conversar sobre outras coisas. Falou de si, da sua vocação, de como tem clara a ideia de ser padre franciscano, falou-me de todo o percurso de formação, passando por várias cidades e até países, do extenso caminho e da profundidade do percurso que pretende iniciar. Agora, irá para o seminário de Chimoio, depois para o noviciado em Portugal, depois Roma,  Zâmbia…
Perguntou-me o que achava. O que ia eu achar, obviamente que não tenho nenhuma resposta, nenhuma opinião.  "A religião é uma coisa muito séria", comentei apenas para não ficar calada. Ele continuou a falar da certeza da sua escolha e eu  pus-me a pensar na determinação deste jovem, na sua convicção. Espero que o seu caminho não tenha muitas pedras. 

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O posto da guarda (será?)

Ao longo da estrada, Inhambane-Maputo (julgo que por todo o país), encontram-se, repetidamente, de tantos em tantos quilómetros, as ruínas de duas casas abandonadas. São casas térreas, seguidas, rectangulares, amplas, uma maior que a outra, ambas com uma varanda ao correr do muro e a mais pequena com uma espécie de alpendre à porta de entrada. Não perguntei nada, mas julgo serem as casas do guarda do posto administrativo, onde estava situada a autoridade portuguesa, servindo a maior de posto e a outra de habitação. Percebe-se que não sejam lugares de boa memória para os moçambicanos; percebe-se o desprezo, o desleixo e tudo o mais, mas como não é possível reescrever a história, talvez reaproveitá-las fosse a melhor coisa a fazer. Assim, sem telhados, sem janelas, com erva crescendo dentro, aqui ali a desmoronar, atentam contra a paisagem e uma natureza que deslumbra.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Quando a sida mata tanto...

A prevalência da sida em Moçambique é imensa, em todo o país, com uma média nacional, no grupo estudado (dos 15 aos 49 anos, parece-me) de mais de onze porcento, havendo províncias, como Gaza, a obter mais de vinte por cento. Quando a sida mata tanto, é toda a comunidade que se desestrutura. Nunca é só o caso da doença ou da morte por sida, e tudo o mais.
Uma jovem de dezoito anos com quem conversei sobre o tema e a quem perguntei se a sida estava minimamente controlada, disse-me: “Que nada, a sida não está controlada, a única melhoria é o acesso aos retro-virais, com a construção da fábrica, as pessoas que antes não podiam agora podem tratar-se. Mas, continua a haver novos infectados. “Contudo, parece não existir falta de informação, o assunto é trabalhado na escola, logo nos primeiros anos do básico, está na comunicação social, na sociedade civil, são inúmeras as ONG'S a trabalhar na área...". “Sim, mas é a mentalidade dos homens. Os homens querem ter seis, sete mulheres, andam com meninas de treze anos, dão-lhes algum dinheiro ou alguma coisa e elas, que não têm nada e precisam, vão". "Há prostituição, por aqui"? "Há muita. Aqui há muita".
Não sei se a explicação que a jovem me deu é ou não a principal causa da propagação da sida, mas é concerteza uma causa muito difícil de combater, é que não há um comprimido para o problema que se possa juntar ao conjunto dos retrovirais. A questão é de outra ordem, como bem sabemos.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Há árvores eternas

Muitas vezes, ao atravessarmos certas regiões de África, há um sentimento de contingência, de precaridade, que nos ronda e invade por dentro. Tudo é mudança, como se as areias, os ventos, as brumas, o sol e a chuva se combinassem para eternizar o presente, a necessidade de um contínuo recomeço.
Só as árvores parecem eternas, lá, onde estão, cumprindo um destino. São eternos os coqueiros que guardam, de muito alto, a baía de Inhambane, à saída do barco, em Maxixe. São eternos os cajueiros, de enormes copas, quase tocando o chão, que vislumbramos pelos vidros do autocarro, pela estrada de Gaza. São eternas as altas e frondosas mangueiras, carregadas de mangas que, nestas semanas de Dezembro, passam de verdes a amarelas e vão caindo de maduras, nos recreios das escolas,nas machambas e nas ruas. São eternas as acácias vermelhas que sobem por cima dos telhados, no pátio dos salesianos, em Maputo.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

De volta a Portugal

Regressei de Moçambique, ontem. Foi um mês rico em experiências pessoais. Não posso dizer que a viagem tivesse constituído para mim um choque, trata-se de uma realidade que, em muitos pontos, eu já imaginava, uma triste realidade comum a muitos países em desenvolvimento, onde, a par do maior luxo e da tecnologia de ponta, temos a luta incessante pela sobrevivência, nas condições mais precárias que se possam imaginar, é quase como se estivessemos no princípio dos tempos: a mesma palhota, feita com as mesmas folhas de coqueiro, a mesma machamba, o mesmo destino...