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quinta-feira, 13 de junho de 2019

Sentidos de pertença...


Nalguns discursos do dia 10 de Junho – Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas – mais do que dissertar sobre a nação, a pátria, o sentido identitário do ser português, apareceu, no discurso do responsável pelas comemorações deste ano – João Miguel Tavares – um sentido de pertença plural, diverso e nem sempre inclusivo, às vezes, até, de não pertença, quando, como referiu, há tanto a fazer no sentido da equidade e da igualdade de oportunidades.
O Presidente da República fala de vários “Portugais”: O que será isto? Serão diferentes culturas,  diferentes desenvolvimentos, diferentes espaços geográficos...? – e, sempre, na crença de que podemos ser excelentes, aos mais diferentes níveis. Não chega acreditar,  diria eu.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Um não regresso a casa

Ia sem saber bem o que procurar, talvez a casa, a casa dos pais. Estaria ainda de pé, passados quase quarenta anos, estaria a acácia vermelha florida e os canteiros no pátio...? E as pessoas, reencontrará alguém conhecido?
Pensava nisto, enquanto evitava um remoinho interior, que se transformou num quase mal estar. Sabia bem que nunca se regressa ao mesmo lugar, duas vezes, nunca se regressa ao ambiente que se deixa atrás, e neste caso por muitas razões. Talvez, tudo seja estranho, talvez ninguém o reconheça e talvez não reconheça ninguém. Estrangeiro na sua terra que agora talvez já não possa chamar sua. 
Desce do carro, afasta-se da estrada principal, entra na cidade, dirige-se ao sitio onde viveu anos a fio com os pais, os irmãos, os tios e os primos, reconhece as casas, a sua casa, está habitada, quem a habitará, ainda haverá lá dentro algo que possa reconhecer?
Anda mais uns passos abaixo, na direcção das ultimas casas da rua, quando vê alguém familiar, muito familiar, que caminha na sua direcção, alguém que reconhece imediatamente, permanecem frente a frente, olham-se, abraçam-se:
- “Es o Zé”
Ouve de volta: 
-“És o João”
Emocionam-se. 
-Não chores! Éramos tão amigos...
- Não, somos amigos. A tua casa foi dada a gente de fora, a pessoas que vieram do norte. Não são daqui. Queres vê-la, talvez possas?
- Não sei se quero, vim sem um plano, à espera do que encontrasse, e encontrei-te, já valeu a pena.
Continuam a conversa, que os leva longe, muito longe, a um tempo, ainda não perdido, porque muitos o recordam, mas necessariamente distante, a um tempo de muitos matizes e lados, de muitos enganos e tropeções. 
Não teve coragem de bater à sua porta, de falar com o novo dono, de dizer-lhe sem mágoa: esta casa faz parte de mim, faz parte da minha família...
Regressa a Maputo,  aliviado por não ter desfeito o encanto que a sua memória guarda de um tempo feliz e também  por ter sentido o valor da amizade. 

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Somos de onde? Somos quem?

Não lembro o título, era um filme/documentário, de que só vi uma parte, sobre uma jovem norte americana que chega à Palestina, a uma zona ocupada pelos israelitas, onde nasceram os pais e onde viveram todos os seus antepassados. É filha de palestinianos, imigrantes forçados, nos Estados Unidos.
Está aqui, na sua terra, mas é uma estranha. Clandestina nas suas intenções, fingindo-se turista, com um passaporte válido, mas com um visto já caducado, sabe que pode ser apanhada, num desses controlos policiais que estão por todo o lado e a cada passo.

Procura a aldeia dos pais. Mas já nada existe, ou melhor, nada existe como o ouviu descrever, vezes sem conta. Os nomes das cidades, das aldeias, dos vales e das colinas já não são os mesmos. Mudaram, tudo está escrito em hebraico, e ela não sabe hebraico.

Entra numa loja, pergunta pela terra dos pais, pronunciando diversas vezes, espaçadamente, o nome em árabe, mas o comerciante judio não sabe árabe e não pode ajudar.
Como se apaga assim um passado que, de resto, ainda é presente, é de há pouco mais de sessenta anos? Apaga-se, por decisão e persistência politicas, obviamente.

Ainda assim, a jovem continua o caminho e vai ter a um vale onde se depara com uma aldeia abandonada e destruída que julga ser a dos seus antepassados. Olha lenta e demoradamente o vale, o céu, as nuvens, o horizonte, o tudo e o nada, como se tivesse chegado a uma terra de destino que não consegue abarcar. Invadida por um sentimento profundo, abraça emocionada o jovem que a acompanha. Permanecem, nessa noite, na casa em ruínas, a um canto de parede, junto a um portal, talvez de uma antiga janela.

Partem na manhã, seguinte. Continuará a não pode dizer quem é, nem ao que veio, mentirá às autoridades, até ser possível, perdendo-se ou encontrando-se, nos vales da Palestina. Vales que também são seus. Podem lá os decretos, os Estados e as ocupações acabar com os sentimentos!

(releio e texto, e penso que se calhar o documentário não foi bem assim)