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terça-feira, 30 de outubro de 2018

O Principezinho...(4)


No 6º planeta, seis vezes maior que os outros, o Principezinho encontra-se com um senhor de idade, escritor, geógrafo, sempre no gabinete; encontra exploradores e outras pessoas, sempre sérias e bem comportadas.
 
O 7º planeta é a terra. O Principezinho não via ninguém. Pensou: "Também se pode estar sozinho ao pé dos homens - e repetia: "Ando à procura de amigos"! 
“Os homens agora já não têm tempo para conhecer nada. Compram coisas feitas nos vendedores. Os homens, agora, já não têm amigos. Se queres um amigo prende-me a ti!”
“Só as crianças é que sabem do que andam à procura - disse o Principezinho - são capazes de perder tempo com uma boneca de trapos que, por isso, passa a ser muito importante para eles. Se alguém lha tira, desatam a chorar...”
“Os homens - disse o Principezinho - bem se encafuam dentro dos comboios, mas já não sabem do que andam à procura. Portanto, não fazem senão andar à roda... Os homens da tua terra - disse o Principezinho - plantam 5000 rosas no mesmo jardim ...e, mesmo assim, não descobrem do que andam à procura... Deve-se é procurar com o coração”

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry (1)

O Principezinho não entende as situações do mundo dos adultos. Vive-as a partir de si próprio: observa, questiona, escolhe e pronuncia-se. Vê tudo pelos olhos puros da criança que é. Diverte-se, sorri, proclama a sua poesia, a beleza das pessoas e das coisas, fala da ilusão que necessitamos e que não conseguimos, por excesso de sensatez e de racionalidade, pondo em causa valores, mensagens e comportamentos.

Para ele as pessoas maiores, tão racionais e sensatas, são incapazes de compreender aquilo que só, na poesia tem razão de ser. É isso que as crianças fazem normalmente e de forma natural: deixam a emoção comandar a sua vida e a suas relações com os outros e com as coisas.

Dedica o livro a uma pessoa grande: “É meu amigo, é capaz de perceber tudo, mesmo livros para crianças. Essa pessoa mora em França e em França passa fome e frio (era  na altura da II Guerra Mundial). Gostava de dedicar este livro à criança que essa pessoa grande já foi, porque todas as pessoas grandes já foram crianças. Há é poucas que se lembram disso.”

domingo, 26 de janeiro de 2014

Um não regresso a casa

Ia sem saber bem o que procurar, talvez a casa, a casa dos pais. Estaria ainda de pé, passados quase quarenta anos, estaria a acácia vermelha florida e os canteiros no pátio...? E as pessoas, reencontrará alguém conhecido?
Pensava nisto, enquanto evitava um remoinho interior, que se transformou num quase mal estar. Sabia bem que nunca se regressa ao mesmo lugar, duas vezes, nunca se regressa ao ambiente que se deixa atrás, e neste caso por muitas razões. Talvez, tudo seja estranho, talvez ninguém o reconheça e talvez não reconheça ninguém. Estrangeiro na sua terra que agora talvez já não possa chamar sua. 
Desce do carro, afasta-se da estrada principal, entra na cidade, dirige-se ao sitio onde viveu anos a fio com os pais, os irmãos, os tios e os primos, reconhece as casas, a sua casa, está habitada, quem a habitará, ainda haverá lá dentro algo que possa reconhecer?
Anda mais uns passos abaixo, na direcção das ultimas casas da rua, quando vê alguém familiar, muito familiar, que caminha na sua direcção, alguém que reconhece imediatamente, permanecem frente a frente, olham-se, abraçam-se:
- “Es o Zé”
Ouve de volta: 
-“És o João”
Emocionam-se. 
-Não chores! Éramos tão amigos...
- Não, somos amigos. A tua casa foi dada a gente de fora, a pessoas que vieram do norte. Não são daqui. Queres vê-la, talvez possas?
- Não sei se quero, vim sem um plano, à espera do que encontrasse, e encontrei-te, já valeu a pena.
Continuam a conversa, que os leva longe, muito longe, a um tempo, ainda não perdido, porque muitos o recordam, mas necessariamente distante, a um tempo de muitos matizes e lados, de muitos enganos e tropeções. 
Não teve coragem de bater à sua porta, de falar com o novo dono, de dizer-lhe sem mágoa: esta casa faz parte de mim, faz parte da minha família...
Regressa a Maputo,  aliviado por não ter desfeito o encanto que a sua memória guarda de um tempo feliz e também  por ter sentido o valor da amizade. 

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Onde estão os meus amigos?

Quando se perde tudo, mesmo tudo, e não há esperança, só resta a raiva. Contida ou expressa, uma raiva presente que tortura os dias, desfaz os sonhos e pior, ainda, desumaniza, embrutece e torna insensível a mais doce das criaturas.
Agredir e ser agredido, é o dia a dia destas crianças que sobrevivem em condições inimagináveis, abaixo de tudo o que seria o mínimo de dignidade possível capaz de lhes assegurar um pouco de estima por si mesmas. Funciona apenas o instinto da sobrevivência.
O João é um destes meninos. Perdeu tudo, lá longe onde vivia. Fugiu da guerra mas nunca encontrou paz. Suporta tudo: anda roto,  sujo, faminto, ferido, doente..., mas não suporta perder amigos, como se os sentimentos fossem para ele o mais fundamental. E são. Repete vezes sem conta: não aguento ver morrer os meus amigos. Está furioso, com raiva no olhar, na voz e nos gestos diz-nos:
- Quando saí do buraco, não vi o Américo, nem o Toné, nem a Micas. Onde estão os meus amigos? Corri todas as ruas, procurei-os todo o dia e por todo o lado. Onde estão?”. Eu não os perdi, ontem foram comigo para o buraco, alguém mos roubou. Mais uma vez me roubaram. Mataram o pai, a mãe e os irmãos, sozinho e assustado fugi.  

(uma criança africana, nos subúrbios de uma qualquer capital, dessas onde não se respeita a vida e se mata por nada)