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quarta-feira, 15 de dezembro de 2021
A mulher do semáforo
Era quase noite, já se via muito mal, num cruzamento de Nova Deli, Índia, uma senhora, com um filho ao colo, magra, muito magra, quase esquelética, aproxima-se dos vidros do autocarro e pede esmola. Uma pessoa lá de dentro, abre o vidro da janela e dá-lhe algum dinheiro (bastante até); ela agarra-o, amarrota-o dentro da mão e, em momento algum, olha a senhora que tenta comunicar com ela. Quase desvia o olhar, como se muros invisíveis a separassem dos outros.
Ficará ali, à espera de outros turistas, de autocarros que parem, para mais uma vez se dirigir aos vidros, de olhar perdido, pedindo esmola; ou deixará aquele cruzamento e aquele semáforo, quando perceber que a quantia que acaba de receber é suficiente para comprar comida e alimentar os filhos por muitos dias.
segunda-feira, 5 de junho de 2017
Viagem à Índia (4)
O hinduísmo é uma religião muito arcaica, mas talvez todas o sejam. “Todas as religiões são iguais”, lembro-me de ter pensado, a certa
altura, numa visita a um templo sique. Todas têm uma transcendência, povoada de
muitas ou poucas divindades, todas têm rituais, mais ou menos incompreensíveis, para
quem vê de fora, todas têm grandes ou pequenos templos, igrejas, mesquitas…;todas têm ramificações, hierarquias, poderes…
A religião é quase uma necessidade; uma necessidade humana, não dos deuses, porque há um mundo interior, um
espírito, uma alma..., que nos leva a esse para lá, ilimitado, perfeito, absoluto, não contingente..., única forma de pensar o limitado, o imperfeito, o relativo, o contingente... (sempre, o célebre argumento
ontológico a fazer-se notar).
sábado, 29 de abril de 2017
Viagem à Índia (2)
Em viagens turísticas, como a que
fiz, só vemos uma parte (pequena) da realidade. Temos a sensação de viajar dentro de uma bolha. Preservados de tudo, em hotéis bons,
autocarros novos, com ar condicionado, motorista, guia e ajudante, cumprindo um
roteiro que não deixa muita margem a iniciativas individuais.
Devem
existir ruas, mercados, praças..., onde a multidão seja visível, mas, nesta viagem,
nunca pude observá-la. Onde estão os milhões de indianos? Onde estão “presos”?
Quem os "prende"?
Há
coisas que impressionam pela grandiosidade: as fortificações mongóis, com
vários palácios dentro, as cidades abandonadas, os monumentos como o Taj Mahal, marcas de uma Índia estratificada de há duzentos ou trezentos anos: os reis e a plebe, os marajás e o povo.
Mas,
para mim, foi particularmente intrigante a visita panorâmica a Nova Deli, depois
de uma manhã a visitar os monumentos da antiga cidade. Quase tudo é herança
britânica, uma cidade administrativa, monumental, com grandes avenidas, um arco
de triunfo, praças..., muitos parques verdes, zonas residenciais, palacetes
individuais, em zonas fechadas, onde, antes, viviam os funcionários da coroa, hoje, destinados a serviços do Estado.
Quando passamos
junto aos edifícios do Estado, palácios do presidente e do 1º ministro,
ministérios, parlamento..., o guia avisa: “aqui não se pode parar, nem descer, aqui,
nenhum carro particular pode circular, nós passamos, porque é turismo. Só duas
vezes por ano (em dias nacionais) as pessoas comuns podem visitar esta parte da
cidade".
Afinal,
Nova Deli (ou parte) é uma cidade proibida, para o comum dos indianos; aberta,
sem muralhas, mas vigiada, destinada a governantes, políticos, funcionários e afins... Não se compreende.
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