Temo a banalidade dos naufrágios no Mediterrâneo; temo que, qualquer dia, se tornem em não notícia, passando a considerar-se como algo de tal modo normal
que já não nos perturba. Temo que se deixe de questionar o que está verdadeiramente
em causa: a impossibilidade de “fechar”, nos seus países, pessoas na mais extrema
pobreza.
Quando Hannah Arendt, ao presenciar a forma como os carrascos nazis
se referiam, sem qualquer pingo de emoção, às barbáries cometidas, falou da banalidade
do mal, não sabia da tragédia dos emigrantes clandestinos , mas sabia da incapacidade
dos seres humanos (de alguns seres humanos) se revoltarem e tomarem medidas sobre
tragédias desta natureza.