Auschwitz é hoje um museu, um
importante documento para toda a humanidade, para que a barbárie, nos seus
requintes de maior malvadez, não se repita. No final da guerra, quando os
russos chegam e libertam os campos, os nazis destroem o que podem, em Birkenau,
quase tudo.
A visita guiada é feita a um
ritmo que não permite pensar, nem sequer ver as coisas com a atenção devida. Optei
por não tirar fotografias e seguir, com a atenção possível, a guia, através dos
fones distribuídos logo à entrada. O discurso é muito padronizado, muito pouco
claro, não ajuda nada aquele português/espanhol; há algumas perguntas das
pessoas do grupo…, mas, mesmo assim, crescem em mim as interrogações, sobretudo,
sobre a dimensão do que aqui se passou.
Dos 45 pavilhões (julgo), em
Auschwitz I, tenho a sensação de que apenas dez ou onze fazem parte do circuito
das visitas, mas talvez sejam mais; a guia faz ainda referência ao pavilhão 11,
a prisão dentro do campo, para quem ousasse fazer perguntas, roubar comida,
discutir com alguém…, ao pavilhão de janelas entaipadas, pintadas de preto,
onde se faziam experiências, se esterilizavam mulheres eslavas…; entre estes
dois pavilhões fica o muro de fuzilamentos, lá está, com um pequeno memorial. Os
outros pavilhões ou são de apoio ao museu ou são de países que perderam cidadãos
neste campo (Holanda, Hungria, República Checa, Eslováquia …), com exposições
próprias, mas que não fazem parte destas visitas normais.
A visita segue, de algum modo, o
circuito dos judeus, desde que chegavam, de comboio, à rampa de Birkenau
(Auschwitz II, a quatro quilómetros de Auschwitz I), até ao que resta das
câmara de gás e de um forno crematório, o único que existe.
Os primeiros pavilhões falam da guerra,
da deportação, dos prisioneiros, do extermínio em massa dos judeus europeus. Lá
estão, com legendas em polaco e inglês, os documentos escritos, os mapas e as fotografias
ampliadas que, tenho a sensação, todos já vimos, em filmes e documentários: sobre
a chegada dos deportados (os olhares assustados, o medo, a separação, filhos
que eram tirados às mães…); sobre o médico que os observava, ainda na rampa, e decidia
arbitrariamente sobre as suas vidas, cerca de oitenta por cento ia diretamente
para as câmaras de gás e vinte por cento, os mais capazes de trabalhar, ficavam.
Eram registados, cadastrados, fotografados, já com o fato listado de
prisioneiros e, a seguir, selecionados para os trabalhos forçados que havia
dentro e fora do campo; sobre as imagens da fome, das doenças, das condições sub-humanas
em que viviam e trabalhavam; sobre os corpos deformados pelas experiências de
Mengele; e muito, muito mais, documentando uma tragédia humana sem limites. Sem
limites, mesmo! Até onde teria ido – perguntamos?
Nos pavilhões seguintes, estão expostos
objectos encontrados no campo: roupas, não muita; sapatos, muitos sapatos, de
todos os tamanhos; óculos; próteses; utensílios de cozinha (panelas, tachos,
pratos…); malas, muitas malas, com nomes e direcções, faziam crer aos
prisioneiros que seriam guardadas e entregues depois; cabelo, muita quantidade
(penso que duas toneladas deixaram os nazis no campo), a vitrina que mostra o
cabelo impressiona, ocupa a longitude de um pavilhão (rapavam as pessoas antes
de as gasear e aproveitavam o cabelo para forro de casacos das tropas alemãs, de
colchões, de almofadas…); as latas de Zyklon B, o tal gás letal, que matava em
20 minutos 800 ou duas mil pessoas conforme a capacidade dos fornos.
Dentro de Auschwitz I, a visita
acaba no que resta do forno crematório, o mais pequeno, de oitocentas pessoas;
depois de percorrermos um primeiro corredor, acedemos a uma câmara onde se
despiam, pensando que iam tomar banho, aqui, há também um memorial (um pequeno
vaso de flores vermelhas) e o acesso limitado por um cordão, segue-se a câmara
de gás, lá está por onde era lançado, a partir de uma espécie de tubo ou de
alçapão, o corredor de acesso aos fornos, as mesmas portas…. É terrífico,
talvez o ponto mais impactante, pelo que perturba, pelo que diz desta máquina
de morte. A visita é dura. Aguenta-se a custo.
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