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sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Rudolf Höss


Já fora do campo, mas bem próximo, rodeada de árvores, fica a casa onde vivia o comandante do campo, Rudolf Höss. Era aí que, no maior conforto familiar, descansava, recebia visitas, brincava com os filhos…, depois de mandar espancar, prender, fuzilar, enforcar, enterrar, gasear, queimar…, tudo o que possamos imaginar e sempre como se nada fosse. Quantas faces têm os assassinos! Como é que um rapaz simples, filho de camponeses, se transforma na pessoa prepotente, cruel, mesquinha, assassina, alucinada…?

Impressiona profundamente, nesta máquina de guerra, por um lado, a estratégia, tudo obedecia a um plano, toda a máquina ao serviço do extermínio dos judeus e outras minorias, como ciganos e homossexuais.
Impressiona também a, quase, não consciência, ninguém se questiona sobre o que faz. A partir de certa altura, todos parecem agir como autómatos, numa linha de comando que chega a Hitler, como se cada um não fosse mais do que peça de uma engrenagem, como se ninguém ouvisse ou visse nada. Tudo parece invisível.
Invisibilidade que chega a todo o lado, então, as povoações vizinhas, as vilas e aldeias, que rodeavam os campos não sabiam o que se passava em Auschwitz-Birkenau? Custa a acreditar. 

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Auschwitz I


Auschwitz é hoje um museu, um importante documento para toda a humanidade, para que a barbárie, nos seus requintes de maior malvadez, não se repita. No final da guerra, quando os russos chegam e libertam os campos, os nazis destroem o que podem, em Birkenau, quase tudo.
A visita guiada é feita a um ritmo que não permite pensar, nem sequer ver as coisas com a atenção devida. Optei por não tirar fotografias e seguir, com a atenção possível, a guia, através dos fones distribuídos logo à entrada. O discurso é muito padronizado, muito pouco claro, não ajuda nada aquele português/espanhol; há algumas perguntas das pessoas do grupo…, mas, mesmo assim, crescem em mim as interrogações, sobretudo, sobre a dimensão do que aqui se passou.

Dos 45 pavilhões (julgo), em Auschwitz I, tenho a sensação de que apenas dez ou onze fazem parte do circuito das visitas, mas talvez sejam mais; a guia faz ainda referência ao pavilhão 11, a prisão dentro do campo, para quem ousasse fazer perguntas, roubar comida, discutir com alguém…, ao pavilhão de janelas entaipadas, pintadas de preto, onde se faziam experiências, se esterilizavam mulheres eslavas…; entre estes dois pavilhões fica o muro de fuzilamentos, lá está, com um pequeno memorial. Os outros pavilhões ou são de apoio ao museu ou são de países que perderam cidadãos neste campo (Holanda, Hungria, República Checa, Eslováquia …), com exposições próprias, mas que não fazem parte destas visitas normais.

A visita segue, de algum modo, o circuito dos judeus, desde que chegavam, de comboio, à rampa de Birkenau (Auschwitz II, a quatro quilómetros de Auschwitz I), até ao que resta das câmara de gás e de um forno crematório, o único que existe.
Os primeiros pavilhões falam da guerra, da deportação, dos prisioneiros, do extermínio em massa dos judeus europeus. Lá estão, com legendas em polaco e inglês, os documentos escritos, os mapas e as fotografias ampliadas que, tenho a sensação, todos já vimos, em filmes e documentários: sobre a chegada dos deportados (os olhares assustados, o medo, a separação, filhos que eram tirados às mães…); sobre o médico que os observava, ainda na rampa, e decidia arbitrariamente sobre as suas vidas, cerca de oitenta por cento ia diretamente para as câmaras de gás e vinte por cento, os mais capazes de trabalhar, ficavam. Eram registados, cadastrados, fotografados, já com o fato listado de prisioneiros e, a seguir, selecionados para os trabalhos forçados que havia dentro e fora do campo; sobre as imagens da fome, das doenças, das condições sub-humanas em que viviam e trabalhavam; sobre os corpos deformados pelas experiências de Mengele; e muito, muito mais, documentando uma tragédia humana sem limites. Sem limites, mesmo! Até onde teria ido – perguntamos?

Nos pavilhões seguintes, estão expostos objectos encontrados no campo: roupas, não muita; sapatos, muitos sapatos, de todos os tamanhos; óculos; próteses; utensílios de cozinha (panelas, tachos, pratos…); malas, muitas malas, com nomes e direcções, faziam crer aos prisioneiros que seriam guardadas e entregues depois; cabelo, muita quantidade (penso que duas toneladas deixaram os nazis no campo), a vitrina que mostra o cabelo impressiona, ocupa a longitude de um pavilhão (rapavam as pessoas antes de as gasear e aproveitavam o cabelo para forro de casacos das tropas alemãs, de colchões, de almofadas…); as latas de Zyklon B, o tal gás letal, que matava em 20 minutos 800 ou duas mil pessoas conforme a capacidade dos fornos.

Dentro de Auschwitz I, a visita acaba no que resta do forno crematório, o mais pequeno, de oitocentas pessoas; depois de percorrermos um primeiro corredor, acedemos a uma câmara onde se despiam, pensando que iam tomar banho, aqui, há também um memorial (um pequeno vaso de flores vermelhas) e o acesso limitado por um cordão, segue-se a câmara de gás, lá está por onde era lançado, a partir de uma espécie de tubo ou de alçapão, o corredor de acesso aos fornos, as mesmas portas…. É terrífico, talvez o ponto mais impactante, pelo que perturba, pelo que diz desta máquina de morte. A visita é dura. Aguenta-se a custo.