O filho ocupa toda a vida deste homem, mais de oitenta anos: “não
consegui enviar um email para o meu filho, mas à noite telefono-lhe”. É assim,
invariavelmente. Todos os dias vai aquela biblioteca utilizar o computador para
se comunicar com o filho. Todos os dias e a todas as horas fala do filho. Às
vezes conta histórias e situações que deixam perceber que o filho é ainda um
menino, mas isso não pode ser, porque me diz que trabalha em Luanda.
Fico confusa, mas nada pergunto. Até que um dia me mostrou uma
fotografia, ele, o filho e um casal amigo, em Nova Iorque, o rapaz com dezasseis
anos, na altura em que caíram as Torres, 2001. O filho terá então trinta e um
anos, mas para o pai, a idade está lá atrás, quando o levava pela mão e lhe
perguntavam se era neto, quando viajava pela América, com ele adolescente,
quando a ausência não existia, pelo menos desta forma.
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