Pesquisar neste blogue

domingo, 4 de julho de 2021

Amor (em vez de Alzheimer)

 Tinha reduzido a sua vida ao marido, e parecia não precisar de mais. Agora que ele ia perdendo progressivamente a memória, sentia que não suportava a dor daquela ausência, sobretudo, quando deixou de reconhecer pessoas próximas… Chegará um dia que não a reconhecerá mais. A doença é muito cruel, sente que vai perdendo as forças, mas não quer deixá-lo ir: “para o lar, ainda não” – diz, muitas vezes. Mas chegará um dia, já não muito distante, em que terá de o deixar ir. Como irá continuar a dizer: “Eu e o meu marido, eu e ele”! Como vai sobreviver a tudo, ao que eram e já não são, a tudo o que ainda têm para viver nesta penosa situação? Não sabe, pressente que o seu quotidiano, mesmo muito difícil, está desmoronar-se. Só o amor é que não. Permanece, intacto. Tornou-se até mais forte. “Amo-o tanto” – confidenciou-me. Eu sei que sim. 

(escrevi este texto, em 2016. Infelizmente, é cada vez mais atual)  

Sem comentários: