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quinta-feira, 2 de abril de 2015

As raparigas ciganas

Aconteceu pela Páscoa (há muito tempo). Penso que seriam duas ou três jovens mulheres ciganas, carregadas de filhos, uns ao colo, ainda bebés, e outros, também de curta idade, agarrados às longas saias. Bateram-me à porta a pedir esmola.
- Senhora dê-nos alguma coisinha, nasceu um menino no acampamento, esta noite, e a mãe está muito mal e não temos nada para lhe dar.
- Mas, o que posso dar?
- Podia dar-nos um bocadinho de azeite, um bocadinho de pão, arroz ou batatas, para fazer uma miga ou uma sopa, não temos nada.
- Não sei se tenho, vou ver.
- Pela sua saúde, pelas alminhas que lá tem, dê-nos alguma coisa, o azeite é o que mais precisamos.
Não sei por quê, mas para mim o pedido era verdadeiro, não me passava pela cabeça que estavam a mentir e que aquela era mais uma estratégia de pedir esmola. 
Acreditei. Fui buscar o azeite, como já não era muito, dei-lhes a garrafa. Não tinha pão, dei-lhes algum arroz e algumas batatas. Agradeceram e foram embora.
Fiquei a pensar, o dia todo, naquela rapariga que tinha tido um filho, em condições sub-humanas no acampamento da beira da estrada e no perigo que corria, ela e o seu bebé. Mesmo que, naquele caso, pudesse ter sido uma história, a realidade era essa: nascer à beira da estrada, sem quaisquer condições, sem quaisquer direitos.