Pai Tomás era um homem invulgar. Escravo e negro
percebeu desde cedo que a sua luta era, antes de mais, interior. Lutar para
encontrar respostas para uma vida mais justa, sem raiva nem violência. Não
usava armas, não dizia palavrões, não se revoltava de forma violenta, antes,
levava consigo um compromisso de vida: ser amigo de todos, chegar a comover os
mais poderosos apenas com o exemplo do seu trabalho e da sua vida.
Quando o dono da fazenda de algodão, em que trabalhava, era querido e respeitado por todos, o teve de vender, partiu de coração
doído, mas sem chorar, sem se lastimar, sem deixar de pensar que a grandeza dos
homens está naquilo que eles de facto são e não naquilo que os poderosos deste
mundo fazem deles.
O patrão - um homem bom - tentou vendê-lo a alguém que
o merecesse, mas não foi possível. No mercado de escravos, em que os homens são
mercadoria, vale, como em todo o comércio, a lei da concorrência e ganha a partida
quem dá mais. Vendido a um comerciante de escravos sem escrúpulos, foi
embarcado num barco que o levaria a uma plantação distante e desconhecida.
“Voltaria a ver a família, a mulher e os filhos?
Voltaria a sentir os cheiros e as paisagens em que nascera?” - pensava,
retirado a um canto do barco, lendo a Bíblia - aparentemente, o único bem
material que possuía, uma vez que não era dono nem do seu corpo, nem da sua vida.
Mas, era dono do seu pensamento e até dos seus sentimentos
- procurava entender a coisas e amava as pessoas. Entender porque é que há
escravos e senhores? Porque é que a liberdade dos escravos tem de ser comprada
se eles nada têm ? Suprema ironia e desumanidade.
(o livro de Harriet Beecher Stowe, foi publicado em 1852)
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