Por fim o velho fala:
- Vivia há muito com o meu filho - cala-se, fixa o
chão... - e também há muito deixei de sentir a sua ajuda, de sentir o cuidado de
alguém. Hoje deixei também de ter espaço, deixei de ter espaço ... - repetia o
velho de aspecto cada vez mais ausente.
Tinham-lhe desfeito a cama, feito as malas e ocupado o
quarto. Iria viver para um lar de idosos, onde fora inscrito contra a sua
própria vontade.
Era demais. Insuportável. Pegou num pequeno embrulho
que há muito guardava numa gaveta da cómoda e saiu. Não deixou nada escrito,
não se despediu de ninguém, simplesmente saiu de casa, da casa que era dele.
Olhando aquela adolescente, que podia ser sua neta,
pensava: "Que sociedade é esta, em que não há lugar para os
velhos e em que as crianças fogem de casa?. Que vida familiar é esta que exclui
os velhos e não tem tempo para ajudar os filhos a crescer? Que mundo é este em
que todos estamos sozinhos, apesar das multidões e do excesso de comunicação"?
O velho não foi capaz de conter as suas emoções e
revelar os seus sentimentos. Sem querer começou a chorar.
- Estás a chorar? - diz-lhe a jovem, olhando-o e
tocando-lhe no rosto.
Também ela se comoveu, pela primeira vez, fala com
ternura na voz, com um misto de surpresa e dó, afinal ele parecia sofrer tanto
ou mais do que ela.
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