Queria escrever sobre a força de alguns
sentimentos.Vêm-me à ideia o filme “Indochina”,
que vi há muito tempo, e a imagem de um
jovem que viveu, até à idade adulta, construindo uma imagem poderosa e ao mesmo
tempo romântica e feliz de uma mãe guerreira, activista política, na luta pela
independência do Vietname.
Num certo dia, sabendo que a mãe estaria, em França, numa tal recepção, decide ir. Cruzam-se, mas não se falam. Ela não sabe quem é ele, deixou-o pequenino com a avó, na longínqua Indochina.Mas, talvez ninguém tenha estado mais presente na sua vida que o filho ausente, que não viu crescer, ir à escola, jogar, ter sonhos de
adolescente, nada.
São dois estranhos, apesar de existirem
laços familiares tão próximos e sentimentos tão diários e tão profundos. Talvez o jovem tivesse ido aquela recepção na esperança de que um clique os lançasse nos braços
um do outro, como se os anos não tivessem passado, o tempo se tivesse suspendido e a vida já vivida se tornasse comum.
Nem o tempo se suspendeu, nem os
olhares se cruzaram, ao ponto de se fundirem. Dois estranhos, passando lado a lado,
incapazes de se abraçarem, de se comunicarem. Ele podia tê-lo feito,
reconheceu-a, sabia quem ela era. Por que razão não o fez, por que permaneceu
mudo e imobilizado, no cimo da escada? Por que não foi capaz de lhe falar?
Talvez, volte a andar quilómetros e quilómetros para a
ver de perto, aplaudir o seu discurso, chorar uma lágrima e, quem
sabe, até, poder dizer-lhe: - mãe!
E ela pare o
discurso e indiferente a tudo corra para ele gritando: - filho!
Agora, só existe o presente. Tudo é caminho, tudo
é futuro… Celebremos o
encontro, aquele encontro.
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