Fui ver a peça, ao teatro da Trindade, Lisboa,
e confesso que não me senti completamente confortável. Tudo se passa na sala de
estar do casal, George e Martha, depois de uma festa na universidade do pai de
Martha, onde o marido é professor de História, primeiro, esperando o jovem
casal, ele é o novo professor de Biologia, que dormirá essa noite em casa deles,
depois, os quatro em cena.
O ambiente é excessivo, doentio, quase esquizofrénico;
expõem-se, de forma crua, raivas, não ditos, aparências, futilidades..., para
humilhar, simplesmente, numa escalada, que parece sem retorno. A humilhação é o
pior dos males; humilhar alguém, é anular a sua autonomia, a sua estima, a sua
liberdade; é dizer: "não és nada, não vales nada; posso pisar-te, vou pisar-te"; melhor ainda, se houver assistência, no caso, a do jovem casal - durante uma parte da peça, Martha faz isto com mestria.
Mas, George, apesar da humilhação da
mulher, também não é santo, é ele que serve: “mais uma bebida, mais uma bebida”…;
é ele que antevê e incita à traição da mulher com o jovem professor, é ele que
cria jogos de linguagem e de poder (na verdade, só ele não está perdido de
bêbado), para os levar a confessarem o que na realidade são. E ele, nesse jogo,
quem é na realidade? E o filho, morreu ou nunca existiu?
Certo é que, depois, dessa noite de
bebedeira, é muito álcool, o casal voltará à mesma violência emocional, às
mesmas realidades ou ilusões, nunca se percebe muito bem,
em que aprendeu a viver, como se estivesse preso numa teia.
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